Volume 1

Capítulo 35: Divindade em batalha

Cof…Cof… — Erne tossia ainda caído escorado em uma árvore em meio a floresta. — Estamos perdidos.

Na clareira onde ficava a cabana, mas que graças ao “Abalo Sísmico” de Aldebaram, encontrava-se em escombros. Um guerreiro ensandecido lutava em meio aos escombros, neve e corpos destroçados. 

Jovens, adultos, idosos, todos, sem distinção de idade ou função, fugiam desesperados. No entanto, o guerreiro implacável não conhecia piedade, avançava cruelmente. Ao se aproximar de um grupo em fuga, saltou em fúria e êxtase.

— Aonde estão indo, pessoal? Hahaha! — Ao concluir suas palavras, desabou diante dos desafortunados homens. Em um movimento ágil, ainda agachado, brandiu seu machado horizontalmente, criando uma onda de ar que atravessou todos os homens, cortando-os ao meio. — Agora não correm mais hahaha!

Afastado, o jovem Gideon observava com horror o homem que, antes descontraído e frequentemente calmo, agora matava descontroladamente sem fazer distinção. Este não era o Aldebaram que Gideon conhecia.

— Vovô, porque o Aldebaram-

— Porque ele está daquele jeito? — Ele puxou Astrid e Gideon para próximo ao seu corpo, os abraçando. — Ele está assim para nos proteger.

— Pai… — Astrid esticou a mão, tentando alcançar Aldebaram, mas a distância era intransponível. Fechando a mão com força, a lançou contra seu próprio peito. — Droga! Pai!

Gideon testemunhava a agonia silenciosa de Astrid, desesperada e praguejante, incapaz de intervir, apenas observando impotente.

— Mestre!! — Dorni gritava por Erne.

Ahn!? — O grito do Dorni despertou a atenção de Aldebaram. 

— Você chamou a atenção dele — afirmou a deusa Mani, ainda de braços cruzados. Parecia não se importar com isso. — Comece a correr, garoto.

— Me ajude! — Ele entrou à frente da deusa. — Você está para lutar contra ele, não é?

Mani revirou os olhos, virou o rosto para o lado. Um simples humano buscando explicações? Uma audácia, mas no fim, o jovem estava correto. 

Humph… — Ela desfez aquela posse tranquila, e descruzou os braços. — Só lutarei porque prometi, e divindades cumprem promessas.

Aldebaram avançava alucinado em direção a Dorni e Mani, vendo a distância que antes era longa encurtar em segundos, ficando a centímetros dos dois.

— Peguei vocês! — Aldebaram esticou as mãos nuas na direção dos dois, mas a milímetros de tocá-los... Não sentiu nada e passou reto pelo local onde deveriam estar. — Droga! — Sem controle se chocou com algumas árvores, as derrubando.

— Ainda tenho que te salvar? — Mani estava pairando no ar, segurando Dorni pela armadura. — Tsc, vê se não morre.

— Que!? — Antes mesmo de olhar para Mani, sentiu seu corpo se deslocando no ar, indo em direção ao corpo de Erne. — Mani!!! 

Mani batia as mãos e, ao concluir, aproximou-se do corpo de Aldebaram. Uma expressão apática dominava seu rosto.

Hmmmm — Mani olhava Aldebaram de todos os lados, ficando muito próxima dele. 

— Peguei! — Bruscamente avançou contra Mani. — Ahn!?

Mas ao olhar para suas mãos, nada estava lá. Olhou para esquerda, depois para direita e, começou a coçar a cabeça.

— Aqui, guerreiro.

Aldebaram, veloz, olhou para direção de onde a voz ecoava, e era do alto, novamente Mani pairava, para escapar das mãos do guerreiro duas vezes, significava ser portadora de uma velocidade acima do comum. 

— Vai apenas fugir? 

— Você não sabe quem eu sou, né? — Apoiou a mão na lateral do corpo e colocou a outra no rosto, balançando a cabeça em resignação. — Vou ter dar uma chance de recuar, apenas porque sou uma deusa benevolente.

Mani não se importava com essa guerra, nem em lutar pelo rei. Para ela, pouco importava; afinal, havia reencarnado na Terra com outros objetivos.

— Deusa? — Aldebaram parecia confuso, mas logo jogou a mão ao céu em direção a divindade. — Pouco me importa se você realmente for… Misriam!

Rapidamente, o machado reapareceu na mão do guerreiro. A divindade se surpreendeu com sua ousadia, questionando se ele não tinha medo.

“Será que é o estado Berserker? Ou ele realmente não teme nada?” O simples eco da palavra "divindade" faria qualquer um fugir sem hesitar. Quem teria a loucura de enfrentar uma? Talvez o guerreiro não acreditasse que ela fosse uma, ou realmente não temesse.

— Seja homem ou mulher, seja humano ou outro ser, seja demônio ou anjo; todos respeitam e temem os deuses. — Suas mãos antes nuas, foram abençoadas por suas duas espadas. — Se você ainda não teme, farei temer. 

— Hahaha! Agora gostei. — Começou a dividir Misriam em duas. — Venha!

Mani não tolerava a falta de pudor e respeito daquele homem. Avançou em grande ferocidade, em segundos estava acima de Aldebaram. Jogou as duas espadas contra a cabeça dele, mas habilmente o guerreiro posicionou os machados em um "X" acima da cabeça. O choque resultou em um tinir estrondoso, seguido de uma onda de choque que lançou árvores aos ares.

Em segundos, a área que antes estava repleta de pinheiros e neve transformou-se em uma clareira, com o chão desprovido de qualquer vestígio de neve, revelando apenas a terra.

— Ora, ora…. — Mani antes apática, um pouquinho raivosa, abriu um sorriso impressionada. — Até que é forte, guerreiro.

A divindade forçou as espadas contra os machados, gerando um impulso que a projetou para trás. Ainda em pleno vôo, colocou uma mão na lombar e manteve a outra na barriga, executando um rodopio no ar. As intenções dela confundiam o guerreiro, mas ele se preparou. Um giro, dois giros e ao terceiro... Uma das lâminas curvas voou de sua mão, agindo como um boomerang graças ao seu formato. Veloz, passou ao lado de Aldebaram, dando meia volta em direção às suas costas. 

O guerreiro ágil virou rapidamente o corpo, para aparar o golpe iminente.

“Bobinho” Mani cessou o giro, aterrissando com elegância no solo agora de terra. Impulsionando suas pernas, levantou-se rapidamente, avançando com determinação. As árvores ao seu redor pareciam convergir contra sua face, delineando um caminho claro à sua frente, com Aldebaram sendo o único alvo em sua concepção e visão.

Ela se aproximou rápido do guerreiro, foi a uma velocidade tão absurda que ele ainda estava em meio ao movimento de giro para aparar o primeiro golpe. Com agilidade, Mani jogou o corpo para a esquerda, preparando sua espada. Passando velozmente ao lado do guerreiro, lançou seus joelhos ao solo, sua lâmina cortou pela lateral do homem enquanto seus joelhos deslizavam pela terra. Ao parar, a massa de ar agitada por sua movimentação avançou contra ela, esvoaçando seus cabelos.

— Acabou.

— Quem disse? 

Surpreendendo a deusa, Aldebaram permanecia de pé, seu sangue escorria do ferimento recém-causado, mas aparentava não ter importância para o guerreiro.

— Tome. — Aldebaram havia parado a primeira espada, e a jogou para a deusa. — Bota mais força em seus ataques, tá fraquinha hahaha!

— Fraquinha!? — Mani levantava-se de maneira lenta, enquanto seu rosto ficava obscurecido. — Você está caçoando de uma deusa!? — A medida que levantava a sua aura começava a irradiar. — Irá se arrepender! — Ela olhou para o guerreiro… mas. —O q-

Aldebaram já havia avançado, agarrando Mani pelo colarinho. A expressão incrédula da deusa fez o guerreiro rir. Para alterar aquela expressão, Aldebaram forçou o rosto dela contra a terra, correndo e arrastando aquela face divina pelo solo, deixando um caminho cavado por onde passava. 

— Se prepare! — A enorme velocidade saltou e a arremesou contra os escombros da cabana. — Ui…

Todos estavam atônitos, a autoproclamada deusa estava sendo humilhada por aquele guerreiro. Aquele humano estava desafiando e superando uma divindade.

— Ela não está em seu auge… — lamentava Erne, que estava com Dorni desmaiado em seu colo. — Nunca irá vencer aquele homem…

— Mestre… — Dorni já estava meio acordado. — É verdade… ela ainda não está perto de seu auge…?

Erne baixou o olhar em direção a Dorni, passou a mão por seu cabelo e respondeu:

— Infelizmente…. A barreira não a permite…. Ter todo seu poder.

— Mas como?... Naquele dia na sala do trono…. Ela venceu de você facilmente.

Haha! Garoto, assim me magoa…. Mas, uma coisa é lutar contra mim ou Aldebaram normal…. Outra é lutar contra ele, neste estado.

Em meio às madeiras de escombros da cabana, uma aura expandiu exponencialmente. Todas as madeira foram lançadas ao ar, deixando o local apenas com a presença da deusa em estado de ódio. As veias em seu rosto saltavam, seus lábios eram mordidos com vigor e suas mãos pressionavam as espadas.

— Voc-

Antes de terminar de falar, Aldebaram já havia aparecido próximo a ela. Ela assustou-se, sentindo o calor da mão do guerreiro próximo ao seu rosto. O rosto de Aldebaram estava distorcido pela enorme velocidade, até que ela sentiu o impacto da mão em seu rosto.

— Vamos voar!! — Aldebaram avançou segurando o rosto da deusa, e saltou, ao chegar ao mais alto que pode, a lançou de volta à terra.

Seu corpo deslocou-se a uma enorme velocidade, assemelhando-se a um míssil em direção ao chão. Em questão de segundos, aproximou-se de tocar o solo e... Um impacto monstruoso ocorreu, nuvens enormes de poeiras foram lançadas ao ares.

O guerreiro pousou próximo, a vitória parecia certa. No entanto, uma sensação estranha tomou sua mente, algo que não deveria acontecer, considerando o modo Berserker.

Aaaaah!! 

Aldebaram olhou para trás, observou os soldados inimigos gritando agoniados, caindo ao chão com as mãos na cabeça. Logo após, suas cavidades brilhavam.

— Vovô, o que está havendo!? 

— A deusa… Ela.. — Dolbrian observou aqueles orbes saírem das boca dos homens — Ela está absorvendo as almas deles!!

— Mas ela é uma deusa! Como pode!?

— Meu neto… Homens ou deuses, todos carregam o peso da fome por poder.

Apesar de ser uma divindade, ela não estava isenta de desejos e dos pecados que os envolviam. Consequentemente, os deuses eram transformados em demônios errantes.

“A aura dela, está aumentando… Agora enfrentarei algo próximo de seu máximo” Aldebaram sentia o poder da deusa aumentando a cada alma tomada. 

— Venha, humano. — Um sorriso sádico tomou seu rosto. 

Aldebaram avançou rapidamente para sua posição, com seu machado na mão direita, desferiu um golpe. Mas, não sentiu impacto algum e, ao olhar rapidamente ao redor, não a encontrou. Seu braço ainda estava esticado quando sentiu um peso acima dele. Virando o olhar rapidamente, observou Mani de forma elegante, pausando acima dele.

A deusa desferiu um corte mirando o pescoço do guerreiro. Este jogou o braço para cima, lançando a deusa junto; ela voou pelo ar, girou e caiu atrás de Aldebaram. Num movimento ágil, Mani desferiu um golpe horizontal, cortando as costas do guerreiro e o arremessando no processo.

Aldebaram caiu, mas ao tentar se levantar, sua vontade encontrou um peso incomum, como o peso de uma árvore milenar, que o prendia ao chão. 

— Humanos insolentes ficam no chão. — Um sorriso ainda mais maléfico tomou seu rosto. 

O sangue fluía das costas do guerreiro, manchando o solo, enquanto a deusa, ao perceber, retrocedeu um pouco e…

— Se minha simples presença ou poucas palavras, não foram o suficiente para te ensinar... Talvez a dor te dicipline — Enfincou uma das espadas no ferimento aberto; sangue jorrou, e um gemido agônico ecoou. — E por fim, você entenda, um mortal nunca estará no nivel de uma divindade.

Aldebaram segurou os gritos e, em um movimento rápido, girou o corpo, surpreendendo a deusa. Lançou um golpe veloz, mirando atingir pelo menos uma parte do torso dela. No entanto, ao passar da lâmina do machado pelo local onde ela deveria estar, nada ali estava.

— O q- 

— Olhe para o céu — disse a deusa, surgindo atrás de Aldebaram, que virou rapidamente para acertá-la. — E eu sou uma deusa lunar… —  ela repetiu, agora do outro lado. O guerreiro fez o mesmo novamente. — E a lua resplandece ao alto, ou seja…

Mani ascendeu aos céus, posicionando-se diante da enorme lua. A luz lunar a banhou, fazendo suas espadas brilharem, e uma expressão tranquila tomou conta de seu rosto.

— Primeira Lua: Minguante.

— Mudou nada… — Aldebaram falou cedo demais, de imediato ela desapareceu de sua visão. — Cadê ela!?

— Estou aqui. — Surgindo atrás do guerreiro, que soltou para frente. — Minguante, a luz lunar que ilumina meu surgimento.

Aldebaram pouco se importou com essas palavras e avançou em direção a Mani. Cruzou os dois braços que portavam os machados à frente do rosto, jogando-os bem atrás do corpo. Ao chegar onde a deusa estava, descruzou os machados a toda velocidade, na esperança de desferir um golpe mortal.

— Errou, guerreiro. — Ela havia aparecido por trás dele, acertando uma espadada em suas costelas.

Argh! — Ao sentir, virou-se rapidamente, já desferindo um golpe.

— De novo, errando. — Ela apareceu ao seu lado, e a um movimento rápido em zig-zag, desviou de seu machado e perfurou a lateral de seu corpo. 

Ela saltou ao céu, pairando novamente em frente a lua, um sorriso sádico outra vez tomou sua face.

— Segunda Lua: Crescente 

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