Volume 1

Capítulo 25: Pandora

Já adentrando o castelo de Pandora, o quinteto primordial a seguia em silêncio. Após causarem tantos problemas à sua criadora, não tinham coragem de dizer uma palavra.

Em contraste com a aparência externa aterrorizante, o corredor que percorriam demonstrava certo requinte e elegância; paredes de mármore branco e um piso no mesmo tom.

As paredes eram adornadas por quadros e pinturas, intercalando entre infernais, aterrorizantes e algumas belas. Candelabros seguiam até o fim do corredor, provendo a luz local. 

Apesar do calor proveniente do inferno ser extremo, as velas nos candelabros não derretiam. Ao longo do corredor, portas e mais portas o ladeavam, todas fechadas e guardadas por demônios.

O som dos passos primordiais ressoava por todo o corredor. À frente, Blanc e Noir ainda se estranhavam, mas em silêncio, demonstrando respeito por sua rainha.

Logo atrás, os outros os seguindo estavam encolhidos e desviando os olhares, por medo de repreensões.

Ao observarem Pandora parar, repetiram a ação. Estavam à frente das enormes portas vermelhas incrustadas de ouro. 

— Acha que Pandora irá nos punir? — questionou Rose.

— Se nos punir, que seja simétrica — respondeu Bleu cruzando os braços.

— Seu maluco perfeccionista… Se uma punição vier, será sob aqueles dois — comentou Jaune, frisando o olhar em Noir e Blanc.

Nenhum primordial desejava ser punido por Pandora; tal ação sempre fora vista como indesejável, dada a fama sádica da rainha do inferno.

Enquanto Rose já maquinava seduzir Pandora em último caso, Bleu buscava apenas a simetria, e Jaune só estava interessado em saciar seu apetite.

Ao erguer os braços, Pandora abriu as enormes portas, revelando a beleza luxuosa do salão do trono. Um extenso tapete vermelho se estendia até as escadarias. No topo, em quatro degraus, repousava um imenso trono de mármore negro, com assento e encosto feitos de pele de sentinel branco, uma ave gigante do inferno.

— Como sempre esplêndido, minha rainha — comentou Noir, analisando toda beleza local.

— Pode me chamar de mãe, meu querido — consentiu Pandora, e começou a avançar. — Venham, meus filhos.

Pandora, com passos leves e elegantes, caminhou até seu trono, repousando delicadamente sobre ele. Os primordiais adentraram a sala, caminhando sobre o tapete vermelho, encontrando-se ladeados por imponentes pilastras de mármore branco, parecidas com as gregas. Estas se estendiam por toda a sala, conferindo sustentabilidade ao teto branco, adornado com pinturas como catedrais.

A iluminação emanava dos enormes lustres de cristais de alma, obtidos capturando as almas de seres inteligentes com pedras da alma. O poder destas almas, agora em prisão eterna, gerava uma luz branca, conferindo um ar sofisticado ao ambiente.

Além dos lustres, amplas janelas de vidro temperado permitiam a entrada da luz infernal. O inferno sempre permanece iluminado graças à sua composição de fogo. Contudo, para evitar a vista desoladora de apenas chão vermelho e sofrimento, Pandora ordenou o plantio de árvores e flores belas ao redor de seu castelo, provenientes do próprio inferno.

Dentro daquela sala, apenas os seis residiam. Todos os Primordiais, a passos firmes, caminharam até a base das escadarias e rapidamente ajoelharam-se de cabeça baixa, pois não se achavam no direito de vislumbrar a beleza imponente de sua criadora.

— Majestosa rainha, nossa mãe e criadora, teus filhos mais poderosos avançaram solenes em tua direção, prontos para se curvar diante de tua grandiosidade e dedicar-se aos teus desígnios.

Os chamados primordiais, temidos por sua capacidade de lançar o inferno, o céu e a terra ao caos mais profundo, humildemente abandonaram sua arrogância e soberba, curvando suas cabeças diante da presença da entidade mais poderosa ali presente.

Aqueles que possuem o poder de encerrar tudo e desafiar deuses reconheciam naquela mulher a sua rainha.

— Meus filhos, ergam suas cabeças

Todos os primordiais obedeceram, ainda ajoelhados, suas cabeças subiram e seus olhares fixaram na mulher solene a suas frentes. 

Pandora, a rainha dos demônios, inspirava uma reverência silenciosa ao revelar sua beleza imponente. Diferente dos demônios ao seu redor e por sua origem humana grega, sua pele era branca de uma maciez e suavidade única, sem o vermelho característico, mas adornada por marcas em forma de gotas ou pontos brancos e pretos que delicadamente decoravam seus braços.

Seu olhar, simultaneamente feroz e benevolente, emanava uma sabedoria milenar através de íris cor de rubis ardentes. Cabelos longos, vermelhos como o sangue dos inocentes jogados no inferno. Sobre eles, uma coroa negra majestosa repousava, adornada por chifres pontiagudos.

Seu corpo esguio, mas com curvas pronunciadas, destacava uma beleza e sedução notáveis. Vestida em trajes elegantes negros cravejados de ouro branco, exibia a luxuosidade e imponência dignas de uma rainha soberana. Suas unhas, cada uma refletindo a cor proeminente de um primordial, revelavam uma beleza graciosa. Como todo demônio, Pandora ficava descalça, permitindo que seus pés tocassem o solo com uma presença firme e majestosa.

— Minha rainha, qual o motivo de nossa convocação? — questionou Noir, atordoada pela beleza exalada daquela mulher.

— Já falei para me chamar de mãe. — Olhou seriamente para Noir, o deixando desconfortável, fazendo desviar o olhar e, continuou: — Bom, já faz mil anos, né?

— Sim, minha rai-

Ao sentir a aura sinistra preencher a sala, voltou rapidamente seu olhar para Pandora, que exibia um sorriso no mínimo suspeito. Temendo pela própria vida, corrigiu-se rapidamente.

— M-minha mãe — Suando frio, se corrigiu a tempo.

Blanc, ao seu lado direito, esboçou um sorriso irônico, como se estivesse caçoando a situação desesperadora de Noir, provocando-lhe uma leve irritação.

— Bom, seus olhares me indicam a curiosidade presente em teus seres — Reencostando e apoiando os braços no trono, continuou: — Iremos invadir o mundo terreno.

Tais palavras pegaram todos de surpresa, fazendo-os olhar uns para os outros em busca de confirmação, como se pensassem: "Eu ouvi isso mesmo?"

Já se passavam pelo menos 5000 anos desde a última invasão de grande escala, e a barreira era a principal razão para isso. Além de impedir os deuses de interagirem com o mundo terreno, a barreira também restringia os demônios.

— Mas, rai- mãe, como? — Noir, o mais confuso entre todos, sendo também o mais sensato e estrategista, já havia ponderado milhares de ideias para invadir o mundo terreno, porém, inevitavelmente, sempre chegava à mesma conclusão: impossível.

— A barreira está enfraquecendo — disse Pandora.

— Como!? — perguntou Noir, intrigado.

Pandora deu um sorriso confiante, virando seu olhar na direção de Blanc, o dirigindo a palavra:

— Blanc, meu filho, você invadiu o mundo terreno, não foi?

Era óbvio que Pandora já sabia de tal ato, nada acontecia no inferno sem o conhecimento prévio da rainha, era até muita ousadia pensar em algo assim.

Blanc não se acovardou e, imprudente como sempre, cruzou seu olhar com o de Pandora.

— Sim.

— Como, meu filho? 

— Eu simplesmente sentia a aura de Apolo, e corri para o círculo de invocação, criado pelo ódio.

Noir arregalou os olhos e virou seu olhar rapidamente para Blanc.

— Como!? Primordiais são recusados graças a barreira, e o portal se quebra… Então como!?

Pandora notando a confusão de seu filho Noir, decidiu sanar todas suas dúvidas e questões.

— Alguém pertencente ao mundo terreno, a enfraqueceu — afirmou Pandora.

— Impossível, para enfraquecê-la, teriam que invadir Alexandria e enfrentar os arcanos mantenedores da barreira. — Ao olhar para sua rainha, notou apenas aquele olhar firme e penetrante avançando em sua direção como agulhas ou facas.

— Ousa desrespeitar ou contrariar sua criadora!? Insinua que estou contando inverdades!? 

A aura emitida de Pandora envolveu todo o inferno, expandindo-se exponencialmente e sufocando todos ao seu redor. O próprio inferno começou a esfriar, pois a intensidade da aura extinguia o fogo. A pressão aumentou a ponto de fazer os primordiais sangrarem pelo nariz.

As almas nos cristais inquietaram-se, tentando fugir do perigo iminente. Com os olhos arregalados, gradualmente avermelhando-se, lutando para soltar apenas uma sílaba de sua boca, Noir deu todo o seu esforço até:

— M-me perdoe-

A aura imediatamente dissipou-se, como se nada tivesse acontecido. A temperatura voltou a aumentar, e o ar recuperou sua leveza. As almas nos cristais voltaram a ficar quietas, como se o breve instante de tensão tivesse sido apenas uma ilusão passageira.

— Tudo bem. — Portando um sorriso simpático em seu rosto, agia como se não tivesse feito nada. 

“Essa aura, essa sensação, apenas Zeus e Odin, tinham tal imponência”, pensou Blanc, observando Noir recuperar os sentidos.

— Desculpe, os atos de meu irmão? Ah, tanto faz, os atos de Noir foram desrespeitosos e afrontosos, mas sem a intenção — disse Blanc, que olhou de canto para Noir.

O primordial preto sabia que aquilo era apenas uma provocação. Blanc nunca falaria daquela forma, tão formal e humilde, sem essa intenção.

— Noir, você é inteligente, sabe que existem outras maneiras, pense. — Pousou seu cotovelo sobre o apoio do trono, dando apoio à sua cabeça enquanto aguardava a conclusão de Noir.

“Outras formas….” Franziu a testa, tentando ter um vislumbre da resposta.

Hummmmmm….! — Como uma lâmpada se acendendo, tudo ficou claro em sua mente. — Alguém… andou recitando!

Pandora, com uma expressão orgulhosa em seu rosto, começou a bater palmas.

— Viva! Viva! Você sempre foi inteligente, meu filho.

Após parabenizar Noir, Pandora retomou as explicações. Discorreu sobre as recitações, formas de trazer um deus através da barreira. Quando um mortal recita, abre-se uma espécie de porta na barreira, pela qual o deus invocado pode atravessar livremente e empregar parte de seus poderes no mundo mortal. No entanto, nada é concedido sem consequências, e aqui, a ação sempre terá seu preço: enfraquecer a barreira.

A cada vez que um deus atravessa a barreira, os arcanos modificam as palavras de invocação daquela divindade, impedindo futuras invocações. Contudo, há aqueles que persistem em realizar tais invocações, enfraquecendo assim a barreira.

Como saber tais recitações eram restritas aos anciões arcanos de Alexandria, tal coisa nunca deveria ter acontecido, mas por algum motivo, outras pessoas tomaram conhecimento das palavras.

Olhando para baixo, com um sorriso maligno em seu rosto, Blanc começou a falar:

— Essas pessoas começaram a saber aleatoriamente… — Seu olhar lentamente subia em direção ao rosto proeminente de Pandora — …Ou alguém tem envolvimento nisso.

— O que quer dizer, Blanc? — questionou Noir, fitando Blanc, confuso com tais afirmações. Então, percebeu aquele olhar de "Eu sei que foi você" de Blanc para Pandora.

Pandora inteligente e astuta, notou a malícia de tais afirmações disfarçadas em dúvidas. De certa forma sentiu orgulho de seu filho, Blanc, por ter pensamentos teoricamente certeiros.

— De qualquer forma, a barreira já não é mais a mesma — Voltando a colocar os dois braços apoiados no trono, continuou: — Você conseguiu invadir o mundo terreno, Blanc.

Noir, mesmo contente com tais palavras e afirmações, guardava um certo receio que decidiu compartilhar.

— Mãe, mas… Para Blanc invadir o mundo terreno, o inferno quase entrou em colapso — Coçando seus cabelos negros como o breu, voltou seu olhar escuro para baixo: — Acho impossível fazer…. Sem destruirmos o inferno.

Pandora esboçou um sorriso verdadeiramente genuíno. Estava contente por seu filho se preocupar tanto com o inferno. Contudo, como a soberana que era, já tinha as respostas para dissipar tal receio.

— Bom, meu filho, para isso usaremos eles — apontou para os três Primordiais logo atrás de Blanc e Noir — Eles não causarão tal comoção ao sair do inferno, ao contrário do que vocês dois causariam.

Bleu, Rose e Jaune, que até o momento não haviam dado o ar da graça por medo e recuaram de soltar uma sílaba sequer, espantaram-se ao ver o dedo indicador de unha preta apontando para eles.

Devido ao elevado nível de poder de Noir e Blanc, sair do inferno demanda muita energia do local. Agora, para demônios mais fracos como Bleu e Rose, e até mesmo Jaune, o custo era consideravelmente menor.

— Mamãe!? — exclamou Jaune apavorada. 

— O mundo terreno é tão assimétrico — afirmou Bleu.

— Tantos homens e mulheres para seduzir…. — Colocando o dedo na boca, continuou: — Eu quero ir…

Voltando o olhar intrigado para Pandora, Noir perguntou:

— Então, qual o plano, minha mãe?

Um sorriso medonho tomou sua face, seus olhos transmitiam a expressão maligna. Colocando a mão aberta à frente do rosto, começou:

— Vamos obrigar, aqueles que andam recitando. — Sua mão que estava à frente de seu rosto permitia ver todos os primordiais ajoelhados com sorrisos malignos; subitamente, a fechou firmemente. — Vamos fazê-los sofrer, obrigando-os a recitar novamente, novamente, novamente e novamente! Hahahahahaha!

A risada horripilante e maligna ecoou por toda sala do trono, por todo o castelo, por todo o inferno. Os primordiais acompanharam, criando a sinfonia diabólica de risos e gargalhadas. Até mesmo demônios temiam tal harmonia.

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Notas:

Notas:

Aviso: Todas as ilustrações presentes na novel foram geradas por IA — já que atualmente não possuo recursos para contratar um ilustrador. —  Reconhecemos que a IA não é perfeita, portanto, a ocorrência de erros é inevitável. O objetivo é simplesmente proporcionar uma representação visual do que o autor imaginou inicialmente. Lembre-se de que as ilustrações são apenas uma interpretação básica e, por vezes, podem não estar totalmente em conformidade com a descrição fornecida. Recomendamos que considere sempre a descrição como a verdade principal, utilizando as imagens como um guia básico. Pedimos desculpas antecipadamente caso algo cause desconforto visual.

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