Volume 1

Capítulo 24: Passeio Pelo inferno

A entrada principal do Castelo de Pandora era majestosamente guardada por um portão colossal de ossos negros, entrelaçados e adornados com crânios humanos deformados. As cabeças horríveis, com expressões de tormento, estavam fixadas no portão, observando os visitantes com os olhos vazios.

Pandora fez questão de manter apenas os olhos dessas pobres almas, vivos.

Os muros ao lados do portão, feitos do sombrio ossos negros, erguiam-se imponentementes, transmitindo a sensação de condenação. Suas texturas entrelaçadas e padrões sinistros refletiam a essência demoníaca que permeiava o local. Ao longo dos muros, torres retorcidas e escuras se elevavam, pontuando o horizonte infernal.

— Perfeitamente simétrico — comentou Bleu, com a mão no queixo analisando o muro e portão. — Não esperava menos de minha criadora.

— Esse olhos… — Jaune lambeu os beiços. — Qual será o sabor…?

Os olhos começaram a se contorcer, como se tivessem ouvido e, quisessem fugir da devoradora voraz.

— Toque em apenas um desses crânios, os desorganizando. — Uma aura azul começou a irradiar de Bleu. — E eu te mato.

— Bleu, não me impeça de comer. — Jaune, seguiu o exemplo de Bleu, e começou a expandir sua aura. — E, eu irei te matar.

Seus olhares se encontraram, o clima ficou tenso, como se uma tempestade se aproximasse com raios e trovões iminentes.

— Chega, chega. — Rose entrou no meio dos dois, os abraçando. — Vamos extravasar toda essa energia em outro lugar…

Bleu e Jaune escaparam de sua captora e a empurraram. 

Jaune cruzou os braços e murmurou:

Humph! — Batendo os pés no chão, continuou: — Eu não, fazer isso, só dá mais fome.

— Não compartilharei minha cama contigo, Rose — disse Bleu. — Seus seios têm uma assimetria desconcertante.

Rose ficou atônita, surpresa pelo perfeccionismo rude daquele troglodita. Como ele se atreve a chamar seus seios de assimétricos?

Com um ódio que ecoaria no inferno, ela perguntou "calmamente":

— Como assim? — Um sorriso forçado distorcia seu rosto, revelando a tensão nos músculos de sua boca.

Bleu apontou para seus seios e respondeu:

— Há uma pinta em um, mas no outro, nada... — Levantou uma sobrancelha. — Ou seja, assimetria!

O demônio havia cometido um erro terrível. A aura de Rose expandiu-se exponencialmente.

Blanc, que observava a situação piorar, aproximou-se de Noir e sussurrou:

— Bleu, vai morrer, né? 

Noir, que também testemunhava a situação desesperadora de seu amigo primordial azul, respondeu, coçando a nuca:

— Olha, levando em conta o temperamento de Rose… — Suspirou. — Bleu, será destroçado.

Ao observar aquele sorriso distorcendo-se cada vez mais, e veias pulsando no rosto da primordial, Bleu percebeu a besteira que havia cometido.

— Ei, ei, calma aí! — Bleu colocando as mãos à frente do corpo, tentando apaziguar a situação, continuou: — Não tem problema ser assimétrico, tem concerto… Sabe.

Blanc, Noir e Jaune bateram com a mão no rosto. Aquele idiota só conseguiu piorar bizarramente a situação; agora, Bleu estava prestes a enfrentar a fúria de uma mulher possessa.

— Bleu, tá ferrado — disse Jaune, comendo um olho.

Noir olhando ela desacreditado, comentou:

— No fim, você pegou os olhos.

— Tanto faz. — Ela deu com os ombros e jogou o olho na boca.

No cenário de horror que Bleu tinha se enredado, a situação deteriorava-se rapidamente, com a aura assassina da primordial rosa tornando-se palpável.

Era como se Rose fosse uma predadora, acuando sua presa; a cada avanço dela, Bleu retrocedia dois passos, temendo pela sua longa existência. A mera ideia de nunca mais contemplar a simetria do mundo o apavorava.

— Que foi, Bleu… — Ela abriu os olhos, antes poucos fechados, e o fitou. — Por que está se afastando de mim…

— Me ajudem!!! — Tentava desesperadamente pedir a intervenção de outro primordial.

Saboreando outro olho que se contorcia, tentando escapar a todo custo, Jaune dirigiu a Noir uma indagação:

— Bleu é mais fraco que Rose?

— Não dá para saber qual o poder deles. — Colocou a mão no queixo. — Mas eu diria que são equivalentes.

Na hierarquia dos demônios primordiais, Noir e Blanc, os mais poderosos, nunca travaram uma batalha entre si. A ordem exata de quem é o primeiro e segundo mais forte permaneceu desconhecida. Jaune se destacava como a terceira mais poderosa, enquanto Bleu e Rose compartilhavam o quarto lugar, empatados em força.

Ou seja, em uma batalha entre aqueles dois, o vitorioso era uma incógnita.

Rose saltou na direção de Bleu, pronta para matá-lo. Uma batalha entre primordiais estava prestes a começar, e a escala dessa luta estremeceria todo o inferno.

Repentinamente, Noir apareceu entre os dois. Duas asas negras surgiram de suas costas, com penas capazes de perfurar deuses. Agilmente apontou as asas nos pescoços dos primordiais, ainda agachado e olhando para baixo, apenas falou:

— Se querem tanto se matar, eu os pouparei do trabalho.

— Ei! Noir! Queria ver a luta… — gritou Blanc, comendo um olho também, enquanto usava um braço para afastar Jaune, empurrando sua testa. — Tsc, seu chato.

— Devolve, o olho! — Jaune tentava a todo custo alcançar Blanc, mas sua força era inexpressiva perto do primordial branco, e seus braços pequenos. — Vai, Blanc!

Com a morte diante de si, o ser que sozinho poderia dizimar todo o inferno. Sentindo as penas perfurarem sua pele, Rose abaixou o olhar.

— Desculpe, Noir.

Tendo a mesma visão e sensação que Rose, Bleu seguiu o exemplo.

— É, desculpe.

Nenhum primordial, exceto o insano e poderoso Blanc, teria a ousadia ou capacidade de contradizer Noir, ou sequer pensar em desafiá-lo.

Noir recolheu as asas negras e retornou à frente do portão.

Rapidamente Rose o abraçou por trás e sussurrou em seu ouvido:

— Me perdoe Noirzinho… Te recompensarei por todo imprevisto.

Noir ouviu com uma expressão apática, inexpressiva, sem qualquer sentimento além da indiferença, diante de tal proposta.

Como se não tivesse escutado, continuou seu caminho para dentro das muralhas, deixando Rose falando sozinha.

Ahh… Quem comeu os olhos!? — Curvando as costas, seguiu Noir, com uma expressão descontente. — Ficou todo assimétrico…

Ao adentrarem os portões, depararam-se com a vista paradisí- infernal. Afinal, era o lar da rainha e criadora dos demônios. Uma grama já sem vida, toda sua cor verde fora sugada, tingindo-se num tom vermelho vinho. Rosas cor de sangue e pretas floresciam pela extensão do quintal de Pandora. 

Árvores chamadas de infernineas permeavam todo o local, seus troncos retorcidos sem qualquer padrão e suas folhas cinzas, como se tivessem sido queimadas e voltado à vida. 

— Pandora, ama flores, né? — quetionou Rose.

— Ela dizia que eram a única lembrança boa de quando foi humana. — respondeu Noir — E que por isso nunca nos permitiu queimar o mundo.

Tsc, idiotice — rebateu Blanc, chutando uma flor. — Por isso perdemos da última vez.

Rapidamente Noir, surgia a frente de Blanc, e o segurou por seu colarinho. Encarando-o com uma expressão séria.

— Não ouse desrespeitar os gosto de Pandora — O jogou para trás, fazendo Blanc cair sentado. — Ou estragar aquilo que ela ama.

Blanc baixou o olhar, sua expressão não era possível de ser vista, pois seu rosto estava obscurecido, mas todos ali sentiram subitamente a mudança de pressão, como se a gravidade os estivesse esmagando. De repente, uma enorme rajada de vento soprou de Blanc, lançando todos os primordiais para trás, exceto Noir, que firmou seus pés no chão.

A rajada de vento era a aura de Blanc expandindo-se, encobrindo todo o castelo de Pandora. Abalando até o mundo terreno, agitando os mares e causando tufões.

— Você, ousa me tocar, Noir? — Asas com penas intercaladas entre brancas e pretas, saíram de suas costas. — Você irá morrer.

Suas asas começaram a bater o levantando, e o fazendo alçar vôo.

— Merda, se eles brigarem, o inferno virá abaixo — preguejou Rose, sabendo que uma briga entre aqueles dois, dizimará o inferno, logo depois a terra e por fim o paraíso.

Essa era a escala de uma briga entre Blanc e Noir, essa era a escala de uma batalha entre dois seres categorizados como: Diabos. 

“Se brigarmos, acabaremos com todo o conceito de inferno”, pensou Noir, diferente de Blanc, ele era mais centrado, e menos imprudente. Sendo assim, nunca brigou com o demônio branco, por saber do estrago que iriam causar.

Mas no fim ele havia o provocado, e o demônio branco não iria deixar isso barato. Não era de seu feitio, ou seja, a luta era inevitável. 

— Ameaça infundada, Blanc — Suas asas negras também abriram em todo seu resplendor.

Blanc, fez suas unhas crescerem, formando suas garras devastadoras. Prontas para rasgar Noir em dois.

— Essas garras… — À medida que falava, uma sombra negra tomou suas mãos e formaram duas adagas negras. — Mas contra minhas sombras… 

As asas dos dois primordiais batiam em sincronia perfeita, o tempo parecia ter parado. Noir entrou em posição de combate, deixando uma adaga à frente de seu corpo e outra mais atrás.

De um instante para o outro, Blanc avançou, desencadeando o primeiro choque entre adagas e garras. A onda gerada por tal golpe estremeceu todo o inferno, provocando terremotos no mundo terreno. O embate entre os primordiais tornou-se uma sinfonia de poder que reverberava pelos reinos, ecoando a magnitude da batalha que mal havia começado.

Blanc recuou, preparando-se para avançar novamente, mas Noir tomou a iniciativa e avançou primeiro, lançando um golpe com a adaga que cortou os céus. Contudo, Blanc desviou, e a onda gerada por esse golpe destruiu montanhas próximas.

O caos se instalou no inferno, demônios correndo apavorados enquanto os menos afortunados eram esmagados por enormes pedras ou fragmentos das montanhas despedaçadas.

Blanc executou mais um golpe em Noir, que ainda se recompunha após o erro anterior. Suas garras se moviam a uma velocidade extrema, direcionadas à cabeça do demônio negro. A centímetros de perfurar a cabeça demoníaca, Noir bloqueou com suas adagas formando um "X" e retaliou com um chute em Blanc, arremessando-o para trás.

Noir avançou impiedosamente. Como uma harpia, passou rapidamente por Blanc, desferindo um preciso corte de adaga.

O choque das armas ressoou por todo o inferno, estilhaçando os tímpanos dos demônios mais fracos.

— Que perca de tempo — lamentou Noir, preso no impasse entre as garras de Blanc e suas adagas.

— Tá fraquinho em Noirzinho — provocou, e adicionou forças a seus braços, empurrando as adagas de Noir.

As rajadas resultantes do choque de suas armas faziam casas serem lançadas pelos ares, montanhas eram completamente aniquiladas, e demônios se desintegravam. Somente o castelo de Pandora permanecia intacto, protegido pela vontade dos primordiais.

Aaaaahhh!!!

Aaaaah!!!

Era um impasse magnífico, duas forças de destruição em massa, equilibrando-se e se neutralizando, numa luta épica que poderia redefinir o próprio conceito de inferno.

Nesse embate, mortes e caos desenfreado eram desencadeados pelos poderes colossais em confronto, marcando a batalha do milênio.

Os outros primordiais apenas observavam, ocultos no quintal de Pandora, pois diante da magnitude daquelas criaturas monstruosas, não havia ação que pudessem empreender.

A primeira luta entre o Branco e Preto, significava última de todo o inferno, por isso aqueles dois nunca se enfrentaram.

— Cansei das garras… — Blanc finalmente revelaria sua arma verdadeira. — Princípio do fim, apareça.

Ao proferir essas palavras, uma espada surgiu do branco eterno mais profundo, com uma lâmina afiada de um só gume, adornada por três olhos ao longo de sua extensão. 

“Princípio do fim… A cada olho aberto… mais próximo do fim de tudo”, pensava Noir.

O surgimento daquela espada alterou completamente a atmosfera, como se uma tonelada tivesse sido arremessada por cima de todos.

— Bla-

— Abra-se, primeiro olho, existência negada. — Com as palavras pronunciadas, o primeiro olho se abriu.

Rapidamente, Blanc avançou, e por onde sua espada passava, tudo deixava de existir, incluindo as próprias moléculas. Um golpe descendente cortou o ar em direção a Noir.

A sombra da lâmina projetou-se sobre seu rosto, aproximando-se implacavelmente. Ao toque daquela lâmina, qualquer vestígio de existência seria negado, apagando-o do universo.

— Merda! — Noir exclamou, posicionando rapidamente suas adagas diante do rosto para se proteger da espada. Num instante, as adagas deixaram de existir, e com o tempo mínimo gerado, Noir recuou, escapando do golpe iminente. 

Observando Blanc, acertar a vasto nada, que ele estava instantes antes. Decidiu levar a briga a sério.

— Se é assim que quer Blanc… Amálgama da morte. — Rapidamente uma foice negra sublime se formou em suas mãos. A foice era uma amálgama de escuridão e sublime poder. Sua lâmina negra, afiada como a própria sombra, possuía entalhes intricados em vermelho que emitiam uma aura sinistra. 

O cabo era esculpido com runas antigas, parecendo pulsar com uma energia sombria. Ao longo do cabo, fios de prata entrelaçavam-se, emanando um brilho fraco. A foice parecia uma extensão natural do próprio domínio da morte, uma arma majestosa e temível nas mãos de Noir.

O embate entre duas armas forjadas a partir do princípio do fim e do conceito da morte prometia uma batalha de intensidade avassaladora, onde o choque delas poderia resultar na aniquilação do próprio mundo, como se a existência estivesse pendurada à beira do abismo.

— Já chega, meu filhos. — Pandora aparecerá, pondo o fim a iminente destruição da existência terrena.

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