Volume 1

Capítulo 12: Rumo a Cidade

— E, porque exterminaram a raça, Aldebaram? — questionou Gideon.

Aldebaran afirmou que o extermínio ainda era algo nebuloso, pois o motivo por trás dele permanecia desconhecido. Considerando que os reinos gigantes já haviam se rendido, várias hipóteses tinham sido discutidas ao longo dos séculos.

A primeira sugeria que os reinos giganoides modernistas, buscando encerrar de vez as tradições antigas, decidiram unilateralmente erradicar sua própria raça predecessora. A segunda hipótese era de que os reinos humanos, temendo um retorno fortalecido dos gigantes, optaram por extinguir essa raça. Essas eram as principais hipóteses.

Após contar tudo, os três se prepararam para sair. Gideon e Alaric, usavam as roupas que foram confeccionadas por Astrid.

Já Aldebaram, colocou sua grande armadura prata fosca feita de Mithril, eram várias partes, desde peitoral, pernas e botas. Em seu pescoço um cordão com o símbolo de um machado com runas nórdicas, que representavam Tyr.

— Prontos, garotinhos covardes? — perguntou Aldebaram, tirando sarro.

— Sim! sim! Hoje vamos finalmente ir à cidade, uhuul! — Gideon gritava enquanto levantava os braços.

Já, Alaric, sentado em uma das cadeiras velhas, não esboçava nenhuma reação de contentamento. Apenas observava os dois próximos à porta, com uma expressão apática.

— Tá muito animado, para alguém sem um tostão no bolso, Gideon  — ironizou Alaric.

Após a ironia, que Gideon pouco se importou, Alaric levantou-se e caminhou até próximo a porta.

Dolbrian aproximou-se de todos, envolvendo os dois garotos em um abraço caloroso. Gideon segurou o braço de seu avô, sorrindo com alegria evidente. Enquanto isso, Alaric permaneceu aparentemente indiferente, mas de repente inclinou sutilmente a cabeça, revelando um leve sorriso oculto em seu rosto.

— Não dêem trabalho ao Aldebaram, meninos — alertava Dolbrian, ainda abraçando os garotos.

Dolbrian olhou para Aldebaram, e com uma expressão humilde, disse:

— Eu darei um jeito de te pagar por tudo isso, Aldebaram.

Dolbrian soltou os garotos após a fala.

— Dolbrian, você tá velho demais para tanta humildade assim.

— Não me chame de velho, e não adianta eu te pagarei por tudo.

— Tá bom, Dolbrian, mas não se esforce muito, vai acabar travando as costas hahahah!

Os três saem da cabana, deixando Astrid e Dolbrian para trás. Eles começavam a longa viagem até a cidade de Windefel.

Caminhando um pouco, adentraram a floresta congelada que, encontrava-se em toda encosta da montanha, mas para não perderem tempo tendo que se aventurar por pinheiros, arbustos e neve que chegava até o joelho de alguém do tamanho de Aldebaram. Optaram pelo caminho mais fácil. Sendo esse, a trilha natural formada pela passagem de pessoas que estendia-se até Windefel.

A trilha era cercada lado a lado, por árvores e mais árvores, também conhecidas como pinheiros de todos os tamanhos e formas. O chão constituia-se de terra batida e compactada, formando assim um caminho sólido. Estava dia ainda, então o sol estava intenso no céu, mas não significava uma temperatura amena, pois sendo norte… Basicamente o norte, raramente a temperatura passava da casa dos 5° celsius.

— Aldebaram, quanto tempo demora para chegarmos lá? — questionou Gideon, curioso, afinal nunca tinha ido para a cidade.

— Bom, acho que 2 dias de viagem e chegamos lá — respondeu Aldebaram.

— Pertinho, hein — ironizou Alaric 

— O que!?? 2 dias!??

— O que foi? Suas perninhas não vão aguentar? Hahahah! — o guerreiro caçoava de Gideon.

Gideon olhou para Aldebaram, com uma expressão de desânimo. Não era para menos, já que o jovem não estava acostumado a andar a longas distâncias.

Aldebaram. — Gideon olhou para o guerreiro, ainda caminhando. — Sabe algo sobre a minha espada?

Hummmmmm… — Ele tentava lembrar-se de algo, até que: — Bom, já ouvi falar sobre… é Escolion, né?

— Acho que sim, lembro-me daquele mago… Dalilian, né? — Olhou para Alaric, buscando confirmação.

Alaric o fitou, forçou a memória e:

— Pelo que me lembro, sim... Eu acho.

— Então, Dalilian, gritou esse nome. Assim que a viu.

O guerreiro já tinha ouvido falar sobre essa espada, a algum tempo atrás.

— Deixe-me vê-la — pediu o guerreiro.

Claro! — Ele desembainhou a espada, sua lâmina era tão prateada que reluzia a luz solar em forma de feixe. — Aqui está.

Aldebaram, ainda caminhando, pegou a espada e começou a analisar: observou de um lado, inspecionou o outro. O símbolo da serpente na lâmina não lhe era estranho, até que algo lhe veio à memória.

— Tem uma antiga história ou fábula, real ou não. Que conta que a cada nascimento de um dito cujo “Escolhido”, uma espada aparece para o auxiliar.

Gideon o olhou com cara de espanto e parou, seus cabelos brancos cintilavam conforme o vento fraco e gelado. Seus olhos azuis brilharam e ele então disse:

— Então essa é a prova que sou o escolhido!?

— Gideon? — questionou Alaric. — O que foi? Não me diga que estava esperando uma prova sobre isso?

— Não entende Alaric? Eu nunca realmente acreditei ser o escolhido, mas essa espada confirmou isso…  

— É uma fábula, Gideon — falou Alaric, colocando a mão na cintura. No entanto, ao olhar o rosto de seu irmão enchendo-se de lágrimas e um sorriso puro abrindo-se, deu um passo para trás, suspirou e: — Tsc, mas se quiser acreditar tudo bem…

— Sério, Alaric!?

Alaric dirigiu seu olhar a Aldebaram, que acenava com a cabeça, como se indicasse que Alaric deveria confirmar. Após um instante de contemplação do céu, respirou fundo, voltou seu olhar para Gideon e afirmou:

— Sério, Gideon.

— Isso aí, Gideon. — O guerreiro devolveu a espada para o jovem, aproximou-se de Alaric e sussurrou em seu ouvido: — Mandou bem garoto.

Após mais algum tempo de caminhada, já era tarde. Eles decidiram parar e descansar. Montando um abrigo temporário de madeira e folhas, acenderam uma fogueira para aquecê-los, na noite gelada que estava por vir.

— Alaric, sei que sua mira é tão ruim quanto sua esgrima, mas faça o favor de caçar para nós.

— Sabe… devia deixar você passar fome guerreiro, mas isso iria significar, deixar Gideon faminto. — Ele olhou para baixo com as bochechas vermelhas. — Então, irei caçar.

Gideon também ficou vermelho. Seu irmão era uma pessoa que fazia-se de durão, mas no fundo era um garoto amoroso e fofo. Entretanto, isso o deixava confuso, seu irmão era uma caixinha de surpresas.

“Agora, como vou caçar sem arco?” questionava-se Alaric. 

Ele já havia adentrado profundamente a floresta, estando a uma distância boa dos dois no acampamento improvisado. Sem ideia de como caçar sem o arco, mas acabou lembrando das espadas.

— Espadas de luz, apareçam — logo elas formaram-se à volta dele. — Bom, teoricamente elas voam a qualquer distância.

Ele avistou um cervo à sua frente. Em um gesto rápido, Alaric calculou que estava a 35 metros da presa. Estendendo o braço e apontando a palma da mão em direção ao animal, ele inspirou profundamente, uma aura começou a irradiar dele. Logo, seus olhos já haviam mudado de cor.

— Desculpa, amiguinho — ao proferir essas palavras, lançou uma de suas espadas na direção do animal. A lâmina cortou 1 metro entre as árvores, passou por arbustos a 4 metros, continuou seu trajeto por 7, 9, 13, 15 metros e... subitamente, a espada simplesmente desapareceu no ar.

“O que!? Não me diga que tem limite de alcance…” Ao que tudo indicava a Alaric, as espadas alcançavam apenas 17 metros de seu portador, no caso ele mesmo.

Aquela situação o desanimou profundamente. Seu desejo de caçar o cervo esbarrou na limitação de sua única arma, que, aos seus olhos, se mostrava poderosa, mas não alcançava nem 30 metros. E, com os barulhos feitos pela viagem falha da espada, o cervo se assustou, fugindo no processo.

De volta ao acampamento de mãos vazias, Alaric evitava encarar Aldebaram e Gideon. Sem questionamentos, os dois observavam o jovem, cujos passos revelavam sua decepção.

Ao se aproximar de uma árvore, ele descontou sua frustração socando-a, fazendo a neve no topo cair em um gesto de impotência. O tempo passou, e a hora de dormir chegou. Aldebaram estabeleceu turnos, garantindo sempre alguém alerta diante de possíveis perigos iminentes.

— Bom, eu vou primeiro então. Os dois podem dormir aí — afirmou Alaric, ainda com uma expressão descontente.

— Não vai ficar com medinho? Hahah!

— Alaric, qualquer barulho nos acorde — alertou Gideon, apreensivo.

Após algum tempo, os dois já estavam entregues ao sono. Alaric, apesar de alerta, tinha a mente distante. As palavras de invocação de Luna, inexplicavelmente, não surgiam em sua mente, e o funcionamento de suas espadas também permanecia um mistério, um fato confirmado pelos eventos do dia.

Ao invocar uma espada de luz, ele a segurou, examinando os detalhes. Foi então que notou uma letra gravada cuidadosamente na guarda da espada.

“A? O que isso pode significar? Atacar? Avançar?” eram os pensamentos que passavam pela cabeça de Alaric, ainda segurando a espada.

De repente, uma voz foi ouvida:

— Apolo.

Alaric assim que a escutou, imediatamente invocou todas as espadas de luz e se colocou em guarda.

— Quem é você!!!?? Apareça!!

Uma criatura saiu das sombras com a pelagem toda branca e tamanho superior aos de lobos comuns daquela região, que já eram gigantes. Com presas enormes e estranhos símbolos por todo corpo cintilando em azul.

“Um lobo!? Mas eu escutei uma voz” pensou Alaric, não entendendo a situação, mas pronto para atacar.

— Sim, um lobo. Agora abaixe a arma, Garoto.

— O que!? Como você fala? Você é apenas um lobo. — Sua mente estava confusa, ele estava hesitante em atacar.

— Você já se encontrou com algum deus, né?

— Como sabe? 

— Sua aura, está transbordando divinidade, normalmente encontro com deuses causam isso.

— Oi!? — Alaric ficou ainda mais confuso, ele não sabia o que isso queria dizer.

A situação estava totalmente fora de controle, e Alaric sentia isso.

— Garoto, sua aura revela mais do que apenas um encontro com deuses, irei embora. Pergunte ao giganoide aí, sobre Lycaions, assim que entender me procure. Eu tenho informações sobre você, que nem você mesmo sabe.

Assim como surgiu, a figura desapareceu nas sombras. Com a ausência da presença ameaçadora, Alaric relaxou, embora suas mãos ainda tremessem. Contudo, com a chegada da troca de turno, mesmo confuso com os acontecimentos, ele se entregou ao sono, passando a responsabilidade para Aldebaram.

Com o amanhecer, os três organizaram seus pertences e seguiram viagem. Alaric caminhava de maneira hesitante, os eventos do dia anterior ainda pairavam em sua mente, deixando-o um tanto perdido.

— Garoto? Tudo bem? —  questionou Aldebaram, que colocou a mão no ombro de Alaric. — Parece mais perdido que o comum hoje.

Eles seguiam ainda pela estrada natural que levava até o pé da montanha. Onde ficava a cidade de Windefel, rodeados por árvores e mais árvores.

— O que você sabe sobre Lycaions? — perguntou interessado no assunto.

— O que é essa curiosidade repentina? E como você sabe o nome deles? — questionou Aldebaram, confuso.

— Só responda, Aldebaram.

— Garoto, garoto. Não é assim que se pede as coisas, né — falou Aldebaram, que olhou para o céu. — Bom, mas como você parece realmente interessado, vou contar. Lycaions, são uma raça de lobos inteligentes, criados por Inari Ōkami.

Gideon pulou na frente deles com uma expressão de curiosidade e um enorme sorriso. Enquanto ia caminhando de costas, perguntou para Aldebaram:

— Quem é esse Inari Ōkami? 

—  Como assim vocês não sabem!? — Aldebaram foi pego de surpresa.

— Ó, devemos conhecer todos os mil seres que inventaram nesse continente — ironizou Alaric.

— Bom, Inari Ōkami, não é inventado espertinho — disse o guerreiro, dando um tapa na nuca de Alaric. — Ele é uma das divindades ainda vivas, depois da segunda guerra celestial.

Gideon colocou uma mão no queixo e proferiu: — Por isso não conhecemos, não estudamos ou escutamos muito sobre divindades.

— Realmente, raramente ouvíamos sobre divindades — completou Alaric, passando a mão na nuca.

Aldebaram surpreso e incrédulo, parou bruscamente.

— Escutem, estudem sobre os deuses. Esse mundo é movido por isso.

Nesse continente, a questão religiosa ia além de algo pessoal. Já que deuses realmente existiram e já caminharam pela terra.

— Tá bom, tá bom. Ó, ser religioso. Agora me diga, onde os encontrar?

— Encontrar quem, garoto? 

— Oras, quem? Os Lycaions, ué — falou gesticulando os braços.

Aldebaram deu uma breve explicação: Lycaions, como mencionado anteriormente, eram uma raça de lobos inteligentes criados por Inari Ōkami. Quando um lobo ferido entrou em contato com o sangue do deus, adquiriu inteligência. Os Lycaions tinham a responsabilidade de proteger as plantações de arroz e geralmente viviam em pequenas vilas ou aldeias escondidas por todo o continente.

— É isso que sei, garoto — completou Aldebaram, enquanto olhava para Alaric.

— É, já são informações úteis. Quer saber cansei de caminhar — Alaric disse isso, já invocando suas espadas.

— Alaric? — Gideon não estava entendendo o que seu irmão planejava fazer.

— Simples. — Fez suas espadas irem para baixo dos pés dos dois, Aldebaram e Gideon. 

Com isso eles voaram até a cidade Windefel. Mesmo com a terrível falha do dia anterior, Alaric havia obtido uma pequena evolução no controle sobre suas espadas.

— Chegamos — disse Alaric, com um sorriso grande em seu rosto.

Já Aldebaram e Gideon…

Ah, eu vou vomitar….

— Eu também, Garoto…

— Vocês são fracos, hein. — colocou a mão na cintura e deu um sorrisinho irônico. — Não aguentam um vôozinho.

Os dois antes enjoados, olharam friamente para Alaric. 

— Garoto, eu vou te matar… 

— O que foi, grande guerreiro, não aguenta um vôo? 

— Eu sou um guerreiro, não um pássaro! — Aldebaram deu um leve sorriso ao dizer isso — Bom, chegamos rapidamente pelo menos.

Gideon e Alaric fixaram seus olhares na deslumbrante cidade de Windefel, chegando a um ponto que os deixou sem fôlego; construções imponentes de pedra, uma herança dos antigos gigantes. O estilo de telhado único exibia runas e escritas nórdicas entalhadas. A população, naturalmente alta, trajava roupas robustas para enfrentar as intempéries da região. 

— Aqui realmente viveu um povo poderoso — afirmou Gideon, ainda atônito pela vista.

— Vamos garotos — Aldebaram tomou a frente e foi apresentando a cidade.

Passam por lojas imensas, campos intermináveis de treinamento. Até que enfim, chegaram ao que Aldebaram chamou de rua comercial.

— O que é aquela árvore imensa ali, Aldebaram? — questionou Gideon, observando uma enorme árvore, protegida por soldados fortemente armados.

Aldebaram colocou as os punhos fechados na cintura, encheu o peito e falou:

— Ygdrassil! É claro, o orgulho gigante.

— Encheu o peito pra não responder nada? — disse Alaric com uma sobrancelha levantada.

— É a grande árvore, que conecta esse reino aos outros oito. — A felicidade estava estampada em seu rosto.

Gideon e Alaric, sem entender nada, trocaram olhares confusos. O guerreiro encarou seus rostos perplexos e soltou um leve suspiro.

— Nove reinos de Odin? —  falou isso na tentativa de gerar alguma reação do garotos, mas nada. — Odin e Zeus em uma batalha fizeram suas armas se chocarem, criando um mini universo que se expandiu e contraiu, gerando assim Ygdrassil, uma árvore que conecta os nove reinos.

— Quais são esses reinos? — questionou Gideon fascinado.

— Midgard, a terra onde nós nos encontramos agora; Jotuheim, Muspelheim, Nidavellir, Alfheim, Svartalfheim, Helheim, Vanaheim e Asgard — Aldebaram citou esse nomes, com um grande sorriso em seu rosto.

Gideon e Alaric continuavam sem entender o significado daquelas palavras. Para eles, parecia mais um amontoado aleatório de letras que formava nomes estranhos e incompreensíveis.

Uhum… entendo. Agora vamos logo comprar minha espada — disse Alaric, dando um tapinha nas costas de Aldebaram.

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