Volume 1

Capítulo 57: A situação fica cada vez mais pior

Enquanto rainha afagava as madeixas da inconsolável Hana, clementina chegou acompanhadas de duas empregadas, que carregavam cestas cobertas por uma pano branco, cheias de manjares, cujo cheiro apetitoso pairava no ar, atraindo o paladar e provocando saliva na boca de quem o sentia.

— Rainha... Aqui está o que a rainha pediu! 

Os olhos de Sophia encontraram os das suas servas enquanto Hana deixava o peito caloroso e acolhedor dela para se colocar em uma postura digna de uma mulher adulta, que escondia suas tristezas e raiva e sorria para o mundo como se tudo estivesse bem.

—  Muito obrigada, pessoal — disse Sophia com um sorriso carismático. Segurou, a posterior, uma das cestas trazida por uma das servas enquanto a outra era pousada na metade daquele banco um pouco extenso.

— Suas palavras nos honram, minha rainha! — agradeceram elas em um uníssono doce enquanto encurvavam a cabeça em respeito.

— Bem, espero que desfrutem da comida.  Agora estamos indo. Qualquer coisa não hesite em me chamar.

Depois que recebeu um aceno de cabeça da rainha acompanhado de um sim gentil, Clementina, ao lado de suas duas acompanhantes, realizou sua  reverência e deu meia volta, deixando aquelas duas ao bel prazer dos manjares que haviam preparado com tanto carinho e delicadeza.

—  Mestre, vem comer!  

Sophia acenou para ele, que se encontrava meditando em sua pose de lótus com a calmaria do vento silencioso.

— Obrigado, mas não. Eu vou ficar meditando aqui.  

— Tudo bem!

Ao retirar o pano branco, seus olhos foram tomados por um brilho e uma saliva quase escorregava dos seus lábios de tão bom aspeto que aquilo tinha. Era uma chuva de cores perfeitamente ornamentadas. Havia ali bolos de chocolate com morangos por cima. Tortas com cerejas. Maçã e pães imbuídos em mel. Era uma receita cheia de doçura para adoçar o dia amargo que aquelas duas estavam passando. 

— Acho que a clementina exagerou, desse jeito, eu vou acabar ficando gorda... — Sophia murmurou, pegando aquele pão delicioso.

— De fato, isso é uma explosão de calorias — disse Hana, tentando sorrir um pouco. Nem mesmo aquela quantidade de doçura estava conseguindo espantar a tristeza que corroía seu coração.

— Você também deve comer. — Sophia entregou seu pão a ela, que relutantemente pegou. — Vai comer tudinho, entendeu?!

— Mas rainha...

Hana acabou dando sua primeira mordida, arregalando os olhos. Um simples murmúrio saiu dos seus lábios, mas com um sorriso bem formado.

— Que doce...

— Está bom, não é?

Ela assentiu. Sophia sorriu e provou também, tecendo o mesmo comentário que sua amiga. A doçura dos manjares não podia espantar para longe a angústia da tristeza que elas estavam sentindo, mas ao menos, estava proporcionando alegria ao seu paladar, ao seu corpo que tanto estava precisando de energia.

— Rainha... Se não for um incômodo, gostaria de voltar a falar do assunto dos poderes sobrenaturais...

— Não é incomodo nenhum. Na verdade, eu também pretendia falar disso consigo novamente.

— Isso não é mesmo delírio? 

Sophia balançou a cabeça negativamente.

— Eu gostaria de mais provas. Desculpa, mas ainda não me desce. Desculpa, mas eu sou daquelas pessoas que acredita vendo.

— Entendo. Sendo assim...

Seus olhos tiveram como alvo aquele homem, que traria respostas às indagações de Hana.

— Mestre!

Seus olhos se abriram e encontraram Sophia.

— Chega aqui. 

Atendendo as palavras de Sophia, o mestre se levantou e chegou ao banco onde se encontravam aquelas duas já empanturradas.

— Mestre, preciso que o senhor prove como provou para mim que o sobrenatural é real. 

— Sophia, não convém que eu use esse poder de qualquer maneira...

— Eu não estou pedindo, mestre. Eu estou ordenando, como rainha deste reino.

O tom e olhar de Sophia ficou frio quando pronunciou essas palavras. Ali ela estava deixando claro sua autoridade como rainha de um reino, que não se permitiria ter suas decisões tomadas pelas mãos do seu mestre. 

O mestre apenas deu um suspiro. Não podia fazer muita coisa, não queria causar mais tristeza do que já havia causado a aquela que sob seu olhar ainda era sua garotinha. 

Pelo menos pelo tempo que lhe restava, se dedicaria a satisfazer os caprichos de sua menina.

— Certo. Liberar Aurimagia do vento.

Repentinamente, um terremoto sacudiu aquela sala, levantando uma enorme quantidade de areia que se converteu em uma densa poeira. O tremor foi tão grande que as duas foram catapultadas daquele banco para o chão enquanto o mestre se mantinha invicto ali, com um espanto de pavor tomando conta de seus semblantes, mesmo pela segunda vez Sophia sentia a mesma sensação arrepiante que aquele poder passava.

O terror do terremoto parou para o alívio das duas, ao mesmo tempo que trouxe os soldados que estavam em prontidão perto dali. 

— Rainha!!!

Encontrar sua rainha jogada no chão toda coberta de areia enquanto aquele homem estava ali calmo era algo ridículo aos seus olhos.

— O que está acontecendo?

Hostilidade tomou conta de seus semblantes enquanto se preparavam para sacar suas espadas.

— Não se preocupem. Estou bem. 

Rainha se levantou ao lado da Hana com o rosto todo coberto de areia. Chegou a cuspir um pouco de areia que havia entrado na boca enquanto apalpava suas vestes. 

— Mas rainha...

— Voltem aos seus postos imediatamente.

— Perdão, rainha, mas já é a segunda vez que algo assim acontece. Naquele dia quando eu estava de guarda com o meu companheiro... O que está acontecendo? 

— Você tem a sua razão de questionar, soldado. Contudo, ainda não é chegado o momento de você saber disso. Agora, retirem-se e não contem nada do que aconteceu aqui a ninguém.

— Certo — assentiram os soldados, jurando lealdade a sua rainha apesar daquela resposta ter deixado eles um pouco irritados, porque realmente estavam preocupados com as coisas estranhas que vinham acontecendo. Seus companheiros mortos estranhamente numa guerra com taxa de vitória alta, seu vice capitão que não se decompôs depois de tanto tempo de viagem e agora terremotos consecutivos.

O que estava acontecendo?

Essa era uma pergunta que eles teriam que esperar que a rainha algum dia pudesse respondê-los, mas agora apenas se limitaram a cumprir suas ordens. Assim, se afastaram daquele campo e se posicionaram longe da vista deles.

— Tem certeza que era assim que devia falar com eles? — questionou o mestre.

— Sempre falei assim com os meus soldados.

O mestre apenas deu um suspiro novamente.

Sophia voltou-se para Hana que até então permanecia quieta, processando tudo aquilo que havia acontecido.

— E então?

— Que poder é esse? De onde vem isso?

— É Aurimagia. 

— Aurimagia... Não deveria ser um simples truque? 

— Quem dera fosse, mas como vê, é algo assim tão grande que dizimou os soldados de Acácias.

Lembrar disso, deixava o ambiente mais pesado. 

—  Como, como esse poder existe em um mundo assim? 

Tudo o que Hana acreditava até agora estava caindo por terra. Era como se toda sua vida fosse resumida a uma ilusão que escondia o mundo cruel e complexo em que ela vivia.

— Mestre, tenha a bondade.

Sophia havia deixado a explicação da origem de Aurimagia a cargo do seu mestre, que relutantemente explicou tudo como havia lhe explicado, quase explodindo a cabeça daquela mulher que estava processando tanta informação absurda de uma só vez.

Sua cabeça começou a doer. Então Sophia chamou Clementina para que acompanhasse Hana a um dos aposentos de hóspedes onde ela descansaria.

Depois que Hana se retirou dali com passos desnorteados, mas ainda amparada por Clementina, Sophia decidiu finalmente iniciar o seu treinamento. Um treinamento tão duro que exigia concentração enquanto ficava sem comer em uma pose de lótus, um treinamento que só os mais fortes conseguiam enfrentar.


                            (...)

              Palácio de Aclasia

Já no reino de Aclasia, os preparativos para o banquete real que tinham como principal objetivo comemorar o triunfo contra Acácias e executar princesa Helena, haviam começado. Ali na sala do trono estavam aqueles dois homens, um assentado no trono com sua autoridade e outro em baixo e  em pé na condição de subordinado.

—  Valdes, já enviou a carta ao reino de Tirasul?

— Sim, meu senhor. O rei Elinor Tirasul confirmou sua presença 

Reino de Tirasul, um dos reinos que lutou na guerra há 400 anos pela posse de Mioria. Esse reino mantinha suas alianças diplomáticas com Aclasia por meio do noivado de Meldyn e Hélio Tirasul, príncipe do reino de Tirasul. 


Enquanto aqueles dois conversavam, ouvidos curiosos estavam escutando aquela conversa nada agradável para o seu gosto na companhia daqueles dois soldados que haviam recebido um saco de moedas de ouro para que a deixassem ali. 

Depois que viu Valdes fazendo vênia, Meldyn saiu dali nas correrias enquanto os soldados suspiravam de bom grado após ficar perto o suficiente daquela beldade que exalava o cheiro doce e amendoado das flores madressilvas.

Aspiravam um dia casar com ela, algo que só terminaria em seus sonhos e fantasias.

Quando terminou de percorrer o corredor, Meldyn entrou no seu quarto às pressas. Ao encontrar Sasha arrumando sua cama que servia de parque de diversões, Meldyn colocou suas mãos sobre seus ombros tão forte que as duas acabaram caindo naquela cama que já estava  quase arrumada.

—  Sasha, me salva! 

—  Senhora, calma! O que aconteceu? Porque está nervosa? —  perguntou Sasha, enquanto se via sufocada pela Meldyn.

— Ahh, desculpa Sasha. 

 Meldyn se afastou para lateral e levantou, sentando sobre a cama.

Sasha também fez o mesmo, sentando sobre a cama bem do lado dela. 

— Agora me explica, o que aconteceu? 

—É o príncipe de Tirasul! Ele vem para aqui!

— E o que têm, princesa?

— É mesmo, você não sabe, né? Meu pai fez de mim a noiva do príncipe Hélio Tirasul. —  Meldyn segurou um travesseiro e começou a apertar com toda sua força como se estivesse esmagando alguém. — Eu odeio que tomem decisões por mim!

— E você, princesa? Ama ele?

 — Sasha, é óbvio que não! Eu mal o conheço.

—  Ah, então porque simplesmente não o rejeita, princesa?

— É fácil falar com o tipo de pai que tenho, né, Sasha?

— É uma situação bastante difícil. Não sei como posso ajudá-la, princesa.

—  Será que eu fujo deste castelo? — Meldyn lançou seus olhos inquisitivos para Sasha que não sabia o que falar. Para começar, nem tinha experiências em coisas como relacionamento. — Não faz mais sentido eu ficar aqui. 

— Mas para onde, senhorita? 

— Eu não sei, Sasha. Se eu soubesse, já não estaria aqui.

— Como você é uma princesa, certamente não conseguiria sobreviver um dia sozinha.

—  Realmente, Sasha. Eu não sei fazer nada. 

— Mas você tem a mim do seu lado, eu irei para onde você for! — Sasha sorriu gentilmente, segurando uma de suas mãos. — Conte sempre comigo!

— Você é um amor, Sasha! — Meldyn soltou um sorriso. — Te amo demais!

— Eu sei que sou, princesa!

— Não seja convencida, Sasha. —Com um sorriso, Meldyn deu um tapa com o travesseiro no rosto da Sasha.  — É para você aprender a não ser convencida

— Então é assim? —  Sasha pegou no travesseiro do lado dela e moveu em direção ao rosto da Meldyn, acertando-a na mesma proporção. —  Tome você também!

Ambas riam entre si, enquanto acertavam o travesseiro uma no rosto da outra. Era uma bela amizade que elas tinham, certamente uma bela amizade que escondia algo muito além de uma bela amizade.

                            (...)


Em contrapartida, na cela mais escura de Aclasia, onde o breu tomava conta, mais um dia se passava e Miomura, Helena e Yara continuavam aprisionados enquanto o dia da execução se aproximava a passos galopantes.

-— Cadê o pão que não chega! —  Helena soltou um grito aborrecido, que ecoou em eco naquele calabouço.

Ela estava sentindo bastante fome, havia recusado tantos pães vindo dos soldados, não por suspeita de contaminação, mas pela falta de apetite. Contudo, a fome de agora havia ultrapassado a barreira da angústia.

—  Essa hora a Clementina teria preparado tantas coisas gostosas para mim! —  Helena deu um suspiro com pesar.

— Princesa, trouxeram vários pães e você recusou. Não entendo porquê reclama.

— Eu recusei, pois não tinha ânimo para comer — suspirou novamente. —  Eu nunca tinha passado fome na vida, entende, Yara?

—  Não entendo, mas você deveria ter enfiado o pão na boca e pronto.

—  Não é fácil como você fala, Yara. Quando uma pessoa está triste perde todo seu apetite e mesmo que insista pode acabar deitando ou se engasgar.

— Concordo com a princesa. — Miomura assentiu. Sabia muito do que o
a princesa estava falando. — Quando aquele oficial maldito atirou o meu livro ao rio, eu me senti mal.

— Engraçado é que um dia desses eu encontrei um livro no rio. Quem atirou aquele livro ao rio devia ser... Espera... não me diga que aquele era o seu livro?

Um súbito espanto tomou conta do semblante dos dois, seus olhos que estavam encontrando um ao outro pareciam querer deixar o rosto enquanto cada um processava aquela informação.

— Você achou ele?! — Miomura elevou o tom em curiosidade. —  Ele tem três magos na capa e um deles segurava uma jóia!

— Então é o seu mesmo. Que coincidência incrível... Eu o encontrei no rio e decide abri-lo para ler. — Depois de tanto tempo, Helena abriu um sorriso, um sorriso que sempre abria quando se tratava de livros. —  Aquele livro é uma obra de arte!

Agora Miomura carregava o brilho de estrelinhas que contrastavam aquela escuridão, era como se o seu mundo agora cinzento novamente fosse preenchido por cores.

— Sim! Eu li várias vezes, a história dos magos poderosos que um dia salvaram o mundo à beira da destruição!

—  Parece que vocês dois encontraram algo em comum, então acho que vou tentar dormir um pouco. — Yara fechou seus olhos e se encostou na Helena. —  Bom dia? Boa tarde?... ou seria boa tarde? Todavia, boa!

Miomura e Helena acabaram soltando sua primeira risada depois do momento de aflição que haviam passado.

— Durma bem, Yara — desejou, direcionando seus olhos a Miomura. — Mas bom... voltando ao assunto Miomura, como você fez para ter acesso a aquele livro? Não vejo um tirano como Araque Aclasia permitindo que escravos tenham acesso a leitura.

Antes que Miomura falasse, seus ouvidos captaram passos de aproximação. Ambos ficaram em prontidão com os olhos atravessando entre as grades da cela, mas nem mesmos eles haviam previsto o que sucedeu.

Não era o soldado que entregava os pães, não, era um rosto desagradável que desejariam nunca mais ver.

— O que faz aqui, seu maldito?

— Ora verme, não está contente por me ver novamente?

Era Valdes Aryane em pessoa, que carregava uma cesta com pães e odres de água.
 
 — Agora eu sou o vosso aliado e vim libertar vocês! 

O que aquele homem havia dito surpreendeu aqueles dois.

— Que repentino! — Miomura, ainda de olhos arregalados, chegou ao ponto de depositar esperança naquelas palavras. — Você vai mesmo?

—  Miomura, não seja idiota. Não vê que ele está debochando da nossa cara — Helena  franziu o cenho. — Saía daqui, seu cão imundo!

— Olha... eu me diverte vendo o rosto esperançoso do garoto! — Valdes deu uma leve risada. —  Cadê a sua coragem daquele dia, verme imundo? 

— Saia daqui, seu maldito! — gritou Helena, rangendo os seus dentes.  — você ainda vai pagar por tudo que fez! 

Helena estranhou a expressão calma de Miomura em meio às provocações de Valdes. O normal devido a sua personalidade, seria que ele reagisse com insultos, mas o garoto manteve-se em silêncio.

— Miomura, fala alguma coisa para essa praga!

—  Eu não tenho nada a dizer... — Sua voz soou baixinha e fraca. —  Eu não quero mais machucar às pessoas que amo. 

— Parabéns! Acabou de poupar a vida de sua família, verme! — Valdes riu e bateu palmas, um som grotesco para aqueles ouvidos. — Pela primeira vez conseguiu pensar, verme!

— Maldito! O quão covarde você é?— Helena franziu ainda mais o seu cenho e cerrou seus punhos fortemente. — Saia daqui!!

— Que gritaria é ess... você? —  Yara arregalou seus olhos sonolentos ao contemplar Valdes. —  Isso só pode ser um sonho... — Yara segurou em seu peito, enquanto respirava ofegante. — Não deixe que ele se aproxime, princesa!

Desde a luta contra DEA, Yara ganhou um grande trauma, uma dor não cicatrizada. Quando viu Valdes, seu gatilho ativou, a lembrando da sensação sufocante e angústia que era ter uma espada prestes a tirar sua cabeça.

—  A garotinha parece ter medo de mim. Ora, eu não sou assustador.  — Valdes franziu sua testa, tentando fazer uma cara monstruosamente assustadora. — Ou talvez seja, buuu! 

Yara escondeu o rosto, encostando-o no peito de Helena.

— Já chega. Já conseguiu o que queria, não conseguiu, Valdes?!
  
— Não, eu vim dar a vocês o vosso almoço. — Valdes pegou em um dos odres e despejou tudo o que havia na cesta no chão para pisar, pisar e cuspir com nojo, com as suas sandálias que carregavam imundície do chão daquele corredor. 

Então com um sorriso peçonhento, lançou um olhar frio e maldoso para aquelas pessoas.

— Tenham um ótimo almoço! 

Valdes em seguida abriu o odre e atirou água ao rosto de Miomura, molhando um pouco Helena e Yara no processo. Com uma expressão de enjoo, jogou por último o odre contra a cabeça do rapaz. Este permaneceu calado e encurvado perante toda aquela humilhação.

— Maísa fez bem em te deixar vivo. Prometo que até que o dia da sua morte chegue, farei da sua vida um inferno!

Depois de dizer essas palavras, saiu da vista deles com passos lentos e um semblante satisfeito depois de satisfazer os seus desejos maliciosos.

— Miomura... — murmurou Helena, olhando-o com tristeza.

— Estamos condenados a escravidão. Eu começo a acreditar que nunca seremos livres.... — Miomura deitou lágrimas ao chão, soltando aquelas palavras que jamais pensou tirar. — Não tem como vencer ou ao menos tentar lutar contra humanos anormais como ele.

— Não diga isso, Miomura. Tenho certeza que minha irmã vai dar um jeito de nos livrar dessa.

— Princesa, sua irmã é um ser sobrenatural também? — perguntou Yara, ainda atordoada.

— Infelizmente não, mas a rainha Sophia que eu conheço tem sempre uma solução para tudo!

— Essa rainha deve ser muito incrível então — disse Miomura sem ânimo. — Ela é a nossa última esperança.

—  Isso mesmo. Vamos manter a esperança, dias melhores virão... — disse Helena com um sorriso sem mostrar os dentes. — Nós conseguiremos a tão aguardada liberdade.

 


                           Vila de Mioria

Já na vila de Mioria, o trabalho havia voltado ao seu curso normal no campo lamacento de produção de tijolos com o principal objetivo de reconstrução do que foi destruído pela guerra. Em meio a aquele sol escaldante, estava Rymura trabalhando duro e com o rosto envolto a várias gotículas de suor, que transbordavam por todo seu corpo, deixando algumas partes das vestes encharcadas.

— Ahhh, Miomura e Yara, onde estão vocês? — Rymura segurou sua enxada e ergueu sua cabeça, direcionando os seus olhos esverdeados em direção ao sol intenso.

— Vocês me abandonaram... —  antes que Rymura terminasse a sua fala, revirou os olhos como vesgo e desmaiou em pé, segurando sua enxada.

Um dos oficiais notou que Rymura continuava imóvel e com a cabeça erguida para cima, então começou a caminhar em sua direção.

— Ei você! Porque parou o seu trabalho? — perguntou, mas sem resposta. — Não responde? Você será punido! — O oficial sacou seu chicote e ergueu para cima, prestes a chicotear Rymura, que já teria perdido sua consciência.

Mas antes que baixasse seu chicote, um dos amigos de Rymura correu, parando em sua frente.

—  Meu senhor, não faça isso! 

— Saia daí! Meu assunto é com este homem e não com você! Volte imediatamente ao seu trabalho! — O oficial  disse com o chicote ainda erguido. — Ou melhor, seja punido junto com ele!

— Senhor, veja! Ele não está mais consciente... — Mirio tirou a enxada das mãos de seu amigo, fazendo-o cair sobre seus braços. —  Não há necessidade de chicotear alguém inconsciente. 

— Tudo bem... leve-o a casa e volte imediatamente ao trabalho. — O oficial baixou seu chicote. — Se não, será chicoteado!

— Sim! Voltarei assim que o deixar aos cuidados de minha esposa, senhor! — disse Mirio. Ele colocou Rymura em suas costas e saiu caminhando em direção a sua casa.

A perda de consciência de Rymura havia despertado a atenção de alguns trabalhadores de Mioria, fazendo com que parassem seus trabalhos e assistissem aquela cena. 

— Ei, vocês estão olhando o que? — perguntou o oficial, passando o chicote em sua mão.  — Voltem ao trabalho! 

— Ahh, esses escravos são muito molengas, sinceramente! — resmungou o oficial, olhando para o companheiro de trabalho ao seu lado.

— O sol de hoje está intenso e eles estão trabalhando afinco sem parar. Eles são seres humanos como nós, sabe?

— O que foi? Está sentindo pena deles?

— Eu falei a verdade apenas. 

Assim, a situação do povo de Mioria continuava piorando dia após dia.

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