O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 2

Capítulo 71: Preparando para Confraternizar

Após sondarem todas as lojas do distrito mais elitizado de Salem, Ragnar e Havoc se deram por satisfeitos com o saldo das compras.

— Quanto dinheiro te restou? — Ragnar perguntou.

— Quinhentos rubros — Havoc lamentou. — E você?

— Pouco mais de dois mil.

— Tudo isso? — ela questionou, sacudindo o ombro direito para fazer a capa azul tremular. — Sua armadura custou quase o dobro da minha.

— Sou famoso pelos meus filtros solares e tenho uma clientela rica e fidelizada. Agora, mudando de assunto, precisamos comprar as coisas para a confraternização hoje à noite.

— Olha só quem acabou de conectar — disse Havoc.

Ragnar abriu a lista de amigos; Skiff agora estava entre os conectados.

— Pelo jeito acabou as doze horas de punição dele. — Ragnar falou, já combinando com o amigo caçador de se encontrarem no santuário.

Em seguida, acompanhado da espadachim, foram até o mercado à céu aberto mais próximo para fazerem as compras para a confraternização. 

O mercado ficava no coração de um bairro residencial. Por conta disso, as estradas de acesso eram estreitas e impregnadas de um cheiro peculiar, um misto de carne assada, frituras, condimentos, frutas e vegetais.

Uma curiosidade notada por Ragnar era a baixíssima presença de jogadores nessa parte da cidade, ainda mais comparado ao distrito de luxo de onde vieram. Além deles, apenas alguns pequenos grupos de jogadores andavam e ocupavam os estandes do mercado.

A dupla caminhou até o vendedor mais próximo, precisando se espremer contra o estande para que uma senhora pudesse passar com suas sacolas de compras. 

— Vou querer essa — Ragnar falou, apontando para a peça de carne pendurada em um gancho.

— Contra-filé, boa escolha — disse o vendedor — Quer que eu já fatie em pedaços por dezoito rubros?

— Não, obrigado.

— Sério? — indagou Havoc, erguendo as sobrancelhas. — Tu é rico, paga ele.

O açougueiro afiou o cutelo contra a faca na outra mão e falou:

— Se você tem dinheiro, posso te oferecer algo melhor. Que tal carne de Megalotauro?

Ragnar pôs a mão no queixo e esfregou a bochecha enquanto decidia. Por fim, acabou cedendo graças à pressão da amiga visível em seu olhar. O açougueiro esboçou um sorriso, virou-se e se afastou por um momento, abandonando o estande, mas logo retornou com uma caixa.

Ele empurrou para os cantos as peças de carne sobre o balcão, amontoando-as e misturando-as, para depois colocar a caixa em cima e abri-la para os clientes. Havoc se derreteu com o que viu, admitindo:

— Eu não entendo de carne, mas isso deve ser muito gostoso.

Ragnar contemplou as peças dentro da caixa forrada por folhas vegetais e pedaços de frutas exóticas para conservar as carnes. Cada peça irradiava sabor em suas cores vermelhas-vivas, dotadas do equilíbrio perfeito entre carne e gordura. Parecia uma ilustração de embalagem fabricada para vender uma fantasia. 

— Não importa o preço, eu ajudo com o que me resta — disse Havoc.

— O casal planeja dar uma festinha? — o açougueiro perguntou.

Mais uma vez o realismo do jogo irritou Ragnar. Dessa vez quem respondeu foi Havoc:

— Somos amigos. 

As palavras dela soaram calmas, quase profissionais, permitindo ao druida seguir com a conversa sem constrangimentos:

— Quanto é?

— Quatrocentos — o açougueiro falou, apoiando-se na caixa.

— Cinco quilos, e cortadas, por favor.

O açougueiro pegou a caixa, empurrou-a para o lado, tirou uma peça de carne e começou o trabalho enquanto os dois clientes cobiçavam a carne.

— É tão linda que dá vontade de comer crua — disse o druida. 

Havoc não conseguiu negar.

Em poucos minutos a carne ficou pronta. O açougueiro pegou as peças cortadas na bancada e as colocou em uma caixa de madeira menor, mas também forrada com folhas de alface e vegetais.

Concluída a transação, deram uma volta pelo mercado e compraram mais algumas coisas com o dinheiro que sobrou. 

Julgando terem adquirido tudo que precisavam para a confraternização, eles saíram do mercado com muita coisa no inventário e pouco dinheiro no bolso.

***

Quando Ragnar e Havoc chegaram ao Santuário, Skiff os esperava sentado em cima da primeira casa em ruínas. Ele desceu em um pulo e veio ao encontro dos dois, mas quando os viu de perto, começou a aplaudir.

— Adorei. Ragnar, você está incrível. Agora sim parece um guerreiro da floresta, um Protetor digno desse lugar. E, Havoc, você está linda e fodona na mesma proporção. 

Eles agradeceram. Ragnar não pôde deixar de notar como o amigo era carismático por natureza, era uma daquelas pessoas engraçadas e simpáticas sem precisar se esforçar. Isso lhe deu uma ideia, mas iria pô-la em prática mais tarde, durante a confraternização já que havia muito a ser feito ainda.

Começando pelo local do evento, Ragnar planejava sediar ali mesmo por causa da vastidão do gramado que se estendia até as construções em redor. Porém, havia um problema: a grama estava alta demais, passando de um palmo de altura.

Tentou pensar em outros lugares: no Círculo de Convergência, no Platô Cerimonial, na Área de Treinamento, nos jardins, ainda assim a entrada parecia o melhor lugar porque, primeiro: não era um lugar de meditação; segundo: nem de rituais; terceiro: não era um centro de treinamento; e terceiro: também não estava em meio a plantas preciosas e no centro de um pântano.

Como Protetor, eu sou o administrador desse lugar, pensou lembrando-se de não ter explorado seus poderes de Protetor ainda.

— Preparem as coisas, preciso arrumar um negócio — disse aos dois.

Ragnar abriu o menu do Santuário e acessou a página do administrador para checar seus privilégios. Na seção descrevendo o Protetor, leu algo que viria muito a calhar.

O Protetor recebe o talento Domínio Sobre a Natureza enquanto estiver dentro de seu Santuário Druídico.

Ragnar estranhou não lembrar de receber um talento novo desde que virou Protetor. Por via das dúvidas, conferiu seus talentos, e surpreendeu-se.

 

Domínio Sobre a Natureza (Nível: 1)

O Protetor do Santuário tem o poder de manipular a natureza em seus domínios.

Nível 1: permite manipular a vida das plantas pequenas e médias através das  ações:

  • Drenar: absorve os nutrientes da vegetação desejada;

  • Regredir: rejuvenesce plantas;

  • Maturação: acelera o crescimento até a maturidade.

A alguns metros do druida, Skiff inclinou-se na direção de Havoc e perguntou baixinho:

— Já que você esteve com ele recentemente, o que ele está fazendo?

Havoc contemplou o druida agachado, com a mão estendida contra um tufo de ervas daninhas.

— Sei lá, às vezes é melhor deixá-lo sozinho.

Quando seus lábios fecharam ao pronunciar a última sílaba, o tufo de ervas sob a mira de Ragnar apodreceu.

— O que foi aquilo? — Skiff também tinha os olhos no druida.

Os dois foram até o chefe da guilda, que lhes explicou:

— Descobri que tenho poderes sobre as plantas menores daqui.

Isso iria resolver o problema da grama alta. Antes de começar a aparar o gramado, discutiu com os dois amigos sobre como organizar a confraternização.

— A churrasqueira ficará no centro, próximo à primeira construção do meio. As mesas, obviamente, ficarão perto da churrasqueira, mas não tanto, assim poderemos ter o grupinho da churrasqueira e o grupinho das mesas.

— Podemos colocar algumas cadeiras e bancos perto da grelha — sugeriu Skiff.

— Ótima ideia — admitiu Havoc.

— Agora, à direita — falou apontando para a área mencionada — ficará a área de recreação, e eu só vou explicar quando a hora chegar.

— Tá, mas…, onde vamos arranjar as mesas e as cadeiras?  perguntou Skiff

Ragnar respondeu:

— Tem mesinhas de pedra dentro de algumas construções daqui. Então é só juntá-las que conseguiremos formar umas quatro mesas grandes. Quanto aos bancos, têm bastante cepos e toras de árvores caídas aqui perto. Se todo mundo ajudar, dá para confeccionar os bancos rapidinho. 

Parou um momento para deixá-los absorverem tudo que foi dito.

— Sei que estou pedindo muito a troco de nada, mas garanto que vai valer a pena.

— Não tem problema — disse Havoc. — Por trás de toda festinha tem muita preparação e trabalho.

Skiff concordou balançando a cabeça.

— Eu vou começar dando um jeito na grama, enquanto isso vocês podem ir buscar as mesas nas casinhas.

Os dois não perderam tempo e já foram até à casinha onde Skiff ficou sentado à espera deles quando chegaram. Ragnar, por sua vez, começou a praticar sua maestria sobre o gramado. 

O druida estendeu as duas mãos para os lados e usou a regressão. As plantas em um raio de um metro começaram a encolher, retornando ao estágio de crescimento. Pela demora do processo, Ragnar extrapolou que iria levar de meia a uma hora para replicar isso em toda a área do evento.

O tempo passou com a espadachim e o caçador indo e voltando carregando mesinhas de pedras que, de tão pesadas, precisavam dos dois para serem transportadas. Ao mesmo tempo, Ragnar andava sem pressa pelo gramado, irradiando seu poder de regressão sobre as plantas.

Era uma tarefa monótona, mas ver as folhas encolher ao seu redor propiciava uma sensação relaxante, quase terapêutica.

Faltando metade do gramado para regredir, Niki e Artic conectaram com alguns minutos de diferença, e Ragnar já os convidou para o evento.

— Terminamos — Skiff anunciou. — E agora?

— Vocês podem montar a grelha — Ragnar respondeu.

Skiff estava para verbalizar outro questionamento, porém Havoc se adiantou e explicou o plano que Ragnar lhe contou durante às compras em Salem:

— Vamos montar uma estrutura com os destroços das ruínas daqui. Quanto à grelha, nós compramos uma na cidade antes de vir para cá. — E terminou o convidando a irem buscar os primeiros escombros.

O tempo passou com Ragnar finalizando o corte de grama mais ecológico do mundo, e os outros dois encaixando à grelha nos pedaços de paredes caídas que foram buscar.

Os trabalhos foram finalizados há poucos minutos da chegada do cavaleiro e da assassina. Eles entraram no santuário devagar, sem pressa alguma. Porém, ao ver a espadachim, Niki correu até ela e teceu uma série de elogios ao novo traje da amiga:

— Amei a bota. Adorei a ombreira. Essa capa é de morrer — disse, puxando o tecido da capa para si e o sentindo com as próprias mãos.

Por outro lado, Artic se aproximou do druida enquanto ele tinha sua atenção na conversa entre as duas amigas.

— Bela armadura. Agora você não parece mais um mendigo.

O mais estranho foi ver Artic estender a mão para cumprimentá-lo. Assim que Ragnar retribuiu o gesto, o cavaleiro levou essa mão à nuca, e falou:

— Desculpa por ontem à noite. Eu deixei todos vocês na mão e acabei piorando a situação do evento umas mil vezes, já que eu era um dos tankers na linha de frente.

Ele admitiu a culpa, sabia do problema que causou e se desculpou por isso sem dar voltas ou sem tentar se justificar. Para Ragnar, isso era o suficiente, por isso o tranquilizou.

— Esse tipo de coisa acontece, está tudo bem, mas o que eu quero saber mesmo é… está tudo bem na sua casa, com sua mãe?

— Queria muito dizer que está, mas seria mentira… — Artic bufou, a frustração era nítida em sua face. 

— Posso apenas imaginar a situação que está vivendo. Se precisar de algo, é só falar. Prometo fazer o possível para te ajudar.

Artic estalou os dedos antes de mudar o assunto.

— Aquela coisa lá é a churrasqueira? — Apontou para a grade apoiada em cima de pedaços de paredes tombadas. — Bem… prefiro assim, mil vezes um churrasco rústico do que um gourmet. 

Ragnar não poderia concordar mais. E agora que todos os membros originais da Ragnarok estavam presentes, deixou os recém-chegados se enturmar e só então convocou todos para a fase final da preparação do evento.

— Ainda temos um tempo antes da chegada dos convidados, então vamos usá-lo para criar cadeiras e bancos de madeira usando os cepos e os troncos de árvores caídos aqui em redor.

Niki expirou, irritada, e protestou:

— Acabei de chegar e já sou colocada para trabalhar?

— Tente não ver dessa maneira — disse Havoc. — Pense que você está numa aula de artesanato.

— Aham. Tá bom, vamos lá, quanto antes terminarmos, melhor.

Os cinco se espalharam pela mata ao redor à procura de qualquer coisa que pudesse ser usada como assento. Demorou, levou quase uma hora deles vagando pela floresta até encontrarem cepos largos e grandes o bastante para uma pessoa sentar, e troncos de árvore com capacidade para três pessoas ocuparem com conforto.

Ragnar carregou um cepo até a churrasqueira, esse seria dedicado ao churrasqueiro. Skiff e Artic carregaram um tronco e, sob as ordens do druida, o largaram a alguns metros em frente ao cepo. Agora a turma da churrasqueira poderia conversar com tranquilidade e conforto.

Já as garotas transportaram os troncos restantes para servirem de bancos para as mesas, logo recebendo a ajuda dos rapazes assim que eles terminaram de arrumar o cantinho da churrasqueira. 

— Está pronto, agora só falta os convidados


📚 O E-Book do Volume 1 (caps 1-53) já está disponível na Amazon e no Kindle Unlimited por apenas R$14,90 📚


Discord | Apoia-se | Instagram | Facebook

PIX[email protected]

Apoie a Novel Mania

Chega de anúncios irritantes, agora a Novel Mania será mantida exclusivamente pelos leitores, ou seja, sem anúncios ou assinaturas pagas. Para continuarmos online e sem interrupções, precisamos do seu apoio! Sua contribuição nos ajuda a manter a qualidade e incentivar a equipe a continuar trazendos mais conteúdos.

Novas traduções

Novels originais

Experiência sem anúncios

Doar agora