O Druida Lendário Brasileira

Autor(a): Raphael Fiamoncini


Volume 1

Capítulo 67: Reunião a Portas Trancadas

O grupo adentrou no Salão de Guerra e Ragnar, em especial, maravilhou-se com o tamanho, os detalhes e a grande mesa no centro onde peças estavam distribuídas sobre um mapa em alto relevo representando a região e as províncias vizinhas.

Momentos depois, entrou no salão um cavaleiro em armadura completa, usando um elmo fechado que ocultava a face. Ele era acompanhado por seis outros cavaleiros, todos com elmos fechados cobrindo a cabeça.

— Comandante, venha, sente-se ao meu lado — disse o duque.

O cavaleiro olhou por trás do ombro e acenou com a cabeça. Os outros cinco curvaram-se e saíram do salão sem dizer uma palavra. Quando o último saiu, o comandante fechou a porta e a trancou.

Van Clóvis sentou-se na cadeira mais alta, localizada no lado oposto à porta por onde entraram. Sinistro ocupou a cadeira à esquerda dele. Joshua preparou-se para sentar a duas cadeiras à direita do duque, mas Van Clóvis se manifestou:

— Perdão, meu caro. A culpa é minha. Eu deveria ter-lhes avisado que esta metade da mesa é reservada para membros importantes da cidade. Convidados especiais costumam sentar do outro lado.

Era visível o desapontamento no rosto do prefeito. Ele aceitou com educação e sentou-se do outro lado, ficando de frente para o duque.

Ragnar e Julie ainda estavam em pé. O cavaleiro passou por eles, os cumprimentou com um simples aceno e disse enquanto se sentava à direita do duque:

— Sempre desprezei essas frescuras. — Sua voz era abafada pelo elmo fechado.

— Esse nobre cavaleiro chama-se Kaer, é o comandante das nossas tropas.

— Por que você está de elmo? — Julie perguntou assim que ela e Ragnar sentaram ao lado do prefeito.

— Vocês querem saber? Ou melhor… gostariam de ver o que há por baixo?

— Não é necessário ti… — dizia o prefeito até Kaer remover o elmo com um puxão, revelando uma face humana em início de putrefação, com poucos fios grisalhos na cabeça, orelha esquerda meio roída e um tapa-olho cobrindo a porção esquerda do rosto.

— Eca! — Julie não conteve a repulsa.

O duque suspirou em desaprovação.

— Sim, ele é um meio-zumbi, como isso é possível, nós ainda não sabemos. Já os outros cavaleiros esperando lá fora são a elite da Divisão Zumbi das nossas forças provincianas. Eles respondem apenas ao nosso comandante.

— Fascinante — disse Ragnar.

Van Clóvis juntou as mãos e entrelaçou os dedos.

— Sinistro, vindo para cá você me avisou que o motivo dessa convocação é o possível retorno do necromante Mergraff.

O vampiro confirmou com um aceno.

— Vocês têm alguma prova?

Ragnar se levantou da cadeira e pediu a palavra, o duque a concedeu, e ele falou andando até o outro lado da mesa:

— Tudo começou com uma investigação despretensiosa de minha amiga lutadora. — Parou para apontar para Julie. — Ela havia se deparado com um vilarejo destruído e sua população massacrada por algum inimigo cruel. Lá dentro ela encontrou o diário de um sobrevivente. O diário mencionava que a guilda Caminho da Aurora pretendia ressuscitar Mergraff e que o próximo alvo seria a Vila Torino. Então eu e meus amigos viajamos até essa vila, a vila do prefeito… 

Ragnar apontou para Joshua, encolhido na cadeira, com um olhar triste no rosto. Antes de prosseguir, fez uma brevíssima pausa para ordenar os pensamentos.

— Meus amigos e eu ficamos de tocaia no vilarejo até encontrarmos um integrante da seita chamado Matheus. Utilizando técnicas de persuasão, eu consegui extrair tudo que precisava. Quantos eram, mais de duzentos membros; os detalhes do plano: sacrificar inocentes para alimentar um ritual macabro para trazer o rei necromante de volta; e o principal, quando iriam agir: em quatro dias.

— Incrível! — Kern levantou a voz em animação. — Vocês são bons, estou adorando. Continue por favor.

Ragnar retomou a fala:

— Em seguida, ajudamos o vilarejo a se preparar para o fatídico dia. Treinamos soldados; organizamos as defesas; reparamos as armas, armaduras e equipamentos; fabricamos flechas e até ajudamos na preparação das refeições. Resumidamente: fizemos de tudo para cada soldado lutar seu melhor quando a hora chegasse.

Ragnar preferiu omitir o fato de que, nesse meio tempo, precisou resolver a desigualdade no Santuário dos Ursos de Ferro.

— Então eles vieram na calada da noite, um exército gigante, tão grande que você os perdia de vista. Eles tinham esqueletos e zumbis, inimigos incansáveis e imparáveis; entre eles também estavam os enormes Gigantes Zumbis e os temíveis Cavaleiros Post-Mortem, cada um tão forte quanto cem soldados; e claro, não podia faltar os duzentos membros oficiais do Caminho da Aurora. Eles foram espertos, muito espertos, pois vieram trajados com capas e capuzes longos e escuros para ocultar suas vestimentas chamativas e, principalmente, o sol dourado que os simbolizava.

Ragnar parou à esquerda do duque e pousou suas mãos sobre o encosto da cadeira em sua frente. Respirou fundo antes de prosseguir com a conclusão do resumo:

— Nós nunca tivemos chance alguma. Mesmo assim, lutamos como nunca. Durante aquelas terríveis horas…, nós não éramos soldados, éramos irmãos de batalha. Juntos, nós lutamos, choramos e nos sacrificamos pelo outro.

Tanto o duque quanto o comandante meio-zumbi estavam na ponta das cadeiras, inclinados para a frente, esperando ansiosos por mais.

— Matamos milhares deles, mas perdemos centenas em troca. Eles nos superaram em dois para um, sem falar dos gigantes e post-mortem que contavam por cem. Então o correto seria: três ou quatro para cada um de nós. Apesar de todos os esforços em contê-los nas muralhas, eles conseguiram derrubar o portão à custa de muitos gigantes. Nesse momento demos início ao plano de evacuação elaborado pela minha amiga Julie.

Ela desviou o olhar ao mencionar seu nome. Era claro que estava desconfortável ao ouvir essa versão quando sabia da verdade.

— Nós lutamos em cada rua, os seguramos em cada barricada. Fizemos o possível e o impossível para que todos os moradores pudessem evacuar em segurança pelo Portão Norte. Com muito sacrifício, nós conseguimos graças à ajuda de meu amigo Sinistro, que veio nos salvar dos mortos-vivos que nos perseguiram durante a fuga para cá.

Finalizou colocando o Cristal de Sacrifício sobre a mesa e empurrando-o para o duque.

— Esse é o cristal que estão utilizando para armazenar as almas das vítimas.

Van Clóvis pegou o cristal e o estudou com cuidado.

— Sua história é fascinante e bem detalhada. Além do mais, você nos trouxe provas e até mesmo testemunhas para corroborar suas evidências. Não há dúvidas…, o rei necromante pode realmente retornar. — O duque virou-se para o comandante, e continuou: — Precisamos nos preparar imediatamente. Chame todos os membros do conselho para uma reunião geral emergencial.

— De acordo — foi tudo que o cavaleiro disse.

— Ragnar, Julie, sou eternamente grato a vocês. Vocês fizeram um grande favor não só a mim, mas para toda Salem. Por isso os recompensarei com títulos, dinheiro e uma peça de meu relicário à sua escolha.

Parabéns
Você recebeu o título de Senhor de Salem

O título de Senhor garante preços mais baixos nos comércios, tratamento preferencial, requisição de proteção pessoal, direito ao voto nas assembleias, usufruto de instalações públicas e mais.

— Duque — Sinistro o chamou. — Eu esqueci de mencionar algo importante, ele também é o criador do filtro solar.

— Estou sem palavras. Além de tudo você também é o responsável por revolucionar a vida dos milhares de vampiros nessa cidade, incluindo a minha. Prometo recompensá-lo devidamente assim que toda essa crise terminar, tudo bem?

— É claro — Ragnar concordou e eles firmaram o acordo com um aperto de mãos.

Van Clóvis se levantou da cadeira, agradeceu a cada um dos convidados, os conduziu até a porta e a destrancou. Depois chamou os três funcionários parados ao lado dos seis cavaleiros zumbis esperando por seu líder.

— Chame todos os membros do conselho para uma reunião geral emergencial.

O funcionário designado curvou-se em respeito e saiu às pressas para cumprir sua missão. O duque voltou-se para o prefeito da vila, agora cabisbaixo.

— Sinto muito por tudo que aconteceu com vocês. Prometo que vamos expulsar aqueles monstros da sua vila. Enquanto isso, aproveite nossos quartos de hóspedes. E não se preocupe com seu povo, mandei meu pessoal reservar para eles todos os quartos disponíveis em nossas estalagens para essa noite.

— Obrigado, obrigado — o prefeito agradeceu e foi encaminhado ao seu quarto por outro funcionário.

— Quanto a vocês dois, minha dama e meu senhor, vocês também estão convidados a usufruir dos quartos de hóspedes. Eu os acompanharia pessoalmente até o relicário, mas como podem ver, terei uma longa noite de reuniões e preparações pela frente. Que bom que sou um vampiro, não é mesmo? — Finalizou com a brincadeira, despediu-se de Ragnar e Julie e voltou ao Salão de Guerra.

— Venham — disse o último serviçal. — Eu os levarei ao relicário.

A dupla o seguiu pelos corredores da mansão. Eles subiram a escadaria em espiral e terminaram no segundo andar, seguindo até o fim do corredor à direita. O serviçal abriu a última porta e estendeu o braço em um convite para entrarem.

— Fiquem à vontade. Todos os itens estão à disposição, mas só podem escolher um.

Ragnar estava cansado demais para se surpreender com o acervo em sua frente, mas não Julie. A lutadora andou apressada pelos vários corredores, cobiçando cada item à mostra, e assoviando baixinho toda vez que julgava encontrar o item escolhido.

Enquanto isso, o druida se apoiava na primeira estante para não cair em sono profundo. O grande discurso no salão de guerra havia gasto quase toda energia que lhe restava.

— Não vai dar.

Andou devagar para fora do cômodo, apoiando-se nas estantes.

— Precisa de alguma coisa? — disse o serviçal.

— Sim, estou exausto. Vou deixar ela escolher o meu item, tudo bem?

— Mas é claro, irei informá-la agora mesmo.

Ragnar abriu o menu de amigos, escolheu o perfil da garota e despediu-se dela em mensagem. Então desconectou do jogo, desligou a cápsula de imersão e jogou-se na cama.

— Ao menos não desmaiei dentro do jogo — disse antes de pegar no sono.

***

A coleção do duque era impressionante, ninguém poderia negar. Julie andava maravilhada pelos corredores como uma criança em uma loja de brinquedos. 

Cada seção era decorada seguindo uma temática específica: primeiro vinham as coleções de armamentos divididos em categorias. Primeiro as armas de combate corpo a corpo, com um grande foco em espadas, indo de facas até espadas montantes gigantescas que faziam Julie questionar seu manuseio devido ao tamanho exagerado. 

A próxima seção era dedicada a vestes e armaduras, uma mais bela do que a outra. Outra vez, alguns itens chamaram sua atenção pelas razões erradas, agora foi uma série de armaduras cujas joias raras pesavam mais do que o aço utilizado para forjá-las.

Foi durante essa observação que o serviçal veio ao seu encontro para informá-la da decisão de Ragnar.

— O coitado caiu no sono? Tadinho. — Não pôde deixar de achar graça da situação.

— Não sei, senhorita. Ele apenas fez o pedido e desapareceu de vista.

Ela agradeceu e o serviçal foi embora.

Vou ter que escolher um item pro Daniel? Então ele confia tanto assim em mim, mas que honra, ele poderia vir aqui depois e pegar o item que quisesse, pensou.

Julie andou pelas vitrines passando o dedo indicador sobre o vidro. Não havia sequer um item para lutadores. Suspirou em decepção e deu mais uma volta pela coleção até parar e se encostar em uma vitrine.

Com as costas pressionando o vidro, analisou a coleção de espadas decorando a parede. Começou lendo as etiquetas com os nomes dos itens até estranhar uma espada em específico.

— Espada Arcana de Salazar? Esse nome não é estranho.

Desencostou-se da vitrine, estalou os dedos e fechou o punho quando se lembrou da familiaridade do nome.

— Ragnar, você me deve uma.


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