Volume 2
Capítulo 17: Lumineirie
Um show de luzes permeava a multidão reunida na imponente Catedral de Sinnomun. A estrutura colossal exibia vitrais deslumbrantes e pinturas em seu teto que narravam segundo a fé, a criação do mundo e os feitos do Guardião da Luz.
Em Nerio, quase toda a população seguia a crença em Savithar, o Deus da Luz e Senhor Supremo. Sacerdotes espalharam sua palavra há eras, ainda que evitassem dizer seu nome em vão — (faziam) um gesto de reverência que reforçava a devoção dos fiéis. Para os crentes, o “Pai Celestial” iluminava os dias com sua chama e, ao repousar, deixava que seus anjos guardiões protegessem suas criações durante a noite.
A Catedral era o coração pulsante da fé no reino. A cada domingo, no primeiro dia da semana, celebrava-se um grande sermão, iniciado ao raiar do sol, como forma de começar os dias com a bênção do Criador. No altar, o regente daquela manhã entoava:
— As Escrituras dizem que devemos buscar a luz interior. Somos filhos do Senhor, e em nós habita uma centelha d’Ele. Quando despertamos essa luz, o mundo se abre diante de nós, e a graça divina se revela. Não nos deixemos corromper, como os magos e feiticeiros do mundo exterior. Nosso compromisso é com o Pai, com a pureza, e com a iluminação — assim como foi com a Rainha, guiada pela sagrada Lumineirie...
Enquanto a voz do sacerdote ecoava pelos vitrais, Morgana observava do alto, distante da multidão, apoiada na sacada do segundo andar da catedral.
— Estranho como nada mudou desde que éramos garotas — disse uma voz suave às suas costas.
— Isso te surpreende, Lumineirie?
A mulher que se aproximava era etérea, quase sagrada em sua aparência. Cabelos dourados em cascata, pele tão clara quanto uma porcelana, olhos cor de mel. Seu vestido branco longo, bordado com fios de ouro, reluzia sob a luz da catedral.
— Não deveria… Mas ainda assim me pergunto por que o Pai nos faz passar por tantas provações.
— Agora você age como uma devota? — Morgana retrucou, com um sorriso amargo. — Sabemos que sua posição de pontífice e a minha de Escolhida do Senhor são apenas peças num tabuleiro velho. Rótulos criados para justificar decisões.
— Isso não significa que deixei de acreditar em Savithar. Talvez não do jeito que a igreja ensina... mas ainda creio que Ele nos guia. Tudo que vivemos tem um propósito maior.
— Ah, que bela pontífice você é, contrariando os dogmas da sua própria ordem…
Lumineirie sorriu com doçura e devolveu, com ironia elegante:
— Ó grande Escolhida, criança da luz… peço humildemente que vos digneis a ir tomar no reto anal.
Morgana arqueou a sobrancelha por um segundo… e então riu. Ambas gargalharam alto, como nos velhos tempos. O silêncio seguinte não foi desconfortável, mas acolhedor — preenchido apenas pela liturgia distante.
— Você não veio até aqui só pra relembrar nossa infância, veio? — perguntou Lumineirie.
— Não. — Morgana respondeu, séria.
— É sobre o Aru’zan, não é?
— Sim. — Morgana suspirou profundamente. — E não só isso. Várias anomalias estão surgindo em diferentes nações. Discutimos isso no concílio… mas não é o bastante. Fui até a antiga mina de Aetherium com Kinan. E o que encontramos lá me incomoda até agora.
— Você quer que eu use minha visão, não é?
— Sua habilidade alcança o que eu não consigo ver. Há um vazio naquela terra. Um eco… que me escapa.
Lumineirie observou-a em silêncio. Então sorriu com gentileza e disse:
— Ainda a mesma garotinha assustada de quando éramos jovens. — Mas seus olhos agora estavam sérios. — E ainda assim… você está certa. Os sinais são muitos para serem ignorados.
Sem mais palavras, suas pupilas douradas se acenderam — uma luz amarelada cobriu seus olhos por inteiro. Ela se concentrou. As imagens, os fluxos de energia, as camadas ocultas da realidade desvelaram-se diante dela.
— Há matrizes de energia por todo o local — disse em tom grave. — Mas não são como as nossas. São rastros brutos… vazios. Sem luz. Sem sombra. Sem mana. Só ausência. Isso… isso não é deste mundo.
Os olhos da pontífice voltaram ao normal. Ela cambaleou, e Morgana a segurou antes que caísse.
— Me desculpe. Foi o máximo que consegui. Espero que Savithar possa nos guiar daqui pra frente…
— Você já ajudou mais do que imagina. Obrigada, amiga.
No altar abaixo, o sacerdote elevou a voz, recitando um dos épicos finais do Livro de Shah’Arun — as Escrituras Sagradas de Nerio:
— “E eis que os Amaldiçoados vieram em sua primeira passagem, e ninguém lhes prestou atenção. Mas ainda ocultos, já feriram o equilíbrio, e o mundo gemeu em silêncio.
Na segunda passagem, não mais se esconderão: envolverão os céus em trevas e ofuscarão a luz do Criador. Então, o tempo cobrará seu preço, e somente os escolhidos resistirão à colheita dos esquecidos.
As montanhas ruirão, os rios se tingirão de sangue, e a própria terra se dirá órfã.
Mas aqueles que se abrigarem sob a luz de Savithar, Senhor Supremo e Guardião do Fogo Eterno, não conhecerão o medo.
Pois onde sua chama arder, o fim não terá domínio.
Assim está escrito: que a sombra virá, e que a luz será provada. E que somente os fiéis verão a aurora além do juízo final.”
Ao ouvir aquelas palavras, Lumineirie foi tomada por outro êxtase. Seus olhos se iluminaram novamente e, em transe, ela falou com voz distante:
— Uma caverna escura… abriga seres sem rosto. Parecem conosco… mas não pertencem a este mundo.
Criaturas do caos, que veneram o fim de todas as coisas. Eles esperam pelo Filho Perdido… aquele que trará a era do caos de volta.
Um Filho Perdido das Estrelas veio…
Agora, aqui reside.
Portando sombra e luz, ele traçará o destino do universo.
Trazendo a aurora… ou o abismo.
As forças de Lumineirie se esvaíram. Ela desabou, mas Morgana a amparou a tempo. Ainda respirava. Apenas havia desmaiado.
— No fim, não era só paranoia… — murmurou Morgana. — Não são só anomalias. É o começo de algo maior.
Antes de apagar completamente, Lumineirie murmurou uma última frase, com a voz trêmula:
— Eles já estão aqui, Morg… e começaram a agir.
Precisamos encontrá-los… antes que seja tarde demais.
Pequenas conversas e cochichos se espalhavam pela sala de aula. A academia possuía auditórios imensos, e a primeira aula de Harkin aconteceria em um deles — lotado com mais de mil alunos de todas as idades. Alguns estavam ali dando os primeiros passos no entendimento da mana; outros, já veteranos, atuavam como instrutores em formação.
À frente das fileiras, um grupo de alunos da nobreza se destacava. Camila, Vargas e Silas estavam sentados com expressões entediadas, como se preferissem estar em qualquer outro lugar. Então Vargas comentou, entortando a boca:
— Eu tô aqui a pedido do meu pai… Mas e você, Camila? O Solomon mandou você espionar o professor?
Camila deu um risinho sarcástico.
— Tô aqui por pura curiosidade. Meu pai fechou um acordo com esse cara. Ele construiu uma arma pra ele.
— E o que isso tem a ver com a gente? — questionou Silas, franzindo a testa. — Tipo… ele ainda arrebentou seus irmãos. Vocês não deviam estar planejando vingança ou algo assim?
Camila suspirou, ajeitando o cabelo.
— Por mais que me doa admitir… aqueles dois estavam fora de controle. Foi bom levarem um choque de realidade.
A resposta surpreendeu os dois. Camila nunca falava mal dos irmãos pelas costas. Como filha do meio, ela sempre demonstrou respeito por Drake, o mais velho, e uma proteção feroz por Stein, o mais novo.
— Enfim… como vocês sabem, eu me dedico a estudar magia e aprimorar minhas habilidades como engenheira. E a arma que ele construiu pro meu pai… é algo que eu não conseguiria fazer nem em mil anos.
— Tudo isso? — Vargas arregalou os olhos.
— Surpreso, Vargas?
A voz veio de trás. Pietro se aproximava com as mãos nos bolsos, ao lado de Okini. Trazia sua típica postura relaxada, mas os olhos atentos.
— E não devia? — retrucou Vargas. — Teu amiguinho era pra ser só mais um aluno como a gente… Do nada ele surra tua família inteira, vira professor e agora é um gênio da engenharia? Esse cara ainda é humano?
— Ele é um babaca arrogante, sim — respondeu Okini, cruzando os braços —, mas vocês viram o que ele fez no Coliseu. Não dá pra brincar com ele.
— Isso foi inesperado, prima — Silas assentiu. — A inteligência da nossa casa falhou em identificar tamanha… magnitude.
— Eu nem sabia que tínhamos informações. — Okini sentou-se ao lado de Silas. — Desde que a mamãe partiu, o papai e o patriarca decidiram não me contar mais nada.
— É muita coisa pra digerir — disse Vargas. — Mas você tem razão. Quando meu pai falou que eu devia aprender com ele, achei que era loucura… Até ver o que rolou hoje. O cara não tá pra brincadeira.
As conversas continuaram por mais alguns segundos, até cessarem quase que ao mesmo tempo. O motivo era óbvio: o assunto principal acabara de entrar.
Harkin atravessou o salão com passos firmes. Vestia um de seus tradicionais sobretudos pretos e trazia luvas de couro nas mãos. O cabelo, perfeitamente penteado, estava dividido ao meio. Subiu até o púlpito com tranquilidade, observando os alunos com atenção.
Mesmo sem dizer uma palavra, o silêncio se instalou. Por alguns segundos, todos ali sentiram como se ele os tivesse olhado nos olhos — um por um.
O silêncio durou mais alguns instantes, até que o professor soltou um longo suspiro e disse:
— Seis tão me olhando como se tivessem visto o demônio encarnado.
A declaração provocou uma reação coletiva — surpresa, confusão, curiosidade.
— Se lasque… vou ser o mais direto possível. Meu nome é Harkin et Abrasax. Sou o príncipe de Nerio e vim pro Império pra conhecer essa terra. Por causa de certas circunstâncias, me tornei professor, e vou dar aula pra uma parte de vocês — uma parte pequena, infelizmente. Não tô nem aí pra quem vai ser meu aluno. Não faço distinção entre o filho de uma meretriz qualquer e um descendente do imperador. Pra mim, todo mundo é igualmente burro. E eu tô aqui pra ajudar vocês a deixarem de ser.
Ele fez uma pausa, observando a plateia. Perplexidade era a palavra que melhor definia o ambiente.
"Ótimo. Tá indo como eu quero. Finalmente de volta no comando."
— Hoje fiz questão de fazer essa apresentação aberta, pra que todos saibam o que espero dos que forem selecionados pra estudar comigo. E os que não forem, saibam que podem me procurar a qualquer momento. Não faço distinção. Aluno meu ou não, vou ajudar no máximo da minha capacidade.
Mais uma vez, a multidão permaneceu em silêncio, tentando absorver suas palavras.
— Já que tão prestando atenção, deixa eu falar das minhas qualificações. Eu acredito que preciso ser transparente com vocês.
"Transparente é o caralho, víbora maldita…" — pensou Okini, revirando os olhos.
— Eu sou pesquisador. Minha especialidade é engenharia mágica. Quem tiver interesse em forja e desenvolvimento de “Magitec” — como vocês chamam aqui — pode me procurar. Estarei no laboratório quando não estiver em aula. E pra quem curte combate, como vocês viram hoje, graças ao idiota do Julian… eu não fico atrás de nenhum professor dessa instituição.
Ele deixou a tensão repousar por alguns segundos antes de prosseguir:
— Enfim, esse sou eu. As aulas que dou vão depender do caminho que vocês quiserem seguir: acadêmico ou militar. Isso é com vocês. Eu domino ambos. E apesar de ser jovem — até mais novo que alguns aqui —, eu tenho conhecimento suficiente pra guiar qualquer um. Então façam o melhor de vocês, que eu farei o meu pra que tenham força pra ser melhores.
Uma última pausa. Ele inspirou fundo, olhou para a multidão e perguntou, com seriedade:
— Alguma dúvida?
Diante da pergunta no ar, os nobres começaram a entender o contexto — e a expressão de nojo de alguns era visível até na atmosfera.
— Mais um amante da ralé apareceu… — comentou alguém, baixo o suficiente para que Harkin não ouvisse.
Por outro lado, os alunos mais humildes, ainda confusos, tinham um brilho nos olhos. Para eles, a ideia de aprendizado independente da origem soava como uma promessa real.
Silas, curioso, perguntou a Pietro:
— Você é quem conhece ele há mais tempo… As palavras dele têm alguma verdade?
— Se ele disse, é o que vai fazer. Ele é idiota, narcisista e egocêntrico… mas sempre manteve sua palavra.
A resposta deu o que pensar para Silas e seus amigos. Eles não esperavam por isso — assim como praticamente ninguém na sala.
Vendo os pequenos burburinhos, Harkin voltou a falar:
— Bem, já que não há dúvidas... vamos ao primeiro conteúdo.
A atenção se voltou a ele. Andando de um lado ao outro, continuou:
— Quanto mais se estuda magia, mais se percebe que os conceitos básicos são os mais importantes. Então eu lhes pergunto: o que é magia?
Confusão novamente. Era esperado. O que ele não esperava era que ninguém se atrevesse a responder.
— Vamos, senhores… eu não tenho o dia todo. Vou ter que escolher alguém pra responder?
Uma garota no meio das fileiras se levantou.
— É sexista usar “senhores” pra se referir a todos — disse com firmeza —, mas respondendo à pergunta: magia é a mana aplicada por meio de um catalisador para criar um efeito desejado.
Harkin revirou os olhos e, antes que a garota se sentasse, respondeu:
— Tô nem aí se você é homem ou mulher. Me referi a todos, e vocês entenderam. Mas enfim… voltando ao tópico: alguém discorda dela?
Novamente, silêncio.
— Bem… a ideia de magia é conceitual. E, de certa forma, o que você falou não está errado. Mas será que magia se limita somente a causa e efeito, como a colega sugeriu? Não. Magia existe com ou sem um catalisador. Mana é uma forma de energia bruta; magia é essa energia em uso. Exemplos de magia sem catalisador? Tempestades de mana… ou as anomalias do deserto de Vaernath.
— Mas o próprio deserto é um catalisador para as anomalias — respondeu outro aluno.
— Errado. Se fosse assim, essas anomalias estariam restritas ao deserto. Mas não — elas ocorrem em todo o planeta, e de forma que não conseguimos rastrear. Se existe um catalisador, existe como rastrear. Por exemplo: se eu criar uma bola de fogo agora, independente do método, ela vai carregar um traço meu em sua composição. Esse traço é conhecido como…?
— Assinatura de mana — respondeu o mesmo aluno.
— Exatamente. Então, se as anomalias mágicas do deserto fossem causadas por ele, por que não conseguimos rastrear um catalisador?
— Porque o deserto não é vivo — arriscou alguém.
— Sim, o deserto não é vivo. Mas tudo, vivo ou não, se conecta à mana. Até mesmo pedras deixam rastros. E ainda assim, nas anomalias, não encontramos nada. Então me digam… se magia acontece somente por meio de um catalisador, como explicamos isso? Essa é mesmo a única resposta?
Silêncio.
Um misto de expressões confusas e admiradas espalhava-se pela sala. Um dos nobres, claramente voltado para o combate, decidiu se pronunciar:
— Tsk… um bando de nerds. E o que isso tem a ver com quem não quer enfiar a cara em livros? Pra mim, o importante é ter força pra derrotar o inimigo. O resto é baboseira filosófica. Pelo jeito, Nerio continua sendo um bando de arrogantes metidos a intelectuais.
Um misto de surpresa e tensão percorreu os alunos. Muitos se lembraram do duelo de mais cedo. O ambiente começou a esquentar.
Harkin olhou para o aluno com arrogância… e caiu na gargalhada.
— O que tem de engraçado? — perguntou o mesmo aluno, irritado.
— A sua estupidez.
A resposta foi seca.
— É por causa de gente como você que os generais do Império têm que trabalhar cada vez mais. Com recrutas como você, a chance de surgir um novo general diminui 100%.
— Como é que é?! Seu nerd de merda, eu duvido você repetir isso!
— Você é estúpido. E graças a idiotas como você, são necessários nerds como eu… pra mostrar que vocês não passam de vermes mimados por uma linhagem que nem é de vocês. Vocês só têm o que têm porque suas famílias conquistaram. Vocês mesmos… ainda tão de fralda.
Com o clima esquentando. Os dois se encararam. A tensão aumentava — até que Harkin lembrou ao outro por que não se deve mexer com ele:
— Você, meu jovem, não duraria cinco minutos no ringue comigo. Quer provar que é melhor? Fica à vontade.
O duelo mais cedo voltou à mente de todos como um soco no estômago. Aqueles que estavam começando a concordar com o jovem rebelde engoliram seco.
— Mas eu tô aqui pra ensinar. Então questionem. Mesmo que vocês sejam burros igual a uma pedra — disse, amenizando o clima com um leve sorriso sarcástico.
— Entender os princípios básicos, como “o que é magia”, permite uma aplicação melhor dela. Seja em combate ou no laboratório, tudo parte da compreensão.
— É… mas entender isso não vai fazer seu nível de mana subir até o de um general — rebateu Vargas, da primeira fileira.
— Pode até ser, senhor Lexus. Mas seu pai, Dharma, é o patriarca da sua família. Me diga: o nível de mana dele é o de um general?
— Não.
— E mesmo assim… você acha que ele é inferior a um general?
— Bem… depende do general. Mas não, ele não fica pra trás.
— Exatamente. E é isso que vocês têm que colocar nessa cabeça limitada de vocês. Níveis de mana são importantes, sim. Mas não são absolutos. Usando seu pai como exemplo: eu tenho reservas de mana próximas às dele… mas, como ele mesmo já deve ter te dito, eu não conseguiria vencê-lo em combate.
— Isso só é possível porque ele compreende a própria força, as características dela e tudo que envolve a aplicação de seus métodos.
A compreensão se espalhou. O que Harkin explicara permitiu que os alunos enxergassem além dos limites fixos, abrindo horizontes.
— Vejo que a maioria entendeu o que eu quero passar. Parabéns — agora vocês são menos burros do que antes. Não importa se vão seguir um caminho acadêmico ou militar. O que importa é dominar aquilo que vocês fazem. E toda maestria começa pela base. É impossível ser um mago sem sentir mana. Quanto mais você entende sobre ela… melhor você se torna no uso.
— Então, o que você tá sugerindo é que, independente do curso, o melhor caminho é estudar? — perguntou Okini.
— Mais do que isso.
— Mas, resumindo… ainda é estudar?
— Sim. Deixe-me mostrar na prática. Observem.
Harkin abriu a palma da mão e conjurou uma bola de fogo.
— Eu consigo criar uma bola de fogo só imaginando ela. Esse é o método que alguns feiticeiros usam. Mas não é o único.
Esticando a outra mão, formou uma matriz mágica e condensou sua mana. Outra bola de fogo surgiu, idêntica à primeira.
— Qual a diferença entre as duas?
— Uma foi canalizada por conexão primordial. A outra, por cálculo — respondeu alguém.
— Exato. Essencialmente, são a mesma coisa. Mas entendendo o princípio, conseguimos isolar o método… e, assim, aprimorá-lo.
— Para que o fogo exista, é preciso oxigênio. Então o que acontece se, durante os cálculos da matriz, mudarmos a fórmula pra aumentar a entrada de oxigênio?
Ele alterou a matriz na mão. Quando o encantamento se completou, a bola de fogo cresceu em potência, iluminando toda a sala.
— Entendem agora? A mana usada foi a mesma. Mas o efeito… totalmente diferente.
A outra bola de fogo, na mão esquerda, mudou de cor — atingiu um azul quase índigo — e explodiu com um boom, ensurdecendo quem estava mais perto e irradiando luz por todo o salão.
— Quero que vocês repensem tudo o que sabem. Até que consigam chegar a conclusões novas, diferentes das que já têm.
Ajeitando o sobretudo, Harkin lançou um olhar frio de despedida à turma. Os alunos o encaravam entre o medo e a admiração.
— Bem, era isso sobre fundamentos. Espero que esse novo jeito de pensar ajude vocês a responder minha primeira pergunta. Alguém ainda vê diferente?
Camila ergueu a mão:
— Olha… você pode ter ensinado alguma coisa. Mas isso não prova que a Ruby estava errada. Por mais que seja mais elaborado, no fim, magia ainda é a aplicação da mana para causar um efeito.
— Como eu disse antes… tá meio certo. Mas agora, vou cravar: magia é a grandeza aplicada por uma ou mais fontes de energia bruta. Com nano flutuações, ela pode alterar o próprio tecido da existência. Ou seja: magia é a canalização daquilo que você deseja, usando energia bruta — que vocês conhecem como mana.
Ele deu um meio sorriso.
— Compreender essa energia bruta deveria ser o objetivo de qualquer mago. Treinem a percepção. Quando ela mudar… tudo ao redor de vocês vai mudar junto.
Com isso, Harkin saiu, deixando para trás um auditório cheio de sussurros, questionamentos… e um novo jeito de pensar.
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