Mundo de Formamus Brasileira

Autor(a): Sr. V


Volume 1

Capítulo IV: “Amigos falsos”

“Às vezes as coisas mais perigosas são as que estão próximas de você. Pois, quem desconfiaria daqueles que estão do nosso lado? Quem desconfiaria dos que nos estendem a mão? Cuidado, tome muito cuidado com os amigos. Lembre-se que eles costumam vender companheiros por trinta moedas de prata, e te traem com um beijo.”

***

“Não acredito que ele me convenceu.” 

Pensou Charles, ficando ainda mais emburrado enquanto conduzia seu carro por aquela estrada estranha. Estavam no meio do nada, estrada coberta por lama e, nos arredores se viam apenas árvores e nada além.

“Como eu vim parar aqui?”

Charles logo se lembrou de momentos antes quando tentou evitar Jack, focando enfim no seu objetivo:

— Vamos lá conversar com o povo da casa. — disse ele.

— Só vai perder tempo! — Exclamou Jack. — Eles não moram mais ai. E já peguei o endereço novo, sabe… Posso levar vocês lá. Que tal?

— Até parece que–

— Fechado. Vamos!! — disse Verônica animada.

Voltando ao presente, se encontrava ele seguindo um velho conhecido em uma estrada mais que suspeita.

“Merda Verônica. Porque foi me meter nessa situação? Sabe que não deve confiar em todo mundo que conhece por aí.” Seu olhar era de alguém chateado, Clint percebendo seus resmungos, disse: 

— O que está te incomodando tanto, Charles?

— Apenas o jeito inocente de Verônica. Ela não sabe nada sobre ele, e… Olha lá! Está indo com um estranho, os dois sozinhos naquele carro.

— Entendo. Mas você sabe bem como ela fica quando encontra um rapaz boa pinta. E qual é a dele? Você fez o maior bafafá quando viu ele.

— Não sei o que me deu. Quando dei fé já tinha perdido a cabeça… Aquele biltre. Sempre me tirando do sério.

— Vocês se conhecem, né?

— Sim, mas já faz um bom tempo que não o via! Fomos parceiros no passado… E quero que isso continue no passado.

— Ele deve ter feito algo bem sério pra você estar com essa expressão.

— Ele sempre foi um vigarista. Mesmo assim, fui um paspalho quando lhe dei uma chance… Éramos uma boa dupla, compartilhamos experiência e resolvemos vários casos. Tudo parecia correr perfeitamente bem, mas isso por fora dos panos… — Seu olhar ficava mais sério. — Começou com pequenos furtos dele nas casas que íamos. E terminou com ele roubando um colar valioso! Depois disso ele desapareceu. 

— Que patife.

— Eu fui preso por ser um suspeito. Embora fui solto, já que não tinham provas… Nunca mais vi ele desde então. 

— Agora entendo sua indignação, Charles. Temos que contar para a Verônica… Ela não pode ficar confiando nele.

— Ela já é grandinha, Clint. Vai ficar bem! E se acontecer algo, irei resolver eu mesmo.

Ambos concordam balançando a cabeça. Enquanto isso no carro com Jack, Verônica parecia se divertir conversando com ele:

— Verdade?! Eu não consigo nem imaginar o Charles conversando com uma mulher. Quem dirá paquerando.

— Pois foi. Quando eu o conheci, Charles, ele era muito selvagem. — disse a encarando por um momento. — Me lembrei de uma vez em um bar na Califórnia… Ele chegou a contar como conheceu a esposa dele?

— Não. Ele não fala muito sobre o passado e sua família.

— Sei... Bem, vou contar pra você então. Mas guarda segredo! Não quero que ele venha atrás de mim depois.

— Minha boca é um túmulo.

— Estávamos em um bar... Bebida boa, galera bacana, festa do balacobaco. Já tínhamos bebido umas doze ou treze doses de whisky… — Abriu um sorriso. — Estávamos tão bêbados que cantarolava-mos “When You're Smiling” tão alto que parecia até que estávamos competindo com o rapaz no palco improvisado.

— Do jeito que o Charles canta mal… Já escutei ele cantando no chuveiro, não é algo bom!

— Exatamente, chegou um momento que o barman ameaçou expulsar a gente do lugar. Ai paramos, de cantar, por que de beber... Não ia rolar! Foi aí que um dos brotinhos que estava no palco fazendo segunda voz, desceu. Eu já tinha sacado que Charles ficou encarando ela desde que entramos.

— Charles?! Aquele Charles?

— Ele mesmo. E não só ele, ela também ficou sorrindo pra ele! Agora imagina a cena… Estamos bêbados encostados na parede. Ela passa pela gente, cabelo vermelho, lábios com batom cor preta. A mulher mais linda daquele lugar, sem sombra de dúvidas… Ela passou pela gente e sorriu pra ele. Então foi até uma das mesas e se sentou em um ponto que pudéssemos vê-la.

— E ele estava esperando o que? Por que não seguiu ela?

— Eu perguntei a mesma coisa. Mas só depois de mais duas doses ele tomou coragem… ou como eu digo: o álcool subiu a cabeça. Ele respirou fundo e foi na direção dela, pelo menos tentou, já que para a gente tudo estava girando, hahaha… Ele saiu esbarrando em todo mundo! Derrubando bandejas no chão, fez uma moça sujar o vestido de vinho. Uma bagunça!!

— Hahaha. Ele conseguiu pelo menos chegar até ela?

— Nem eu acreditei, mas ele chegou sim. Eles ficaram dois minutos se encarando, ela estava esperando ele dizer algo… E ele tentando não vomitar, hahaha. — Caiu em gargalhadas. — Aí ele se aproximou mais dela enquanto a encarava com uma expressão assustadora. 

— Nossa, eu teria gritado!

— E você acha mesmo que ela não gritou?! Hahaha. Ela ficou aos berros pedindo ajuda.

— O que?! Ela gritou?!

— Sim! Mas a música estava alta demais pra alguém escutar ela. — Deu um sorriso brincalhão. — Foi aí que depois de tanto tempo ele enfim disse: “Moça. Você é tão magra que chega a dar pena. De frente você parece que tá de lado, e de lado você some… Está passando fome em casa?”

— Nãooo!! Não acredito que ele disse isso. 

— E ainda continuou… “Tô disposto a te levar para sair. Então chega de perder tempo e vamos ali comer alguma coisa?” — Parou por um momento. — Hahahah!! Você tinha que ver a cara dela!! Nunca vou me esquecer daquele olhar de quem estava com o c* melado de merda e não conseguia limpar, hahahaha.

— Hahahah!! Coitada… Ela deve ter corrido dele depois, né?

— Não. Sabe o que é mais inacreditável? — disse encarando ela. — Ela aceitou.

— Não. Sério?! Hahaha.

Concordou com a cabeça, mais uma vez caiam os dois em mais gargalhadas. Jack por vez deu um sorriso gentil para ela e disse:

— Mas quando você acha a pessoa certa… seus erros, por mais imperdoáveis que sejam. No fim, sempre viram acertos engraçados. Mas se não for a pessoa certa, até o maior dos acertos é visto como um erro sem perdão.

Eles se encararam por um momento. Veronica parecia pensativa, em sua mente essa frase parecia ecoar e se repetir. Ela então olhando para ele pergunta:

— Jack… E você? Tem ou teve alguém certo?

— Digamos que sou bom com erros. Hahaha… — Sorriu sem jeito.

— Talvez… você só precise da pessoa que os veja como acertos engraçados.

Disse ela o dando um adorável sorriso, por um momento Jack se perdeu naquele encanto. Logo voltou a si quando quase perdeu o controle do carro. Alguns minutos depois já chegavam ao seu destino.

Lugar simples, casa isolada. Na varanda da casa uma moça tricotava alguns cachecóis enquanto cantava uma música de ninar. Logo escutou o som dos carros se aproximando, e ao avistá-los, correu às pressas para chamar seu marido.

Não demorou muito para o homem sair para fora, encarando o pessoal que estacionava em seu terreno. E em seguida aqueles dois estranhos que saíram de ambos os carros:

Jack e Charles caminharam na direção deles, observando tudo ao redor. Charles ainda encarava Jack, seu olhar ainda não mudara.

— Boa tarde. — disse Jack, se aproximando. — Aqui que moram o senhor Morgan e a senhorita Estela? 

— Sim, isso mesmo. E é senhora Estela para você, rapaz! — disse o Homem mal encarado.

— Ha, sim. Perdão… Deixe-me começar novamente! — disse ele o cumprimentando. — Me chamo Rubens Barrilt e esse grandão é Cliff Winchester… Somos do FBI.

Ele puxará um distintivo falso do bolso, amostrando rapidamente ao homem que ainda o olhava desconfiado, por vez disse:

— Bem, prazer Sr.Barriltt e Sr.Winchester. Mas o que gostariam conosco?

— Chegou ao conhecimento do meu departamento… Que estão acontecendo desaparecimentos suspeitos na cidade. O último caso sendo com seu filho, certo?

“Agora somos parceiros de novo seu merda?! Você me dá nojo… nojo.” pensou Charles se segurando. O homem por vez encarou sua mulher, ambos pareciam confusos com a visita repentina.

— Sim. Ele sumiu a uns três dias! Não sabia que o FBI cuidava de casos como esse?

— Sim, acredito que você não deva saber muito. E isso é um bom sinal! Já pensou o que fariam se tivessem acesso às informações confidenciais da nossa organização? Por isso somos discretos.

— É, você tem razão… 

— Certo. Gostaria de fazer algumas perguntas para nos ajudar a compreender melhor esse caso.

— Ha sim, claro. Venha comigo, por favor! — disse o homem abrindo a porta. — Entrem, sintam-se em casa.

— Com licença. — disse Charles.

Por vez a mulher avistou os outros que ficaram no carro de Charles. Ela então parou ele e disse:

— Não vai convidar os demais?

— Não se preocupe senhora. Eles estão encarregados de dar uma olhada nos arredores, temos que ver se tem algo por aí que nos ajude. Vocês não se incomodam, né?

— Não, nenhum pouco. Fiquem à vontade, quanto mais ajuda melhor!

Charles fez sinal para os demais que saíram do carro em seguida. Assim se separando ali, enquanto ele colhia informações com Jack, os demais tentavam descobrir algo útil do lado de fora.

***

Momentos depois Charles adentrando mais a casa, notou o quão simples era. Mobília antiga e alguns desenhos espalhados pelo chão. Jack por vez pegou um deles dizendo:

— Desenhos do seu filho?

— Não. Da nossa filha… Ela deve está lá fora brincando!

— Então vocês têm uma filha também?

— Sim e ela é um amor de pessoa. Também é muito agitada, vive correndo de um lado para o outro.

— E ela tem uma mente bem imaginativa, né?

— Há, isso? — Pegou o desenho de sua mão. — É o amigo imaginário dela! Pablo, eu acho… — Entrega o desenho novamente.

— Hmm… sei…

Jack mostrou o desenho para Charles. Um desenho borrado com giz de cera, onde apresentava toda a família: pai, mãe, filha, filho e, pablo.

Pablo por vez parecia um pouco assustador para ser amigo de uma criança. Tinha olhos pintados de vermelho, corpo pintado de preto e asinhas de anjo.

Os dois se encaram, já entendendo um pouco a situação. Foram conduzidos até o sofá onde se sentaram, Sra.Estela foi a cozinha preparar um café enquanto seu marido conversava com eles:

— Então… O que gostariam de saber?

— Bem– 

— Comece falando sobre o dia em questão. — disse Charles, interrompendo Jack.

— Já fazem três dias que ele está desaparecido. Na noite em questão, eu escutei um som estranho no quarto de cima. Corri até lá, e… Vitória estava chorando enquanto a janela estava aberta. 

— Vitória? — Perguntou Jack.

— Minha filha mais nova. 

— Eles dividiam o quarto?

— Sim. Ela tava chorando muito, eu perguntei o que aconteceu, mas… Ela fica dizendo desse amigo imaginário. Coisa de criança, sabe… Acho que ela ainda está em choque sobre o que aconteceu. Embora eu ache que ela está apenas escondendo o fato do irmão ter fugido.

— E porque você acha que ele fugiu? — Perguntou Charles.

— Tivemos uma discussão. Eu… Bem, eu tive que matar o nosso cachorro! Ele foi atacado por lobos, e… Não tinha como ajudar. Tivemos que sacrificar, realmente, uma pena. Ele era um bom cão.

— Lamento por sua perda. — disse Jack.

— Era um bom animal. Por isso quis tirar o sofrimento dele… James ficou triste e quando soube que tinha sido eu o responsável… Bem, ele ficou bem irritado. Disse que ia fugir e tudo mais. Os moradores disseram que viram ele pela última vez seguindo o caminho da igreja abandonada!

— Essa… igreja abandonada. Seria aquela que sofreu um incêndio? — Perguntou Charles.

— Sim, essa mesmo. Alguns mendigos vivem por lá agora. Pelo menos é o que o pessoal diz!

— Sei… Então Sr.Morgan, você e sua esposa vivem aqui com mais alguém além de seus dois filhos? — Perguntou Charles, se encostando no sofá.

— Não. É apenas a gente mesmo. Gostamos de viver aqui, ficamos perto do lago, e… Eu costumo sair para caçar. Meio que um hobby meu!

— Também caço as vezes. E sou bom no que faço…

— Sério? Costuma usar rifle? 

— As vezes sim, mas digamos que sou melhor com armas de pequeno porte. 

— Ele está se amostrando na maior cara de pal, é isso mesmo? — Sussurrou Jack consigo.

— Café? — Falou Estela saindo da cozinha.

Jack foi o primeiro a pegar a xícara, começando assim a beber. Bebia às pressas no que resultou em queimar sua língua. Charles por vez riu dele, enquanto isso do lado de fora da casa…

Clint, Verônica, Rigor e Igor observavam os arredores em duplas de dois. Clint e Verônica escutaram algumas risadas e as seguiram, já os demais continuaram em outra direção.

As risadas vinham de perto da cerca, ao se aproximarem avistaram uma garotinha a qual parecia conversar com alguém. Porém, não conseguiam ver muito bem ainda… Caminharam contornando a cerca de madeira, quando enfim ficaram frente a frente com a criança a qual, conversava sozinha...



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