Intangível Brasileira

Autor(a): Richard P. S.


Volume 2

Capítulo 45: Turbilhão de desespero

O descendente dos féericos ficou imóvel. Kilian engoliu o ar, medindo Darin e Imaniul, agora monstros enormes, braços cobertos de vinhas e ossos afiados. Cada músculo parecia pronto para estourar.

Com um rugido gutural, avançaram. O chão tremeu sob os pés de Kilian; pequenas pilhas de lixo se deslocaram com o impacto.

— Darin! Imaniul! — gritou, voz carregada. — Sou eu, Kilian!

Nenhuma resposta. Só o estalo das lâminas cortando o ar. Um arrepio percorreu sua espinha.

— E agora? Amigo ou inimigo?

O descendente dos féericos permaneceu parado, rosto imóvel, olhos selvagens fixos nele. Kilian rangeu os dentes.

— Droga! Sem opções!

Saltou. O vento da lâmina óssea de Imaniul cortou o ar, levantando poeira e detritos. Darin contornou pelo flanco num golpe horizontal; Kilian pousou e se abaixou. A lâmina passou por cima.

O jovem de cabelos de oliva apenas acompanhava com os olhos, corpo imóvel, energia contida.

Kilian mal tocou o chão e tomou impulso, saltando para o topo da pilha de lixo. O entulho tremeu sob seus pés.

— Preciso agir rápido — murmurou, girando para saltar.

Onde antes estavam os gnolls, corpos dilacerados e tripas se espalhavam pelo chão. O cheiro de sangue e ferro subiu.

— Aquele cara... Aquele cara fez isso... — sussurrou, engolindo em seco. O barulho abaixo o trouxe de volta à batalha.

Os monstros subiam a montanha de lixo com precisão predatória. Ossos e vinhas perfuravam os detritos a cada impacto, estalos ecoando pelo ar.

O descendente dos féericos ficou de costas, espada quebrada pingando sangue. Um instante de silêncio antes de se virar, olhos brilhando, seguindo cada salto de Kilian.

O ar vibrava.

Kilian rolou pelo entulho, desviando de garras e lâminas. Cada movimento cortava o espaço, corpo tenso, saltando sobre pedaços de ferro torcido e entulho, impulsionando-se para trás de pilhas de detritos.

— Venham! — gritou, voz firme, desafiadora.

Darin e Imaniul se lançaram em uníssono, a massa de seus corpos esmagando o entulho. Vinhas estalaram. Ossos rangiam. O cheiro de sangue e ferro queimado subiu.

Kilian saltou sobre a lateral de um barril quebrado. Girou. A lâmina óssea raspou a terra onde antes estava seu pé. Ele caiu de lado, empunhando o pau de fogo primo à frente, disparo direto.

O descendente dos féericos virou-se, olhos seguindo cada salto de Kilian, imóvel, calculando cada movimento.

— Não vão me parar! — gritou Kilian, lançando-se para o outro lado da montanha, onde os restos dos gnolls ainda se espalhavam.

Kilian ofegava, corpo tenso, olhos fixos nos monstros. A pilha de lixo tremeu sob o impacto de seus passos.

— Eles não vão parar! — gritou, voz cortando o ar. — Preciso agir!

Apontou o pau de fogo primo para Darin. A energia mágica se concentrou, azulando ao redor do bastão.

— Me desculpa, Darin...

O disparo cortou o ar, atingindo o ombro do monstro. Carne e ossos estalaram sob a luz incandescente da magia. Darin rugiu, rolando pelo outro lado da pilha, lâminas perfurando o entulho na tentativa de se segurar. O impacto deixou-o fora de vista por um instante.

Imaniul desceu em um escorregão. Kilian tentou disparar novamente, mas o pau de fogo primo falhou. A energia dispersou-se, insuficiente para deter o avanço.

— Logo agora?

O coração de Kilian bateu mais rápido. Seus olhos percorreram o chão e pararam na poça de sangue entre os gnolls.

— Garrik! — disse ele olhando para o vermelho.

Ele abaixou as mãos, canalizando a magia de forma precisa.

— Primeiro, juntar o líquido... — murmurou, a voz quase inaudível.

O sangue começou a se mover, subindo pelo ar como se tivesse vontade própria. Formou-se uma esfera flutuante, densa e pulsante. Cada centímetro parecia carregado de força, pronta para explodir no momento certo.

— Mais um pouquinho...

Imaniul aproximava-se, cada salto marcando o chão, folhas de lixo e fragmentos voando.

Kilian respirou fundo, mãos firmes sobre a esfera, e a lançou.

O impacto foi brutal: a bola de sangue atingiu o peito de Imaniul, jogando-o para trás. A pilha de lixo ruiu sobre ele, detritos voando para todos os lados. Imaniul ficou soterrado, lutando para emergir, cada movimento espalhando ainda mais o entulho.

Do outro lado da montanha. Darin foi pego de surpresa. Sem conseguir reagir a tempo, ele caiu junto com a avalanche, os ossos rangendo sob o peso da destruição. Kilian saltou para longe, a respiração pesada, e o corpo pronto para o próximo movimento.

— Agora tenho que sair daqui... rápido! — resmungou, empurrando-se para o topo de um barril quebrado e girando entre os fragmentos.

Kilian saltava de uma pilha de lixo para outra, cada vez mais alta. A cada aterrissagem, um novo salto. O ar cortava seu rosto, enquanto a paisagem se tornava um borrão.

Ele alcançou um ponto mais alto. O terreno estava mais firme. Seus olhos varreram o horizonte.

Uma formação rochosa erguia-se adiante. Ele apontou com o dedo.

— Lá! — disse ele, mudando a rota.

Com saltos poderosos, chegou à rocha e se apoiou, ofegante.

— Consegui... — sussurrou, exausto.

Seu corpo cedeu. Os músculos tremiam, o peito arfava em ritmo irregular. Ele caiu de joelhos. As montanhas de lixo desmoronavam atrás dele, o estrondo se espalhando pelo vale.

— Minha energia mágica... — murmurou. — Preciso... descansar...

Fechou os olhos por um instante, a cabeça pendendo para frente, até quase encostar no peito. O corpo balançava, ameaçando tombar.

— Mais um pouco... preciso sair...

Um som. Sutil. Kilian abriu os olhos, as pálpebras pesadas.

O jovem de cabelos de oliva se aproximava. Ele também saltava de monte em monte com movimentos precisos, quase sobre-humanos. O olhar fixo não se desviava de Kilian.

— Aquele cara... tem algo errado com ele...

Kilian tentou se levantar, mas o corpo não respondia.

O rapaz continuava, alheio ao caos ao redor. Havia algo de inquietante em seus olhos selvagens, como um predador que não via necessidade de pressa. Ele segurava a espada quebrada e o coelho de pano.

— Quem... quem é você? — Kilian tentou falar, mas a voz falhou.

O desconhecido inclinou a cabeça levemente, os olhos piscando em intervalos rápidos. Os dedos tamborilavam no coelho.

Um som de destroços. Kilian virou a cabeça, as montanhas de lixo estremeciam. Darin e Imaniul emergiam dos escombros, monstruosos, olhos verdes cintilantes e rugidos furiosos.

— Não pode ser...

Tentou se levantar. As pernas vacilaram. Ele apontou o pau de fogo primo na direção do recém-chegado.

— Não... não se aproxime!

O jovem continuou avançando, lento, sem hesitar.

Kilian disparou. A energia mágica atingiu o peito do jovem, arremessando-o para longe.

— Eu avisei! — gritou, desesperado.

O corpo do rapaz tremeu. A respiração tornou-se pesada. Movimentos bruscos, erráticos, atravessavam-lhe os músculos. A fúria se espalhava em ondas.

Imaniul e Darin farejaram o ar, os narizes se contraindo. Avançaram em disparada, rápidos e assustadores.

— Droga... eles estão chegando... — Kilian tentou se erguer de novo. As pernas cederam. Ele se apoiou na rocha.

O descendente dos féericos rugiu, e o grito percorreu todo o vale. Kilian ergueu o braço na pressa, sem tempo de recuar, quando a criatura avançou.

— O que... você está... — Kilian tentou falar, mas sua voz falhou.

A espada quebrada veio em um arco. Kilian conjurou uma barreira mágica no último segundo. A lâmina estilhaçou a proteção e o arremessou contra a parede rochosa.

O impacto o dobrou como uma vara seca. Ele caiu e rolou na rocha, arquejando.

— Não... — a voz saiu fraca.

Ele tentou ficar de pé, ofegante.

— Isso não está bom... — murmurou.

Darin e Imaniul avançavam com os corpos monstruosos. O jovem de cabelos de oliva, braço pendendo onde o disparo o ferira, ainda se movia. Mesmo trêmulo, Kilian forçou o corpo de pé, sangue escorrendo pelo braço.

— Preciso pensar rápido... — forçou-se a canalizar a magia.

A mão dele foi ao chão, os dedos enterrados entre pedras e entulho. O solo vibrou, e estalagmites afiadas emergiram, trespassando o corpo do jovem.

Ele gritou, mas não parou.

A espada quebrou o ar outra vez, e dessa vez o golpe rasgou o braço de Kilian. O sangue espirrou quente, pingando nas pedras.

Kilian cambaleou. Tentou erguer as mãos mais uma vez, mas parou.

— Não... consigo...

Um vento quente e fétido subiu do vale e bateu em seu rosto, bagunçando o cabelo.

— Terra e água são tangíveis... mas... — Kilian arregalou os olhos, a respiração presa. — Intangível!

Ele juntou as mãos e liberou a magia. Um redemoinho explodiu, o jovem de cabelos de oliva girou violentamente até desaparecer entre as pilhas de entulho.

— Isso vai te segurar... por enquanto — Kilian puxou o tecido do braço ferido, sangue escorrendo entre os dedos.

Nesse momento, Darin e Imaniul alcançaram a mesma passagem rochosa. Kilian não hesitou. Virou-se contra eles e apontou as mãos junta com um redemoinho. Sua pele se abriu ainda mais e o sangue escorria.

— Não tenho tempo... — ergueu o braço de novo, a voz falha.

A tempestade de vento arremessou os monstros contra pedras e detritos. Sem hesitar, Kilian correu.

— Aqui!

Avistou uma fenda na parede rochosa. Aproximou-se, forçando os ombros contra a entrada estreita.

— Pequena demais... — grunhiu.

Com o pouco poder que lhe restava, moldou a pedra. A passagem se alargou, poeira caindo em chuva fina.

— Isso vai ter que servir.

Com um salto, atravessou a abertura e seguiu sem olhar para trás.

Darin e Imaniul chegaram à entrada da fenda logo depois, as lâminas ósseas prontas para rasgar. Porém, o descendente dos féericos já se espremia no vão estreito, bloqueando a passagem com o corpo. Forçava os ombros contra a pedra, mas não passava.

Darin rugiu e desferiu um golpe brutal com a sua lâmina envolta em vinhas. O descendente dos féericos desviou dos primeiros ataques, o rosto contraído num rosnado. Imaniul avançou ao lado, garras de osso zunindo, mas o inimigo agarrou o seu braço.

Darin atacou num ponto cego. As lâminas cravaram-se nas costas do jovem com cabelos de oliva. Imaniul puxou seu braço em forma de lâmina das mãos dele, fazendo o sangue espirrar quente pelas pedras.

O descendente soltou um urro ensurdecedor, o corpo arqueando para frente. Mesmo ferido, ainda empurrava o peito contra a fenda, o espaço apertado sacudindo a cada impacto dos golpes. O sangue descia em rios vermelhos, mas ele não recuava.

As veias saltaram nos braços quando ele se virou de lado, esmagando um dos braços de Imaniul. Os olhos castanhos arregalados, injetados de sangue, brilhavam em fúria. Os punhos cerrados e o tronco inclinado para frente anunciavam o movimento de arremesso contra os dois.

— Vou ter que ficar aqui até... até recuperar minhas energias mágicas... — Kilian murmurou, a voz entrecortada ecoando nas paredes rochosas.

Ele se recostou contra a pedra. O peito subia e descia em ritmo descompassado, os braços pesados cedendo sobre os joelhos. Lá fora, rugidos e golpes faziam a fenda vibrar com o impacto.

— Duvido... — disse, ofegante. — Com essa passagem desse tamanho, eles nunca vão me pegar. Droga... como isso dói... — sussurrou, a testa colada contra a parede.

Abriu a mochila com mãos trêmulas e puxou um pedaço de pão e um pano manchado. Enrolou o braço ferido, pressionando até o sangramento diminuir.

— Eu não tinha ideia de que ficaria tanto tempo aqui... — disse, mordendo o pão com dificuldade.

Algum tempo depois, as pálpebras caíram devagar, e a cabeça tombou vagarosamente para frente.

— Preciso ser paciente... só preciso de tempo... — repetiu, a voz baixa como um mantra.

 

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