Intangível Brasileira

Autor(a): Richard P. S.


Volume 1

Capítulo 43: Entre a ruina e o reencontro

— Kilian!

Kilian levantou a cabeça lentamente, e seus olhos se iluminaram ao reconhecê-los. Eram Cara de Prancha, Nariz de Batata, Garrik e Maya. Depois, um sorriso triste surgiu em seus lábios.

Cara de Prancha foi o primeiro a se aproximar. O anão envolveu Kilian em um abraço forte e rápido.

— Firme, garoto. Estamos aqui.

Nariz de Batata seguiu, seu abraço mais cuidadoso, enquanto seus braços transmitiam segurança.

— Aguente firme, Kilian.

Garrik se aproximou e deu um tapinha no ombro de Kilian antes de puxá-lo para um abraço firme. Logo depois, Maya também se inclinou e o abraçou, murmurando palavras suaves.

A pressão dos braços dos amigos ao redor de Kilian fez com que ele soltasse o ar preso. Ele inspirou fundo, e seus ombros relaxaram. A tensão desapareceu.

Logo depois eles sentaram-se ao redor dele. Ninguém disse nada; a preocupação estava clara em seus rostos.

Maya quebrou o silêncio:

— Como você está?

Kilian abaixou os olhos. O cansaço das últimas semanas pesava demais para esconder.

— Está difícil. Caelinus me culpou por tudo.

Garrik se inclinou, seus olhos fixos em Kilian:

— Precisa de algo? Como está se virando?

Kilian balançou a cabeça lentamente.

— Não, Garrik, eu estou bem. Mas obrigado.

Cara de Prancha lançou um olhar na direção onde Caelinus havia desaparecido, enquanto franzia a testa.

— Aquele paladino é o tal Caelinus? Não parece ser muito gente boa.

Kilian suspirou, e seus ombros caíram ainda mais.

— A Melangie era o amor da vida dele. Ninguém mais está sentindo tanto o peso da morte dela como ele.

Nariz de Batata deu outro tapinha nas costas de Kilian. — Bem, estamos aqui agora, certo? Vamos passar por isso juntos.

Kilian sorriu de leve, um brilho de gratidão nos olhos.

— Nunca imaginei que vocês viessem até aqui na superfície, ainda mais por minha causa.

Maya limpou a poeira das roupas, o olhar brincalhão voltando ao rosto. — Pois é, a superfície é horrível. Minhas roupas estão todas empoeiradas por sua causa.

Kilian riu baixinho, e o som quebrou a tensão no ar. — Vamos para a minha casa? Podemos continuar conversando lá.

Eles seguiram para o lar de Kilian. Ao entrar, o aroma do chá de névoa matinal se misturava com o cheiro reconfortante do pão de essência solar recém-assado. O ambiente acolhedor parecia envolvê-los.

Kilian caminhou até a cozinha e, em pouco tempo, trouxe uma bandeja com xícaras de chá e fatias de pão. Colocou tudo na mesa e distribuiu as porções com cuidado.

Cara de Prancha pegou uma fatia de pão e deu uma mordida generosa, seus olhos se arregalaram em aprovação.

— Isso sim é pão de verdade! — disse ele, com a boca ainda cheia. — Muito melhor do que aquelas solas de sapato que o Nariz de Batata faz junto com aquela água suja que ele chama de chá.

Nariz de Batata franziu a testa, mas uma risada escapou de seus lábios.

— Pelo menos eu sei cozinhar, diferente de um certo alguém que, uma vez, foi fazer um pão bêbado, vomitou na massa e ainda por cima, sem ver, assou.

Cara de Prancha riu tanto que quase derramou o chá.

— E você não pode falar nada! Tu tava aquele dia tão bêbado quanto eu! Só tive que assar a massa porque você esmagou o dedo com o cilindro enquanto amassava o pão!

Garrik riu junto com eles, enquanto erguia a xícara de chá.

— Está muito bom, Kilian. Não que o do Nariz de Batata seja ruim, mas este aqui está acima da média.

Kilian sorriu, o brilho de orgulho em seus olhos.

— Foi Melangie quem me ensinou. Ela sempre teve um dom para essas coisas.

Maya pegou uma fatia de pão e deu uma mordida delicada.

— Dá para ver que ela era muito talentosa. E você aprendeu bem, Kilian.

O garoto sorriu de leve. A conversa fluía de forma natural; cada um compartilhava histórias e lembranças. O ambiente se encheu de risadas e palavras confortantes e, por um breve momento, as preocupações ficaram do lado de fora.

— Kilian, você não vai acreditar no que aconteceu quando a gente tava vindo pra cá — disse Cara de Prancha, com um sorriso travesso. — No outro distrito, perto da torre-cemitério, tinha um bardo cantando canções sobre os druidas. O pessoal encheu ele de merda.

Maya revirou os olhos, mas não conseguiu conter um sorriso.

— Coitado do rapaz, ele até parecia ser legal.

— Ainda mais com o perfume recém-adquirido — completou Nariz de Batata.

Todos riram.

— Bem, ainda estou impressionado com a atitude do pessoal da superfície com os druidas — comentou Garrik, tentando manter o clima leve. — Bem diferente dos Quangras.

— É, os paladinos fazem vista grossa por aqui — disse Kilian, deixando a conversa mais séria. — Há um tempo atrás, houve um ataque druida bem grande. Morreu muita gente. Não é que nem nos Quangras, onde eles têm um monte de apoiadores. E bardos ainda por cima.

Garrik colocou sua xícara vazia na mesa e, em um movimento quase automático, retirou uma pequena bolsa de couro de sua túnica, antes de entregá-la para Kilian.

— Aqui, sua parte. São vinte e cinco peças de ouro. O Zig-Resil foi bem valorizado — disse ele, com um sorriso debochado.

— Ah, é! — disse Cara de Prancha, enquanto olhava para Garrik.

Kilian pegou a bolsa, um pouco surpreso.

Maya olhou para ele e, sem precisar de mais palavras, Kilian sorriu.

— Maya, obrigado pela poção. Se não fosse por você, eu não ia conseguir. Quanto você quer? — perguntou, enquanto abria a bolsa.

— Quinze peças são suficientes — disse ela.

Kilian separou as moedas e as entregou a Maya, que guardou o dinheiro sem cerimônia.

— Como vocês voltaram? — Kilian finalmente perguntou, a curiosidade batendo.

Garrik se ajeitou na cadeira antes de responder.

— O portal estabilizou um tempo depois que vocês saíram. Quando vimos, já dava para atravessar de novo sem problemas.

— Na verdade, assim que você veio pra cá, eles chegaram lá em casa à noite — completou Maya, com um sorriso leve. — Foi só um desencontro.

Kilian assentiu, enquanto finalmente entendia a situação.

Garrik então se levantou.

— Vamos ao que interessa. Encontramos outro gigante. Dentro de uma semana, voltaremos à planície de Xinjenhal para caçá-lo.

Nariz de Batata interrompeu, sua mão bateu na mesa velha.

— Também ouvimos rumores de um wyrm nas florestas do leste, no Reino do Dragão.

— Não temos certeza disso ainda — retrucou Cara de Prancha, com uma expressão séria. — O que sabemos é que o gigante está confirmado.

Garrik voltou sua atenção para Kilian.

— Agora que você já tem algum conhecimento em magia, seria uma grande ajuda na batalha. O que me diz?

Kilian hesitou por um momento, o peso da decisão nítido em sua expressão.

— Agradeço por terem vindo — disse, um leve sorriso no rosto. — Nem sei como vocês souberam de tudo, mas desta vez não vou. Pra matar gigantes, é preciso concentração, e eu não conseguiria isso agora.

Ele fez uma pausa, seu olhar percorreu o de cada um.

— Eu vou resolver as coisas aqui, depois encontro vocês. Ainda quero aprender mais sobre condutores mágicos com Cara de Prancha e treinar com você, Garrik.

Cara de Prancha assentiu.

— Não tem problema. Estaremos esperando, garoto. Faça o que precisa fazer aqui primeiro.

Maya sorriu, dando um tapinha no ombro de Kilian.

— E vê se treina também, senão vou te deixar para trás.

— Então é isso — disse Garrik, pronto para partir. — Ainda está treinando? — perguntou ele, a preocupação no olhar.

Kilian assentiu.

— Sim, mas eu sinto meu poder mágico cada vez menor.

Garrik suspirou.

— É por causa do Etherdoorium. Quanto mais você se descontaminar, mais o seu poder vai cair. Mas isso é bom. Porque vai revelar o verdadeiro potencial mágico em você. Caso tenha algum.

Kilian assentiu, as palavras de Garrik caíram pesadas sobre ele.

Após as despedidas, ele ficou na frente da casa, enquanto o grupo se afastava pelas ruas do distrito. Quando não conseguiu mais vê-los, virou-se para entrar.

— Kilian.

Ele se virou, os músculos tensos de repente. Era Nilego. Um pressentimento o invadiu — uma sensação de que algo estava prestes a acontecer.

Kilian se endireitou, a tensão visível nos ombros. Nilego caminhou lentamente até ele, uma expressão sombria no rosto. O ar entre eles parecia eletrificado; cada passo de Nilego ecoava como um tambor no peito de Kilian.

— O que você quer? — Kilian perguntou, a voz firme, mas cautelosa.

Nilego parou a alguns passos de distância. Logo depois, levantou a mão lentamente.

Kilian preparou-se para o pior, mas foi pego de surpresa quando Nilego estendeu a mão para cumprimentá-lo.

— Meus sentimentos pela Melangie — disse Nilego, o tom de voz mais suave do que Kilian esperava.

Kilian piscou, a desconfiança ainda nítida em seus olhos. Ele olhou para a mão estendida de Nilego e, hesitante, apertou-a.

— Eu... agradeço — disse Kilian, ainda abalado diante da mudança na atitude de Nilego.

Nilego deu um suspiro profundo, como se estivesse aliviado por finalmente quebrar o gelo.

— Aquilo tudo... foi culpa do Cara de Sapo. Eu sinto muito.

Kilian abaixou a cabeça, envergonhado.

— Eu também peço desculpas por ter ofendido você e trazido problemas para o seu pai.

— Isso é passado. — Nilego balançou a cabeça, um leve sorriso nos lábios. — Eu quero me desculpar por tudo.

Kilian apertou a mão de Nilego com mais firmeza. Era como se um peso fosse retirado de seus ombros.

— Eu também sinto muito por tudo.

Eles ficaram em silêncio por um momento. Kilian suspirou, e um sorriso nostálgico surgiu em seu rosto.

— Qualquer hora, podemos viajar juntos com Darin e Imaniul para os Quangras de novo. O que você acha? — perguntou, a voz cheia de lembranças.

Nilego riu suavemente.

— Acho que, pra mim, uma vez já foi suficiente. Mas foram bons tempos. Ainda tenho parte daquele dinheiro.

— E depois que nos separamos? O que aconteceu? — Kilian perguntou, curioso.

— Eu voltei para casa — respondeu Nilego, abaixando a cabeça. Seus olhos se tornaram sombrios por um instante. — Mas Darin e Imaniul voltaram para o Vale. Depois disso, desapareceram. Teve aquela operação dos paladinos lá, e agora tá tudo fechado. Ninguém mais pode entrar.

Kilian assentiu. A notícia do desaparecimento dos dois parecia mais grave do que ele imaginava.

— Pois é... Ainda me sinto estranho por ouvir isso. Obrigado por me contar.

Nilego deu um tapinha no ombro de Kilian.

— Cuide-se, Kilian. E boa sorte com tudo. Se precisar, já sabe.

Kilian observou enquanto Nilego se afastava. A tensão, finalmente, deixava seu corpo.
Ele entrou em casa, agora mais leve.

Os dias correram depressa, até que semanas se passaram. Kilian ocupou-se arrumando a casa e organizando seus afazeres. Caelinus não voltou, e Kilian também não fez questão de procurá-lo.
Preferiu manter-se ativo, evitando os pensamentos sobre a perda recente, concentrando-se em seu próximo objetivo.

O sol estava alto no céu quando Kilian terminou de preparar sua bagagem para a viagem. Ele olhou ao redor da casa, conferindo se tudo estava em ordem.

Com tudo pronto Kilian caminhou até a casa de seu vizinho, com a chave em mãos. Bateu à porta e esperou.

O vizinho, um homem idoso, abriu com um sorriso acolhedor.

— Vou viajar, senhor Galdor — disse Kilian, entregando a chave da casa. — Queria pedir que cuidasse dela enquanto estou fora.

Galdor pegou a chave, o olhar curioso no rosto.

— Claro, garoto. Mas... para onde você vai?

— Estou indo para lá — respondeu Kilian, apontando com determinação para a massa de terra flutuante.

O olhar de Galdor se iluminou com surpresa, mas ele assentiu, compreensivo.

— Os Quangras, hein? Um lugar interessante. Tome cuidado por lá. Ouvi dizer que aquela parte da cidade é linda.

Kilian abriu um sorriso. Seus olhos brilhavam com uma mistura de ansiedade e excitação.

— Sim, é verdade. Pode deixar, senhor Galdor. Vou me cuidar. Obrigado por tudo.

— Boa sorte, Kilian. E volte logo. — disse Galdor, dando um tapinha amigável no ombro do jovem.

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