Infinity World Brasileira

Autor(a): Infinity World


Volume 1

Capítulo 6: Antes que Caia

Suu-Yuky estava deitado de costas, o peito arfando pesadamente, sangue ainda fresco invadia sua boca. Acima dele, um pedaço de céu azul brilhava entre as copas das árvores, onde o vento soprava indiferente, alheio a tudo que havia acontecido.

Talvez para o mundo, nada tivesse mudado.

Seu corpo ainda ferido pulsava, cada batida de seu coração lembrava o peso da luta que seu corpo suportava, como se estivesse afundado em pedra. Mas a mente permanecia alerta, inquieta.

Por que eu tô fazendo isso mesmo...?

Era uma pergunta simples, porém impossível de ignorar. Enquanto os pássaros retomavam seu canto e a brisa acariciava as folhas, Suu-Yuky jazia ali — coberto de sangue, metade dele, metade da criatura — os dedos ainda tremiam, lembrança viva da batalha brutal que acabara de travar.

Seus olhos semicerrados buscavam o buraco pela qual escapara.

Mas ele sabia que a luta estava longe de acabar.

A criatura ainda estava lá embaixo.

E ele ainda não tinha vencido.

Suu-Yuky se ergueu cambaleante. Cada músculo protestava; as costelas pulsavam. A respiração era curta e pesada. Sua mão ainda agarrava o que restava da lança partida, os dedos rígidos pelo esforço.

O céu azul acima continuava calmo, indiferente. E por um instante, tudo ali parecia suspenso — até o vento entre as folhas hesitava em soprar.

Mas o momento se partiu num rugido que rasgou a floresta.

O chão sob os pés de Suu-Yuky tremeu violentamente. Ele perdeu o equilíbrio por instinto, os joelhos cedendo. As árvores ao redor se curvaram. Pássaros, que há pouco haviam retomado seus cantos, voaram em debandada como se fugissem de um desastre iminente.

A criatura enrijeceu as patas traseiras, agachando-se semelhante a um predador prestes a saltar. Num impulso brutal, desafiando o peso do próprio corpo, lançou-se ao ar. O chão explodiu sob seu salto. A terra se abriu, estilhaçada, e Suu-Yuky foi arremessado para longe com a onda de impacto.

A fera caiu atrás dele com um estrondo ensurdecedor. As garras cravaram no solo, abrindo uma cratera profunda. Árvores voaram, despedaçadas. O impacto espalhou raízes, lama e rochas por dezenas de metros.

— Tá de brincadeira com a minha cara… — Suu-Yuky murmurou, ainda no chão, os olhos arregalados diante do monstro que surgia entre a poeira e os troncos despedaçados.

Precisava se levantar. Agora.

Mas ao tentar apoiar-se, algo falhou. A lateral do corpo, ainda marcada pelo golpe da cauda, pulsou. Os músculos não responderam. Ele caiu de joelhos, ofegante, uma das mãos cravada na terra úmida.

O mundo girava.

— Porra… logo agora?! — grunhiu entre os dentes, forçando o corpo a obedecer.

A criatura, por outro lado, ignorou Suu-Yuky completamente. Inflou o corpo como um fole prestes a explodir. Seus olhos, abrasados de fúria, fixaram-se no homem, e então veio o rugido.

O som não parecia apenas atravessar o ar; ele o esmagava. Uma muralha invisível de violência pura. A onda sônica atingiu Suu-Yuky semelhante a um aríete. Seus joelhos cederam. Ele caiu, pressionando os ouvidos, os olhos apertados em agonia. Os tímpanos estouraram sob a pressão, e filetes de sangue deslizaram por sua pele, misturando-se ao suor e à poeira.

Não houve tempo para dor.

A fera avançou.

O solo se partia sob suas patas, arremessando fragmentos de terra e raízes. Suu-Yuky tentou reagir, os olhos ainda turvos, o corpo cambaleante. Mas a fera já estava sobre ele.

Um golpe o acertou em cheio. A pata esquerda o pegou na lateral, e ele foi lançado desajeitado pela mata adentro, braços soltos como trapos. Bateu contra uma árvore espessa, que se partiu com um estalo seco. O tronco ruiu, levando folhas e gravetos no desabamento. Suu-Yuky rolou pela vegetação, o peito arfando, a capa reduzida a farrapos encharcados de sangue.

— Tsc… Não é possível… — murmurou, com os dentes cerrados, tentando se levantar, cada vértebra protestava.

Mesmo ferido, ele correu.

A cada passo, os ossos reclamavam, mas não podia parar. Não agora. Sangue escorria de cortes abertos, as pernas pesadas, a respiração curta — mas ele forçava o corpo a seguir em frente.

Atrás dele, a criatura ruía a floresta. Árvores tombavam como se arrancadas por uma tempestade. A fera o perseguia com raiva, derrubando tudo em seu caminho, as patas martelando o solo com força sísmica.

Ela vai me alcançar.

Pensamento seco, simples. Real.

O som de algo colossal avançando pela mata. Galhos estouravam ao longe, troncos se partiam, e o solo, antes firme, tremia em espasmos irregulares.

Não muito longe dali, alguém assobiava baixinho.

Um rapaz calmamente urinava em uma árvore. De olhos semicerrados sob a luz filtrada pelas copas, o jovem parecia alheio ao caos. Estava se aliviando, o semblante tranquilo de quem conhecia bem o silêncio das florestas e seus disfarces.

— Porra, demorou pra sair — resmungou, relaxando os ombros com alívio.

Tinha pouco mais de vinte anos, estatura média, com cabelos castanhos curtos, ligeiramente desalinhados, que emolduravam o rosto de forma leve. Os olhos, também castanhos, mantinham uma expressão calma, mas atenta, como se cada detalhe ao redor fosse absorvido sem esforço.

As roupas, escuras e discretas, exibiam detalhes vermelhos quase imperceptíveis. Coldres, cintos com pequenos compartimentos e o desgaste meticuloso nos tecidos deixavam claro, mesmo sem palavras, que ele não era um novato ali.

Ele parou de assobiar.

O olhar se estreitou, voltado na direção do barulho crescente. Pássaros cruzaram o céu em disparada. E o chão vibrou, não com o som, mas com o peso.

— Que barulheira é essa? Estão reformando a floresta? — murmurou, ajeitando o cinto.

O rapaz terminou às pressas.

Com um gesto automático, puxou um pequeno item de um dos coldres, uma pedra polida, que girou entre os dedos como um velho hábito.

— Claro... porque um dia tranquilo seria pedir demais — murmurou, já puxando uma das adagas do coldre da cintura.

A mata explodiu num estalo seco — galhos voando, farpas de madeira cortando o ar.
Suu-Yuky irrompeu da floresta, trôpego e coberto de sangue. Os olhos estavam arregalados, mas não de medo — e sim de urgência. Ele corria como se cada passo fosse arrancado à força, sem nem perceber o rapaz à frente.

Atrás dele, algo colossal avançava.

As árvores se partiram com o som de ossos estalando. O chão tremeu. Uma muralha viva de músculo e fúria rasgou a vegetação com uma força descomunal.

— ...tá de brincadeira — murmurou o recém-chegado, dando um passo para trás. O olhar firme, apesar da surpresa.

A besta investia com selvageria, abrindo clareiras.

O rapaz observou. Não a criatura — mas o homem à frente dela. Os passos vacilantes, os músculos cedendo. E, ainda assim, ele corria.

— Aquele maluco vai morrer — disse para si mesmo. Embainhou a adaga com um giro rápido e sumiu na vegetação. — Mas não hoje.

O som da destruição avançava, cada passo do monstro sacudindo o solo. Mas antes que ele pudesse dar o próximo golpe, uma sombra surgiu no alto.

O jovem apareceu por entre os galhos, o corpo se lançando com precisão. Num giro no ar, caiu sobre a criatura, a lâmina em punho.

Cravou a adaga direto na base do pescoço — no mesmo ponto já rasgado por Suu-Yuky.

O monstro urrou, os membros enrijecendo de dor. Recuou, tentando se livrar do novo agressor.

— Ei, amigo! Precisa de uma mãozinha?! — gritou o rapaz, equilibrando-se por um breve segundo sobre o dorso da fera. Então saltou para trás com uma cambalhota ágil.

Antes que Suu-Yuky pudesse sequer responder, a criatura girou, desferindo uma patada brutal. O rapaz aterrissou com leveza, desviando por um triz, os olhos ainda afiados.

Suu-Yuky viu a abertura.

Impulsionou o corpo para frente. No ar, agarrou o bastão com firmeza, quebrou-o sobre o joelho com um estalo seco — duas metades irregulares, afiadas como lanças improvisadas.

Num só golpe, cravou a maior no lado direito do rosto da criatura.

O som do impacto reverberou como um trovão abafado. A fera tombou para a esquerda, os olhos semi-cerrou em dor, arfando.

— Bela tacada! — exclamou o rapaz, já de pé após o giro.
— Vamos logo, antes que ela se levante de novo! — rosnou Suu-Yuky, mal recuperando o fôlego.

Os dois correram. Galhos cortavam o caminho, o ar cheirava a seiva aberta e sangue quente. Passos pesados atrás deles.

A criatura hesitou por um instante, sacudindo a cabeça, mas o rugido que ecoou depois não deixava dúvida: ainda não tinha acabado. E vinha atrás deles com tudo.

— Esse bicho aí é um espetáculo! Nunca vi nada parecido! — disse o rapaz, ofegante, mas sorrindo enquanto corria. — Vai me render uma grana absurda!

— Nem começa! Esse monstro é meu. Eu cheguei primeiro, e vou ser quem vai dar cabo dele! — rebateu Suu-Yuky, sem parar de correr.

— Que é isso, meu nobre? Vai encarar esse troço sozinho? Não seja faminto. — o tom do aventureiro era puro sarcasmo.

— Claro que vou! Se não fosse, acha que eu estaria aqui enfrentando ele?!

— Pra mim, parece mais que tá fugindo!

— Tô procurando um ângulo melhor, seu idiota!

— Conta outra!

Atrás deles, a criatura parou subitamente. Um rugido gutural ecoou. Com uma força absurda, ela arrancou uma árvore do chão e a lançou na direção dos dois.

— Cuidado! — gritou Suu-Yuky, ao ver a sombra do tronco se aproximando.

— Relaxa! — respondeu o rapaz, com uma calma quase debochada.

Num reflexo rápido, Suu-Yuky mergulhou atrás de um pedregulho, a árvore passando rente e se estilhaçando ao bater no solo. O jovem, por outro lado, sacou seu revólver com gancho, disparou contra um galho e foi lançado para cima, agarrando-se a uma árvore.

Enquanto o monstro se distraía, furioso com o ataque frustrado, Suu-Yuky aproveitou para escapar pela lateral, correndo até encontrar abrigo entre as raízes retorcidas de uma árvore enorme. Ele arfava, o peito subindo e descendo rápido enquanto tentava pensar.

Um som suave de impacto chamou sua atenção. O rapaz havia descido de uma árvore próxima e se aproximava, guardando a arma no coldre.

— Te achei. Acho que subestimamos aquela coisa, hein? — disse ele, ainda sorrindo.

— Se já entendeu isso, cai fora enquanto ainda dá tempo! — rosnou Suu-Yuky, limpando o suor da testa com o antebraço.

— Você é mesmo teimoso. Gosto disso. Que tal o seguinte: eu te ajudo a matar esse bicho, e em troca... você me deve um favor.

— Eu não gosto de dever nada a ninguém. — Suu-Yuky mal terminou a frase.

Uma árvore atrás dele explodiu em estilhaços quando a criatura desferiu um golpe lateral, quase os acertando. Instintivamente, Suu-Yuky rolou para o lado.

— Quer saber? Mudei de ideia!

Eles dispararam em fuga novamente. O riso do rapaz cortava a tensão no ar.

— Deixa a comédia pra depois! Você tem um plano?! — berrou Suu-Yuky, desviando de galhos e raízes.

— O pescoço! Tá sangrando! Mira lá de novo!
— Já entendi!

Suu-Yuky correu ao lado do rapaz por mais alguns metros antes de sussurrar.

— Tenho um truque. Pode nos dar uns segundos, mas vai feder pra cacete.

— O que é? Ovo podre?

— Quase.

Suu-Yuky enfiou a mão sob a capa rasgada e retirou um pequeno frasco. Um líquido escuro se agitava dentro, exalando um odor ácido e pútrido, mesmo com a tampa fechada.

— Essência de sei lá o que! — disse ele, como se nomeasse uma arma sagrada. — Vai embaralhar o faro da criatura por alguns segundos.

— Chama isso de “truque”? Isso é uma maldição engarrafada!

A fera irrompeu por entre as árvores com o mesmo ímpeto de antes. Já não parecia apenas enfurecida — estava faminta. Os olhos selvagens procuravam seus alvos, farejando o rastro que deixaram na fuga.

Suu-Yuky e o rapaz pararam de correr. A criatura os localizou, baixando o corpo.

— Agora! — gritou Suu-Yuky, atirando o frasco no chão.

O vidro se quebrou, e uma névoa pálida e espessa se espalhou pelo ar. Um fedor insuportável, como carne em decomposição misturada a musgo podre, cobriu a clareira.

A criatura recuou, agitada. Os olhos piscavam em confusão. A cabeça girava para os lados. Suas narinas vibravam, mas o faro a traía.

— Funcionou — murmurou o rapaz, já preparando sua adaga.

Suu-Yuky não respondeu. Já estava se movendo.

Silencioso, surgiu pela lateral esquerda da fera. Com as armas improvisadas, girou o corpo e cravou uma das pontas no flanco da criatura, forçando-a a virar-se de dor. Foi o momento perfeito.

O rapaz saltou da árvore mais próxima com precisão ensaiada. Desceu a adaga mirada direto na ferida aberta no pescoço.

O impacto fez a criatura gritar, desequilibrada, cambaleando para trás. Tentou girar, mas Suu-Yuky já estava em movimento outra vez, atacando as pernas traseiras. Um golpe certeiro no tendão esquerdo a fez tombar com um estrondo surdo.

— Essa foi por pouco! — gritou o rapaz ao cair no chão e rolar para se afastar.

— Ela ainda tá viva — rosnou Suu-Yuky, com os olhos fixos no monstro. — Mas tá mais lenta agora.

A criatura se debatia, o sangue escorrendo da garganta em jorros quentes, manchando o chão e a vegetação. Mas seus olhos ainda ardiam, e suas garras ainda cavavam.

— Pronto pra terminar isso? — perguntou o rapaz, agora ao lado dele.

Suu-Yuky assentiu com um leve movimento de cabeça.

— Vamos fazer sangrar de verdade.

A floresta já não parecia floresta. Era uma trilha de árvores quebradas, terra revolvida e um cheiro pesado de sangue no ar. Mas ambos estavam prontos pra por um fim a isso.

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