Vol. 1 – Arco 2

Capítulo 17: Homens de Preto

Mansão do Amadeus Stevens, Woodnation - 1:05 da tarde, quinze de Julho.

Aproveitando de um gole de café, o homem de corpo robusto com um terno escuro, pele branca e um cabelo castanho curto adentrou a sala de estar. Por mais que fosse impressionante para qualquer um se deparar com aquela sala totalmente destruída, nada disso criou uma expressão em seu rosto, pois habitava em seu corpo a serenidade de um agente secreto do governo.

— Boa tarde, Gregory — falou Ethan, vindo de trás; era um homem de corpo robusto com um terno escuro, pele branca e um cabelo castanho curto. — Parece bem hoje.

— Você também. Fico contente em saber que se recuperou daquela luta.

— Digo o mesmo. Por mais que fosse um crypto, o Homem dos Trapos não era tão forte. Apenas nos faltou alguma arma mais forte. Ele definitivamente voltará a aparecer em breve. Dessa vez, seremos capazes de neutralizá-lo.

— Com toda a certeza — assentiu, com aquela voz firme e máscula. — Só existe algo que me preocupa nisso tudo. Sinto um estranho pressentimento de perigo.

— O que seria? — indagou Ethan, preocupado.

Gregory virou-se para ele com lentidão. Sua postura séria não sumia, mas era possível ver uma leve tremedeira em seus lábios. Tirou o óculos escuro e, com hesitação, admitiu:

— Sinto que a cada dia que se passa, fico mais próximo de me tornar calvo.

— Oh… — O choque da mensagem reverberou pelo corpo de Ethan. — Creio que isso seja um destino infeliz que também me persegue.

— Por que acha isso? O seu cabelo parece bem preservado, diferente do meu.

— Ainda pergunta? — Passou a mão pelo cabelo e, de lá, tirou alguns fios já soltos. — Nem preciso me esforçar para deixar alguns cair.

— Olha… — Pegou o apunhalado de fios e os analisou friamente. — Não. Esses fios certamente são meus.

Uma incógnita surgiu no rosto de Ethan.

Quando a luz do sol parou de cobri-los, os dois se viraram, deparando-se com outros quatro caucasianos engravatados que atravessaram a entrada. Portavam uma seriedade fora do normal e não pareciam ser do tipo que olhavam alguém de baixo, ou então de cima. Apenas de frente.

— Sobre o acidente de carro que ocorreu ontem… — O de maior patente, diferenciado apenas pela idade levemente mais avançada e pela gravata de cor cinza ao invés do preto comum, iniciou. — O veículo definitivamente era do grupo de agentes que foi enviado até aqui pelo o que ocorreu ao Amadeus Stevens. Por acaso, os senhores vieram junto deles?

— Negativo, senhor Gosling — respondeu Gregory. — Fomos enviados para esta cidade em outro veículo, com o objetivo de proteger o senhor Stevens. Sequer tivemos contato com os agentes mortos. Inclusive, os senhores receberam informações sobre o nosso relatório?

— Sim. Já temos noção que existem, no mínimo, dois cryptos nesta cidade. E se nossas informações estiverem corretas, cryptos soviéticos. É certo de que o acidente de carro foi causado por eles, uma vez que foram notados ferimentos de cortes profundos em todos os agentes que foram vítimas.

— Muito bem. Alguma informação extra foi tirada de Amadeus?

— Pelo contrário, infelizmente. Pelo que me disseram, sua insistência em desculpas esfarrapadas está levando toda a sua honra embora.

— É uma tristeza — comentou Ethan. — Quando recebi a missão de protegê-lo, em momento algum imaginei que realmente haviam cryptos aqui, muito menos que eles de algum modo iriam receber ajuda dele. Isso é bem contraditório, uma vez que viemos para cá por culpa dele. Não pensava que seria necessário levá-lo dessa forma.

— É uma verdadeira infelicidade — disse outro agente. — Embora a insistência do senhor Stevens permaneça, uma investigação já foi iniciada e uma lista de suspeitos foi previamente montada. Os principais suspeitos devem estar, neste momento, em um estacionamento de trailers abandonado.

— Eles se disfarçaram de moradores de rua? — questionou Gregory. — Previsível.

— Não só são previsíveis, como também burros. Um deles, negro, criou um escândalo ao andar pelado em pleno ar-livre. O outro se veste com uma fantasia de hamster.

— Dois débeis mentais, pelo visto. Isso confirma que apoiam os vermelhos. São frutos da educação horripilante e da cultura obscena deles. Aposto que comiam lixo quando menores. 

O comentário deu origem a uma série de risadas entre todos os agentes. As gargalhadas, todas tímidas e robustas, duraram meio-minuto. Quando um deles parou de repente — com a garganta já cansada —, todos fizeram o mesmo.

— Enfim — retomou Gosling ao apontar para os agentes Gregory e Ethan —, vocês dois virão comigo para interrogar os suspeitos. Vejam se o negão é parecido com o Homem dos Trapos. Já o resto, fiquem e relatem qualquer incidente.

Em seguida a ordem, todos os agentes assentiram com a cabeça. Junto de Gosling, Gregory e Ethan saíram da mansão e pararam na frente do veículo fino e ágil a frente da casa: um Impala 67, reluzente e feroz.

— Gostaram? — perguntou Gosling, indo até o porta-malas de seu carro sem hesitar ao abri-lo e deixar à mostra sua coleção de armas prateadas e brilhantes. Tecnologia muito além das conhecidas pelo resto da sociedade. — Peguem o que quiserem.

— Não possuímos a patente necessária para portar tais tecnologias, senhor, tem certeza que podemos?

— Nem mais um piu, Gregory.

— Ethan.

— Isso. Nem mais um piu. Estamos lidando com inimigos do Estado. Entendem? Inimigos com poderes sobre-humanos. Eles destruíram quase quatro dos nossos, que portavam armas desses níveis.

— Entendido.

— Não quero ouvir mais nenhum questionamento fundamental, certo?

— Certo. — Os dois agentes responderam em uníssono, tal quais soldados em uma guerra. Eles levaram suas mãos para dentro do porta-malas e arrancaram de lá duas peças da mais pura tecnologia.

Em seguida, adentraram o carro e se sentaram atrás. Gosling entrou logo em seguida, no assento do passageiro da frente.

— Você já sabe o nosso destino.

— Certo — falou o motorista, olhando de relance para os outros dois agentes.

Um susto repentino tomou o coração dos dois por um único instante. Não um susto de medo, muito pelo contrário; um de surpresa e empolgação. O olhar do motorista era duro e penetrante, carregando em si uma energia poderosa que o tornava facilmente reconhecível. Nenhuma outra pessoa em todo o país carregava aquela mesma aura firme e resiliente de um guerreiro implacável.

— Ele fará parte da missão? — falou Ethan, perplexo.

— Sim, garoto. Ele vai. Agora, espero que tenha entendido que não estamos mais para brincadeira.

“Incrível”, pensou. “Iremos trabalhar juntos do lendário The Cock Dwayne Johnson!”



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