Volume 1

A verdade imposta

Conforme nos afastávamos eu sentia a fraqueza tomar meu corpo, minha visão turva captava apenas alguns frames do que houve. Um guarda tentou enfrentar o vilão para ganhar tempo, mas fora cortado ao meio como manteiga. Suas duas partes caíram nas laterais e foram consumidas pela corrosão espalhafatosa.

Pensamos tê-lo despistado por um tempo. Mamãe se culpava pelo ocorrido, que deveria ter reforçado ainda mais sua segurança.

— O que está dizendo? Que sabia que isto poderia acontecer, é isto? — o rei se apoia na porta de madeira da sala de armas. Enfim, chegamos.

— Eu fui informada, é diferente!… calma filha, vai ficar tudo bem.

Ela acaricia minha bochecha, meu tom ainda é esbranquiçado e o suor exalava bastante, olheiras cobriam ao redor dos meus olhos como se eu não dormisse a meses e sinto meu beiço seco.

O rei se esforça junto ao guarda para abrir a porta emperrada, supus que pela força aplicada podia indicar que não é aberta há tempos. Entramos na sala. Várias armas pesadas estavam postas nas paredes de pedra empoeiradas. Estavam com os cantos enferrujados, elas já tiveram seus dias de glória, hoje: aposentadas para serem esquecidas nesta sala escura e mofenta.

— Quem a informou? — o rei diz.

Mamãe já sabia o caminho que aquela pergunta levaria, há problema maiores e ela queria evitar aquela discussão no momento. Ela me deixa nas mãos da Lilith enquanto vai pegar uma arma branca também.

— Acha que eu também não desejo me informar de seus esquemas também? Isto não importa agora, Sweyn. Fomos invadidos. Aquele assassino quer a Ayla e não vou deixar.

— Não importa? Você diz que devemos ser transparentes e está evitando isto agora? Apenas diga, quem foi o merda do informante!

A rainha perde a paciência e berra: O Temporizador

Aquilo não agradou nem um pouco o rei que enrugou o meio do nariz e arregalou os olhos de raiva, joga a arma com força no chão em indignação começando uma discussão ali mesmo, nós de fora podíamos apenas os ouvir e expectar. A coisa estava bem feia com um xingando o outro sobre seus feitos pelas costas, como dois velhos querendo ter razão sobre quem deixou o açucareiro aberto. Minha esperança é que lembrassem de que o assassino em série, Merovak, ainda estava trás de nós.

— E quanto às suas escapadas?! — ela aponta. —Aquele lunático culpou você pela criação daquele dispositivo! Como você se explica agora?

Ele se manteve calado enquanto procurava uma arma específica em meio a tantas. Sua língua teima e suas mãos tateavam em busca de algo nos barris sem saber o quê.

— Não vire as costas para mim! Explique-se! Por que construir um dispositivo para matar nossa filha? Sua filha!

O rei não viu outra escolha, ele explodiu sob pressão e soltou sobre suas escapadas para debaixo do castelo: supervisionando experimentos com alguns magos e cientistas especializados, experimentos sigilosos para a segurança do reino, isto incluía a ameaça Nômade.

Aquele dispositivo era um desorientador de sentidos, experimental e nada seguro. Deveria estar guardado junto a outros experimentos, com objetivo de conter nômades através dos seus sentidos atingindo seus nervos diretamente na entrada dos ouvidos até atingir o cérebro. Uma coisa era garantida: funcionada apenas em nômades.

Ele tenta se explicar, mas é bofeteado no rosto pela rainha que o olha com desprezo e nojo, seus olhos estavam arregalados. A seguir, não houve falas de mais ninguém, o rei entendeu seu erro, sua crueldade porca apunhala sua moral e apunhala, também, as costas da pessoa com quem se casou. Ele se pôs no seu lugar, enfim. Ela não conseguia mais olhar nos olhos daquele quem ela um dia chamou de marido.

Esta revelação chocou a rainha, a Lilith, e a mim.

— E-eu não sabia… — ele se apoia numa mesa para se recompor, cabisbaixo e com os cabelos embaraçados. Continuou com a voz trêmula. — Eu juro pela nossa filha que eu não sabia que isso a afetaria… Talvez Merovak possa tê-lo modificado ou feito algo… Eu fiz para nos proteger, proteger a nós caso tudo saísse de controle, nunca foi para ela...

A rainha, respirando pesado e com nojo para com ele, o olhou de canto. Seus olhos seguravam suas lágrimas de dor, prestes a soltar. O rei ergue a cabeça para me ver sentada no canto da sala com Lilith, seu rosto estava em arrependimento profundo, soltava lágrimas. Ele sente vergonha e desprezo pelos seus atos.

— Eu juro que não sabia…

Viro minha cabeça e vejo de canto Merovak se aproximando, o fundo estava completamente tomado pela Praga. Com a voz melhor, chamo a atenção dos dois. Seus olhos viram para a ameaça.

— Rei, difamação é algo grave de se apontar, ainda mais vindo de uma pessoa com alto nome como o seu — Merovak diz, debochando. — Eu não modifiquei nada, majestade. Para que modificar um aparelho perfeito como este para, então, atingi-los? Sem necessidade.

A rainha juntou forças para falar, e diz:

— Se funciona apenas em nômades, então a Ayla…

— Ela não contou a vocês? Típico… A princesa é o meu objetivo e pretendo levá-la comigo.

A rainha destemidamente pega a arma que o rei procurava: um cajado de haste metálica, no topo o orbe de vidro contendo cristais, pelas laterais uma baioneta modelada especialmente para o cajado para proteção pessoal. Ela passa pela porta enfurecida conjurando uma magia de imediato.

— Este cajado… — ele se surpreendeu.

A rainha zapeou o corredor acetando Merovak, arremessando-o para o fim do corredor. O Carniceiro havia caído de fato, mas não fora derrotado, ele grunhia de dor com o impacto colossal na parede rachada. Caído e desorientado, seu corpo exalava uma fumaça, de fato um tiro preciso e poderoso seja lá qual fosse.

Solto um ar sem saber que estava preso, aliviada.

Mamãe cai de joelhos, suas mãos ajudavam-na se apoiar no cajado sobrecarregado. Exigiu muito dela, de fato com suas forças estavam no limite apenas ao se apoiar na haste do cajado com a respiração pesada, tento me levantar para ajudar, mas ela dá a ordem para que continuemos até a saída, ela se põe para segurar Merovak o máximo que puder.

— O que está fazendo? Eu disse para ir! Você ainda está fraca.

Apoio o braço dela por cima do meu pescoço.

— Não vou deixar a senhora para morrer.

O guarda se prontifica para ficar enquanto as Racers não chegavam, é seu dever como guarda real proteger os reis acima de tudo. Com bravura destemida o rapaz ficou.

O rei me ajuda com a rainha enquanto Lilith estava na frente garantindo que não fossemos surpreendidos mais uma vez. Mamãe balbuciava quase desmaiando em nossos braços, seus pés quase não se mexiam e suas mãos estavam frias. Vi-a suar como nunca havia suado na vida. Pegamos a ala leste e seguimos para o sul até a saída tentando despistar aquele sujeito que nos perseguia. A praga avançara demais pelo castelo, corroendo e soltando estalactites e pedregulhos que dificultavam a passagem estreita. Oeste estava fora de cogitação, era o local onde havia mais trabalhadores, pô-los em perigo está fora de cogitação.

— Desculpe… por deixá-la… nessa situação…, filha.

— Guarde sua saliva para o dia de amanhã, mãe. Estamos quase saindo.

— Vamos. — Lilith disse.

O rei a olha, preocupado.

— Sinto muito…

— Ora, cale essa boca…


Assim que passamos o marco de passagem de madeira, chegamos ao hall de entrada. A nossa escapada parecia certa, tão inevitável que estava quase garantido nossa sobrevivência até que uma das Racers é arremessada em nossa direção, Leandra. Merovak se aproximava enquanto tentava expulsar as outras integrantes rapidamente. Estávamos prestes a chegar na porta quando houve um bater de palmas: o hall se expandiu com a lajota sob nossos pés se esticando geometricamente e toda a estrutura ao redor rodopiando e gerando um espaço geométrico sem fim na qual não saíamos do lugar de jeito algum, as colunas se multiplicavam e se movimentavam ao nosso redor, parecia uma ilusão de perspectiva com a porta ficando cada vez mais longe do alcance das nossas mãos. Mamãe retomava o controle dos seus pés, tentávamos escapar inutilmente com nossos pés na falsa esperança que funcionasse, o desespero nos cegava para criar uma solução, com Merovak terminando de lidar com as Racers ele parte rumo à nossa direção. Controlei meu desespero e olhei ao redor rapidamente notando certos padrões: em certos pontos o chão se estabilizava por um período. “Essa é nossa saída”, pensei com esperança nos olhos. Rapidamente os informei, assim que a primeira janela se abriu dávamos pequenos saltos em direção a ela saltando de cantos em cantos para a saída ainda distante. Mas não por muito tempo.

Meus lábios começavam a se esticar revelando um sorriso. Estaremos à salvo em breve, mas este pensamento precipitado condenou minha falta de atenção, por conseguinte baixando a guarda para que Merovak me puxasse pelo cabelo e deslocasse minha perna como garantia de que eu não fugisse; berro em desespero e os outros voltam para ajudar. Nossas tentativas, falhas, não foram difíceis para o Carniceiro que com poucos socos nocauteou o rei, a rainha tentou enfrentá-lo com o cajado torcendo que suas forças tivessem retornado. Ele a desarma com poucos movimentos a jogando contra Lilith que desabam no chão.

Ele me ergue pouco acima da sua cabeça com a mira focada bem no meio do meu corpo, suas frias e sujas mãos seguravam meu pescoço impedindo que eu respirasse direito, me contorcer era única ação que eu podia fazer antes de, muito em breve, sentir o furo da sua lâmina ardente no meu estômago, não havia tentativas do que fazer e mesmo que eu tentasse algo seria em vão. O vilão recitava encantamentos. Já eu, não conseguia proferir palavras, apenas pensamentos desesperados que apenas os mortos saberão um dia.

Aguente, garota

Mãe… pai… socorro…”

— Tolice — ele diz, sua voz distorcida é mais aterrorizante de perto.

O fluxo de sangue para meu cérebro diminuía, eu sentia que estava prestes a desmaiar assim que puxou a espada. Com um brandir, ouço o vento ser cortado e a lâmina atingir a pele.

Eu ainda estava viva.

Fui solta das mãos do vilão. Já no chão, ergo minha cabeça e vejo o horror bem na minha frente: de fato a lâmina acertou seu inimigo, mas não o alvo. Não a mim. A ponta avermelhada de sangue estava exposta com o corpo do meu pai bem na minha frente. Sangrando e com os braços abertos. Ele se pôs para me salvar como último ato de redenção depois das suas trágicas ações jogadas contra ele. Todos encaramos o último sacrifício que ele se colocou a fazer deixando todos, e a rainha em particular, em choque. A lâmina absorve o sangue e Merovak urra indignado, seus planos foram estragados pela inconveniência de um homem querendo se redimir com sua família em seu último ato de salvá-la.

— O que você fez? Não! — o vilão berra enfurecido. Sua máscara escondia suas feições do rosto, entretanto era totalmente visível sua frustração. Sua mão, empunhando a arma do crime, largou quando uma força obscura saiu da espada para seus dedos trêmulos como uma pessoa com Parkinson. A obscuridade consumiu metade do braço.

O corpo do rei cai em meus braços assim que a lâmina é retirada do seu pulmão. Ele não conseguia mais respirar, o sangue saía da sua boca, ele tossia respingos do sangue nos seus pulmões. De perto o corte foi fatal atingindo o pulmão e uma parte do coração. Comecei a chorar como um bebê assim que o segurei, inconscientemente peço para ele não partir ainda.

— Me perdoe… filha

Meu pulmão lutava por oxigênio.

Pai, por favor — eu chorava tanto quanto eu soluçava. Neste momento percebo a inevitabilidade das consequências, o que nossos erros podem nos levar mesmo que por motivos válidos como preocupação e amor, o cuidado verdadeiro é o tempo que deveríamos dar presencialmente. Agora eu levaria eternamente comigo, a perda.

— Estragaram tudo! — o Carniceiro berra. Sua instabilidade afeta o estado do feitiço perdendo o foco e desestabilizando a montanha em si também.

As Racers seguraram-no para que possamos escapar antes dos pedregulhos nos atingir. Com todas as articulações travadas Merovak se força para andar com tamanha força aplicada sobre ele. Lilith não podia ir mais rápida comigo nos braços por meu joelho ainda estar deslocado e inchado. Ela me mantém sã ente o desespero.

“Estamos chegando”, ela me diz com o rosto preocupado.

Minha mão direita ajudava minha perna a de mover numa falsa esperança de que isso faria efeito na nossa mobilidade. Que tola fui. Os pedregulhos estavam melhorando sua mira ao cair, quase nos acertando, me esforçava enquanto arrastava a maldita perna. Lilith tentava me amnter menos histérica em meio a morte, meu peito apertava e eu respirava pesado sentindo a dor dos ossos deslocados. O suor frio descia da minha testa quase como um sinal de que talvez eu fosse desmaiar antes da hora pela enorme dor.

Ainda não, garota. Fica acordada, você consegue.” ouvi a Sombra dizer na minha mente, tal preocupação me fez refletir se talvez ela não fosse mesmo: um Espírito de Igmä, apesar dos pesares. A minha visão se embaçava e estava ficando turva aos poucos. Então apaguei.

Acordei na escada, próxima a Lilith. Mamãe estava no fim da escada com os paramédicos, seu estado não era tão grave com alguns ferimentos na testa e braços ralados, suor e poeira, mas mentalmente ela estava com uma ferida profunda.

Meu rosto se volta para a entrada tapada por pedras, arrasto-me para o último degrau sentindo novamente o peito apertar, mas dessa vez era diferente, pois lá dentro havia cadáveres de um grupo de soldados de elite, o cadáver de um assassino e o cadáver do meu pai, o rei Sweyn.

— Por quê?…— meus olhos não aguentam e me desmorono logo em seguida.

Lilith acorda e me vê chorar. Em fúria começo a socar as pedras sem motivo, apenas para colocar a raiva que sentia para fora. Socava com muita força, Lilith me parou antes que eu pintasse ainda mais aquele chão com o vermelho dos meus punhos, me consolou.

— Ele vai pagar… eu juro Lilith.

O rei estava morto.

 

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