Dualidade Brasileira

Autor(a): Pedro Tibulo Carvalho


Volume 1 – Arco 2

Capítulo 28: Onde eles habitam, parte 6

Minhas chamas queimaram mais e mais oponentes enquanto encarava os corpos humanos jogados no chão. Minha irmã, como sempre, usou pessoas como peões, prontos para o sacrifício.

Soltei um suspiro enquanto queimava outro Nor que se aproximou demais de Reide. Ela usava aquele rifle para matar os que estavam muito longe, cobrindo minha fraqueza.

Minhas chamas não eram infalíveis.

Tinha um limite para o quanto eu podia estender o fogo antes dele se dissipar e virar ar quente. Por mais idiota que pareça, o meu fogo precisava ser concentrado numa área pequena para causar dano. E, como não consigo achar um meio-termo, ou esse fogo é uma brisa inofensiva, ou ele é algo que saiu direto do inferno.

— Esses caras não tem fim!

— Só esteja atirando!

Queimei mais oponentes que entravam em minha área, até que surgiu um que eu não pude queimar.

Suas escamas eram negras e resistentes, de forma que nem ao menos foram afetadas pelo meu fogo. Além disso, ele parecia mais forte do que os outros ali, apesar de ter a altura de um humano. Devia ser um membro do alto escalão da Colmeia…

Desviei de um soco e então pulei fora do alcance de outro. Ele é rápido… quase não consigo escapar.

Mandei uma explosão azul concentrada apenas nele, mas apenas pôs a mão na frente do rosto. Quando a fumaça baixou, ele não tinha nenhum arranhão.

Impressionante… é a primeira vez que eu vejo um tão forte… Desviei de mais ataques e permiti que chamas me rodeassem e queimassem alguns Nors que me rodeavam.

Pulei o mais alto que consegui, desviando de outro soco e dei um chute no pescoço dele, minha perna rodeada de chamas azuis. Para minha infelicidade, o ataque nem ao menos pareceu ter o deixado incomodado.

Eu sei o que esse bicho é… Já ouvi falar dessa espécie, mas achei que não havia mais deles. Desviei de mais um ataque e então lancei outra explosão no rosto dele, afastando-me para não ser pego em um chute.

Um Grim.

Essa era uma espécie morta, que deveria ter sido extinta depois da “Purga de Mélkor” mas, ao que tudo indica, ainda tem alguns sobreviventes.

Os Grim eram Nors pacíficos, que se alimentavam de água e dos sonhos das pessoas. Por isso mesmo eles viviam em Mélkor, um país localizado na fronteira de Migrand e Kaira, do outro lado do mundo. Aquele país era um santuário para os poucos que acreditavam na paz, mas, a quatro séculos atrás, um Portador da antiga família Faciani decidiu exterminar toda a vida naquele país. O portador do antigo diário de Salomão morreu naquela guerra sem deixar nenhum descendente.

O Diário foi queimado e suas cinzas absorvidas por outros Diários, até chegar no de Samuel e, em parte, no de Davi. Enquanto Samuel herdou a parte do conhecimento que Salomão dava, Davi herdou algumas artes proibidas, cuja origem permanece um mistério.

Desviei de outro soco e usei minhas chamas como um escudo contra um chute lateral. Esse cara não luta nem um pouco como um pacifista, ao menos era isso que eu percebi. A força que ele pôs naquele golpe tinha a intensão de me cortar ao meio.

— Move-te bem… Qual és vosso nome, bruxo?

— Shiki Verflucht — respondi enquanto me colocava numa postura de luta mais relaxada. Esse cara é perigoso, por isso, preciso usar tudo de mim contra ele.

— Meu nome é Levarite, último dos Grim — falou, correndo até mim. A velocidade era tamanha que mal consegui desviar, tendo que usar meu braço para parar o soco.

Urrei de dor… Ótimo, meu ombro foi deslocado. Só com a força residual do ataque, quase perdi uma parte do meu corpo. Sem tempo para analisar mais o dano, disparei rajada atrás de rajada de fogo contra ele, mas minhas chamas não conseguiam penetrar a armadura.

Seguido disso, desviei de mais um golpe que visava perfurar meu peito. Um rastro de sangue caia do lado esquerdo do meu corpo enquanto eu continuava lançando labareda atrás de labareda.

Nada fazia diferença. Nada fazia efeito!

Se continuar nesse ritmo, eu vou…

O punho dele estava próximo do meu rosto. Sem dúvida, se acertassem, minha cabeça ia virar sopa… mas não consegui me mover… Minha vida passou pelos meus olhos.

Desde a minha infância, onde tentava de todas as formas dominar o elemento gelo, fazendo a jura da minha família, até os resultados dela. Por ter feito uma jura de um elemento oposto ao meu, minha chama não é tão forte quando poderia, e nem posso escapar disto.

Não que importe…

O punho se aproximava cada vez mais…

Lewnard… será que ele conseguirá escapar? Ele se tornou um jovem incrível, não é mais aquele cachorro louco que brigava com a primeira pessoa que olhava torto para ele…

Eu… vou morrer?

Um flash braco impediu o caminho do punho negro, forçando o Grim a se afastar. Olhei para cima e sorri.

— Finalmente está aparecendo… Edwars…

— Descanse, Shiki… vai precisar se recuperar — disse, entrando numa postura que associei a uma usada por um daqueles mestres do Kenjutsu Kairiano. Seguido disso, uma pressão absurda caiu sob os ombros de todos ali, forçando os Nors a recuarem e dar espaço para Reide respirar. — Vou acabar com essa batalha tola… Apenas espere.

Suspirei e, com o máximo de força que consegui, coloquei meu ombro deslocado de volta no lugar e fiquei lado a lado com ele. Ambos encaramos o Grim, esperando a ação do mesmo.

Ficamos parados por alguns segundos, não fizemos nenhum movimento impensado, aguardando-o. Enquanto esperávamos, olhei de relance para Edwars. Por mais que seu corpo estivesse sem nenhum ferimento aparente, podia ver a fadiga.

Os dedos tremiam enquanto seguravam o cabo, assim como os ombros.

Ele mal conseguia ficar em pé… Antes que pudesse comentar, tive de desviar de um soco e me afastei, enviando labaredas azuis contra ele. Em seguida, ouvi o som de aço contra aço, seguido da visão de Edwars sendo lançado contra mim.

Segurei-o e uma presença apareceu atrás de mim. Deixei chamas explodirem ao meu redor enquanto pulava para frente, sentindo a dor de um corte no lado esquerdo. Com um gesto, fiz minhas chamas irem contra o Grim, que apenas as dispersou com um gesto simples de mão.

Não… não pode ser… Ele é tão forte assim? Coloquei Edwars no chão e engoli em seco. Temos que avançar, mas não podemos ir enquanto ele estiver na nossa frente… Droga, se ao menos estivesse um pouco mais caótico aqui.

Todos os Nors pareciam focados em manter Reide ocupada, alguns observavam a nossa luta, aguardando pela conclusão óbvia. Nesse ritmo, vamos ser mortos e devorados.

Pense. Pense em como escapar, não em como vencer. Não podemos vencer, então temos que o despistar… mas como?

— Está demorando demais — disse, caminhando com calma e tranquilidade, como se não estivesse num campo de batalha. Merda! A guerra devia ser exatamente contra a natureza desse desgraçado, e mesmo assim ele está tão calmo! Como se já tivesse passado por diversos campos de batalha…

A quem eu estou enganando? Ele provavelmente passou… Sua espécie foi extinta já tem 400 anos… houveram muitas guerras nesse meio tempo, e, considerando a distância de Juvicent até Mélkor, sem dúvidas ele percorreu um longo caminho até aqui.

— Shiki… Vou criar uma distração… quero que pegue sua companheira e avance. Nos encontraremos lá fora…

— Está ficando louco? Mal está tendo forças para segurar sua espada!

Ele sorriu enquanto olhou para mim.

— E depois disso provavelmente vou ficar muito tempo sem segurar ela… mas é preferível isto a morrer.

Após falar isso, começou a caminhar, deixando uma enorme quantidade de energia preencheu o local. Todos se viraram para Edwars, esperando ansiosos pelo que aconteceria a seguir.

Um segundo se passou, então dois… Estes viraram três, e assim continuou… até que, quando contei 10 segundos, algo mudou. A lâmina de Edwars estava repleta de sangue, assim como suas roupas brancas.

Seguido disso foram gritos, gemidos e lamentações de dor. Olhei para todos os arredores e vi um mar de sangue sendo formado, junto de membros e corpos. Em dez segundos, todos os Nors ali com exceção do Grim foram mortos…

Entendendo que aquela era nossa deixa, peguei Reide e corri para longe. Naquele momento eu entendi duas coisas que eu me recusei a cogitar já tem tempo.

Nesse dia, eu percebi o quão insignificante é a raça humana. Isto trouxe desespero, mas a segunda epifania me deu um sentimento profundo de gratidão.

Eu finalmente sei o que um ser humano precisa sacrificar para vencer essa guerra. Finalmente entendi porque todas as maiores vitórias da humanidade nesses 1000 anos foram alcançadas por portadores.

É tão óbvio que me dava vontade de rir, como se minha mente tivesse quebrado.

Humanos não podem derrotar um exército de Nors, não podem lutar batalhas contra criaturas como aqueles dois… No entanto, não houve um único Portador que fora criado para pensar como um ser humano. Não só isso, mas também dizem que ocorre uma mudança radical quando eles atingem a maturidade.

No décimo oitavo aniversário de todo portador, algo muda. Isto é chamado pelos bruxos de Metanoia. É neste momento que um portador deixa de ser humano e vira uma arma para ser usada pela humanidade…

Ninguém sabe ao certo o porquê disso, mas é especulado que ocorre uma junção entre a consciência de um Portador e seu Espirito Guardião.

Agora, quando eu paro para pensar… Lewnard está se aproximando do seu décimo oitavo aniversário…


Bem, mais um capítulo se encerra. Falta mais um para acabarmos com esse arco.

Se quiserem capítulos extras, peço que deem um dinheirinho para mim através do pix: 0850fa07-b951-4cd4-b816-8d3beb6ebf51

(Sério, já tô 4 capítulos prontos. Se quiserem ler, só pagar os valores descritos no server)

 

Além disso, entrem no meu server para que possamos expandir a comunidade: https://discord.gg/bXmjmXHK

 

 



Comentários