Carta da Alma Brasileira

Autor(a): Zeugma


Volume 1

Capítulo 8: Amiga

Seus olhos sedentos de sangue miraram no mais frágil do bando, matando-o em apenas um golpe veloz e escondendo-se novamente nas moitas. Eles não sabiam mais quem era o animal. Um a um todos lobos que restaram foram sendo mortos sem qualquer hesitação ou piedade. 

 No fim Ester encontrava-se banhada em sangue, com parte de suas roupas rasgadas e cercada pelos corpos de inúmeros lobos.  

  

— Acho que foram todos... — dizia enquanto limpava o sangue fresco de seu rosto 

— Acho que quanto mais deles eu mato, mais forte eu fico. Mas, apesar dessa força, que sensação é essa?  

— É como se tivesse perdido algo dentro de mim, como se algo tivesse morrido... 

— Por hora vou ver se consigo fabricar aquele item. 

— Venha! 

  

Abrindo seu livro, Ester folheia até a página onde estão as presas do lobo demoníaco. 

  

— Como será que eu faço? 

  

Curiosa pressionou com seus dedos no símbolo das presas, sem esperança, porém, surpreendentemente luzes douradas e azuladas formaram novamente um tipo de quadro flutuante com informações.  

  

[Soco inglês demoníaco 

Dano: 40 

Especial: 

Pacto de sangue: Quando o sangue do usuário é oferecido em oferenda para as presas elas respondem com a invocação de uma besta mágica. Quanto maior o sangue oferecido, maior o poder da besta.  

Itens necessários: Presa de lobo demoníaco x15 (20 possuídos]
 

[Fabricar]
 

[Sim] [Não] 

  

Sem pensar muito pressiona no Sim, fazendo o quadro fechar. De repente as presas começaram a saltar de seu livro, pairando e girando no ar formando um círculo perfeito.  Antes que percebesse as presas começaram a emanar um forte brilho branco, começando a se juntar e a formar a silhueta de algum objeto. Parecia algo afiado, com ornamentos detalhados e rústicos, com um charme misterioso. 
 

Enfim, cessando o brilho que emanavam surgiu em sua frente aquilo que desejava, um par de soco inglês formado pelas presas dos lobos. Rapidamente Ester apanhou suas novas armas e as equipou em seus punhos.  

  

— Isso parece bem afiado! Acho que agora vai ser melhor de lutar, pelo menos do que com os punhos vazios. 

— Melhor eu continuar. 

  

Ester seguiu seu caminho, atravessando as árvores que lhe guiavam pelo destino incerto. O ambiente estava silencioso, até demais. Os nervos de Ester enlouqueciam enquanto esperava qualquer tipo de ataque surpresa da penumbra que a rodeava, não podia manter sua guarda baixa.  

  

Fuoosh! 

  

Seus olhos viram um vulto rápido vindo em sua direção, e antes mesmo de seu cérebro entender a situação a dor já tomou conta de sua mão. Com puro instinto e reflexo Ester segurou aquilo que havia se aproximado em direção a seu rosto — uma lâmina.
 

Furiosa arremessou-a no chão, respingando algumas gotas de seu sangue no chão. 

  

Fufufufu! 

  

As árvores pareciam rir dela, totalmente cercada pelas gargalhadas maléficas escondias pela penumbra infinita e sem piedade. 

Ester tomou a posição defensiva, e antes do que esperava sofreu mais ataques de lâminas vindos das sombras. Fazia movimentos dinâmicos e rápidos para desviar, porém por conta da quantidade algumas pegavam de raspão pelo seu corpo.  

  

— Apareçam seus covardes! 

  

O que ouviu em resposta foram mais risadas. Irritada com a covardia de seus oponentes, Ester cessou seus movimentos e aguardou de olhos fechados.  
A escuridão que via mergulhou sua alma em uma ansiedade angustiante, porém, logo foi interrompida pela forte dor de ser esfaqueada. Uma lâmina de pedra atingiu profundamente sua coxa direita.  
 
Mas, apesar da dor, Ester sorriu. 

  

— Te achei! 

  

Ester observou a direção pela qual a lâmina havia sido arremessada, tendo como base a lâmina em sua perna. Assim, rapidamente lançou-se até uma grande árvore e desferiu um soco com seu novo equipamento, partindo o tronco dela em dois e derrubando uma criatura que se escondia.
 
  

Era uma espécie de macaco de pelo marrom cerrado, magro e de estatura semelhante à de um humano adulto. Porém, seu diferencial era o que segurava nas mãos e, incrivelmente, em seu rabo.  
 
Em uma das mãos portava um arco rústico feito de madeira escura, semelhante à das árvores ao redor, na outra segurava lâminas de pedra, usadas como as flechas.  Para guardar uma quantidade maior de lâminas criou um tipo de aljava selvagem usando vinhas e madeira, fixando-o em seu peito. Com seu rabo empunhava uma espada de aço enorme, de tamanho igual ou maior do que ele!
 
 

Enquanto se encaravam a criatura fazia grunhidos estranhos enquanto tentava se afastar, contudo Ester acompanhava seus passos. Enfim, preparou uma flecha em seu arco e apontou na direção da menina com maestria, disparando rapidamente. Ester foi ao chão num movimento de esquiva, aproveitando a cinética para aproximar-se do inimigo.  
 
Disparava mais e mais flechas na tentativa de manter a distância, só que Ester esquivava por pouco. A distância diminuía rapidamente, pouco restava até o combate tornar-se corporal. Contudo, sentiu o gosto do seu sangue mais uma vez. Uma lâmina de pedra atingiu seu ombro pelas costas sem que percebesse, foi quando se lembrou que não estava sozinha. 

  

— Tem muitos deles nas árvores, eles não vão deixar eu me aproximar. 

  

As árvores ao seu redor balançaram ao mesmo tempo, de repente uma chuva de flechas surgiu acima de sua cabeça. O macaco que estava em sua frente aproveitou a abertura e avançou balançando sua espada! Enquanto estava no ar percebeu seu erro... 

Num movimento brusco Ester apanha a lâmina do alvo, ignorando a dor e puxando-o para baixo. Acertou a criatura com uma cotovelada certeira em seu queixo, fazendo-o apagar.  
A chuva de flechas continuava a se aproximar, mas antes de atingi-la pegou o macaco inconsciente e levantou-lhe, servindo de escudo de carne.
 
As flechas perfuraram seu corpo enquanto seu sangue esguichava. Ao término da mortífera enxurrada de flechas Ester derruba o corpo do macaco e apanha as lâminas de sua aljava. Ela começa a correr em direção a outras árvores, quando mais ataques vão em sua direção. Ela se defende com as lâminas recém adquiridas e observa com atenção a rota das flechas. 

  

— Tem pelo menos mais 7 deles escondidos em 4 árvores diferentes. O mais perto é esse aqui! 

Vuoosh! 
 

Ester arremessa com toda sua força uma das lâminas de pedra em direção a uma das árvores em que estava correndo. A força é tanta que parte da árvore atingida é perfurada, fazendo o ataque atravessá-la e atingir a criatura que se escondia atrás.
 

Com sua barriga perfurada caiu no chão e tentou parar o sangramento, mas assim que olhou para frente viu apenas as pernas daquela que traria seu fim. Com apenas um soco atingiu o rosto do macaco, esmagando seu crânio, matando-o na hora. 

  

— Faltam 6. 

  

Ester pegou o corpo do macaco novamente e começou a correr, segurando-o como um escudo mais uma vez. Mais ataques vieram das árvores, porém, dessa vez ela foi atingida por alguns que vieram de suas costas. 

  

— A mesma estratégia não vai funcionar... preciso pensar em outro jeito! 

  

Os ataques continuavam e Ester mantinha-se como podia, mas sem conseguir avançar. Em suas pernas já havia mais de 4 flechas cravadas! 

  

— Esses merdinhas tão querendo paralisar minhas pernas! Se eu não agir logo... 

  

— Ester! 

  

Uma voz estranha veio de repente. 

  

"Quem me chamou?" — Pensou enquanto olhava em volta procurando a voz. 

  

— Ester!! 

  

"Essa voz... eu reconheço-a de algum lugar..., mas de onde?!" 

  

Enfim, parada ao lado da penumbra Ester viu uma pequena garota. Seu rosto era coberto por um longo chapéu, vestia uma jardineira curta e botas de couro. Parecia ter cerca de 6 anos, sua pele era branca como a de um cadáver e em suas mãos havia bolhas aparentes. No mesmo instante inúmeras memórias tomaram conta de sua mente, como se estivesse se esquecido de coisas tão óbvias! Aquela era Nora, sua amiga imaginária de infância.  

  

— Nora?! — Exclamou Ester 

  

Nora sorriu gentilmente, e mesmo sem dizer uma palavra ficava claro sua satisfação por ainda lembrar de sua existência.  

  

— Não há tempo para explicar, confie em mim! — Disse Nora 

— Todas essas árvores são interligadas por raízes subterrâneas que formam um sistema único de alimentação e troca de informações, como uma rede única que liga a vida de todas elas. Sei que você sabe o que fazer agora... Boa sorte! 

  

Com um simples piscar de olhos de Ester, Nora desaparece nas sombras.  

  

— O que?! Como assim!!  

  

Mais uma chuva de flechas pairou sobre sua cabeça! Não havia tempo para fraquejar. Ester usa o que sobrou do corpo do macaco como defesa, porém ainda foi atingida por algumas flechas perdidas. 

  

— Desse jeito não vai dar... não tenho como atacá-los a longa distância!  

— Se pelo menos eu pudesse tirar as coberturas deles...  

— Espera... entendi!  

  

Ester ficou de joelhos e começou a apalpar o chão como se procurasse por algo. 

  

— Onde está, onde está?! 

  

As flechas não paravam, não atingindo-a por pouco! Até que Ester sente um tipo de relevo no solo. 

  

Aqui! 

  

Ester fecha seu punho e em um movimento agressivo disfere um poderoso soco no chão, levantando poeira e enterrando sua mão dentro da terra negra. Suas veias dos braços e pescoço saltam com a tremenda força que estava exercendo. O chão de repente começa a rachar, até que algo extenso é puxado por Ester — Raízes pútridas. 

Um enorme conjunto de Raízes escuras e ramificadas desprendeu-se do chão e quebrou o solo até se ligar com todas as árvores em volta de Ester. 

  

— Já chega de se esconder! 

 
Ester começa a correr com as raízes em suas mãos, forçando-as até o ponto que saíram completamente do solo e começaram a arrastar as árvores, até que enfim todas caíram no chão uma a uma. Um som ensurdecedor e doloroso toma conta da batalha, como se as árvores estivessem a gritar de dor.  

  

— Aí estão vocês! — Disse ao visualizar os macacos que estavam escondidos, agora sem abrigo. 

  

Ester observa que um deles já estava preparando um ataque, então arranca uma das flechas cravadas em sua perna e a arremessa seu braço, fazendo-o derrubar seu arco. Numa investida inesperada Ester chega corpo-a-corpo com a criatura e começa a espancá-la sem piedade com socos e chutes sem parar, até que ele cai morto no chão com inúmeras perfurações causadas pelo soco inglês.  

  

Ao olhar para trás os cinco macacos restantes haviam lhe cercado, com dois deles na retaguarda usando seus arcos e três protegendo-os à frente empunhando suas espadas. 

  

— Finalmente resolveram criar coragem?! Podem vir! 

  

Com um salto dois deles avançaram por cima dela enquanto o outro avançou com uma estocada pelo solo. Antes de ser atingida Ester chuta o chão fazendo voar terra e poeira nos olhos dos três macacos da frente e criando uma cortina de fumaça, impossibilitando os arqueiros de atingi-la. 


Os que haviam pulado para atacá-la enfim caíram, porém acertaram nada menos do que seu companheiro que estava abaixo, cortando seu pescoço.
Ambos viraram as cabeças procurando pela sua inimiga, foi quando um deles sentiu um toque em seu ombro e uma voz em seu ouvido: 

  

— Procurando por mim? 

  

Num grito de fúria ele se vira e sem pensar duas vezes balança sua espada num golpe vertical, dissipando a cortina de fumaça. Mas, assim que a vista ficou limpa percebeu que o alvo que havia atingido não era a humana, mas sim o outro macaco, cortando metade de seu torso e travando sua espada em sua carne. 

  

Mais um toque em seu ombro levar sua atenção para suas costas, só que antes mesmo de virar sua cabeça sentiu suas costelas se partirem em infinitos pedacinhos enquanto era arremessado para longe, atingindo os dois arqueiros e derrubando-os. 

  

— Parece que você errou o alvo. 

— Vocês gostam de se esconder em árvores não é mesmo? Que tal se juntarem a elas! 

  

Ester abraça um dos troncos de árvores que caíram no chão e começa a bufar enquanto seus ossos estalam e sua pele fica vermelha. O enorme tronco é erguido até seu pescoço com força absurda, e num movimento rápido ela disfere um ataque ao chão, esmagando completamente os coitados.  

  

Arf..., isso cansou.



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