Aelum Brasileira

Autor(a): P. C. Marin


Volume 2

Capítulo 49: A História de um Cadáver

GRIS

 

— Eu sinto muito, Gris. Só consigo te ensinar o dom da resistência mental até este ponto. Você precisará encontrar alguém de confiança no futuro, um especialista em morte para terminar seu treinamento.

— Não tem problema, professor. Obrigado por me ensinar.

É o terceiro mês de treinamento, e estamos novamente às margens do Rio Reluzente, como de costume. O professor e eu nos encontramos sentados na grama e descansamos depois das lições.

Alienor foi gastar seu fluxo com algumas explosões e chamas perto do rio. A Srta. Raposa se aflige caso não conjure seus fogos de artifício de tempos em tempos.

A vi resmungar coisas sem sentido sobre uma tal de pirâmide. Perguntei sobre, mas ela disse que eu não entenderia. Acredito se tratar de algo relacionado ao seu lado artístico e um método para se inspirar.

— Entretanto, garoto. Há algo que eu posso te ensinar agora e que será útil.

O professor pega sua mochila e dela retira um frasco de cor púrpura.

— É veneno? — questiono.

— Sim, pamplonela, um dos venenos mais mortais que existem em toda Aelum e com uma velocidade de ação só comparável com magias extremamente poderosas. Um mago de vida poderia curar, mas é normal que o alvo morra antes mesmo disso. — Ele me entrega para eu olhar mais de perto.

— É uma cor bonita. — Ela reluz com o reflexo do sol como uma pedra preciosa.

— De fato, é tão bonita, quanto mortal. Assim como o único lugar onde sua flor cresce.

— Que lugar, professor?

— Na orla interior da Floresta de Prata.

— Creio que isso seja bom — respondo, ao passo que me jogo de costas na grama e levanto o frasco na altura de minha cabeça. Agora ele brilha com ainda mais intensidade. — Um veneno assim, em um lugar muito acessível, poderia causar uma tragédia.

— Você tem razão. Porém não é isso que eu queria te ensinar exatamente. — O professor retira de sua mochila uma ampola bem pequena. — Este é um antídoto para o veneno de pamplonela, foi um alquimista muito habilidoso que o criou.

— Qual alquimista?

— Você o conhece por Alan, o proprietário da Botelha Púrpura.

Uau! Ele é tão bom assim?

— Sim, ele é. Esse veneno existe há mais de dois mil anos e somente o Sr. Alan conseguiu criar um antídoto eficaz para ele. Leve ao menos um desses sempre consigo, Gris. Ele pode ser usado até três horas antes e ainda fará efeito. Use-o sempre antes de batalhas contra inimigos desleais. Sempre tome antídotos para os principais venenos que existem, antes de situações assim.

— Pode deixar, professor.

— Usuários de magia de morte são problemáticos, mas quando você dominar por completo o dom de resistência mental, eles serão pouco efetivos contra você. O impetus já foi chamado de técnica matadora de magos um dia, e um dos motivos é esse. Porém só restaram poucos usuários que conhecem esse dom.

— Eu não sabia que era algo tão raro assim.

O professor sorri, então diz: — Mas usuários de morte normalmente não matam com suas magias, eles atordoam e finalizam com isso que você tem em sua mão.

— Veneno?

— Sim, agem de maneira ardilosa e usam veneno. Por isso, eu te ensinei a lutar de forma suja e desleal, a ser pior do que eles, a não se importar com os meios e, sim, com o resultado. Você precisa ser bondoso igual a um santo, porém mais maligno que um assassino de Erun, quando necessário.

O professor diz isso e depois olha para o horizonte a nossa frente.

— Corajoso e honrado é aquele que vive para contar sua versão da história — cito as próprias palavras do professor.

Hahahaha! — Valefar solta uma gargalhada e bate com a mão em sua própria perna. Ele olha para mim e exclama: — Exato! Sobreviva e volte para aqueles que você ama! Viva e conte sua história, minta sobre ela, exagere, invente, faça todos rirem e se alegrarem com sua presença, pois ninguém se importará com as histórias de um cadáver! Hahahaha!

Agora compreendo melhor as falas de Khan, quando ele disse que Valefar era um matador de magos. Também compreendo melhor as palavras do professor, esta técnica faz jus ao seu título.

No fim, Malak está neste resultado por orgulho e por suas próprias escolhas, pois Hector seria mais resistente a mim, enquanto Alienor teria maiores problemas contra o profano. Ele escolheu o melhor caminho para a derrota.

Não haveria outro resultado. O profano é um lutador focado em poder ofensivo, se eu chegar perto, com um soco já será suficiente para derrotá-lo. O problema é que eu preciso saber uma coisa antes.

— Quem é Dezesseis? — pergunto a ele, ao passo que aponto minha espada em sua direção.

— Pega essa então, seu manja rolas! Hahahaha. — escuto Alienor gritar.

Bum! A explosão maior da ruiva de fato ficou mais forte, e a poeira levantada por ela chega até aqui do outro lado da arena. Hector já está todo ensanguentado e quase que cai para fora do campo por conta do impacto.

Alienor não parece ter problemas em seu lado, ela domina a batalha, como esperado.

Malak começa a se levantar com dificuldades, seu braço está destroçado. Chuto suas adagas para fora do campo de batalha. Bem feito, por subestimar seu inimigo.

A plateia brada em resposta: — Canhoto, canhoto, canhoto...!

Tsk! Se eles soubessem o que você fez, não estariam te homenageando.

— O que eu fiz? Diga logo.

Eu gostaria de acabar rápido com isso. Meu fluxo se esvai a cada instante que mantenho o impetus ativo. Entretanto, preciso dessas informações.

— Então é assim, você fingirá que não se lembra... Deveria ter me matado, igual aos outros. Eu tive de suportar tudo sozinho, por sua causa! — ele grita.

— O que você sabe sobre mim?

— Eu sei... — Malak me encara com seu rosto repleto de cicatrizes, e um fluxo negro se reúne a sua volta — que você não deveria existir.

Em resposta, libero todos os dons e deixo apenas a resistência mental e a melhoria da visão.

Ao lado de Malak surgem duas cópias idênticas a ele. O verdadeiro poderia ser qualquer um. Todos avançam em minha direção. Creio que já entendi, ele consegue usar magias de morte à distância, mas para as mais poderosas, ele ainda precisa me tocar.

Creio que ele percebeu também que magias de morte mais fracas não farão mais efeito. Entro em guarda com minha espada e espero ele se aproximar.

O primeiro Malak, eu o deixo me atingir, e sua mão me atravessa: era um dos falsos. Aprimoro minha força e bloqueio a mão do segundo com meu braço:  Esse é o verdadeiro. O terceiro deles atravessa por mim também.

O fluxo negro de todos é idêntico, entretanto somente o verdadeiro possui uma aura vermelha-escura que pode ser vista pelo impetus. Uma informação que ele não tem.

— Vera... — Ele tenta sussurar as palavras, enquanto me toca, mas eu o chuto na coxa antes.

Crack! Seu fêmur se rompe.

— Aahh! — Malak cai e rola pelo chão.

Eu poderia perfurar seu pulmão ou garganta. Assim, ele não conseguiria recitar mais as palavras. Entretanto, eu ainda preciso descobrir o que ele sabe sobre mim. Que situação complicada.

Bum! Outra explosão de Alienor. Hector é lançado para fora do campo e eliminado. Acho que a ruiva conseguiu gastar bastante fluxo nesta luta, que bom.

— Acabou, Malak, eu não guardo rancor contra você. Apenas diga o que você sabe e terminaremos com isso.

— Vá à merda, seu traidor, desgraçado! — exclama o profano.

Um fluxo vermelho e denso começa a se reunir em volta dele, ao passo que sussurra uma série de palavras e me encara. Outro fluxo negro surge e aos poucos se mistura, formando uma névoa sinistra da cor de sangue coagulado.

Salto para trás uns dez metros. Essa magia é diferente, é mais poderosa e opressora.

— Alienor, fique longe! É perigoso! — A ruiva, que vinha me ajudar, para sua investida e dá alguns passos para trás.

Malak, ainda caído e com a mão esquerda sustentando seu braço direito quebrado, continua a sussurrar várias palavras. Ao mesmo tempo, o fluxo negro fica maior e mais denso a cada instante.

— É um ritual, Gris! Cuidado! — grita Alienor, então a ruiva aponta seu dedo indicador em minha direção. — Vitale.

Meu corpo brilha em branco com a magia de vida de Alienor. Sua tola, deveria ter lançado em si.

Volto meus olhos ao profano. Deve ser uma magia que gasta uma quantidade de fluxo tremenda, então ele precisa de um ritual para invocá-la. Não posso me aproximar, é perigoso.

Observo o mezanino, e Vi Kari não intervirá. Por que ela não faz nada? Estou seguro que essa magia é uma violação às regras.

Escuto a comoção da plateia. Alguns se levantam e correm para a saída, outros gritam e clamam pelo encerramento da luta. Creio que todos perceberam que isso precisa parar.

Alienor volta a se aproximar de nós com dificuldade, o ritual a empurra para longe, mas ela insiste com ambos os braços a proteger seu rosto. — Se afaste, Alienor! — eu grito, porém ela me ignora. Essa maluca quer entrar no perímetro de alcance e lançar uma explosão.

Ela não terá tempo para isso. Não tenho escolha, Malak precisa morrer. Ativo os dons de aumento de massa, resistência à dano e a força descomunal. O chão cede aos meus pés, ao passo que me abaixo e preparo para lançar minha espada. Também aumento o peso da arma em minha mão, assim como Valefar me ensinou.

Não há como eu errar um alvo parado, ainda que com a mão esquerda.

Entretanto, quando estou prestes a arremessar a espada com toda a força contra Malak, um raio atinge o chão da arena ao lado de meu rival.

Trummmm! Estou seguro que foi um raio, mas o céu está limpo.

A poeira sobe. Ativo minha visão e percebo que o fluxo parou, o ritual foi encerrado antes de se completar.

Todavia, uma aura verde e brilhante que se assemelha à esmeralda aparece em meio a poeira que se dissipa. Aos poucos, se revela seu detentor, uma figura que já conheço: Khan.

O líder dos lumens interveio na batalha e Malak se encontra desmaiado no chão aos seus pés. Khan olha na direção do mezanino, onde se encontra a árbitra. Vi Kari apenas abaixa sua cabeça, vira as costas e deixa o local.

Ela queria que eu morresse, ou que eu o matasse? Vi Kari não me disse que os lumens valorizam a vida?

— Vencedores desta etapa: Gris e Alienor de Vermilion — anuncia o Lorde Khan.

Após o anúncio, o líder lumen faz um sinal para os soldados e médicos virem ao seu encontro. Receio que Malak será preso.

, Gris! Você viu? Esbagacei aquele arrombado manjador de... — diz Alienor ao se aproximar. — E esse ferimento aí. Acho que consigo curar, venha cá.

Esse resultado valeu cada moeda de ouro que investi na Vivenda de Alvitres.

 

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