Volume 3 – Parte 3
Capítulo 77: Pôr do Sol

Judith decidiu levar ambos — a lebre e a menina.
Deu um jeito, após tanto esforço, para colocar a dorminhoca em suas costas.
Os braços dela passavam sobre seus ombros, enquanto uma das pernas penduradas era sustentada por sua mão livre. A outra, a destra, conduzia o animal abatido pelas orelhas.
Arrastou-o pela trilha de terra, sem se importar com o trabalho que teria para lavá-lo antes de começar os preparos do almoço.
Sua preocupação maior, embora tentasse a relevar, era com a menina que a salvou.
Podia sentir a respiração cálida arrepiar sua nuca, mas se aguentou para não executar qualquer movimento brusco capaz de derrubá-la.
Reiniciar o processo de carregamento seria um saco, pensou determinada.
Assim prosseguiu, a passadas curtas, em direção ao chalé na subida da pequena colina rodeada de árvores secas. Levou o dobro de tempo necessário para chegar ao destino.
Nesse instante, foi avistada pela mulher de cachos ruivos na entrada da velha residência. Ao ver que ela carregava uma pessoa na corcunda, levantou-se efusiva da cadeira maltrapilha e arregalou os olhos castanho-claros.
Em nota do cansaço no semblante dela, desceu os degraus, levantou a barra do longo vestido verde-escuro e correu em sua direção.
— Judith! — gritou a plenos pulmões, enfim chamando o olhar cabisbaixo da menina. — O que aconteceu!? Quem é...?
Beatrice não conseguiu completar o questionamento, pois a linha de visão cravou certeira a aparência da criança.
O cabelo azul-ciano chamava bastante a atenção, mas, durante o parecer inicial, a mulher experimentou um estranho desconforto diante da plácida feição.
— Eu não... sei... Toma, leva isso... — Levantou o braço dolorido de tanto conduzir o pesado animal. — Nosso almoço... e janta... e almoço e janta... dos próximos dias.
Num tom embargado, entre arfadas pesadas, a menina contou com a ajuda da mãe para, enfim, ter que carregar somente a desmaiada.
Ajeitou as pernas dela, as mãos posicionadas abaixo de suas cochas, então regressou a caminhada pela reta final do trajeto.
A genetriz encarou o animal morto e sujo, antes de delegar uma duradoura olhadela no avanço da descendente.
Com diversos pensamentos duvidosos, a acompanhou até a entrada da morada simples.
Agiram rápido, a fim de agilizarem tudo antes do entardecer. A garota ficou responsável por limpar a lebre e fazer o almoço que havia prometido, enquanto delegava os cuidados da outra menina à sua progenitora.
Beatrice desceu a zona florestal, no intuito de encher uma bacia de madeira com bastante água pelas margens do lago.
Umedeceu uma toalha, a torceu para retirar o excesso de líquido e colocou-a sobre a testa da criança. Essa soltou fracos gemidos ao sentir o toque gélido lhe arrepiar o corpo.
A adulta relaxou os ombros, sentada na beirada do sofá velho onde havia a deitado.
Usou aquele período no intuito de observar suas linhas faciais com maior cautela.
Flashes rápidos tomaram sua mente, lhe fazendo arriar as sobrancelhas cada vez que as lembranças vinham.
A sensação estranha de mais cedo parecia se confirmar aos poucos, o que a deixou um tanto desnorteada naquela posição.
— Judith... — chamou pela filha na cozinha.
— O que foi? Como ela ‘tá? — A jovem caminhou, em porte de uma faca velha quase sem fio. — Parece estar só dormindo. Por que você ‘tá com essa cara?
Fitou-a, melancólica, enquanto não desgrudava os globos oculares da feição daquela pessoa. Ante o silêncio, pensou que não teria mais nada a dizer, então corrupiou-se no rumo da cozinha mais uma vez...
— Ela se parece com aquelas duas... — A súbita proliferação da voz deturpada da adulta fez a filha findar o avanço. — Como você a encontrou?
Lentamente, Judith virou o rosto a observar acima do ombro, sem mover um músculo do torso. Pensou em dissimular por um momento, mas de nada adiantaria conviver com aquela mentira.
Por isso voltou a atenção absoluta ao centro da ínfima sala, iluminada pela entra dos raios solares em feixes que destacavam as partículas de poeira no ar.
Sem pestanejar, contou a sequência vivenciada nos mínimos detalhes, desde o início da caça à lebre até o ataque do ser enegrecido.
Dissemelhante ao esperado, Beatrice não esboçou um semblante desacreditado. Somente ateve-se ao espanto, como se, pouco a pouco, encaixasse novas peças de um quebra-cabeça incompleto há tempo.
Como era de sua suspeita, aquela bizarrice toda apelidada de Seleção Estelar não havia, de fato, sido encerrada.
A nova Rainha foi escolhida, tomou seu trono. Porém, seus poderes continuavam ativos. Jamais tinham deixado de serem Marcados...
— Então... — Por fim disse algo, num tom afônico, ao encarar de soslaio a menina deitada. — Ela também...?
Judith balançou a cabeça para os lados, compreensiva quanto o questionamento inacabado.
— Não sei. Tenho certeza que ela usou um poder... parecido com o daquela pessoa. — Remeteu, com extremo pesar, ao rapaz incumbido de tirar a vida de Sarah. — Não consegui ver algum símbolo no corpo dela. E meu símbolo também não reagiu quando eu encontrei ela...
Beatrice exalou um fraco suspiro, na iminência de reorganizar todas as informações adquiridas até então.
Foi nesse momento que virou um pouco mais o rosto e as sobrancelhas prontamente se arregalaram.
Tal reação despertou curiosidade em sua filha, conduzida a correr com a atenção até a misteriosa inquilina.
O mesmo choque a percorreu ao enxergar os bonitos olhos cianos entreabertos.
Mais uma vez acordada, piscava com lentidão, como se buscasse reconhecer o teto de madeira sobre a linha de visão.
Segundos do mais puro silêncio se passaram, sem resposta alguma dos presentes.
Agora à vista mais detalhada de sua consciência reestabelecida, Judith pôde entender o incômodo exprimido por sua mãe. Nenhuma delas encontrou palavras para externar os sentimentos pungentes que lhes dominava o peito.
Cada vez mais habituada ao ambiente caloroso, a cerúlea forçou o torso frágil a levantar-se.
Ficou sentada sob a coberta esfarrapada, praticamente salivando pelo canto da boca levemente aberta.
Constituída de um modus operandi vagaroso, levou o dorso das mãos a esfregar as vistas pesadas. Em seguida, soltou um duradouro bocejo.
Depois, espreguiçou o corpo ao levantar os braços no limite da envergadura, soltando um gemido arrastado no processo.
Só então virou-se às anfitriãs, paralisadas nas mesmas posições.
Levou novos segundos até reconhecer as fisionomias, em princípio a da garota sentada num banquinho adiante.
— Diaaa... — Soltou um murmúrio estranho misturado a um bocejo, enquanto acenou com a mão canhota.
“Ela é tão pálida”, Beatrice levou a palma a tatear a lateral do próprio rosto. “Será que está doente?”
Ligou tal fator à altíssima temperatura corporal, constatada em sua chegada durante o início da tarde.
Logo pensou no quão difícil seria cuidar de um indivíduo enfermo num local tão isolado.
Enquanto isso, Judith se segurava para não a encher de questionamentos — comportamento visível pelas mãos prensadas contra as pernas e os lábios apertados um no outro.
No entanto, antes de conseguir empurrar as palavras da garganta entalada, os olhos da criança se elevaram.
Os globos centrais moveram-se numa velocidade anormal, em direção à janela de vidro quebradiço na lateral do recinto iluminado.
Saltou do sofá, lançando consigo a coberta que atrapalhou a visão de mãe e filha, não as permitindo enxergar o seu avanço acelerado.
Somente escutaram o ruído do vidro quebrando, o que trouxe ambos os focos até os estilhaços ainda a tombarem sobre o solo.
Sem pestanejar, elas correram até o lado de fora. Uma forte fonte luminosa surgiu no espaço, capaz de ofuscar os raios solares daquela tarde primaveril.
Ao acessarem a única passagem à simples varanda, encontraram diversas figuras tomadas por trevas a caminho de onde estavam.
Eram do mesmo tipo encontrado pela garota há algumas horas. Isso a assustou tanto quanto sua mãe, que apenas ouviu falar sobre como o tal monstro se parecia.
Era como se o destino agisse em prol de confirmar sua existência a ela.
Contudo, o mais chocante daquele cenário não eram os ruídos guturais expelidos por eles e tampouco a quantidade que parecia ultrapassar a casa da dezena.
Como um raio, a cerúlea surgiu em porte de sua lâmina de fótons, a estender-se da ponta dos dedos esticados. Assim decepou a primeira criatura, sem dó ou piedade.
Receber aquele contraste chocante fez ambas esgazearem os olhos e escancararem as bocas, congeladas da cabeça aos pés.
A criança prosseguiu, empalando uns e decepando outros. Os monstros restantes tentaram desviar dos ataques e cercá-la, no intuito de interromperem a sucessão assustadora, mas era inútil.
Os deslocamentos precisos da pequenina não os permitiam contrapor-se da maneira devida, sendo conduzidos ao fim prematuro.
— Não deixarei... que absorvam mais luz...
O cochicho não pôde ser escutado por qualquer um além da própria. Prosseguiu no compasso veloz, capaz de despertar tanto assombro quanto fascínio das observadoras.
Através de giros comedidos, onde era possível constatar seu semblante centrado por intermédio das sobrancelhas relaxadas, criou uma espiral luminosa encarregada de espalhar o impacto contra todos os inimigos.
A força do vento alcançou mãe e filha, fazendo os fios escuros menearem pelo espaço.
Restavam cinco sombrios.
A garota não se intimidou. Muito pelo contrário.
Cada vez mais absorta, criou uma segunda lâmina através dos dedos da outra mão.
Respirou fundou, contou de um a três e disparou contra o aglomerado ruidoso, com dentes afiados à mostra na batalha pessoal contra a escuridão.
Nada disso foi bastante para frear o ímpeto da menina, finalizando um de cada vez, sem quaisquer obstáculos.
Todos tiveram suas formas desfeitas como pó, levados pela brisa natural daquela zona inabitada.
Após conferir o abate geral, a misteriosa lamentou na busca de retomar o fôlego perdido.
As lâminas luminosas esvaneceram em pequenas partículas que tomaram o mesmo rumo celestial daquelas pobres criaturas.
De volta ao relaxamento natural, virou o rosto às anfitriãs, incrédulas na entrada do casebre. Esboçou um fraco sorriso, acenou para as duas e soltou outro bocejo demorado.
Diferente da ocasião anterior, não perdeu a consciência. Corrupiou-se e caminhou com saltos leves à varanda, deixando que a feição radiante tomasse conta da face desbotada.
Levou os braços a se cruzarem atrás do corpo, ao passo que as grandes mechas laterais — a escorrerem sobre os ombros — dançavam no mesmo sentido com a ação do vento.
Parou defronte as incrédulas, analisando-as dos pés ao tronco. Ofereceu atenção redobrada à testa da mais velha — parcialmente coberta pela franja cacheada — e ao pescoço da garota — no seu lado esquerdo.
Contente, assentiu consigo antes de comentar:
— Eu caí e caí, mas dei sorte! — A voz soou mais firme dessa vez, mas sustentou o característico tom afinado. — Consegui encontrar... escolhidas das estrelas!
As duas não tiveram dificuldades para entender que aquele termo se referia ao fato de elas terem sido participantes da Seleção Estelar.
Em conta disso, trocaram olhares longínquos, antes de sentirem a coragem necessária a fim de iniciarem o processo interrogatório.
— Você... também é uma marcada? — Judith, Marcada de Acrux, perguntou primeiro.
A questionada balançou a cabeça para os lados.
— Sou diferente em essência... — Abriu a mão direita, de onde uma esfera luminosa surgiu. — Eu sou uma das poucas sobreviventes desta Era Degenerada!
Com novas dúvidas ao invés de respostas, mãe e filha engoliram em seco no mesmo instante.
Além disso, puderam notar o timbre melancólico entoado por aquela que se autoproclamou uma sobrevivente, durante a frase de finalização.
Todavia, nenhuma das duas encarregou-se de dar continuidade à conversa.
— Prometo que explico tudinho a vocês, como agradecimento por terem me despertado nesse lugar! — Recuperou o ânimo nas palavras, assim como no sorriso. — Mas, antes de tudo, gostaria de pedir uma coisa.
De novo, mãe e filha buscaram os olhares uma da outra, até Beatrice perguntar:
— O que seria?
Passado um breve momento de silêncio, a ciana replicou com os ombros elevados em euforia:
— Podem me dar um nome!?

A fome de uma manhã intensa obrigou a Marcada de Acrux a preparar o almoço.
Enquanto as pendências entre as desconhecidas eram resolvidas, tiveram o prazer de se alimentarem da carne da lebre capturada no final da manhã.
Judith e Beatrice ficaram impressionadas com a comilança provocada pela misteriosa, que devorou a refeição disposta em seu prato em questão de segundos.
Ao ver as anfitriãs unirem as mãos e fecharem os olhos, repetiu os gestos no intuito de agradecer a comida através de seus costumes religiosos.
Depois daquele almoço — quase jantar —, as três se reuniram na pequena sala.
O sol já indiciava seu poente no céu, agora tomado por uma tonalidade alaranjada na extensão sem muitas nuvens.
Tudo foi explicado pela cerúlea, nos detalhes que eram de seu conhecimento.
Anestesiadas por terem observado a absurda batalha de mais cedo, as marcadas sobreviventes da Seleção Estelar se esforçaram a fim de engolirem todos os esclarecimentos.
— Então você “caiu” aqui porque foi atraída pela energia ligada à pessoa que venceu a seleção há três anos? — Beatrice, de vistas semicerradas, tentou ser lógica. — E, graças a ela, o universo está rumando a uma morte térmica desde então, é isso?...
— Sim! E, com isso, pensei que poderia fazer algo para salvar minhas irmãs! — Imai, com uma xícara rachada de café em mãos, encarou a mais nova. — Essas marcas que carregam são parte de um fardo nascido de nós, que vivemos no espaço!
— Fardo... — Judith passou a mão com delicadeza misturada à tensão sobre o símbolo no pescoço.
— Todos nesse lugar receberam isso. Mas, por alguma razão, eu acabei sendo atraída para perto de vocês. Então, isso me fez pensar se o fardo de vocês não poderia estar ligado às minhas irmãs. — Bebeu um gole, fazendo sua língua arder ao ponto de criar uma feição contorcida por suas sobrancelhas.
A Marcada de Acrux voltou a apertar as mãos contra as pernas flexionadas. Se fosse pensar por aquela direção, então resolveu questionar:
— Você tem quantas irmãs?
— Todos que nascemos do Rei Celestial meio que somos irmãos, mas... eu diria que três. — Inclinou o pescoço com leveza, olhando para o alto. — Sua energia me lembra de uma delas, muito mesmo!
Judith desviou o olhar, meio que entendendo bem para onde aquilo deveria levar.
Em vista disso, Beatrice, que a encarou de soslaio durante a troca de diálogos, comentou:
— Eu entendi quase tudo. Menos sobre nossos poderes estarem relacionados de alguma forma com aqueles que te vimos enfrentar mais cedo.
— Como eu disse, não sei muitos detalhes sobre essas coisas complicadas — disse, sorridente, terminando de beber o café sem fazer novas caretas. — Do pouco que sei, tudo isso começou porque alguns de nós foram atraídos até aqui antes. E depois, outros acabaram fazendo o mesmo, tudo por causa de desejos que não consigo compreender.
— E foi isso que criou todos esses “fardos”, amaldiçoando os humanos — completou, cabisbaixa.
— Acho que é algo assim, sim! — Soltou um suspiro de deleite ao terminar a bebida. Pediu mais, estendendo a xícara na direção da mulher, que acabou servindo-a de imediato. — De qualquer maneira, acho que a única forma de salvar todos é aqui, nesse lugar! Por isso, queria pedir ajuda de vocês!
— E como poderíamos fazer isso?
— Acho que se a gente encontrar a Rainha, a gente poderia conseguir alguma coisa. A única coisa que sei depois de “cair” aqui, é que ela ainda está, de alguma forma, ligada a esse lugar. — Tomou um novo gole. — Deve ser muito importante para ela, ainda...
— Isso é... difícil de processar. — Beatrice balançou a cabeça para os lados.
Com isso, a misteriosa quase se engasgou, assustando tanto ela quanto Judith, deslocada até então.
— E-eu sei que é difícil de acreditar, mas é a única maneira, eu juro!! — Os olhos brilhosos dela pareciam que iriam chorar a qualquer momento. — Eu não tenho mais ninguém a quem recorrer!! Por favorzinho!!
Mãe e filha trocaram olhares duradouros, como se buscassem comunicar-se por meio de telepatia.
— Bem... — Judith, com a mão apertada a seu outro braço, murmurou: — Acho que... a gente não tem muito a perder, né?
— Filha...
— Se tudo acabar do jeito que ela falou, então nada vai mais fazer sentido. — Se levantou da poltrona.
Ainda faltavam muitas respostas, que nem aquela pequena era capaz de oferecer.
Mesmo assim, após tanto tempo na vivência do surreal, carregado pelos pontos distantes no céu noturno, as antigas freiras decidiram se apegar àquela nova parcela de fantasia.
Afinal, não havia outras possíveis saídas.
Na melhor das ocasiões, permaneceriam com suas vidas pacatas, no aguardo para o iminente fim do universo.
“Preciso seguir em frente... eu prometi na frente do túmulo delas”, Judith apertou a cruz carregada pelo colar sobre o peito, as sobrancelhas arriadas denotavam o ar de circunspecção no semblante.
Tamanha introspecção a fez ignorar a encarada de esguelha de sua mãe, preocupada com todo aquele peso que carregava desde os eventos ocorridos há três anos.

Com uma parte das dúvidas esclarecidas, a noite chegou.
A Marcada de Acrux já tinha dificuldades para dormir em condições normais. Depois dos acontecimentos presenciados, alheios à conversa daquela tarde, pregar os olhos nunca se provou tão impossível.
A mente funcionava num turbilhão de devaneios complexos, responsável por deliberar sua insônia.
Pensar em assuntos tão graves, como o fim do universo e a queda de seres místicos naquele planeta, lhe arrancava da realidade com tanta pungência quanto a batalha experienciada outrora.
Sequer paciência tinha para ponderar sobre os conflitos que aqueles fatos causavam às crenças pessoais, aprendidas e seguidas desde quando se conhecia como gente.
Inquieta, levantou-se para beber água e ver se conseguia relaxar, antes de pegar no sono.
No entanto, ao chegar na cozinha, escutou um burburinho afinado tomar conta do recinto.
— Hum, hum, hum, hum, hum, hum, hum... hum, hum, hum, hum, hum, hum, hum... ♫
Ela reconheceu a melodia em dois tempos, a ponto de levantar os supercílios e esgazear as vistas ao limite. Caminhou na direção do som abafado, até abrir a porta.
Recebida pela luz da lua cheia, encontrou o cabelo ciano menear com a fria brisa da noite, enquanto cantarolava sem parar naquele ritmo recheado de placidez.
Era a mesma cantiga... a mesma que cantava à Karen.
Ao perceber a aparição da marcada, a misteriosa virou o rosto. Ao conferir o desenho da pura perplexidade naquela expressão, resolveu se retratar:
— Oh, me desculpe! Eu te acordei? — Desviou o olhar, um tanto encabulada.
Pensando sobre como tinha sido indiscreta para acordá-la, a anfitriã tomou outro caminho.
Como se boa parte das dúvidas fossem varridas..., entoou uma pergunta:
— Onde... aprendeu essa música?
A pequena pensou um pouco antes de responder.
— Não sei. Eu só a conheço. — Abriu um sorriso que mostrou os dentes radiantes. — É uma música muito bonita!
Boquiaberta perante a garotinha, Judith não aguentou a chegada das lágrimas encarregadas de transbordarem em seus olhos.
“Ah... agora eu entendi”, fios úmidos caíram pelo rosto corado, enquanto leves gotículas esvoaçaram na brisa. “Então era essa a resposta, meu Senhor?”
Pressionou os lábios e, quando foi encarada pela menina, contemplou uma reação dúbia que a fez inclinar a cabeça à esquerda.
Num impulso, aproximou-se a ela e segurou suas mãos com força. As uniu junto às suas, entrelaçadas na mesma postura de quando executavam alguma prece.
— Nós vamos conseguir! — declamou, a voz embargada. — Eu prometo, Pálida!!
Num primeiro momento desconcertada perante tamanha comoção, a misteriosa nomeada de Pálida tornou a sorrir, dessa vez num gesto silente.
“Essa é... uma nova chance... não é?”, a marcada abaixou o rosto, de maneira a despejar todo o peso carregado pela morte de suas irmãs.
Mal fazia ideia de que era observada por Beatrice, da janela quebrada mais cedo.
Ela também esboçava um tênue sorriso, contente com o encontro de sua filha com o próprio perdão.
A partir daquele ponto, suas vidas tomariam um novo rumo e significado, na busca pela resolução final que envolvia tanto elas quanto o universo.
E então... voltou a fechar os olhos.
“Parece que nos encontraremos de novo.”

Opa, tudo bem? Muito obrigado por ler mais um capítulo de A Voz das Estrelas, espero que ainda esteja curtindo a leitura e a história!
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