Volume 3

Capítulo 3: Ainda não está no clima para limpar.


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Silêncio. A sala de estar do apartamento estava preenchida com uma tranquilidade confortável. Era difícil acreditar que três rapazes do ensino médio enérgicos estavam ali. Apenas a chuva lá fora, a brisa soprando do ar condicionado e o som fraco de canetas deslizando sobre papel podiam ser ouvidos. O clima relaxante junto com o ambiente perfeitamente fresco quase fazia você querer dormir—

"Está mais seco que a poeira aqui!"

Ou pelo menos era assim que as coisas estavam até que um certo garoto de repente se levantou e gritou, arruinando o clima num piscar de olhos.

"Takeshi? Você está bem, cara?" Masachika perguntou.

"É falta de educação bater as mãos na mesa, especialmente quando você é um convidado na casa de outra pessoa," Hikaru acrescentou repreendendo.

Masachika e Hikaru olharam exasperadamente para Takeshi.

"O que você quer que eu faça? Desligue o modo seco no ar condicionado?" 

"Não estou falando do ar condicionado! Isso não é o que está seco!"

"Então do que você está falando?"

"Eu tenho uma boa ideia do que ele quer dizer..."

Mas Takeshi não se intimidou diante dos olhares desinteressados de seus dois melhores amigos e gritou: "Por que diabos eu tenho que passar meu fim de semana estudando com dois caras suados?! Você deveria convidar garotas para esses grupos de estudo também!"

"Ei, você está começando a soar como eu," comentou Masachika.

"Não estou falando de alguma fantasia nerd de anime sua. Estou falando em geral!"

"Sim, talvez se você for um dos caras populares da escola e geralmente sair com as garotas da sua turma, o que tenho quase certeza de que não fazemos."

"Oh? Isso realmente acabou de sair da sua boca? O cara que sai com as duas lindas princesas da Academia Seiren realmente acabou de dizer isso?!"

"Mas, tipo... Você sabe?"

As duas belas princesas da Academia Seiren das quais Takeshi estava falando eram a princesa solitária, Alisa, e a nobre princesa, Yuki. E do ponto de vista de Takeshi, Alisa e Masachika pareciam muito próximos, já que estavam concorrendo juntos na eleição do conselho estudantil. 

Além disso, eles sentavam próximos um do outro na sala de aula. E Yuki? Ela era membro do conselho estudantil e amiga de infância de Masachika, pelo que Takeshi sabia. Embora Yuki fosse na verdade irmã mais nova de Masachika. Ele provavelmente parecia o cara mais sortudo do mundo do ponto de vista de Takeshi.

"Não só você e Yuki são próximos, mas você é o único cara com quem a Princesa Alya quer conversa. E ainda assim você diz que não tem amigas mulheres? Peça desculpas a todos os perdedores de verdade na escola imediatamente!"

"Desculpa por ser amigo de duas garotas bonitas. Você está com ciúmes? Você está, não está?"

"Você é doente!"

Takeshi olhou para seu amigo provocador com um sorriso, como se Masachika tivesse matado seus pais, então bateu suas mãos na mesa mais uma vez.

"Sim, estou com ciúmes! Então se apresse e mande elas virem pra cá!"

"Não esperava que você admitisse," disse Masachika enquanto Takeshi se curvava para ele, ainda com as mãos na mesa.

"Só para ficar claro, nunca a chamei num final de semana para convidá-las para sair ou algo assim. Yuki provavelmente está ocupada com suas atividades extracurriculares, e não acho que já tenha chamado Alya para algo fora da escola. Além disso, mesmo se eu conseguir que elas venham aqui de alguma forma, você estaria tão nervoso que não conseguiria estudar."

"Sim, acho que você está certo sobre isso..." concordou Takeshi com um suspiro.

Depois que Takeshi se recolocou em seu assento, ele apoiou o cotovelo na mesa e o queixo na mão, olhando de mau grado para seus livros didáticos... até que levantou a cabeça rapidamente como se uma lâmpada tivesse se acendido.

"E aquela garota?" 

"Que garota?"

"Sabe, aquela que estava com a Yuki no debate outro dia." 

"Ah..." Masachika murmurou sem vida no momento em que percebeu que Takeshi estava falando de Ayano, a empregada e colega de chapa de Yuki.

"Ela não se destacou muito, mas na verdade é muito bonita quando você olha direito para ela. Nunca a vi na escola, no entanto. Talvez ela tenha se transferido de outra escola?"

"Não, ela se formou no ensino médio na Academia Seiren."

"Espera. O quê? Sério? Ela teve alguma mudança dramática quando começou o ensino médio?"

"...Não. Ela sempre foi assim desde o ensino médio."

"Huh... Interessante... Espera! Você está falando como se fosse amigo dela desde o ensino médio também!"

"Mais ou menos... Ela também é uma amiga de infância."

"O quê?!" Gritou Takeshi, sua voz tremendo um pouco enquanto se inclinava para a frente, encarando Masachika a poucos centímetros de distância de seu rosto.

"Estou cansado das suas lorotas, cara! Quantas garotas bonitas você é amigo?!"

"Você está com ciúmes?" 

"Sim!!"

Takeshi bateu suas mãos na mesa, olhou para cima e mordeu o lábio frustrado.

"Então... você acha que poderia me apresentar para ela?" 

"Não."

"Por que não?"

"Que tipo de cara apresentaria sua querida amiga de infância para um macaco tarado como você?"

"Quem você está chamando de macaco tarado?"

"Você. Eu pensei que isso estava claro. Além disso, se você quer falar com ela, por que precisa de mim? Fale com ela."

"…?! Eu não consigo... Eu fico nervoso falando com garotas que não conheço." 

"Ah, como um menininho inocente."

Depois que Takeshi desviou o olhar timidamente, Masachika o observou com nojo. 

"Não vejo por que você ficaria tão nervoso, já que nunca tem problemas para falar com as garotas de nossa classe."

"Vamos lá. Falar com as garotas de nossa classe é completamente diferente de falar com uma estranha de outra classe. Além disso..."

"Além disso?"

"...Eu geralmente só falo com as garotas de nossa classe em grupo. Nunca falo com elas individualmente."

"...Ah. Então você está bem falando com um grupo de garotas de uma vez, mas não pode falar com elas individualmente."

"Porque me deixa nervoso." 

"E é isso que te torna tão puro."

Masachika e Hikaru reviraram os olhos, mas também sorriram como se tivesse aquecido seus corações descobrir o quão tímido seu amigo era, já que ele geralmente agia de forma galante na escola.

"Ah... Acho que você teria uma namorada ou duas agora se não fosse tão tímido." 

"Eu concordo."

"Uh... me dê um tempo." Takeshi resmungou.

Ele de alguma forma conseguia parecer envergonhado, preocupado e convencido ao mesmo tempo. 

"Quero dizer, você é um cara muito positivo e sociável, o que a maioria das pessoas gosta. E, bem, você não é feio, eu acho... Você não é o melhor em ler o ambiente de vez em quando, mas está desesperado por uma namorada, então se fosse um pouco mais proativo, acho que poderia realmente conseguir uma."

"Sim, eu concordo. Acho que as garotas te acham muito simpático, já que você é um cara honesto e direto... Você não é bom em ler o ambiente na maioria das vezes, porém."

"Você está tentando me elogiar ou me rebaixar?! Vamos lá! Deixe-me sentir completamente bem comigo mesmo por uma vez! Por que você sempre tem que adicionar uma pequena cutucada no final?!"

"Uh... Porque... bem..." 

"É, é..."

Depois que Masachika e Hikaru trocaram olhares e sorrisos, Takeshi se sentiu desanimado e se sentou de volta, e nos próximos minutos, resmungou para si mesmo: "Olha pra mim. Sou o cara que nunca sabe ler o ambiente," antes de eventualmente encarar Masachika.

"E você? Você parece ser bem pegável, se eu posso dizer isso. Certamente conseguiria arrumar uma namorada." 

"Quem, eu?"

"Tipo, eu entendo o Hikaru, já que aparentemente teve algumas experiências desagradáveis no passado, mas você? Não quer uma namorada?"

"Hmm..." Masachika cruzou os braços e pensou na pergunta de Takeshi por alguns momentos. "...Eu não estou realmente interessado em procurar uma namorada." 

"Por que? Não me diga que você só gosta de garotas de anime?"

"Não é isso. É só... conseguir uma namorada não parece muito realista para mim. De jeito nenhum."

"Por que? Odeio admitir, mas você poderia quase ser um super-humano perfeito se não fosse tão relaxado. Você não é de se jogar fora, também. Não chega aos pés do Hikaru, mas ainda é decente."

"Tenho certeza de que sou um sólido seis de dez."

"Não sei quanto a isso. Você provavelmente se encaixaria na categoria de 'caras bonitos' com as garotas."

"Você está me provocando? Quero dizer, acho que pelo menos tenho um corpo decente..." Honestamente, sinto que sou médio em termos de aparência. Claro, se me comparar com o Hikaru, você facilmente apontaria muitos dos meus defeitos, mas sinto que é o mesmo com a maioria das pessoas, então é melhor não comentar.

"Notei que você não negou que é quase um super-humano perfeito, né?" 

"...Bem, eu percebo que sou um pouco talentoso e inteligente." 

Masachika deu de ombros para a expressão desdenhosa de Takeshi. Masachika não estava ciente de seu talento, e embora tenha adicionado a palavra "um pouco", percebeu que o talento excepcional que possuía ia muito além de "um pouco". Sua irmã nerd brincava que ele tinha a habilidade de trapaça "Experiência Adquirida × 10 (com exceção de esportes com bolas)", mas isso não estava tão longe da verdade também. Masachika demonstrou talento em todos os campos ao ponto de os funcionários da casa Suou o chamarem de prodígio. Mas mesmo assim...

"O talento que tenho foi algo com que nasci. Não é nada para se orgulhar ou se gabar."

"Tenho certeza de que é definitivamente algo com que você deveria se orgulhar..." 

"Takeshi, deixe-me te contar um segredo: Não há tema mais odiado do que a do protagonista arrogante e superpoderoso que mal teve que trabalhar pelo que tem porque nasceu com isso. Você conhece aqueles protagonistas babacas que renascem em um mundo paralelo e recebem habilidades de trapaça que os tornam superpoderosos, e então conseguem um harém? Sim, esses caras."

"Tudo bem, acho que entendi, mas você nunca age realmente arrogante por ser OP." 

"Isso porque não quero ser massacrado. É mais fácil ser modesto," respondeu Masachika sem emoção antes de se inclinar preguiçosamente para trás em sua cadeira.

Além disso, não posso simplesmente tentar jogar a vida no modo fácil usando os talentos que meus pais me deram. Isso seria dar a vida como garantida. Seria arrogante. Usar inteligência e habilidade acima da média para entrar em uma das melhores escolas do Japão com pouco esforço, entrar para o conselho estudantil e manter um histórico decente era mais do que suficiente para abrir portas em qualquer lugar. Isso seria dar a vida como garantida. Seria um insulto a qualquer pessoa que trabalhasse o máximo que pudesse e levasse a vida a sério. Não era diferente de um protagonista em uma história em quadrinhos conseguindo facilmente a bela heroína - injusto e merecedor de críticas.

"A deusa do amor só sorri para aqueles que agem por si mesmos," citou Masachika sabiamente. "O que isso significa?" Hikaru perguntou. "É uma linha de um quadrinho ou algo assim?" Adivinhou Takeshi.

"O quê? Não. É um velho ditado que meu avô costumava amar. Ele dizia isso o tempo todo. Ele dizia que significava que quando se tratava de amor, você tinha que ser assertivo se quisesse ter sucesso."

Aliás, o avô ao qual Masachika se referia era seu avô pelo lado do pai, que amava a Rússia. Ele era o homem que recomendava filmes russos para Masachika quando ele era criança e a razão pela qual Masachika conseguia aprender sobre a cultura russa. Ele era um velho engraçado com mais de setenta anos que ainda sonhava em ter duas belas garotas russas, uma de cada lado, servindo-lhe vodka. O único problema era que ele não bebia, então até uma gota de vodka lhe daria uma intoxicação alcoólica aguda.

"Hmm... Bem, eu acho que faz sentido... Espera aí. E o Hikaru, então?"

"Quem nasceu amado pela própria deusa do amor não conta."

"É uma maldição, se me perguntar," respondeu Hikaru instantaneamente com uma expressão sem vida.

"Yeah, uh... Sinto que a deusa do amor é meio yandere com um estilo assustador de amor no seu caso, Hikaru," brincou Takeshi tensamente.

"As deusas costumam ser retratadas como o tipo ciumento, afinal de contas. Aposto que uma vez que Hikaru se torne completamente desconfiado das mulheres, a deusa vai descer ao mundo e dizer: 'Eu sou a única que resta agora. Eu sou a única para você.'"

"Parece mais um demônio pra mim," disse Hikaru sem emoção. "Verdade isso."

"Cara, eu não me importo se ela é um anjo ou um demônio! Só quero uma mulher me perseguindo assim!"

Masachika e Hikaru pareciam divertidos com os desejos inalterados de Takeshi. 

"Sim, mas acho perigoso esperar que alguém te persiga. Como meu avô dizia, você seria mais bem-sucedido se fosse proativo."

"Proativo, hein? ...Tudo bem! A partir de agora, vou me tornar um verdadeiro caçador e caçar algumas gatinhas!"

"Isso aí, vai com tudo," disse Masachika encorajadoramente. "Mas não se empolgue demais...," avisou Hikaru.

Masachika encorajou apenas meio de coração Takeshi porque não era problema dele o que seu amigo fazia... Mal sabia ele que aquelas palavras irresponsáveis iriam voltar para assombrá-lo em um futuro próximo.

***

"...Ufa."

Mesmo depois que Takeshi e Hikaru foram embora, Masachika continuou estudando em seu quarto para o teste do dia seguinte, mas...

"Não estou mais com vontade de estudar..."

Ele reconhecia que não estava se concentrando e logo não conseguiria mais. Nada ficava na mente. Ele apenas passava os olhos pelas palavras em seu livro didático, mesmo sabendo que não estava funcionando. Não conseguia absorver as informações que estava lendo, por mais que tentasse. Tudo o que lia quase imediatamente desaparecia. Em outras palavras, ele teve uma queda severa na eficiência.

"Oh... Já são onze."

Ele estava estudando há duas horas ou mais depois do banho, mas tinha sido um completo desperdício de tempo, já que não conseguia reter nada.

"O 'Risco Cerebral' vai começar..."

Masachika começou a sentir ansiedade, já que um de seus programas semanais favoritos estava prestes a começar.

Estou perdendo tempo me forçando a estudar quando não estou lembrando de nada. Talvez eu devesse fazer uma pausa curta e retomar os estudos depois disso?

Ele brincou com a ideia, mas se fosse se refugiar em animes, nunca mais voltaria a estudar. Até Masachika sabia disso.

Mas passar mais tempo fazendo algo não necessariamente me torna melhor nisso. Já estudei o que essencialmente estará na prova, e se revisar de manhã... Quero dizer, só considerar essas opções já é prova suficiente de que não consigo me concentrar agora...

Ele se recostou preguiçosamente em sua cadeira e inventou desculpas sem sentido até a hora do seu programa começar.

"Está começando..."

Mas Masachika nunca ligou a TV no final das contas. Depois de cinco minutos, ele encarou sua mesa mais uma vez como se tivesse desistido.

"Ah... Desde quando me tornei tão covarde?"

Ele suspirou consigo mesmo porque só depois de esperar até o anime começar é que conseguiu finalmente afastar suas dúvidas. O velho Masachika teria se esforçado pela mãe ou por aquela garota sem sentir o mínimo peso. Mas agora? Parecia que tinha esquecido o que era trabalhar duro após todos esses anos sendo covarde.

Claro, ele queria corresponder às expectativas de Alisa e Sayaka. Ele precisava se tornar um vice-presidente respeitado, para o bem de ambos... Pelo menos, esse era seu objetivo até uma semana atrás.

Mas quem se importa se minhas notas melhorarem marginalmente? Fiz esse objetivo para mim mesmo, e não fiz promessa a ninguém.

O fato de estar tendo esses pensamentos era prova de que estava perdendo motivação. Isso era o quanto ele se importava com isso. Isso era o homem que ele era.

Eu estava fazendo isso para me fazer feliz. Era por mim. Mas, bem, acho que é o ego e a auto-satisfação que nos motivam. Todo homem é seu pior inimigo, como dizem. Alya é incrível. É incrível como ela tem conseguido se manter assim por tanto tempo.

Empurrar-se interminavelmente para se tornar seu eu ideal e trabalhar em direção a um objetivo inatingível não era algo que qualquer pessoa comum pudesse fazer. Você poderia chamar isso de ambição, mas parecia um desserviço colocar a luz cegante e cintilante que Alisa tinha em uma única palavra assim.

"Nenhuma ambição aqui, no entanto... Não há nada que eu realmente queira."

Ele não estava interessado em status ou honra, dinheiro ou mulheres — não havia nada que desejasse. Tudo o que queria era continuar vivendo sua vida rotineira e relativamente pacífica, cada dia inalterado e estável. Se algo, era contra ganhar status ou honra se isso significasse perder a paz que tinha. Ele não queria arriscar ter dinheiro ou mulheres perturbando seu estilo de vida calmo também. Essa era a visão de vida de Masachika na maior parte. A razão pela qual decidiu concorrer ao conselho estudantil com Alisa, no entanto, foi porque sentia uma estranha urgência, como se não pudesse continuar vivendo assim, e não podia abandonar Alisa também.

"Mas para fazer isso, tenho que trabalhar pelo menos metade do que a Alya..." 

Masachika gemeu enquanto se esparramava sobre a mesa e esfregava a testa no livro didático. "Eu posso fazer isso... Não posso deixar que minha reputação seja o que retarda a Alya."

Masachika era atualmente um aluno com baixo desempenho na sala de aula, com comportamento ruim durante as aulas e notas ruins para acompanhar, mas ele provavelmente poderia melhorar sua reputação se melhorasse suas notas e se tornasse um dos trinta melhores alunos de seu ano — as classificações eram publicadas nos corredores.

É isso. Preciso ser o cara que dorme o tempo todo durante as aulas, mas tira boas notas. É isso que o protagonista masculino faz nos quadrinhos femininos, afinal! E sempre os faz entrar em conflito com a heroína!

Quase todo mundo preferiria ser alguém nascido com talento incrível do que alguém que trabalhou incrivelmente duro para chegar onde estão. Era meio deprimente. Pessoas que tiravam boas notas, mas não pareciam ter estudado nunca, geralmente eram mais elogiadas do que alguém que tirava boas notas porque trabalhava duro.

Que inferno? As pessoas que trabalham duro para conseguir o que têm são muito mais dignas de elogio, pensou Masachika. No entanto, não era assim que o mundo real funcionava. Além disso, ele achou que seria mais condizente com ele parecer esse tipo de pessoa. Na verdade, toda a razão pela qual ele queria usar a sala do conselho estudantil era para que ninguém o visse estudando.

"Vamos lá, cérebro. Só mais um pouco."

Depois de se encorajar pela última vez, Masachika acabou de se levantar quando, de repente, seu telefone na mesa começou a vibrar.

"Hmm? Alguém está me ligando?"

Confuso, ele pegou seu telefone vibrando e congelou instantaneamente quando viu o nome na tela.

"A-Alisa?!"

Ele ficou realmente surpreso porque achou que seria seu pai ou irmã. Alisa raramente mandava mensagens para ele, muito menos o ligava. Além disso, era de madrugada. Era tarde demais para uma estudante modelo como Alisa estar ligando.

"Ops. Parou de tocar."

O telefone parou de vibrar enquanto ele estava ocupado em pânico. A julgar pelo fato de ter parado de vibrar após apenas dez segundos, era seguro concluir que Alisa desligou... o que levaria alguém a acreditar que isso não era nada importante, mas Masachika decidiu ligar para ela de volta mesmo assim. O telefone só precisou tocar duas vezes antes que alguém atendesse prontamente.

"Ah, alô?"

"...Boa noite, Kuze."

"Yep, oi. O que foi? Você precisava de alguma coisa?"

"Não é por isso que liguei...," respondeu Alisa vagamente, e isso fez Masachika sorrir maliciosamente.

"O que? Você sentiu saudades de mim?" Ele brincou, abaixando ridiculamente a voz para parecer o mais legal possível. 

"....."

E ainda assim seu comentário foi recebido com silêncio. Ele ficou inquieto, como se pudesse sentir o olhar frio e penetrante dela, e imediatamente limpou a garganta para mudar de assunto...

"<Это проблема?>"

(Isso é um problema?)

O comentário abrupto em russo quase o deixou inconsciente, e ele caiu para a frente sobre a mesa.

"...? O que foi esse som?"

"Oh, uh... Não se preocupe com isso. Aliás, o que você acabou de dizer?" 

"Eu te chamei de idiota."

"Ah, entendi... Então... O que você precisava?"

"...Você disse que não estava motivado o suficiente para estudar sozinho, então fiquei preocupada que estivesse com problemas."

"....."

Ela acertou em cheio, deixando-o em silêncio.

"Espere. Não me diga que você estava enrolando," acrescentou Alisa, a voz escurecendo sombriamente.

"De jeito nenhum. Fiquei tentado a assistir alguns animes por um tempo, mas resisti à tentação e estou estudando agora. Estou falando sério."

"....."

Alguns segundos de silêncio duvidoso se passaram antes de serem seguidos por um suspiro breve.

"A semana de provas começa amanhã, sabe. Pensei que este seria o momento em que você estudaria mais."

"Yep, entendo, mas... desculpe. Eu não tenho absolutamente nenhuma força de vontade. Sou fraco demais."

"Eu não iria tão longe assim..."

"Só não tenho motivação para estudar mais. Tipo, como você faz isso?"

"Eu não sei. Nunca perdi minha motivação." 

"Sério? Isso é insano."

Masachika sorriu um pouco incrédulo, mas após alguns momentos de ponderação, Alisa falou e explicou calmamente:

"Se algo, sempre sinto que estou com pouco tempo. Estou sempre me perguntando se há algo que esqueci de fazer ou algo mais que poderia fazer com o tempo que tenho, então não tenho a oportunidade de me preocupar com a motivação."

“...Você realmente é incrível.”

Ela realmente era uma perfeccionista, e Masachika estava genuinamente impressionado com sua busca interminável para alcançar novos patamares. Ele até estava começando a se sentir um pouco envergonhado por ter considerado desistir e revisar pela manhã.

"De qualquer forma, acho que não devo mais te incomodar e, em vez disso, trabalhar um pouco mais como você. Obrigado pela ligação, Alya."

"Huh? Ah..."

"Hmm?"

Justo quando ele estava prestes a desligar, Masachika notou um lampejo de pânico em sua voz e aproximou o smartphone do ouvido.

"O que houve?" 

"....."

"?"

Mas o que seu ouvido curioso encontrou foi uma frase provocativa em russo...

"<Все-таки… еще рано…>"

(Ainda... é cedo…)

O sussurro fez a cabeça de Masachika recuar como se tivesse acabado de ser atingido na testa, e então seu corpo sem vida rolou para fora da cadeira. As palavras suaves entorpeceram tudo, desde o ouvido até o cérebro.

C-Como ela se atreve a sussurrar algo assim no meu ouvido! E o que ela quer dizer com "Ainda é cedo"?! Quero dizer, tenho certeza de que ela estava falando sobre ser cedo demais para desligar, mas ainda é malditamente ambíguo, e agora minha imaginação está correndo solta!!

As palavras formigavam em seu ouvido, sobrecarregando seu cérebro de nerd! Inconscientemente, ele visualizou Alisa desviando o olhar timidamente enquanto sussurrava essas palavras em várias situações.

"<Все-таки… еще рано…>"

(Ainda... é cedo…)

Ack! 

É o que a heroína diz antes de se beijarem nos filmes! O cara se aproxima para beijar, e a garota cobre a boca e diz isso! É como quando você se despede e vai para um beijo de boa noite após o terceiro encontro! ...Ah, é quando as coisas ficam um pouco estranhas entre os dois personagens principais, e um novo personagem surge de repente para mexer com as águas, como se estivessem esperando por esse momento.

"...Kuze?"

"E o novo personagem conhece um segredo do passado de um dos dois personagens principais e dá dicas de que sabe algo, mas tem segundas intenções. Você não pode confiar naqueles que parecem perfeitos e doces no início."

"...Do que você está falando?"

"Huh? Você sabe. Como, por que os estudantes transferidos geralmente são pessoas más em quadrinhos direcionados às mulheres, enquanto geralmente são garotas bonitas em quadrinhos direcionados aos homens?"

"...Bem, aprendi uma coisa hoje à noite. Você absolutamente não consegue se concentrar em estudar de jeito nenhum."

"Oh, uh... Sim."

A estranheza de perceber o que ele disse fez Masachika ficar calado. Alisa preencheu o silêncio com um suspiro breve antes de mudar o assunto:

"Ok... Se você não está se sentindo motivado, que tal fazermos uma pequena aposta?"

"Uma aposta?"

"Qual é o seu objetivo?"

"Meu objetivo? Você quer dizer para os exames?" 

"Sim."

"...Quero estar entre os trinta melhores alunos da nossa série."

"...Isso é um objetivo bastante grande. Tudo bem. Se você conseguir isso, eu vou conceder um desejo a você. Qualquer coisa que você quiser."

"Hmm? 'Qualquer coisa'?"

"...Dentro do limite do bom senso, é claro," Alisa acrescentou friamente.

"Ah, uh. Desculpe. Senti a necessidade de reagir a isso. Você sabe, sendo um nerd e tudo mais."

Masachika tentou desesperadamente se explicar enquanto seus olhos vagueavam. 

"...Não faço ideia do que você está falando. De qualquer forma, está feito?"

"Uh... E se eu não conseguir ficar entre os trinta melhores?"

"Então você terá que conceder um desejo meu." 

"...Interessante. Pode ser divertido."

"Kuze?"

"Oh, uh...! Eu não quis dizer que queria ser comandado por você ou algo assim! Só estou curioso para saber o que você pode me pedir!"

Alguns momentos de silêncio cético seguiram sua explicação, então Alisa sussurrou de repente em russo:

"<...Имя.>"

(...Primeiro nome.>)

"Huh?"

"Eu estava te dando uma dica."

"...Não é uma dica muito boa quando você diz em russo." 

"Eu sei." 

Alisa riu arrogantemente.

Na verdade, eu entendo russo, pensou Masachika, mas isso ainda não o ajudou a entender melhor a dica.

"De qualquer forma, temos um acordo?"

"S-Sim... Se eu ficar entre os trinta melhores, você vai conceder um dos meus desejos, e se eu falhar, então eu vou conceder um dos seus. Certo?"

"Isso mesmo."

"Então temos um acordo. Heh-heh-heh... Você vai se arrepender de ter feito esse acordo comigo."

"Hmph. Boa sorte."

"...Você realmente ficou bom em me dispensar assim. Você realmente deveria respeitar seus mais velhos, sabe."

"O que? Nós temos a mesma idade," respondeu Alisa como se estivesse revirando os olhos.

Masachika ficou confuso.

"Não. Podemos estar na mesma série, mas eu ainda sou mais velha que você." 

"Huh?"

"Huh?"

Sua voz perplexa tornou fácil imaginar a expressão confusa em seu rosto, o que Masachika respondeu com um grunhido perplexo próprio.

"Seu aniversário é no dia sete de novembro, certo?" Perguntou Masachika só para ter certeza.

"Sim... Como você sabia disso?"

"Você não nos contou quando se transferiu para a nossa escola? Tenho quase certeza de que lembro de ouvir você mencionar isso... Ah. De qualquer forma, meu aniversário é no dia nove de abril, o que me faz mais velho."

"....."

"Eu já tenho dezesseis anos." 

"....."

Um silêncio indescritível seguiu até que Masachika de repente limpou a garganta para disfarçar a estranheza.

"Ahem! De qualquer forma, está ficando tarde, então..."

 "...Sim."

"Obrigado, Alya."

"Não precisa me agradecer..." 

"Até amanhã." 

"Boa noite."

Depois de desligar, ele esticou os braços. 

"Mmm...! Vamos lá!"

E ele encarou seu livro didático mais uma vez, como se a ligação tivesse lhe insuflado nova vida. Sua completa falta de motivação de poucos minutos atrás parecia um sonho. No entanto, não era a aposta que ele fez com Alisa que o motivava. Apenas tê-la, alguém que tirou um tempo de sua noite para ligar para ele em vez de estudar, o fazia feliz. Ele sentia que precisava retribuir sua gentileza estudando, no mínimo.

Ainda estou surpreso por ela saber que eu estava perdendo a motivação, porém...

Embora fosse constrangedor que ela o visse tão claramente assim, isso também o deixava feliz. Chame de telepatia. Chame de uma conexão profunda. Chame do que quiser, porque seja o que for, tocou Masachika.

"Obrigado, Alya."

Ele sorriu timidamente enquanto expressava silenciosamente sua gratidão à sua parceira e começou a fazer seus preparativos finais para a prova.

***

Enquanto isso, sua parceira... 

"Estou bem... Estou bem..."

Alisa murmurava para si mesma depois de abrir a porta de seu quarto. Ela não estava fazendo nada fora do comum, no entanto. Ela estava simplesmente indo para a sala de estar pegar um pouco de água. Por que pegar um simples copo de água a deixava tão tensa e nervosa?... Tudo começou algumas horas atrás durante o jantar.

"À espreita nas sombras estão seres que estão além da compreensão humana, com poderes de monstruosidade indescritível. Esta noite, eu os convido para um mundo de horror."

Um vídeo assustador estava sendo reproduzido com uma trilha sonora assustadora, abafada pelo estático. Quando eles ligaram a TV durante o jantar, um programa sobre o paranormal (o que era bastante comum durante o verão) começou a ser exibido. Maria, que odiava horror, terminou rapidamente seu jantar e voltou para o quarto, mas a personalidade teimosa de Alisa não permitiria isso.

"Tsk. Masha é tão medrosa... Eu, porém? Isso não é nada," parecia estar dizendo Alisa enquanto terminava lentamente seu jantar e voltava calmamente para o quarto como se o programa não fosse grande coisa. Como se pode imaginar, foi apenas no meio da noite que ela começou a ficar assustada. Estava a ponto de estar com tanto medo que ela não conseguia nem andar pelo corredor escuro para pegar um copo de água.

U-Um fantasma não vai simplesmente aparecer do nada, certo?

A cabeça de Alisa estava cheia de flashbacks dos fenômenos espirituais que ela viu na TV, impedindo-a de dar outro passo fora de seu quarto. Dito isso, ela ainda não se permitiria correr pateticamente para sua família em busca de ajuda. Não mais. Depois de se preocupar muito, ela decidiu ligar para Masachika, embora percebesse o quanto era inapropriado ligar tão tarde da noite. 

Dizer que estava ligando para verificar seus estudos era apenas uma desculpa que ela inventou na hora. Enquanto uma certa pessoa atribuía timidamente a ligação à telepatia ou a uma conexão especial entre os dois, a verdade estava longe disso. Era assim que o mundo real funcionava.

"Estou bem... Ok, vamos lá!"

Depois de se animar, Alisa segurou seu telefone, com o qual acabara de falar com Masachika, no peito como um amuleto da sorte e correu para o corredor na ponta dos pés. Ela olhou diretamente à frente o tempo todo, nem mesmo olhando ao redor enquanto corria rapidamente pela sala de estar; serviu-se de um copo de água na pia, que bebeu instantaneamente; e correu de volta para o quarto.

"Ufa..."

Ela soltou um suspiro profundo de alívio depois de voltar para seu quarto bem iluminado. Mas quando o medo começou a desaparecer, revelou descontentamento. Com o que ela estava chateada? Ela estava chateada porque Masachika nunca lhe disse que era seu aniversário em abril.

"Qual é o problema dele? Eu teria pelo menos desejado feliz aniversário se ele tivesse me dito..." 

Se Masachika estivesse lá, provavelmente teria dito: "Se eu tivesse te dito que era meu aniversário, pareceria que eu estava te pressionando para me dar um presente ou celebrar comigo", mas não podia ser ajudado. Era uma diferença cultural, afinal. Enquanto era normal no Japão que amigos ou famílias organizassem festas de aniversário para seus entes queridos, era mais comum na Rússia, onde Alisa nasceu, que alguém organizasse uma festa de aniversário para si mesmo e convidasse seus amigos e família. Eles diriam algo como: "Obrigado a todos por estarem aqui hoje no meu aniversário! Comam e bebam o quanto quiserem!" Em outras palavras, não contar a Alisa sobre seu aniversário = não convidar Alisa para sua festa de aniversário = ele nem sequer a considerava uma amiga.

"E você disse que éramos amigos..."

Embora Alisa não o tenha convidado para celebrar seu aniversário no ano passado, também foi uma situação completamente diferente. Não era como se ela não quisesse convidá-lo, mas se ela só convidasse Masachika, ela nunca ouviria o fim disso. Sua família a teria provocado dia após dia, mas ela não tinha outros amigos que pudesse convidar, então desistiu.

...Eu não estava chorando. Não me deixou triste quando comparei meu aniversário com a emocionante festa de Maria. Nem um pouco. Era apenas natural que o aniversário dela fosse tão cheio de vida porque seu aniversário é na véspera de Natal. Foi por isso que seu aniversário foi mais divertido. Eu não estava inventando desculpas para me sentir melhor! Eu não estava! Sério!

"...Hmph! Seja o que for," Alisa murmurou para si mesma antes de se jogar na cama para aliviar o estresse. Ela apertou o travesseiro contra o peito enquanto enterrava o rosto nele. E então ela soltou subitamente o aperto apertado, fez um bico e sussurrou:

"...Você é um idiota."


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