Volume 1
CAPÍTULO 5: 2 ABRIL, 18H
— SINTO MUITO POR ISSO! — me desculpei em um tom atrapalhado, mas já era tarde demais.
O Rollback já havia acontecido, e agora o bêbado de rosto avermelhado que derrubei segundos atrás não estava mais em lugar nenhum. Minha consciência havia sido arrancada do festival num piscar de olhos. Olhei ao redor e logo percebi que estava em um lugar muito familiar — de pé, perto da janela do meu próprio quarto. Do outro lado do vidro, pude distinguir vagamente o som de Greensleeves.
Quase por reflexo, alcancei o celular no bolso para checar a data. A tela se acendeu, mostrando que era segunda-feira, 2 de abril, às 18h. Sentindo-me um tanto derrotado, sentei-me na cama e apertei a ponte do nariz entre os dedos.
— Bom, isso não funcionou...
No fim, eu não consegui me desculpar com o homem de meia-idade depois de derrubá-lo, muito menos sair do festival como planejava. Infelizmente, eu sabia exatamente o que aconteceria depois daquilo: ele tentaria arrumar briga comigo, mas Hayase interviria e o acalmaria, o que significava que eu não conseguiria testar minha hipótese de desconectar o passado do futuro que eu já havia experimentado. Eu deveria ter sido muito mais cuidadoso. Precisava evitar me distrair ouvindo a conversa de alguns caras aleatórios e simplesmente sair do festival como era o plano. Não deveria ter sido tão difícil assim. A única pessoa a culpar pelo meu erro era eu mesmo.
A outra possibilidade era que paradoxos temporais simplesmente não existiam no mundo real. Em outras palavras, o passado já estava gravado em pedra. Talvez nossas vidas inteiras estivessem predestinadas, e não houvesse nada que eu pudesse fazer para escapar do que o destino havia decidido para mim. Mas, se fosse esse o caso, então eu poderia dar adeus a qualquer esperança de salvar a vida de Akito.
— Nem pensar. Dane-se isso.
Cerrei os punhos, como se tentasse sufocar qualquer dúvida antes que ela pudesse criar raízes. Eu não tinha tempo nem clareza mental para ficar filosofando sobre a verdadeira natureza do tempo e do destino. Tudo o que eu sabia era que o fenômeno do Rollback acontecia quase exatamente no mesmo momento da morte de Akito, e isso não podia ser coincidência. Havia um motivo para eu estar sendo enviado de volta. Eu me recusava a acreditar que alguma força superior poderia ser cruel o suficiente para me mandar ao passado sem me dar uma chance de mudar as coisas. Só eu tinha o poder de impedir a morte de Akito. Eu precisava acreditar firmemente nisso, ou perderia completamente a vontade de continuar.
Ainda assim, aquela conversa que escutei no festival não saía da minha cabeça. Tudo aquilo sobre Akito estar afundado em dívidas ou envolvido com organizações criminosas... Eu não queria acreditar que ele chegaria a esse ponto, mas aqueles dois caras não pareciam estar brincando. Eu já não sabia mais em que acreditar.
— Não que isso realmente importe.
Independentemente do que ele estivesse envolvido, eu ainda precisava fazer tudo ao meu alcance para salvar sua vida. Depois, poderia descobrir se aquelas acusações eram verdadeiras confrontando o próprio Akito.
Levantei-me da cama para fechar as cortinas, e meu estômago roncou alto de repente. Nossa, eu preciso comer alguma coisa, pensei. Mas, ao mesmo tempo, percebi que aquilo ia além da fome normal; eu estava absolutamente faminto. Como deixei chegar a esse ponto sem me alimentar? Estranho, refleti, enquanto fechava as cortinas e acendia a luz. Um momento depois, ouvi batidas na porta.
— Entra! — gritei, e Eri entrou no quarto.
— O que foi?
— Ahm... Só queria avisar que já está quase na hora do jantar — disse ela, meio hesitante.
— Ah, beleza. Valeu por avisar — respondi, me levantando da cama para descer. Mas Eri não fez menção de sair, permanecendo parada no mesmo lugar.
— Tem mais alguma coisa? — perguntei.
Ela me encarou por um instante, pensativa, até finalmente reunir coragem para perguntar.
— Então você não tá mais bravo comigo?
— O quê? Por que eu estaria?
—- Bom, sei lá... Você meio que saiu furioso de casa depois da nossa briga ontem... Aí não voltou pra casa até hoje de manhã e, mesmo assim, só ficou trancado no quarto. Achei que ainda estivesse chateado...
Sair furioso de casa? Do que ela tá falando...?
Ah, certo. Ela devia estar se referindo à discussão que tivemos quando cheguei aqui no dia 1º de abril.
Reconstituí mentalmente a sequência dos acontecimentos: logo depois de desembarcar da balsa, fui para a casa da minha avó, briguei com Eri, saí e passei a noite em outro lugar. Então, aparentemente, voltei na manhã do dia 2, mas fiquei o dia todo no quarto até agora, quando Eri veio falar comigo. Sim, fazia sentido.
— Hm...? — A voz dela vacilou. — Viu só? Eu sabia. Você ainda tá bravo, né?
— Não, você está pensando demais. Relaxa. Na verdade, eu queria me desculpar com você. Não foi nada legal da minha parte explodir daquele jeito.
A tensão visivelmente se dissipou dos ombros de Eri, e ela soltou um suspiro de alívio.
— Bom, tudo bem então. Era só isso que eu queria dizer — disse ela, virando-se para sair pela porta.
— Ei, espera um segundo — interrompi, segurando-a pelo braço. — Na verdade, eu queria te perguntar uma coisa: você sabe onde eu estava ontem à noite?
— Não? Por que eu saberia? — Eri respondeu, erguendo uma sobrancelha com desconfiança.
— É, tá bom. Deixa pra lá então. Desculpa a pergunta estranha.
Com isso, saímos juntos para o corredor, e Eri seguiu na minha frente. Mas, quando eu estava prestes a descer para a sala de estar atrás dela, fui atingido por uma súbita onda de ansiedade. Era como se eu estivesse esquecendo algo importante. Mas o quê? Peguei meu celular e conferi a data novamente. Era segunda-feira, 2 de abril, e o relógio marcava 18h20…
— Ah, merda!
Desci as escadas correndo feito um louco e calcei meus sapatos o mais rápido que pude.
— Ei, qual é a pressa? — Eri perguntou, colocando a cabeça para fora da sala.
— Desculpa, não posso falar agora! E preciso pegar sua bicicleta emprestada! — gritei de volta enquanto batia a porta atrás de mim.
Montado na bicicleta de Eri — que eu já sabia que ela não costumava trancar — pedalei o mais rápido possível em direção à antiga tabacaria. Com tudo o que tinha acontecido nos últimos dias, quase esqueci do bilhete que deixei para mim mesmo sobre como deveria encontrar o corpo de Akito naquele terreno baldio esta noite. Obviamente, ele já estaria morto, já que a autópsia estimava que ele havia falecido logo após a meia-noite, mas eu não ia simplesmente deixar o corpo dele apodrecer ali ao relento, mesmo que não pudesse salvá-lo até o próximo Rollback. Além disso, as autoridades precisavam saber.
Após cerca de dez minutos de pedalada, cheguei ao terreno baldio. A grama alta e as ervas daninhas encobriam tudo, fazendo parecer que não havia nada de anormal ali à primeira vista. Mas, ao descer da bicicleta e começar a caminhar pelo matagal, logo avistei uma grande massa escura caída no chão mais adiante. Era o cadáver de um homem, caído de bruços.
— Akito — murmurei. Nenhuma resposta, é claro. Seu corpo imóvel parecia quase um manequim descartado. Mas sua pele pálida e sem vida foi o que, no fim, me fez aceitar que não havia mais ninguém vivendo dentro daquela casca de carne. Desviei o olhar, sentindo como se tivesse visto algo que não deveria.
Peguei o celular e disquei 119 para relatar a situação, seguindo as instruções da atendente. Assim que desliguei, abri o aplicativo de notas. Como esperado, o bilhete sobre onde e quando eu havia encontrado o corpo de Akito ainda não estava escrito, então anotei ali na hora, pensando no meu eu do passado (ou do futuro).
02/04: Encontrei o corpo de Akito às 18h30 no terreno baldio atrás da tabacaria e chamei a polícia.
Poucos minutos depois da minha ligação, os paramédicos chegaram. A partir desse ponto, tudo pareceu acontecer em velocidade acelerada. Eles me fizeram várias perguntas e verificaram os sinais vitais de Akito. Algum tempo depois, um dos paramédicos se aproximou de mim.
— Você conhecia a vítima?
— Sim, mais ou menos…
— Bom, sinto muito dizer isso, senhor, mas não há nada que possamos fazer. A polícia precisará examinar a cena, então, por favor, não vá a lugar nenhum por enquanto — explicou o paramédico educadamente antes de ligar para o departamento policial.
Cerca de cinco minutos depois, um policial da subdelegacia de Sodeshima chegou ao terreno de moto. Era um oficial mais velho, superior do patrulheiro amigável que eu conhecia bem. Lembrei que este último costumava se referir a ele como sargento.
O sargento me pediu para aguardar e seguiu para examinar o corpo. Pouco tempo depois, meu patrulheiro favorito apareceu em uma bicicleta. Era a primeira vez que o via sem seu sorriso habitual — dessa vez, ele tinha uma expressão séria e preocupada. Depois de conversar um pouco com o superior, ele veio até mim.
— Bom, eu diria que é bom te ver de novo, Funami, mas lamento que seja nessas circunstâncias — disse ele, com um olhar de pesar. — Logo vai ter uma multidão aqui. Vamos até a subdelegacia para conversarmos em particular, certo?
O policial virou-se e começou a empurrar sua bicicleta em direção à subdelegacia de Sodeshima. Levantei o descanso da bicicleta de Eri e o segui. Cerca de dez minutos depois, chegamos ao local. O policial abriu a porta e apontou para uma simples cadeira de madeira no canto da sala.
— Certo, vou ter que te fazer várias perguntas, mas é só o protocolo policial. Precisamos cobrir todas as possibilidades, sabe? Então, não leve para o lado pessoal — explicou ele, sentando-se em uma cadeira giratória à minha frente.
Ele então começou a me fazer várias perguntas muito específicas sobre como encontrei o corpo de Akito e como estava a cena quando cheguei lá. Respondi a cada uma delas com total honestidade e o máximo de detalhes possível. A única mentira que contei foi quando ele me perguntou por que eu estava passando por aquela área perto do terreno baldio — disse que foi pura coincidência. Em minha defesa, algo me dizia que dizer "Eu voltei do futuro e sabia onde o corpo estaria" seria pedir por problemas.
Quando ele terminou de me questionar sobre a descoberta, pediu que eu confirmasse meu endereço atual, número de telefone e em qual escola eu estudava.
— Certo, então... já terminamos aqui? — perguntei quando ele finalizou.
— Infelizmente, não. Temos um detetive vindo da cidade agora. Ele provavelmente vai querer te interrogar também. Pode te pressionar mais do que eu fiz, então pode demorar um pouco, só pra avisar.
— Nesse caso, você se importa se eu ligar para casa rapidinho e avisar onde estou?
— Mas é claro. Vai em frente, chefe.
Com a permissão dele, liguei para casa, e minha avó atendeu. Expliquei rapidamente a situação e disse que provavelmente só voltaria tarde. No começo, ela parecia bem preocupada, mas se acalmou um pouco quando pedi para fazer bastante comida no jantar, porque eu estaria com muita fome quando voltasse.
Pouco depois de desligar, um homem de meia-idade vestindo um terno entrou na delegacia, e o policial de patrulha se levantou imediatamente para cumprimentá-lo. Só podia ser o tal detetive que estavam esperando. Ele era um homem magro e esguio, cerca de uma cabeça mais alta que eu. À primeira vista, não parecia estar com a saúde em dia, mas seus olhos eram nitidamente afiados e perspicazes.
— Boa noite, pessoal. — Ele olhou para mim. — Você é o garoto que encontrou o corpo?
Assenti, e o detetive se apresentou brevemente antes de se sentar em uma cadeira próxima e começar a me fazer muitas das mesmas perguntas que o policial de patrulha já havia feito. Seu tom de voz também era casual, mas havia algo muito mais intimidador nele; isso me deixou muito mais nervoso.
Trocamos perguntas e respostas por um tempo, até que ele fez uma que me fez travar.
— E se me permite perguntar, por que exatamente você estava passando por aquela parte da cidade?
Eu sabia que não podia falar sobre o Rollback, então minha única opção era repetir a mesma mentira que contei ao policial.
— Só senti vontade de dar uma volta de bicicleta por aquela rua, senhor — respondi. — Acabei encontrando o corpo por pura coincidência.
— Mas o corpo estava bem lá no fundo, escondido atrás de um monte de mato, não? Você deve ter uma visão excelente para ter conseguido notar algo assim enquanto passava de bicicleta.
— Bom, é verdade... Mas acho que eu estava pedalando devagar.
— Ah, entendi. Pedalando devagar, né? Certo — disse o detetive, estreitando os olhos. — Então, você mencionou ao meu colega que conhecia o Sr. Hoshina. Isso está correto? Ele era seu amigo? Qual era sua opinião geral sobre ele?
— Bom, não sei se diria que éramos amigos, mas… sempre tive uma opinião muito alta sobre ele. Quando criança, eu o admirava muito.
— E, no entanto, você não parece muito abalado com a morte dele. Por quê?
— Estou sim, senhor. Pode acreditar.
— Então você está me dizendo que saiu aleatoriamente de bicicleta, passou aleatoriamente por aquele terreno baldio e, por acaso, notou o corpo do Sr. Hoshina — estou certo?
Seus olhos negros e minúsculos me analisavam com suspeita. Senti um suor frio começando a escorrer pelas minhas costas. Por dentro, eu estava tremendo, mas, de alguma forma, consegui me controlar e assenti.
— Está correto, senhor.
Seguiu-se um longo silêncio. Nenhum de nós disse uma palavra. Mas eu me recusei a me incriminar mais do que isso, e, felizmente, o detetive cedeu e quebrou o silêncio primeiro.
— Certo, vamos continuar...
Ele retomou o interrogatório como se nada tivesse acontecido. Quando finalmente terminou, perguntou sobre meus planos para os próximos dias e disse que a polícia poderia passar na minha casa para mais perguntas. Talvez até me chamassem para prestar depoimento na delegacia central, se necessário. Respondi que entendia, mas, para ser sincero, naquele ponto eu já não estava mais prestando atenção direito.
Quando finalmente me deixaram ir embora, já eram nove horas da noite.
Apesar de estar morrendo de fome algumas horas atrás, agora que estava em casa, com um prato de comida quente na minha frente, eu simplesmente não conseguia ter apetite. Provavelmente porque a imagem do corpo sem vida de Akito não saía da minha cabeça.
Tanto Eri quanto minha avó evitaram me perguntar qualquer coisa sobre o ocorrido, mas dava para ver pela expressão e pelo tom de voz que estavam morrendo de curiosidade. E, para ser justo, elas tinham o direito de saber. Mas eu não estava no clima para falar, então tomei um banho rápido e me tranquei no quarto.
Me senti mal ao perceber que praticamente não passei tempo com minha família essa semana. Ou eu estava fora, ou trancado no quarto o tempo todo. Mas, se elas soubessem o que eu estava passando, tenho certeza de que entenderiam.
Me enfiei debaixo das cobertas e fiquei olhando para o teto, onde quase conseguia ver uma imagem fraca do rosto da Akari. A essa altura, ela provavelmente já tinha ouvido a notícia sobre a morte de Akito. Provavelmente estava em choque, com as mãos no rosto, tremendo de incredulidade.
Eu estava preocupado com ela, obviamente, mas decidi deixá-la quieta por enquanto. Em situações como essa, as pessoas geralmente precisam de um tempo para processar tudo antes de conseguirem falar sobre o assunto com alguém.
Eu bocejei. Ainda era um pouco cedo, mas já me sentia pronto para me deitar.
Então, meu celular tocou. Era meu pai. Minha mente voltou ao dia em que saí correndo de casa depois de discutir com ele, e essa lembrança negativa me deixou hesitante em atender. Ainda assim, eu sabia que ignorá-lo só me causaria mais problemas a longo prazo, então atendi com relutância.
— Alô?
— Fiquei sabendo que você se envolveu em um incidente. Isso é verdade?
Sem introdução, sem rodeios — ele foi direto ao ponto. Imaginei que minha avó devia ter contado a ele sobre o que aconteceu com Akito.
— Isso é um pouco exagerado, pai. Me chamaram só para responder algumas perguntas e foi isso. Foi um acidente, não um assassinato.
— Então você realmente encontrou um corpo, né...? — Meu pai suspirou cansado. — Triste ver como Sodeshima se tornou um lugar tão perigoso e decadente. Corpos simplesmente jogados pelas ruas…
Isso me irritou um pouco. Eu concordava que Sodeshima tinha decaído nos últimos anos, mas dava para perceber que meu pai estava apenas procurando um pretexto para falar mal da ilha e de seus moradores. Ele adorava agir como se todos ali fossem um bando de caipiras atrasados.
Não ia deixar isso passar.
— Isso não tem nada a ver com o tipo de lugar que é, pai. Foi só uma sucessão de eventos infelizes, simples assim.
— Você diz isso agora, mas eu estou te dizendo...
— Tóquio também não é tão segura assim, sabia? Em cidades grandes como essa, tem muitas áreas que estão longe de serem ideais.
— É, acho que isso é verdade. Bom ponto, filho.
Isso me pegou de surpresa. Meu pai quase nunca reconhecia valor no que eu dizia sobre questões sociais e afins. Achei que talvez ele estivesse se sentindo um pouco culpado pelas coisas que gritou comigo antes de eu sair de casa, mas logo percebi que, na verdade, ele só queria mudar de assunto.
— Enfim, chega disso. Agora escuta. Quero você de volta aqui em Tóquio o mais rápido possível.
Eu gemi. Claro que essa era a verdadeira razão pela qual ele ligou.
— Sim, pai. Eu volto antes do fim das férias de primavera, não se preocupe.
— É bom mesmo. Aliás, espero que você esteja fazendo sua lição de casa das férias.
Meu coração afundou. Quando fugi, quis esquecer completamente qualquer coisa relacionada à escola, então nem coloquei os deveres na minha mochila. Eu teria que terminar tudo correndo quando voltasse para Tóquio ou entregar com um pouco de atraso. Mas não podia dizer isso para ele.
— Sim, tá tudo sob controle. Para de se preocupar tanto.
— Parar de me preocupar? Essa é boa, considerando que—
Eu senti que uma bronca estava vindo, então desliguei o telefone. Provavelmente foi a melhor decisão. Ainda assim, a ideia de ter que fazer dever de casa quando voltasse para Tóquio não era nada animadora. Depois, o ano letivo começaria de novo, e eu teria que estudar para matérias mais difíceis, com provas mais complicadas... Só de pensar nessa sequência interminável de trabalho árduo, já me sentia exausto. Mergulhei de cara no travesseiro, tentando afastar esses pensamentos antes que me deixassem deprimido demais.
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3 de abril, 10h da manhã.
Saí da cama e abri as cortinas. Outro dia lindo. Pensando bem, não tinha havido um único dia nublado desde que cheguei à ilha. Um tempo assim me dava vontade de sair para uma caminhada na montanha ou algo do tipo, mas eu sabia que tinha trabalho a fazer. Este era meu último dia para entender o que aconteceu e decidir o que fazer na noite de 1º de abril — porque, em apenas oito horas, às seis da noite, eu finalmente voltaria para lá. Para a noite da morte de Akito.
De certa forma, essas próximas oito horas seriam como a última etapa de preparação antes do grande dia. Eu queria estar o mais preparado possível para salvar Akito. Dito isso, eu já sabia o horário aproximado da morte dele, onde aconteceu e o que ele estava fazendo antes disso. Precisava pensar em outras coisas que ainda precisava resolver... Ah, certo. Eu tinha que anotar o restante das informações no meu aplicativo de notas. Não porque eu fosse esquecê-las, mas para que meu eu do futuro pudesse consultá-las depois. Peguei o celular e abri a nota em questão, adicionando os dois últimos tópicos abaixo do que já havia escrito ontem.
Estimativa de horário da morte: entre meia-noite e 2h da manhã.
Estava bebendo bastante naquela noite na Taverna Asuka, das 21h à meia-noite.
Pronto — isso deveria bastar. Eu não tinha certeza se escrevi exatamente da mesma forma que tinha visto originalmente, mas devia estar perto o suficiente.
Enquanto fechava o aplicativo e travava o telefone, um pensamento me veio à mente.
— Ah, é. Eu tinha que perguntar sobre isso no bar...
Eu já tinha tentado ir lá no dia 5 para ver o que podiam me dizer sobre Akito, mas o lugar estava fechado. Precisava resolver isso antes do próximo Rollback, ou não teria como saber se as anotações que fiz agora estavam corretas.
Lembrei que a Taverna Asuka costumava abrir às cinco da tarde na maioria dos dias, o que me deixaria com uma hora antes do próximo Rollback acontecer. Tempo de sobra para fazer algumas perguntas; nada de pressa.
Decidi tirar o dia para relaxar um pouco e me preparar mentalmente para o 1º de abril.
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Olhei para o meu celular — eram 16h30 — e o guardei de volta no bolso. Peguei a maçaneta da porta deslizante da Taverna Asuka, puxei para o lado, e ela se abriu com um rangido. O bar só abriria dali a trinta minutos, mas imaginei que poderia haver alguém por lá mais cedo para preparar tudo para a noite.
Entrei. Era um lugar aconchegante, com apenas umas cinco mesas além dos assentos no balcão. Ao ouvir minha entrada, um senhor mais velho, vestindo uma blusa estilo kimono leve e calças largas, saiu apressado da cozinha para me receber. Presumindo que ele fosse o dono do estabelecimento, pedi desculpas pela intromissão e expliquei o motivo da minha visita.
— Eu só queria fazer algumas perguntas, se não for incômodo…
— Perguntas? — ele repetiu. — Olha, garoto, eu preciso me preparar para abrir às cinco.
— Não vai demorar, eu prometo. Por favor, me escute — implorei, inclinando a cabeça em sinal de respeito.
— Tá bom, tá bom. Mas seja rápido — respondeu impaciente, então fui direto ao ponto.
— Bem, é sobre Akito Hoshina…
Na mesma hora, o homem franziu o cenho e sua voz ficou mais grave e sombria.
— Você era amigo do Akito, garoto?
— Sim… — gaguejei, sem muita convicção.
Ele me olhou de cima a baixo e resmungou.
— Bom, com certeza não te reconheço. — Virando-se de costas para mim, ele continuou. — Desculpa, mas já respondi um monte de perguntas para a polícia e não estou a fim de falar sobre isso de novo. Vou ter que te pedir para sair.
— Espera um minuto! — exclamei enquanto ele se afastava. — Só uma ou duas perguntas, eu juro!
O homem se recusou a me ouvir e desapareceu de volta na cozinha. O que foi essa mudança repentina de atitude? No momento em que mencionei o nome de Akito, parecia que ele se fechou completamente. Talvez ainda estivesse abalado com a morte de um cliente frequente como Akito, e por isso ficou irritado ao ver um estranho fazendo perguntas sobre ele. Se esse fosse o caso, eu não iria desistir agora. Eu não era apenas um curioso qualquer; a morte de Akito me afetara tanto quanto o afetou.
Saí do bar temporariamente, esperei do lado de fora até que o horário oficial de funcionamento começasse e, assim que deu cinco horas, entrei novamente.
— Ei, entre e... Ah, é você de novo. Você não tem nada melhor para fazer, garoto? — disse o dono, já visivelmente irritado ao me ver de novo.
Mantive a compostura e fui direto até o balcão, sentando-me bem à sua frente.
— Nada de falar sobre o Akito desta vez, senhor — afirmei. — Estou aqui como cliente. Um chá oolong gelado, por favor.
Fiquei feliz por ter trazido minha carteira — a única questão agora era por quanto tempo eu conseguiria manter essa farsa. O homem suspirou e silenciosamente serviu meu chá gelado em uma caneca de cerveja, colocando-a com um baque no balcão à minha frente. Peguei a caneca pela alça e bebi tudo de uma só vez, tão rápido que nem consegui sentir o gosto. O líquido apenas desceu direto para o meu estômago. Eu nem estava com sede para começo de conversa.
O dono do bar me observou em silêncio, surpreso, enquanto eu batia a caneca vazia no balcão.
— Me dá outra — pedi.
O homem franziu o cenho, mas me serviu um refil do mesmo jeito, embora me observasse com desconfiança. Ele colocou a nova caneca à minha frente, e eu virei tudo de uma vez de novo. Dessa vez, foi bem mais difícil e demorei quase o dobro do tempo para engolir tudo. Bati a caneca no balcão mais uma vez.
— Mais uma… — soltei um arroto.
— Certo, certo. Não vá se machucar, garoto — disse ele, coçando a cabeça com um suspiro pesado. — O que você quer saber, afinal?
Ufa, ele cedeu. Agradeci mentalmente por não ter entornado duas canecas inteiras à toa. Segurei outro arroto enquanto meu estômago ameaçava rejeitar todo o líquido e, enfim, fiz a pergunta que me trouxera ali.
— O Akito estava aqui na noite de primeiro de abril?
— Sim, estava. Chegou por volta das nove e ficou até meia-noite. Passou a noite toda bebendo sozinho. Não sei dizer se eram exatamente nove horas quando ele chegou, mas tenho certeza de que saiu à meia-noite, porque é quando sempre fechamos. Tive que mandá-lo embora para poder ir para casa — explicou o homem.
Então, sua expressão ficou sombria.
— Provavelmente teria tentado falar com ele se soubesse que as coisas iam terminar assim… Mas acho que é fácil falar depois que já aconteceu, né?
Agora entendi por que ele estava tão relutante em falar comigo. Ele provavelmente se sentia culpado por ter servido tanta bebida ao Akito.
Me senti mal por perguntar, mas pelo menos agora eu tinha certeza de onde ele esteve e a que horas. Com isso, já deveria ter informações suficientes para salvar a vida dele. Decidi não insistir com mais perguntas.
— Obrigado por responder, senhor. Era só isso que eu precisava saber.
Olhei para o cardápio pendurado na parede e vi que o chá oolong custava trezentos ienes, impostos inclusos. Um preço salgado, mas, mesmo assim, fui até o caixa e entreguei seiscentos ienes ao homem.
— Trezentos ienes já está bom — ele disse. — Eu sei que você não queria beber aquele segundo.
— Espera, mas — eu protestei, mas o homem já havia registrado apenas um copo. Ele era uma boa pessoa, dava para perceber. Eu também não estava exatamente nadando em dinheiro, então aceitei sua gentileza e agradeci de verdade.
— Não mencione isso — ele disse. — Digo, o que são trezentos ienes a mais, né? Isso não é nada comparado à enorme conta que seu amigo Akito acumulou aqui.
— Hã? — eu congelei. Akito tinha uma conta pendente aqui?
— Aqui está o seu troco, garoto. Tenha uma boa noite.
— Desculpa, só uma coisa... Você disse que o Akito tinha uma conta pendente no bar?
— Ah, pode apostar que sim. Odeio falar mal dos falecidos, mas, rapaz, aquele cara adorava me enrolar. A mesma coisa aconteceu na noite em que ele morreu, na verdade; disse que era hora de pagar, e ele meio que me ignorou. Então insisti, dessa vez com mais firmeza, e ele simplesmente explodiu, agindo como se eu estivesse dizendo que ele não tinha como pagar, etc. Tive que me esforçar para acalmá-lo.
— Sério...?
Isso foi um choque para mim. Eu nunca imaginaria Akito agindo assim, nem nos meus sonhos mais loucos. Se ele realmente tinha contas pendentes desse jeito, como aqueles caras no festival estavam fofocando, talvez os boatos sobre ele estar envolvido com organizações duvidosas não fossem apenas especulação.
— Ah, ei! Seja bem-vindo! — o dono chamou por cima do meu ombro. Virei-me e vi que um novo cliente havia entrado. Percebendo que era minha deixa para sair de cena, agradeci educadamente pela ajuda e deixei o estabelecimento.
O sol já começava a se pôr no céu ocidental. Dentro de uma hora, provavelmente já estaria escuro. Agora faltavam apenas trinta minutos para o próximo Rollback, mas eu já tinha praticamente todas as informações necessárias para salvar Akito. Quando eu voltasse para às 18h do dia 1º de abril, saberia exatamente o que fazer.
Era bem simples, na verdade: eu me posicionaria do lado de fora da Taverna Asuka antes das nove e esperaria Akito chegar, depois o convenceria a não beber naquela noite de qualquer forma possível. Isso era tudo. Não via espaço para erro... exceto pelas novas e um tanto preocupantes revelações sobre seu caráter.
Akito sempre foi muito orgulhoso e competitivo, mas, no fundo, eu o via como uma boa pessoa. Pelo menos até ouvir o que o dono do bar disse. Talvez minha impressão dele estivesse desatualizada há muito tempo.
Eu até poderia descartar isso como um exagero se não fosse pelo que Hayase me contou no Festival da Fortuna do Oceano: que a mudança de personalidade dele coincidiu com uma lesão séria no ombro. Essa era uma das coisas que ainda permaneciam um completo mistério para mim. Como ele se machucou? E como isso o afetou? Eu precisava descobrir a verdade.
Se ao menos eu pudesse falar com Hayase rapidamente... então percebi que poderia conseguir uma explicação igualmente boa com a irmã mais nova de Akito. Peguei o celular e liguei para Akari... mas ela não atendeu. Talvez estivesse ocupada ajudando a mãe com os preparativos do funeral ou algo assim.
Parecia que tentar contatar Hayase era minha única opção.
Infelizmente, eu não tinha seu número de telefone e restavam menos de trinta minutos para o próximo Rollback. Eu sabia onde ficava a loja de bebidas da família dela, mas chegar lá a tempo era outra história. Talvez eu pudesse procurar o telefone da loja na internet e...
...Não, espera um minuto.
Lembrei-me do Rollback anterior. Hayase provavelmente não estaria na loja agora. Ela estaria passeando com seu cachorro no Parque Central. E eu sabia disso porque acordei lá no meio de uma conversa com ela.
Se eu corresse o mais rápido possível, levaria no máximo dez minutos para chegar ao parque. Embora isso significasse seguir exatamente o que o destino queria de mim de novo, era crucial que eu conseguisse falar com Hayase. Então, disparei em direção ao parque.
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Como previsto, cheguei ao Parque Central em menos de dez minutos. Olhei ao redor e vi uma jovem passeando com um Shiba Inu logo na entrada. Como esperado, era Hayase.
Chamei seu nome do outro lado do parque, e ela se virou para me olhar. Corri até ela, tomei um momento para recuperar o fôlego e fui direto ao ponto.
— Escuta, eu... preciso te perguntar uma coisa — ofeguei.
— Ok? Tudo bem, mas... Você tá bem aí, cara? — ela perguntou, recuando alguns passos. Não a culpei. Imagine ser abordada do nada por um cara esbaforido e com cara de desespero. Tentei me recompor um pouco mais antes de continuar.
— Queria te fazer algumas perguntas sobre o Akito — disse.
— Espera. Akito Hoshina? — ela confirmou.
— Sim. Você poderia me contar como ele mudou depois da lesão no ombro?
Ela congelou; vi o canto da sua boca tremer ligeiramente.
— Desculpa, mas não — ela disse. — Eu nem sei quem você é, e realmente não tô a fim de pensar nessas coisas agora. Pergunta pra outra pessoa.
— Espera, mas — eu tentei insistir, mas Hayase já tinha virado as costas e continuado seu passeio com o cachorro.
Eu não tinha tempo para encontrar outra pessoa a quem perguntar, não com o Rollback se aproximando rapidamente. Então corri para a frente dela, bloqueando seu caminho, e me curvei.
— Por favor! Não vai demorar, eu prometo.
— Não significa não, garoto — ela respondeu secamente.
Suplicar não ia adiantar nada. Eu precisava de alguma moeda de troca...
Espera, eu sei exatamente como convencê-la! Como fui tão burro?!
— Você não está com um problema agora mesmo? — perguntei, em tom sugestivo. — Ouvi dizer que tá sem gente para ajudar no seu estande este ano.
— Como você sabe disso? — ela respondeu, seus olhos arregalados de surpresa genuína.
— Apenas algo que ouvi por aí. De qualquer forma, aqui está minha oferta: você responde algumas perguntas sobre Akito para mim, e eu ajudo no seu estande amanhã. Posso ser seu faz-tudo ou fazer o que precisar. Feliz em trabalhar do amanhecer até... bem, pelo menos o começo da noite.
Hayase me observou com desconfiança por um tempo. Então, depois de ponderar um pouco, começou a me fazer uma entrevista improvisada.
— Qual é o seu nome? E exatamente quantos anos você tem?
— Kanae. Kanae Funami. E tenho dezessete anos.
— E como exatamente você conhecia o Akito?
— Ele era... meu herói antigamente. Uma vez, até me salvou de um grupo de garotos mais velhos que estavam me intimidando.
— Ah, é mesmo? — ela murmurou enquanto continuava a me avaliar. Finalmente, depois de um silêncio agonizantemente constrangedor, ela assentiu, como se dissesse que eu havia passado na inspeção.
— Então você vai mesmo ajudar no nosso estande amanhã, né?
— Sim, senhora.
— Vai ser um trabalho pesado, sabe. E eu não posso te pagar nada por isso.
— Por mim, tudo bem.
— Certo, então. Parece que temos um acordo. Vamos sentar — ela disse, caminhando até um banco próximo no parque. Finalmente, parecia disposta a conversar. Agradeci imensamente e a segui. Sentei-me ao lado dela e fui direto ao ponto.
— Então, exatamente quando o Akito machucou o ombro? — perguntei.
— Acho que foi em setembro do nosso último ano — ela recordou. — Foi bem no final do verão, logo depois que voltamos do campeonato nacional em Koshien.
Se Akito estava no último ano, então... eu devia estar no nono ano. Provavelmente estava muito ocupado me preparando para o vestibular do ensino médio em Tóquio para prestar atenção em qualquer outra coisa, o que explicaria por que nunca ouvi falar disso na época.
— De qualquer forma, lembro que ele caiu durante um treino um dia, segurando o ombro de dor. No dia seguinte, descobrimos que ele tinha causado um dano permanente. Disseram que foi provavelmente por uso excessivo e que a inflamação estava tão grave que ele provavelmente teria que parar de jogar beisebol de vez... O time inteiro ficou devastado com a notícia, pode acreditar.
— Nossa. Foi tão sério assim?
— Sim, ninguém conseguia acreditar. Mas, obviamente, foi o Akito quem recebeu a notícia da pior forma. Ele sempre foi extremamente cuidadoso, sempre se alongava antes dos treinos e tudo mais, porque realmente queria chegar às grandes ligas. Ele até estava sendo sondado por alguns times e adorava falar sem parar sobre qual escolheria se pudesse escolher qualquer um. Então acho que isso o atingiu muito, muito forte. E, bem... o fato de que ele dedicou tantos anos para aprimorar seu jogo só tornou tudo ainda mais cruel.
Nesse momento, a expressão de Hayase ficou sombria.
— No começo, ele tentou fingir que não ligava. Foi difícil de assistir. Mas quando o inverno chegou... foi aí que ele realmente começou a perder o controle. Ele sempre foi meio esquentado, mas agora estava completamente violento. Se ouvisse que alguém estava falando mal dele, simplesmente ia até a pessoa e socava o rosto dela, sem nem pensar duas vezes. As pessoas tinham medo dele. Ninguém queria nem mencionar seu nome, com medo de que ele interpretasse errado.
Essa conversa estava começando a me deixar deprimido. Akito vinha se dedicando ao beisebol profissional desde que eu estava no ensino fundamental. Eu só podia imaginar o quão devastador foi para ele saber que nunca mais poderia vestir a luva de arremessador. Por mais trágico que fosse, eu conseguia entender como isso poderia levar alguém à violência. Apertando os joelhos com as mãos, fiz minha próxima pergunta.
— Também ouvi rumores de que o Akito se envolveu com gente duvidosa no continente. Há alguma verdade nisso?
— Ah, sim... Já ouvi esses rumores também. Honestamente, não sei se são verdadeiros ou não, mas digamos que eu não ficaria surpresa. Mesmo no colégio, ele tinha o péssimo hábito de pegar dinheiro emprestado dos colegas e nunca devolver.
— Nossa. Tenho que admitir, é difícil imaginar isso.
Hayase soltou um suspiro pesado.
— Sim, eu realmente não sei o que aconteceu com ele — disse ela. — Ele começou a tomar uma decisão estúpida atrás da outra, até que, eventualmente... isso o matou.
Havia um forte tom de arrependimento na voz dela, e eu não sabia o que dizer. Talvez isso fosse algo bom, pois ela continuou falando para preencher o silêncio. Era como se estivesse em um confessionário ou algo assim.
— Eu também sempre admirei o Akito, sabia? — ela continuou. — Desde que estávamos no fundamental. Lembro que costumava levar bebidas esportivas e fatias de limão para ele no banco de reservas, só para chamar sua atenção. Isso foi muito antes de eu ser a gerente do time, aliás. Sempre o acompanhava quando ele viajava para grandes torneios, mesmo naquela época. E aí, no ensino médio, finalmente tive coragem de me declarar para ele. Nos tornamos namorados, e as coisas foram ótimas... por um tempo.
Hayase pressionou uma das mãos contra a testa.
— Mas no momento em que ele machucou o ombro e não pôde mais jogar, eu não sabia mais como interagir com ele. Era como se ele tivesse se tornado uma pessoa totalmente diferente, e comecei a ter medo... No fim, tive que me afastar dele, como todo mundo.
Tudo o que eu podia fazer era sentar e ouvi-la. Sabia que o Rollback aconteceria a qualquer momento, mas não conseguia interrompê-la no meio desse desabafo sincero, não importavam as circunstâncias.
— Eu também não conseguia simplesmente virar as costas para ele, sabe? Mesmo naquela época. Quer dizer, era muito difícil ver o cara que eu sempre admirei e por quem tive uma queda crescer e acabar reduzido a um desastre miserável... Então, outro dia, tomei coragem e perguntei se ele queria ajudar na barraca do festival da minha família este ano. No começo, ele resmungou e reclamou um pouco, mas não consigo descrever a felicidade que senti quando ele finalmente disse sim. Quero dizer, eu não esperava que ele voltasse a ser o velho Akito de antes, mas isso me fez pensar que ainda poderia haver alguma esperança para ele... Então, o fato de ele ter morrido bem antes do festival? Parecia que o universo estava pregando uma peça cruel em mim. Mas, pensando bem, não havia garantia de que ele realmente mudaria, certo? Algumas pessoas podem até dizer que foi melhor ele ter partido antes de fazer algo verdadeiramente imperdoável. Pelo menos, não tivemos que vê-lo se tornar um criminoso de verdade, entende?
— Ei, não diga isso — interrompi, balançando a cabeça. Não importava o quanto Akito tivesse se desviado do caminho certo, ele não merecia morrer por isso. Hayase me lançou um olhar sombrio por um instante antes de virar o rosto bruscamente para encarar o vazio à sua frente.
— É, acho que você tem razão — ela admitiu. — Ninguém merece morrer tão jovem. Mas, cara, com todos os boatos horríveis que ouvi sobre ele... é difícil sentir muita pena, entende? Quer dizer, além das coisas que já conversamos. Ele estava cheio de dívidas, se envolvendo com organizações criminosas e tudo mais. Mas alguns dos outros rumores são ainda mais perturbadores. Tipo, por exemplo… Ouvi dizer que ele estava abusando fisicamente da irmãzinha dele, a Akari-chan.
— O quê?
As palavras dela quase passaram direto por mim. Elas ecoavam na minha mente, mas eu não conseguia compreendê-las. Meu cérebro entendia o significado de cada palavra individualmente, mas se recusava a aceitar o que elas significavam juntas, naquela ordem específica.
— Desculpa, você disse que ele estava...
...batendo na irmã? Tentei perguntar, mas antes que pudesse terminar a frase, fui interrompido pela melodia estática e distorcida de Greensleeves saindo de um alto-falante próximo. Isso só amplificou minha ansiedade. Akito não poderia estar machucando Akari, certo...? Eu me recusava a acreditar. Tinha que ser um boato, alguma piada doentia inventada por alguém que nunca gostou dele. Mas, se por acaso fosse verdade, eu...
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