Volume 1

CAPÍTULO 4: 3 ABRIL, 18H

DROGA, ESTOU SEM TEMPO!, pensei comigo mesmo — mas o Rollback já havia ocorrido, e o policial com quem eu estava conversando um instante atrás não estava mais em lugar nenhum. No lugar dele, vi um grupo de crianças brincando, balançando nos balanços e construindo grandes montes em uma caixa de areia enorme. Isso era claramente um parque — e não o da parte abandonada da cidade, mas sim o Central Park, onde eu tinha me encontrado com Akari na noite anterior.

Eu estava sentado em um banco ao lado do caminho principal. Atrás de mim, ainda dava para ouvir Greensleeves, mas a melodia estava bem mais alta do que antes do Rollback. Se o fenômeno estivesse seguindo o mesmo padrão, então aquilo era terça-feira, 3 de abril, às 18h. Eu tinha voltado ainda mais no passado, mas uma frase dita pelo policial ainda ecoava nos meus ouvidos:

— Vocês estavam por aí até tarde no domingo à noite também, não estavam?

Domingo teria sido 1º de abril, mas eu não tinha visto Akari naquela noite — ela mesma me disse isso — o que contradiz diretamente o testemunho do policial. Talvez ele tenha se confundido naquela noite… ou talvez Akari tenha se enganado. Eu precisava desvendar esse mistério, mas antes de qualquer coisa, tinha que me situar. Depois de confirmar minha localização, estendi a mão para pegar o celular e conferir a hora…

— Pois é, como eu disse, eu realmente não sei o que aconteceu com ele…

…Foi então que notei a mulher sentada ao meu lado. Era uma jovem magra, com uns vinte anos, cabelo longo tingido de loiro e alguns piercings na orelha. Ela segurava uma guia presa à coleira de um Shiba Inu que descansava aos pés do banco. Devia ter parado ali para descansar enquanto passeava com o cachorro.

Eu a reconheci de algum lugar — era a mesma mulher que me resgatou daquele bêbado furioso no Festival Ocean’s Bounty. Mas o estranho era que eu sentia que a conhecia de muito antes disso. Quem era ela? Continuei encarando seu perfil, tentando lembrar, até que, finalmente, um nome me veio à cabeça.

— Espera aí… Hayase?

— Sim? O que foi? — Ela se virou para me encarar.

Agora que eu pude ver seu rosto de frente, tinha certeza. Ela era Saki Hayase, a namorada de Akito no ensino médio e gerente do time de beisebol. A mudança na cor do cabelo tinha me confundido no começo, mas não havia dúvida.

A questão era: por que, diabos, nós dois estávamos sentados juntos em um banco no parque? Sobre o que estávamos conversando? Nós nunca tínhamos interagido antes.

— Hum, oi? Você queria me perguntar alguma coisa, ou…? — ela disse, impaciente, franzindo a testa.

— Ah… Não, desculpa. Esquece.

— Por que ficou tão esquisito de repente? Se tem algo na sua cabeça, manda logo.

Ela estava sendo bem amigável — e, pelo jeito como me salvou no festival, eu já sabia que provavelmente era uma boa pessoa, mesmo que agora parecesse uma roqueira rebelde. Como eu já estava cansado de ficar andando em círculos tentando evitar suspeitas, resolvi perguntar direto.

— Desculpa, mas pode me lembrar sobre o que estávamos falando?

— Quê? Sério? Você fez a pergunta e nem prestou atenção na resposta? Estávamos falando sobre o Akito, lembra?

Estávamos? Será que estávamos relembrando histórias sobre ele? Era difícil acreditar que eu teria procurado uma ex-namorada dele para conversar sobre isso, mas eu não fazia ideia do que eu mesmo tinha em mente. Mais do que tudo, eu queria saber o que exatamente ela tinha acabado de me contar.

— Certo, certo. E o que você estava dizendo sobre ele, mesmo?

Não achei que perguntar isso seria um problema, mas, para minha surpresa, a expressão da Hayase mudou instantaneamente. Todo o sentimento esvaiu-se de seu rosto, e seu olhar ficou afiado como lâminas.

— Você vai mesmo me fazer repetir tudo aquilo? — Ela falou com uma irritação contida na voz. Seu tom firme foi o suficiente para eu recuar rapidamente.

— N-Não, tudo bem. Acho que entendi o essencial. Desculpa por ser irritante… — Inclinei a cabeça em um pedido de desculpas.

Felizmente, a expressão dela suavizou um pouco depois disso. Ela se recostou no banco como se tivesse acabado de correr uma maratona.

— É que… não é um assunto muito agradável, sabe? Preferia não falar mais sobre isso.

Agora eu estava realmente curioso. Por que os Rollbacks sempre aconteciam no meio de momentos e conversas importantes? Eu queria que meu eu do futuro tivesse me deixado uma nota avisando para tentar estar sozinho em um lugar tranquilo sempre que desse seis horas. Com sorte, pelo menos dessa vez eu lembraria de fazer isso no futuro.

— Mmnngh! — Hayase gemeu, alongando os braços acima da cabeça. — Certo, acho que já falamos o suficiente por hoje. E não se esqueça, tá? Vou esperar você amanhã cedinho!

— Espera. A gente combinou alguma coisa? — Perguntei, genuinamente confuso.

— Ué, sim? — ela assentiu. Estava claro que começava a questionar minha memória de curto prazo, mas, felizmente, resolveu me refrescar a memória mesmo assim. — Você se ofereceu para ajudar no festival, lembra? A loja de bebidas da minha família sempre monta um estande grande por lá, do nascer ao pôr do sol. O problema é que estamos com pouca gente este ano… mas você disse que já sabia disso, e por isso se ofereceu para ajudar. É o único motivo pelo qual estou aqui conversando com você agora. Pronto, refrescou sua memória?

Espera aí… Eeeespera aí. As peças começaram a se encaixar. Eri mencionou que eu estava ajudando em um estande no festival no último Rollback. Deve ser disso que ela estava falando.

Mas por que, exatamente, eu tinha me oferecido para ajudar no festival? Isso parecia extremamente fora do meu perfil, ainda mais considerando que eu já estava atolado em um fenômeno sobrenatural.

— Desculpa, só para confirmar: eu me ofereci para ajudar vocês?

— Sim? É o que eu estou dizendo o tempo todo — Hayase respondeu.

Ela parecia bem desconfiada do meu comportamento a essa altura, mas, para mim, não parecia que ela estava mentindo sobre nada do que disse. Só podia supor que eu realmente tinha me oferecido para ajudá-la, o que parecia algo irresponsável da minha parte, considerando que a vida de Akito estava em jogo... mas agora não tinha muito o que fazer. Talvez eu até conseguisse descobrir algo sobre o que conversamos aqui no parque enquanto a ajudava amanhã.

— Certo, claro. Agora eu me lembrei. Nos vemos amanhã, então.

— Ah, que alívio! Por um momento, comecei a achar que você tinha batido a cabeça e esquecido tudo! Ahahaha!

Hayase me deu um tapa nas costas com força, e eu realmente senti a dor. O cachorrinho aos pés dela latiu, se levantou e começou a balançar o rabo impaciente, pronto para continuar o passeio. Hayase entendeu o recado e se levantou do banco, virando-se para mim.

— Certo! Te vejo no terreno do templo amanhã de manhã, às seis em ponto! Vista algo que não se importe de sujar, e não se atrase!

Espera, ela disse seis da manhã?! Cara, talvez eu devesse ter fingido Alzheimer para escapar dessa…

Depois de me despedir da Hayase, voltei para casa e me joguei na cama no andar de cima. Já eram seis e meia — 18h30 do dia 3 de abril. Eu precisava descobrir logo o que aconteceu na noite do dia 1º de abril. O policial afirmou que me viu com Akari, enquanto Akari disse que não fazia ideia de onde eu estava depois que nos despedimos no quebra-mar. 

Obviamente, essas histórias não batiam, o que significava que ou o policial ou Akari não estava dizendo a verdade. Seria mais fácil assumir que o policial se enganou se Akari não tivesse agido de forma estranha quando perguntei sobre isso pela primeira vez, o que plantou uma semente de dúvida na minha mente. Neste ponto, eu não sabia em quem acreditar — e a única forma de ter certeza era descobrir se Akari estava falando a verdade ou não.

Falar era fácil, mas como eu faria isso? Não podia simplesmente perguntar de novo, porque ela provavelmente daria a mesma resposta. Será que eu deveria tentar induzi-la a revelar de outra forma? Se eu conseguisse conduzir a conversa até aquela noite sem que Akari entrasse em contradição com o que já disse, então eu poderia ter certeza de que o policial simplesmente viu dois outros adolescentes que não éramos nós.

Eu não gostava de ser ardiloso desse jeito, mas essa era provavelmente a opção menos confrontativa, então decidi seguir com o plano.

Bem quando tomei essa decisão, senti meu celular vibrando no bolso. Era Akari. Perfeito, pensei enquanto atendia.

— Alô?

— Ah, oi, Kanae-kun. Desculpa, estava ocupada e não consegui atender antes. O que foi?

— Hã? Você que me ligou.

— O quê? Não... Foi você que me ligou, tipo, uma hora atrás, não foi?

— Eu...?

Eu não tinha lembrança disso, mas pensei um pouco e percebi que uma hora atrás seriam 17h30 — antes do ponto onde eu havia parado no último Rollback, ou seja, algo que ainda não tinha acontecido para mim. Eu não sabia por que liguei para ela, e não tinha como descobrir, mas isso não importava muito agora, porque essa era a oportunidade que eu estava esperando.

— Ah, sim, então... Tem uma coisa que eu queria conversar com você, Akari. Pode falar agora?

— Claro, pode dizer.

— Então... É que eu...

Foi aí que percebi que ainda não tinha pensado em uma forma de trazer o assunto da noite de 1º de abril para a conversa. Droga.

— Kanae-kun? Ainda tá aí?

— S-Sim, desculpa. Então, olha… — Eu precisava pensar em algo, e rápido. — Você gostaria de fazer um piquenique algum dia? Eu tava pensando que seria legal, já que as cerejeiras estão em plena floração e tudo mais.

— Hã? Um piquenique?

Eu praticamente conseguia ver a expressão confusa dela do outro lado da linha. Na verdade, eu mesmo estava surpreso — por que, meu Deus, essa foi a primeira ideia que me veio à cabeça?! "Ei, Akari! Sei que seu irmão morreu, mas que tal um piquenique?" Isso era um tanto insensível... sem falar que era uma ideia completamente idiota.

— D-Desculpa, acho que não pensei direito. Finge que eu nunca disse nada.

— Na verdade, acho que seria legal. Vamos fazer isso.

— Espera. Sério?

Fiquei genuinamente surpreso. Tinha certeza de que ela recusaria educadamente, principalmente porque o convite surgiu do nada. Eu não estava nem um pouco preparado para ela dizer sim, mas agora não dava para voltar atrás, dava?

— Beleza, então… Só precisamos decidir o horário. Deixa eu ver, amanhã eu vou estar ocupado o dia todo, então…

Parei um momento, lembrando que tinha combinado de encontrar Hayase às seis da manhã. E, como o festival geralmente ia até tarde da noite, eu provavelmente precisaria ajudar o dia inteiro. Além disso, eu não poderia marcar para mais tarde, porque o próximo Rollback aconteceria, o que significava que eu só tinha uma opção.

— E se for hoje à noite?

— Ooh-hoo! Um piquenique noturno, é? Beleza, parece divertido.

— Ótimo. Você quer escolher o horário? Estou livre a noite toda.

— Hmmm… Que tal às oito?

— Funciona pra mim. Passo na sua casa por volta das oito, então.

— Combinado. Até lá.

Desliguei o telefone. Isso definitivamente não tinha acontecido como eu esperava, mas um piquenique parecia o cenário perfeito para uma conversa descontraída sobre o assunto. Aposto que as cerejeiras ficariam incríveis à noite também.

Empolgado e um pouco nervoso, me levantei rapidamente — e meu celular escorregou da minha mão no processo.

— Opa…

Abaixei-me para pegá-lo, mas notei que o impacto com o chão fez a tela acender. Quando o peguei direito, lembrei que havia algo que eu queria conferir no meu celular. Deslizei a tela e abri o aplicativo de Notas, onde encontrei um memorando contendo as mesmas três informações sobre a morte de Akito que eu já tinha visto antes.

02/04: Encontrei o corpo de Akito às 18h30 no terreno baldio atrás da tabacaria e chamei a polícia.

Estimativa do horário da morte: Entre meia-noite e 2h da manhã daquele dia.

Estava bebendo muito naquela noite na Taverna Asuka, das 21h à meia-noite.

O fato de a nota já estar ali significava que eu devia ter deixado essa mensagem para mim mesmo em um dos próximos Rollbacks. Precisaria lembrar de fazer isso em algum momento — quem sabe o que poderia acontecer se eu esquecesse? Mas antes que eu começasse a me estressar com paradoxos temporais e afins, ouvi minha avó me chamando lá de baixo. Provavelmente era hora do jantar. Guardei o celular no bolso e desci para a sala de estar. Por ora, deixaria essa questão do memorando no fundo da minha mente.

Saí de casa pouco depois de terminar a refeição. O frio lá fora era de rachar, mas, depois de me arrepender profundamente por não ter colocado mais roupas na noite anterior, desta vez lembrei de usar uma camisa térmica, então não estava tão ruim quanto poderia estar. Já tinha avisado minha avó e a Eri sobre onde eu estaria naquela noite, além do meu plano de acordar cedo para ajudar no festival pela manhã. As duas pareceram surpresas — provavelmente porque eu nunca tinha saído para encontrar amigos à noite em toda a minha vida. Eri até perguntou com quem eu ia fazer o piquenique, mas só de pensar em responder aquilo, fiquei envergonhado demais. Então, acabei desviando da pergunta sem dar uma resposta direta.

Depois de caminhar por algumas ruas ao entardecer, cheguei ao condomínio da Akari. Não tive coragem suficiente para subir e tocar a campainha, então resolvi ligar para o celular dela e avisar que já estava lá fora. Em menos de um minuto, ela apareceu no segundo andar do prédio e desceu as escadas apressada, carregando uma grande bolsa a tiracolo.

— Oi, Kanae-kun. Que surpresa te encontrar por aqui hoje à noite — disse ela, me cumprimentando com um sorriso animado. Era surreal pensar que, na noite anterior, ela estava exatamente naquele mesmo lugar, mas com lágrimas escorrendo pelo rosto. Só que, do ponto de vista dela, aquilo ainda não tinha acontecido — só aconteceria na noite seguinte. Então, suponho que esse contraste era esperado. A garota radiante que estava diante de mim agora não tinha como saber que, dali a cerca de trinta horas, estaria invadindo a escola comigo, me abraçando no telhado ou chorando na frente do seu apartamento. Tudo o que eu podia fazer era agir naturalmente e evitar cometer o erro de mencionar Akito novamente.

— Oi, bom te ver também — respondi. — E desculpa por te chamar assim, de última hora.

— Imagina, não tem problema. Eu estava querendo sair de casa para ver as cerejeiras de qualquer jeito. Agradeço muito pelo convite — disse ela, sorrindo outra vez — mas, de algum jeito, eu conseguia sentir que aquele sorriso era forçado. Fazia apenas dois dias que seu irmão havia morrido, então não tinha como ela já ter superado o luto. Ou ela estava se esforçando para parecer bem, ou estava apenas usando esse passeio como uma distração para não pensar na dor. De qualquer forma, ela provavelmente não gostaria que eu tocasse no assunto, então decidi continuar agindo de maneira casual, tratando-a do mesmo jeito de sempre.

— Que bom, fico feliz em ouvir isso — respondi. — Bem, então... vamos?

Seguimos em direção ao templo. As vielas de Sodeshima precisavam desesperadamente de mais postes de luz, mas, apesar da iluminação fraca e da atmosfera meio sombria, Akari caminhava quase saltitando pelo bairro, com um passo leve e animado.

— E aí, o que tem nessa bolsa? — perguntei, apontando para a grande sacola de tecido pendurada em seu ombro.

— Ah, sabe como é. Só o básico. Um cobertor para piquenique, alguns cobertores menores caso faça frio e um pouco de comida, caso a gente fique com fome.

Se o constrangimento tivesse um som, minha vergonha poderia ser ouvida a quilômetros de distância. Eu tinha convidado Akari para um piquenique e nem sequer pensei em trazer nada essencial, aparecendo de mãos abanando na porta dela. Eu deveria ao menos ter levado alguma coisa para contribuir. Acho que presumi que, como já eram oito da noite, ela provavelmente já teria jantado antes.

— Ah, droga, foi mal! — me desculpei. — Eu devia ter trago algo também. Vamos passar no supermercado rapidinho.

— Não precisa. Eu fiz comida suficiente para nós dois.

A gentileza e consideração de Akari eram como um bálsamo para o meu coração cansado. Eu era eternamente grato por ter uma amiga tão incrível ao meu lado.

— Valeu... Espero que você não tenha se esforçado demais só para isso.

— De jeito nenhum. Só juntei alguns bolinhos de arroz, nada demais. Não crie muitas expectativas.

— Ah, tarde demais. Minhas expectativas já estão altíssimas. Acho que nunca tive a chance de provar sua comida caseira antes, né?

— Ah, para com isso — ela corou, desviando o olhar para o chão. — Bolinhos de arroz nem contam como comida caseira. Você tá fazendo um drama por nada.

Não demorou para chegarmos ao templo. Fiquei surpreso ao ver que, na verdade, havia bastante gente por lá — principalmente adultos de meia-idade, bebendo e se divertindo. Não era exatamente o ambiente tranquilo e isolado que eu esperava.

— Tem bastante gente aqui, né? — comentou Akari, claramente um pouco decepcionada.

— É... Acho que devem estar fazendo um esquenta para o festival de amanhã.

— Ah, é mesmo. Meio que esqueci que era amanhã... Bom, já estamos aqui — ela deu de ombros. Era óbvio que todo o entusiasmo dela tinha acabado de morrer. 

Querendo salvar a situação, fiquei pensando em alternativas por um minuto antes de sugerir uma solução.

— Sabe... A gente pode ir para aquele parque abandonado. Lá ninguém vai nos incomodar.

— Espera... Você tá falando daquele na parte decadente da cidade? Com o pequeno santuário de madeira que você disse achar que pode ser a causa do Rollback?

— Isso mesmo. Por que essa cara de quem nunca esteve lá?

— Porque eu nunca fui... Só ouvi falar dele por você.

— Hã? Mas foi você que me chamou para ir lá outro dia, quando a gente — comecei a falar, mas me interrompi no meio da frase. Eu estava confundindo a ordem em que vivi os eventos com a linha do tempo real. Akari só viveria aquilo dali a alguns dias — eu realmente precisava colocar minha cabeça no lugar com essas coisas. — Desculpa, agora entendi. Claro que você ainda não foi. Mas, olha, essa é uma ótima oportunidade pra te levar lá. Vamos.

Virei nos calcanhares e segui em direção ao parque abandonado. Akari, ainda um pouco confusa com minha impulsividade, me seguiu de perto.

Enquanto atravessávamos a cidade, eu não conseguia evitar resmungar internamente sobre o quão confuso tudo isso era. Como eu deveria explicar as regras do fenômeno do Rollback para Akari em algum momento, de modo que ela pudesse me explicar isso no dia 6, se eu mesmo ainda não tinha um entendimento muito claro? E quando foi que eu expliquei isso para ela, afinal? Pelo fato de ela já saber sobre o Rollback agora, eu devia ter contado a ela antes das 18h do dia 3 de abril. Talvez fosse mais fácil perguntar diretamente.

— Ei, Akari?

— Sim?

— Você lembra quando eu te expliquei sobre o fenômeno do Rollback e tudo mais? Que dia foi isso? — perguntei, olhando para ela pelo canto do olho.

— Uhhh, deixa eu pensar... Acho que foi há duas noites — respondeu ela.

Ok, pera aí. Como isso faz sentido? Duas noites atrás seria 1º de abril — mas Akari já tinha me dito que nós não nos encontramos naquela noite. Será que ela se confundiu com a data? Porque, do contrário, eu simplesmente não via como eu poderia ter explicado isso para ela naquela noite específica.

Espera, acho que entendi. Isso não necessariamente era uma contradição; eu poderia ter explicado tudo por telefone. Se eu me lembrava bem, meu histórico de chamadas mostrava que liguei para ela naquela noite. Peguei meu celular discretamente para conferir e, com certeza, o nome dela estava lá: duas ligações consecutivas, logo depois das 21h do dia 1º de abril. Essa era uma maneira plausível de eu ter explicado o Rollback para ela, sem dúvidas. Mas foi isso que aconteceu?

Toquei nas chamadas para obter mais informações, tentando encontrar alguma pista pela duração delas. Para minha surpresa, uma das ligações nem chegou a ser completada, e a outra durou apenas três segundos. Isso basicamente descartava a teoria da ligação. Não havia como eu ter explicado todas as complexidades do Rollback em apenas três segundos, e também não havia registros de mensagens de texto.

Ou seja, estávamos de volta à estaca zero. Eu realmente precisava ter explicado isso para ela pessoalmente. Claro, teoricamente, eu poderia ter usado o telefone fixo da minha avó ou pedido para alguém passar a mensagem, mas essas possibilidades pareciam tão mínimas que era seguro descartá-las. Além disso, a forma mais rápida de confirmar qualquer coisa era simplesmente perguntar para ela.

Guardei o celular no bolso e respirei fundo.

— Duas noites atrás... Isso teria sido em 1º de abril, certo? — confirmei. — Eu te expliquei isso pessoalmente ou só pelo telefone?

— Não, não. Foi pessoalmente — ela respondeu sem a menor hesitação.

Comecei a sentir uma leve tontura. Agora não havia mais dúvidas — ela afirmou, sem rodeios, que nos encontramos na noite do dia 1º, o que contradizia diretamente o que havia me dito antes.

— Certo, obrigado — murmurei, praticamente engasgando com as palavras enquanto minha visão começava a embaçar. 

Por que Akari mentiria sobre algo assim...? Ou melhor, por que a Akari do futuro sentiria a necessidade de mentir sobre esse assunto em particular? Eu não fazia ideia, nem uma pista sequer. O que ela tinha a ganhar ou a perder com isso? O que estava escondendo de mim?

— Ei!

Minhas divagações frenéticas foram interrompidas por uma dor aguda na minha traseira. Pelo visto, meu pé ficou preso em uma grelha de esgoto, e acabei caindo de costas no chão. Estava tão escuro que nem percebi o obstáculo. Cara, que desastre. Bom, pelo menos foi uma maneira de aliviar o impacto dessa descoberta perturbadora.

— V-você tá bem, Kanae-kun? — Akari perguntou. — Precisa de ajuda pra levantar?

— Não, tô bem, valeu — garanti com um sorriso enquanto me erguia. Ainda sentia uma dor latejante, mas sabia que ia passar logo. Pelo menos não quebrei nada. Tirei a sujeira da roupa e já ia seguir em frente quando Akari me interrompeu.

— Espera aí — disse ela. — Ainda tem um pouco de poeira.

Ela se agachou ao meu lado e começou a bater na minha calça para limpar a sujeira, como se fosse minha mãe ou algo assim. Sem jeito, tentei dizer que não precisava se preocupar e me afastei, mas ela segurou a barra da minha calça e mandou que eu ficasse parado. Agora que tinha me visto cair, não havia escapatória... e eu podia sentir o suor grudando minha camisa no corpo de tanta vergonha.

— Pronto, acho que agora foi — disse ela, se levantando com um sorriso.

— O-Obrigado — respondi, apressando o passo em direção à parte abandonada da cidade.

Quanto mais nos aproximávamos, mais sentia meus dedos se cravando nas palmas das mãos. Droga... eu não queria ter que desconfiar da Akari.

Invadir a escola ontem já tinha sido uma experiência intensa por si só, mas andar por essas ruas abandonadas à noite era incomparável. Embora houvesse postes de luz ao longo das calçadas, nenhum estava aceso, mergulhando tudo em uma escuridão absoluta. O silêncio também era quase total, quebrado apenas pelo miado distante de um gato ou pelo som de pequenos animais correndo ao notarem nossa presença. Essa quietude sufocante só tornava a atmosfera ainda mais arrepiante.

Seguimos em frente, usando a lanterna do meu celular como nossa única fonte de luz. Eu estava apavorado, admito. E, dessa vez, Akari parecia sentir o mesmo. Se na escola ela manteve a calma, agora segurava firme na minha manga, como se sua vida dependesse disso.

— K-Kanae-kun? Tem certeza de que é por aqui? — perguntou.

— Acho que sim... — respondi, embora a escuridão não me permitisse ter certeza absoluta. Se estivéssemos no caminho certo, deveríamos chegar ao destino a qualquer momento... e, de fato, logo avistamos a saída do beco estreito. Isso deve ser, pensei, acelerando o passo até emergirmos em um espaço aberto. Bingo.

Diante de nós, o parque abandonado se revelava, suas cerejeiras em plena floração, mesmo na total ausência de luz. Uma brisa suave arrancava pétalas dos galhos, fazendo-as flutuar através do feixe da lanterna do celular, cintilando momentaneamente contra o céu noturno.

— Nossa... — Akari suspirou, maravilhada. Seu aperto em meu braço afrouxou enquanto ela caminhava até a árvore majestosa no centro do parque, como se estivesse hipnotizada. A beleza do lugar parecia ter apagado completamente seu medo. — Isso é incrível, Kanae-kun... Saber que isso sempre esteve aqui, bem debaixo dos nossos narizes...

— Pois é. Eu mesmo só descobri há poucos dias, mas ainda não consigo acreditar.

Deixei a lanterna ligada e apoiei o celular contra o trepa-trepa para iluminar a árvore e clarear a área ao redor.

— Viu? O que eu te disse? Ninguém vai atrapalhar nosso piquenique aqui — brinquei.

— É... Você não tava brincando... — Akari respondeu distraída, ainda encantada com a visão. Decidi deixá-la aproveitar o momento.

Enquanto isso, dei a volta na árvore e espiando dentro do pequeno santuário de madeira, vi que a grande rocha rachada ainda estava no mesmo lugar. Será que algo mudaria se eu a tocasse de novo? Minha mão chegou a se estender para ela, mas parei no meio do caminho. A última coisa que eu precisava era tornar essa situação ainda mais complicada. Se soubesse que viríamos aqui, teria trazido uma pequena oferenda para deixar aos pés do santuário, pensei enquanto voltava para perto de Akari. Mas então, quando a vi, parei no meio do caminho.

Ela estendia a mão direita na altura dos olhos, deixando as pétalas caírem suavemente sobre sua palma. Depois, baixou um pouco a mão, franziu os lábios e soprou delicadamente as pétalas, espalhando-as no ar. Quando tocaram o chão, um sorriso sereno — e levemente travesso — surgiu em seu rosto. A cena era estranhamente hipnotizante, ao mesmo tempo graciosa e encantadora. Fiquei tão fascinado que decidi esperar um pouco antes de interromper aquele instante.

Fiquei ali, apenas observando Akari de longe, até que, por fim, ela me notou.

— Kanae-kun? O que foi? — ela perguntou.

— O-Oh, desculpa — respondi, saindo do transe. — Eu só estava aproveitando — Mais uma vez, me interrompi antes de admitir a verdade.

— Aproveitando o quê? — ela indagou, inclinando a cabeça com curiosidade.

Cara, que déjà vu. Tivemos essa exata conversa há alguns dias.

Da última vez, improvisei uma desculpa qualquer e falei algo sobre olhar álbuns de fotos antigos com minha avó — e lembro que Akari pareceu estranhamente desapontada com essa resposta. Será que eu deveria inventar outra desculpa para esconder o que realmente sentia? …Não.

Dessa vez, eu tentaria ser corajoso e assumir o que realmente queria dizer. Era o mínimo que eu podia fazer para retribuir o carinho inabalável que ela demonstrou ontem à noite, lá no terraço.

— Eu só estava… aproveitando a bela vista — falei, meu tom firme e sem hesitação.

Parece que ainda escolhi minhas palavras de forma muito ambígua.

— Pois é, né?! — Akari exclamou, os olhos brilhando. — Essa árvore é linda, não é?! Dá até um tempo pra absorver tudo.

Meus ombros caíram ao perceber que ela achou que eu estava falando especificamente da árvore, e não dela. Mas eu não podia recuar agora — isso sim seria covardia. Juntei coragem e dei um passo à frente.

— Não era isso que eu quis dizer — declarei.

— Hã? — Ela piscou.

— Eu não estava olhando para a árvore, Akari.

Mesmo depois de uma dica tão óbvia, Akari ainda pareceu confusa no começo. Demorou alguns segundos para ela entender. Mas, quando finalmente engrenou, seu rosto foi ficando cada vez mais vermelho. Ela abaixou um pouco a cabeça, mexendo nas franjas enquanto desviava o olhar.

— Ah… B-Bem, e-eu… O-Obrigada, eu acho?

— S-Sim, de nada.

Isso foi dez vezes mais constrangedor do que eu estava preparado para enfrentar. Comecei a me xingar internamente. 

Mandou bem, idiota. Será que precisava exagerar tanto assim? Como pretende sair dessa agora, gênio?

Ficamos ali em silêncio por um tempo. Akari evitava me encarar enquanto eu revirava meu cérebro desesperadamente por qualquer coisa decente para dizer. Então, uma brisa gelada roçou a parte de trás do meu pescoço, enviando um arrepio elétrico pela minha espinha e, enfim, quebrando o momento.

— V-Vamos estender o cobertor logo, que tal? — soltei de repente, após uma pausa longa demais. — Não dá pra chamar isso de piquenique se ficarmos de pé o tempo todo.

— C-Certo, boa ideia — Akari concordou. — Minhas pernas precisam de um descanso mesmo.

Ela puxou o cobertor de dentro da enorme bolsa de mão e, juntos, o estendemos ao pé da árvore. Tiramos os sapatos e sentamos lado a lado. Não era o maior cobertor do mundo, então nossos joelhos quase se tocavam.

— Beleza, está pronto para experimentar um dos bolinhos de arroz? — ela perguntou.

— Com certeza — respondi. — Manda ver.

Eu não estava exatamente com fome, já que tinha jantado há poucas horas, mas não ia falar isso depois do trabalho que ela teve preparando a comida. Akari pegou um pequeno recipiente de plástico da bolsa, colocou no colo e abriu a tampa, revelando duas fileiras bem organizadas de bolinhos de arroz triangulares — uns dez no total.

— Uau, você realmente caprichou! — comentei.

— Ahaha, obrigada… Fazia um tempo que eu não fazia, mas, depois que comecei, não consegui parar.

— Bom, então vamos ver como ficaram!

Peguei um bolinho. Ele tinha um formato impecável e ainda estava levemente quente. Dei uma mordida e fiquei satisfeito ao sentir pedacinhos suculentos de salmão dentro. Não sabia se ela realmente lembrava que salmão era um dos meus alimentos favoritos ou se foi pura coincidência, mas, de qualquer forma, aquilo me deixou bem feliz.

— Oh, sim — assenti. — Está muito bom.

— Sério?! — Ela sorriu, radiante. — Que alívio! Pode comer quantos quiser, tá?

Eu me joguei nos bolinhos, mas fiz questão de mastigar direito e de boca fechada. Não queria desperdiçar o carinho que ela colocou neles. Akari apenas me observava devorar a comida, com um sorriso contente no rosto.

— Você não está com fome? — perguntei entre uma mordida e outra. 

— Ah, pode deixar que eu vou comer, sim — disse ela, pegando um bolinho de arroz. Deu uma mordidinha delicada, mastigou e engoliu. Quando terminou o primeiro, eu já estava pegando o terceiro.

— Meio que lembra a comida da cantina na época da escola primária, né? — comentei.

— Mmhm… Acho que sim — Akari respondeu, a boca ainda cheia.

— Você sempre era a última a terminar o almoço, lembro bem. Hehheh.

Akari engoliu antes de responder.

— É que eu era bem pequena naquela época, com um estômago minúsculo, sabe? Comia bem devagar, tinha que fazer várias pausas.

— É, mas também não é como se alguém te obrigasse a comer tudo. Eu lembro que ficava preocupado com você — metade do tempo, parecia um esquilo com as bochechas cheias, quase engasgando. Não vale a pena limpar o prato se no final isso significa chorar de tanto esforço. 

— Ei, você sabe que eu odeio desperdiçar comida! Mas teve aquela vez em que acabei vomitando tudo. Aquilo foi um pesadelo.

— Ah, é… Eu tinha esquecido disso…

— Sério? Isso me surpreende, considerando que você ficou comigo pra ajudar a limpar depois.

— Espere, eu fiz isso? Heh. Bom trabalho, eu do passado.

Continuamos conversando assim, relembrando os velhos tempos enquanto devorávamos os bolinhos de arroz. Cerca de trinta minutos depois, o recipiente estava vazio. Eu já estava completamente satisfeito e massageei minha barriga estufada com as duas mãos.

— Ufa! — soltei um suspiro pesado. — Isso estava muito bom. Mas acho que não consigo comer mais nada.

— É, eu também não. Quer um chá? — Akari ofereceu.

— Com certeza.

Ela pegou sua garrafa térmica e despejou um pouco de chá em um copinho; dava pra ver que ainda estava bem quente. Agradeci e estendi a mão para pegar o copo — nossos dedos se tocaram por uma fração de segundo.

— Nossa, suas mãos estão congelando, Kanae-kun.

— Sério? Acho que essa é minha temperatura normal.

Tomei o chá rapidamente e devolvi o copo para Akari. Ela o colocou de lado e, em seguida, estendeu as mãos, mexendo os dedos em um gesto de me dá.

— Aqui — insistiu. — Deixa eu ver.

— O quê, vai ler minha sorte na palma da mão ou algo assim? — brinquei, mas estendi a mão mesmo assim. Akari a segurou firme com as duas mãos e a puxou para mais perto, a poucos centímetros do rosto dela. A maciez da pele e os movimentos suaves, quase como uma massagem, fizeram meu coração acelerar.

— É, você está bem frio mesmo — disse ela.

— B-Bom, dizem que mãos frias significam um coração quente.

— Ah, é assim que funciona? Entendi.

Joguei uma resposta pronta, mas ela levou a sério. Enquanto isso, eu fiquei ali, sem saber para onde olhar, desviando o olhar sem encará-la diretamente — sabia que, por mais desconfortável que fosse, puxar minha mão de volta só tornaria a situação dez vezes mais estranha. Mas de uma coisa eu tinha certeza: esse método dela estava deixando meu rosto quente muito mais rápido do que minhas mãos.

Nos últimos dias, algo que eu havia percebido, mas não tinha parado para pensar direito, era o quanto Akari estava sendo assertiva comigo, a ponto de alguém facilmente interpretar errado — especialmente depois do que aconteceu ontem à noite no telhado da escola. Talvez algo tenha acontecido entre nós no período que eu ainda não vivi, algo que nos aproximou. Se foi o caso, deve ter sido algo bem repentino, já que restavam apenas dois dias de Rollback.

— Ei, Kanae-kun. Você ainda lembra daquela vez na segunda série quando veio me resgatar? — Akari perguntou, me tirando dos meus pensamentos.

— Hã? Na segunda série? — respondi. — Pode ser mais específica?

— Sabe, quando todo mundo estava zoando a minha pele. Você chegou, pegou na minha mão e me arrastou pra fora da sala.

— Ah, ééé… Acho que lembro vagamente de algo assim…

— Ah, é? E da parte em que você tentou me animar chupando meus dedos?

De repente, aquela memória vaga, que eu tentava alcançar no fundo da minha mente, ficou clara como cristal — e a espessa camada de vergonha e arrependimento que a cobria veio à tona de uma vez.

— Meu Deus, por que você tinha que me lembrar disso? — gemi. — E olha que eu tentei tanto apagar essa memória horrível da minha mente…

— Horrível?! Como assim?! Tá, foi meio vergonhoso… Mas, na época, significou muito pra mim!

— Meio?! Você não sai por aí colocando os dedos dos outros na boca, Akari. Até uma criança de sete anos deveria saber disso…

— Ah, para. Nem é tão estranho assim.

Akari olhou para a minha mão por um instante, fixada nela, e então a puxou ainda mais para perto do rosto. Depois, abriu a boca, e meu coração disparou.

Será que ela realmente ia fazer a mesma coisa comigo só para provar que não tinha nada de mais? Por um segundo, entrei em pânico, mas não. Ela apenas franziu os lábios e soltou algumas lufadas lentas de ar quente, envolvendo minha mão com seu hálito quente e úmido.

— Pronto. Esquentou? — Akari perguntou com um sorriso travesso.

— Sim. Agora estou oficialmente quentinho — me rendi.

— Heh-heh… Que bom.

Tive que me segurar para não soltar um longo suspiro nostálgico. Eu estava completamente à vontade naquele momento. Estar assim com Akari parecia tão confortável, tão natural, que quase esqueci o motivo de ter trazido ela aqui — descobrir se estava escondendo algo de mim. Se eu me permitisse esquecer esse detalhe, poderia simplesmente me perder na felicidade que estava sentindo agora. Mas isso não era uma opção. Eu precisava esclarecer todas as incertezas restantes se quisesse evitar a morte de Akito. Não havia desculpa para deixar qualquer ponta solta quando a vida de alguém estava em jogo.

— Kanae-kun? O que houve? — perguntou Akari, sua voz carregada de preocupação, enquanto eu permanecia ali, perdido em pensamentos. Seus olhos eram tão puros e inocentes, límpidos como o céu em uma manhã de inverno. Depois de hesitar por tempo demais, decidi deixar de lado as dúvidas e fui direto ao ponto.

— Akari, espero que não leve isso para o lado errado, mas...

— Mm? O que foi?

— Você não está escondendo nada de mim, está?

— Escondendo? Como assim? — ela retrucou, estreitando os olhos.

— Algo como... o que aconteceu na noite de 1º de abril, por exemplo?

Pude quase ouvir o coração de Akari perder uma batida. Ou, pelo menos, foi assim que me pareceu. Pelo jeito que suas mãos tremiam, minha pergunta claramente havia sido um choque. Lentamente, ela afastou as mãos das minhas, e vi a vivacidade desaparecer de seu rosto à medida que o fazia. Dessa vez, não era apenas minha mão direita que se expunha ao frio da noite — meu coração também.

— Kanae-kun, eu — ela começou, sua voz frágil como um sussurro. Mas não terminou a frase, então esperei. Estava disposto a aguardar o tempo que fosse necessário para que ela completasse aquele pensamento. Depois do que pareceu um minuto inteiro, ela enfim falou, em um tom suave, mas devastador.

— Eu não posso falar sobre isso.

Mal pude acreditar no que ouvi.

— O que você quer dizer com não pode falar sobre isso...? Você só pode estar brincando comigo.

Insisti impacientemente, relutando em aceitar que ela estivesse me escondendo algo esse tempo todo. 

— Ótimo, agora estou ainda mais preocupado. Se aconteceu algo tão terrível, você não acha que eu deveria saber com antecedência?

— Por favor, só...

— Não, você precisa me contar. Ou será que simplesmente não confia em mim? É isso?

— O-Ó, claro que confio! — ela implorou, elevando a voz. — Escuta, você vai descobrir logo, tá bem? Acredite, não é algo que você precisa saber agora. Então, por favor, não diga esse tipo de coisa...

Sua voz estava trêmula e rachada, e seu rosto transbordava tristeza. Isso fez com que eu me sentisse péssimo, como um dono cruel que abandona um filhote indefeso na estrada e vai embora.

— Certo. Desculpa por ter tocado nesse assunto — murmurei. Era uma pergunta que precisava ser feita, mas reconheci que deveria ter encontrado uma abordagem melhor. Akari baixou o olhar para o chão e balançou a cabeça, fraca.

— Não... Quem deveria se desculpar sou eu.

— Eu já disse que está tudo bem.

Peguei meu celular do chão e conferi as horas. Já passava das dez — estávamos oficialmente fora do horário permitido.

— Vamos pra casa — sugeri.

Akari assentiu com relutância, seus olhos ainda fixos no chão.

Quase não trocamos palavras no caminho de volta, e as poucas interações que tivemos foram tão superficiais que, no momento em que nos despedimos em frente ao prédio dela, eu já havia esquecido tudo o que dissemos.

Assim que cheguei ao meu apartamento, mergulhei na banheira, deixando a água quente cobrir meus ombros enquanto soltava um longo suspiro cansado. Eu estava exausto. Talvez, se eu não tivesse agido feito um idiota acusando Akari daquele jeito, ainda estaria curtindo a euforia da noite incrível que tivemos. Mas esse barco já havia zarpado há muito tempo. Essa sensação pegajosa e incômoda dentro de mim poderia ter sido evitada. Sabia que, por mais que esfregasse, a culpa não iria embora.

Ao menos, consegui arrancar algumas informações desse episódio desagradável: Akari, de fato, estava escondendo algo de mim, mas provavelmente não era nada devastador ou perigoso. Ela devia ter um motivo válido para manter isso em segredo por enquanto, embora eu sequer conseguisse imaginar qual seria. Decidi parar de desconfiar dela e acreditar em sua promessa de que, em breve, eu saberia a verdade.

É claro que ainda estava curioso para entender o que aconteceu naquela noite, no dia da morte de Akito, mas insistir nisso agora só pioraria as coisas entre nós.

Levantei-me da banheira. Amanhã, havia prometido ajudar Hayase na barraca do festival de sua família. Precisaria acordar cedo para estar no templo às seis da manhã, então o melhor a fazer era dormir logo.

Hora de descansar para um dia que, provavelmente, exigiria muito de mim.

Por volta das 5h30 da manhã do dia seguinte, quarta-feira, 4 de abril, saí de casa e segui rumo ao grande festival, ainda esfregando o sono dos olhos. O céu ainda estava escuro o suficiente para revelar as estrelas, embora o sol começasse a despontar no horizonte leste.

Fiz um bom tempo de caminhada e cheguei aos terrenos do templo um pouco antes das seis. Já havia bastante gente por lá montando as estruturas, além de alguns organizadores do evento correndo de um lado para o outro, vestidos com trajes tradicionais de festival. Fiquei parado na entrada por um instante, tentando absorver a cena, até ouvir uma voz me chamar. Ao me virar, vi que era Hayase, cercada por um grupo de adultos que pareciam ter o dobro da idade dela. Corri até lá para encontrá-la.

— Bom dia, Funami — ela acenou. — Desculpa te tirar da cama tão cedo.

— Ah, tudo bem. Mas, hum — minha voz sumiu quando olhei ao redor, observando os adultos ao lado da Hayase. Eram quatro homens e mulheres, alguns aparentando estar no final dos vinte anos, enquanto os outros eram claramente mais velhos, provavelmente na casa dos quarenta.

— Ah, eles? São os outros ajudantes que você vai estar auxiliando — ela explicou.

— Certo, entendi.

Para uma única barraca, parecia gente demais. Será que minha ajuda era realmente necessária? Apesar da dúvida, me apresentei ao grupo, como Hayase pediu. Depois que terminei, eles se apresentaram de volta.

— Ok, agora que já se conhecem, podem começar montando as tendas. Aqui, coloquem isso — Hayase disse, entregando um par de luvas de trabalho para mim enquanto já se afastava. Coloquei-as o mais rápido que pude, tentando acompanhar seu ritmo.

Ela nos levou até um grande galpão de armazenamento no templo, de onde começamos a carregar as longas peças de metal que formariam a estrutura da barraca. Foram necessárias várias idas e vindas para transportar tudo, mas, em menos de uma hora, conseguimos erguer três tendas lado a lado, cada uma coberta com um toldo branco triangular de poliéster. Depois disso, começamos a descarregar mesas dobráveis, utensílios de cozinha e placas de sinalização de uma van estacionada ali perto. Por volta das 7h30, a barraca estava praticamente pronta. Afastei-me um pouco para admirar nosso trabalho.

— Caramba, isso aqui é enorme...

Não era nada parecido com o que se imaginaria ao pensar em uma simples barraca de comida de festival. Estava mais para o quartel-general do evento inteiro. Hayase aparentemente ouviu meu comentário e veio até onde eu estava.

— É, minha família sempre faz tudo em grande estilo. Você não sabia? — ela perguntou.

— Na verdade, não. Pra ser sincero, eu nem costumo participar do festival...

— O quê?! Pois devia! Quero ver você aqui todo ano a partir de agora, entendeu? Mas, por hoje, preciso que trabalhe duro!

Ela deu um tapa forte nas minhas costas e saiu andando. Eu começava a sentir que tinha me metido em algo um pouco além do que esperava.

Logo depois, Hayase reuniu todos novamente para distribuir as tarefas. Alguns ficariam encarregados do preparo da comida, enquanto outros atenderiam os clientes e cuidariam do caixa. Fiquei responsável pela retaguarda, garantindo que os ingredientes estivessem sempre abastecidos, montando os pratos, embalando pedidos e cuidando de outras tarefas secundárias.

Definitivamente, não era assim que eu imaginava passar minhas preciosas férias de primavera... especialmente quando deveria estar focado em salvar Akito.

Por volta das nove da manhã, os clientes começaram a aparecer, e a correria só aumentou. Agora já era quase meio-dia, e os terrenos do templo estavam lotados. O Festival das Riquezas do Oceano era o maior evento anual de Sodeshima, tão famoso que até pessoas de fora da ilha vinham de balsa para participar.

A principal atração era o grande desfile de barcos, que saía do porto no início da tarde e circulava as águas ao redor da ilha. No centro da procissão estava uma réplica magnífica de um navio mítico, que, segundo a lenda, era guiado dos céus até o mundo humano pelos Sete Deuses da Fortuna. O barco concedia bênçãos simbólicas ao mar e orações por colheitas fartas e viagens seguras aos pescadores locais.

Nunca achei nada disso muito impressionante, pessoalmente, mas, para os visitantes, parecia ter um certo apelo especial.

Mais do que tudo, eu só queria me livrar logo desse enorme favor em que me meti. Idealmente, queria estar em casa antes das seis, para que o próximo Rollback não acontecesse de novo no meio de uma confusão... Espera aí. Me lembrei do Rollback anterior, quando percebi que estava aqui no festival e entendi exatamente o que ia acontecer.

Aquele bêbado tentaria arrumar briga comigo, e então Hayase surgiria para me salvar. Ainda não fazia ideia do motivo daquele cara ter ficado tão irritado comigo, mas provavelmente descobriria em breve. Nunca me considerei do tipo que irrita estranhos sem motivo, mas...

— Peraí.

Uma nova hipótese surgiu na minha mente. E se eu me certificasse de estar bem longe do festival quando o próximo Rollback acontecesse? Não tinha como aquele bêbado careca me abordar se eu nem estivesse lá. Por outro lado, isso mudaria o futuro e, consequentemente, tudo que já tinha experimentado nos Rollbacks anteriores. Basicamente, criaria um paradoxo temporal.

Será que eu queria mesmo tentar algo assim? Existem vários livros e desenhos onde as pessoas mudam o passado sem pensar nas consequências, mas as regras desses universos fictícios nem sempre se aplicam à realidade. De certo modo, era exatamente isso que eu estava tentando fazer. Meu objetivo era alterar o passado para impedir a morte de Akito, criando um futuro onde nunca houve a necessidade de voltar e tentar evitar isso. Assim, acabaria gerando um mundo em que eu nunca o impedira, e por aí vai. Esse ciclo infinito de contradições era a própria definição de um paradoxo temporal, mas já estava envolvido demais para hesitar agora. Só me restava dar o meu melhor e torcer para que fosse o suficiente.

Decidi testar minha hipótese e ver o que aconteceria se saísse do festival antes das seis. Até lá, ainda tinha trabalho a fazer

Às 17h30, minhas pernas já estavam dormentes. Eu estava oficialmente exausto. As pausas que nos deram não ajudaram muito; aquele trabalho era bem mais pesado do que eu esperava. Ainda não sabia se ia ser pago por aquilo, mas definitivamente deveria. Saí à procura da Hayase para perguntar se podia sair uns minutos antes das seis. Foi então que senti algo quente e metálico encostar na minha bochecha. Era Hayase, me surpreendendo com uma lata de café quente.

— Bom trabalho lá fora — disse ela. — Toma, você merece.

— Valeu — agradeci, pegando a bebida quente. — Então, eu... desculpa sair assim, mas preciso ir pra casa logo...

— Sem problema. Na verdade, eu já ia te liberar mesmo. Mas antes, me acompanha ali atrás por uns minutos e toma esse café comigo. Quero te dar um pequeno agradecimento antes de você ir.

Um agradecimento, hm? O que será que é?

Curioso, segui Hayase para a parte de trás da barraca e me joguei no chão, aliviando minhas pernas cansadas. Abri a lata de café e dei um gole generoso. Tinha a quantidade perfeita de açúcar e, para minha garganta seca, parecia o néctar dos deuses. Depois de quase metade da lata em um único gole, Hayase se sentou ao meu lado.

— Você ajudou pra caramba hoje, Funami — disse ela. — Quase não cometeu erros e aprendeu rápido demais. Não estaria interessado em trabalhar na loja de bebidas da minha família depois de se formar, estaria?

— Err... talvez? Vou pensar e te aviso.

— Heh. Esse é um não se eu já ouvi um — ela riu. — Mas relaxa, eu tava brincando.

Hayase puxou um maço de cigarros do bolso do casaco, acendeu um com um isqueiro de pescoço longo e soltou um suspiro.

— Ufa... Parece que tivemos outro ano de sucesso, né? Difícil se animar muito quando todo o dinheiro vai direto para o santuário, mas fazer o quê... Ah, pera. Você não se incomoda se eu fumar, né?

— Nah, de boa — respondi.

— Ah, beleza — ela exalou a fumaça que segurava nos pulmões.

Depois disso, um silêncio meio estranho se instalou, então tomei mais um gole do café. Enquanto bebia, olhei para Hayase pelo canto do olho. Agora que reparava bem, ela era bem bonita, apesar da aparência meio punk. Dava pra entender como uma garota naturalmente atraente como ela tinha sido namorada do Akito no ensino médio — ser a gerente do time de beisebol provavelmente também ajudava.

Eu me perguntava como era a relação deles quando Hayase virou o rosto para mim de novo.

— Bom, valeu pela ajuda hoje — disse ela. — Você realmente quebrou um galho e fez um ótimo trabalho substituindo o Akito.

— Ah, não foi nada... Espera, como assim substituindo o Akito?

— Ah, eu não te falei? — Hayase fez uma cara surpresa. — Ele ia ajudar a gente na barraca de novo este ano, mas, por motivos óbvios, não pôde... Íamos ficar desfalcados até você aparecer e se oferecer pra ajudar.

— Uau, isso é... É, eu não fazia ideia — admiti. Essa revelação me encheu de uma mistura de emoções complexas. — Vocês dois devem ter continuado bem próximos ao longo dos anos, né?

— Nah, nem tanto. Nada como o quão inseparáveis éramos no colégio, pelo menos.

— Como ele era naquela época? — perguntei, genuinamente curioso.

— Ah, cara. Ele era o garoto mais legal da escola. Tipo, praticamente uma celebridade. Todo mundo admirava ele, mesmo que não admitisse.

— É, com certeza... Eu definitivamente me lembro disso — assenti. Mesmo eu sabia tudo sobre ele naquela época, e eu era o maior perdedor da minha turma no ensino fundamental.

— Ah, desculpa, você queria saber mais sobre como ele era nos bastidores? Bom, acho que ele era o típico adolescente egocêntrico. Muito cheio de si, extremamente competitivo e um péssimo perdedor ao mesmo tempo. Mas, pra ser justa, ele fazia por merecer. Não sei se já conheci alguém mais esforçado do que ele.

— Hm. Interessante...

— Bom, até a lesão no ombro, pelo menos.

— Como é? — Pisquei, me virando para encará-la.

— Hã? Por que você tá agindo como se nunca tivesse ouvido falar disso antes?

— Estou falando sério. Acho que nunca ouvi isso...

— Cara, você é estranho. A gente literalmente falou sobre isso ontem. Foi você quem trouxe o assunto.

Seja lá do que ela estava falando, devia ser algo que eu ainda não tinha vivido. Esperei enquanto ela terminava de jogar a bituca do cigarro no cinzeiro portátil antes de continuar investigando.

— Então, como ele machucou o ombro? — perguntei.

— De novo, eu já te expliquei tudo isso. E como eu te disse ontem, esse tipo de assunto não é nada agradável pra mim, então eu preferiria não ter que repetir — ela disse. Então, se levantou, tirou uma nota de mil ienes da carteira e me entregou. — Aqui. Sei que não é muito, mas considere um pequeno sinal da minha gratidão. Não gaste tudo de uma vez, tá?

— M-Muito obrigado — respondi. Mil ienes por um dia inteiro de trabalho? Sério...? Isso mal dava pra pagar um jantar. Resisti à vontade de soltar um suspiro pesado e apenas dobrei a nota ao meio antes de enfiá-la no bolso da calça.

— Enfim, valeu de novo por toda a ajuda hoje. Você realmente salvou minha pele. Se quiser dar uma força de novo no ano que vem, seríamos gratos.

Dito isso, Hayase se afastou e entrou de volta na barraca. Eu não tinha a menor intenção de fazer todo aquele trabalho de novo no próximo ano sem uma remuneração decente, mas pelo menos tinha conseguido algumas informações novas sobre Akito. Nunca tinha ouvido nada sobre uma lesão grave no ombro.

Quando isso aconteceu? Foi depois que me mudei para Tóquio? Para um arremessador como Akito, uma lesão séria no ombro poderia significar o fim de toda a sua carreira esportiva. O que realmente despertou meu interesse, no entanto, foi a maneira como Hayase mencionou isso.

"Não sei se já conheci alguém mais esforçado do que ele... Bom, até a lesão no ombro, pelo menos."

Isso me fez pensar que sua personalidade inteira poderia ter mudado depois do incidente. Fiquei sentado no chão por um tempo, resmungando enquanto tentava entender tudo aquilo. Então, me dei conta de que estava ali há bem mais tempo do que pretendia. Peguei o celular, e, como esperado, faltavam apenas cinco minutos para o próximo Rollback.

Isso era ruim. Eu precisava sair do festival rápido se quisesse testar minha hipótese.

Levantei num pulo, engoli o resto do meu café em um único gole, joguei a lata vazia em uma lixeira próxima e saí correndo em direção à saída, tomando cuidado para não esbarrar em ninguém. Estava quase lá, e com tempo de sobra, quando ouvi uma voz mencionando o nome Akito a poucos centímetros do meu ouvido.

Parei no mesmo instante. Eu sabia que precisava continuar, mas minha curiosidade foi mais forte. Virei e vi dois jovens na fila para comprar espetinhos de yakitori, conversando sobre Akito. Eu podia perder um ou dois minutos, então entrei discretamente na fila atrás deles e comecei a escutar.

— É, ele ainda me devia uma boa grana também — disse um deles. — Acho que nunca mais vou ver esse dinheiro.

— Ah, sério? Ele te passou a perna também? — respondeu o outro. — Quer dizer, eu sabia que ele tinha acumulado umas contas absurdas em vários bares, mas... caramba.

— Peraí, você tá de brincadeira? Foi pra isso que ele usou meu dinheiro? Puta merda, Akito.

— Bom, na real, eu não sei. O que dizem por aí é que ele se meteu com umas organizações bem suspeitas lá no continente, se é que você me entende. Não me surpreenderia se ele estivesse com uma dívida gigantesca ou até sendo extorquido.

— Caramba, mano. Como um cara desses passa de herói a fracassado tão rápido? Que horror.

Eu não podia acreditar no que estava ouvindo. Akito, endividado e envolvido com a máfia? Nem ferrando. O Akito que eu conhecia jamais se rebaixaria a esse nível.

Me vi preso no lugar, incapaz de parar de ouvir, por mais absurdo que parecesse. Se o que estavam dizendo era verdade, não pude deixar de me perguntar se isso tinha alguma relação com a lesão no ombro dele.

Decidi continuar ouvindo por mais um tempo, mas, exatamente nesse momento, ouvi o sino das seis horas começar a tocar.

Droga. O tempo acabou.

Esperando, em vão, que ainda pudesse sair do festival a tempo, dei alguns passos para trás para me virar — e acabei tropeçando na perna de um cliente que tinha acabado de entrar na fila atrás de mim.

Nós dois caímos de forma espetacular. Imediatamente, me levantei, virei e tentei me desculpar.

— D-Desculpa, eu não estava prestando aten—

Minha respiração ficou presa na garganta. Foi então que percebi que reconhecia o rosto avermelhado e embriagado do homem caído no chão à minha frente. Era o mesmo bêbado de meia-idade que tentou arrumar briga comigo logo após o segundo Rollback. Ele rosnou de dor e, em seguida, lançou um olhar furioso para mim de onde havia caído de traseiro no chão. Isso não parecia nada bom para mim; do jeito que as coisas estavam indo, acabaríamos nos metendo na mesma briga outra vez. Eu precisava me apressar e me desculpar antes que—

 


Este Capítulo foi traduzido pela Mahou Scan entre no nosso Discord para apoiar nosso trabalho!


 



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