Volume 1 – Arco 1
Capítulo 3: Auct... Ativar!
Com um aperto singular no peito e um nó na garganta, Leonardo estava tentando acalmar sua respiração, afinal usou muita Energia no teste.
Estava quase estampado no rosto dele que não era um resultado que esperava.
Assim, após anotar o resultado do teste, Isabela falou: — Bem, agora, peço que me siga até a sala de treino, para vermos o seu Auct.
Leonardo acompanhou a agente ao lado, não puxando assunto, apenas indo até onde deveriam ir.
Ele estava quieto, colocando seus pensamentos em ordem.
“Sim, é um problema comum. Muitas pessoas passam por isso...” enquanto pensava, engoliu seco. “Com certeza vou ser morto por ela.”
Já nem ligava mais para o teste ou que seu Grau era tão baixo, afinal chegou aqui não desejando mais levar uma vida perigosa e cheia de riscos. O real problema estava na sua família.
O prédio de treino não estava muito distante do que estava agora — em verdade, ficava logo no prédio do lado — já que era uma forma mais ágil de testar os possíveis alunos novos.
A caminhada continuou silenciosa, até que, de repente, assim que estavam no último corredor e se dirigindo à saída lateral, uma explosão aconteceu. Primeiro foi possível ouvir o barulho absurdo de estouro e, depois, ver uma enorme cortina de poeira se levantando!
Após esse ataque aos tímpanos que uma pressão de ar foi jogada no rosto do jovem de olheiras, empurrando-o para trás, e Isabela, que foi pega ainda mais desprevenida com a situação.
Destroços estavam sendo atirados para o céu em diferentes direções. Logo algo deveria ser feito imediatamente.
E, como lampejos, diversas figuras uniformizadas com ternos estavam em pleno ar. Até Isabela já estava lá, segurando uma espada transluzente que parecia feita de luz.
Leonardo não pôde sequer vislumbrar a agente saindo do lado dele. Sua velocidade estava longe de ser perceptível para olhos como o dele.
Os outros agentes controlaram bem a situação dos detritos voadores, interrompendo os seus trajetos e os destruindo.
Para o garoto, ver Isabela cortar os enormes pedregulhos, que antes eram paredes, até virarem pó, como se fosse nada, era uma cena “fodástica”.
Seus movimentos foram fantasmagóricos; um corte foi como centenas de ataques, de uma só vez. Não demorou muito para a situação se acalmar.
Ainda parado no local, estava sem palavras. Leonardo havia visto diversos vídeos de Venantes, mas uma demonstração real, e próxima, era algo que maravilharia qualquer um.
Alguns minutos se passaram. Os agentes foram conversar sobre a situação, e, quando tudo pareceu estar em ordem, Isabela voltou ao lado de Leonardo e comentou incomodada: — Um garoto de Grau A exagerou quando ativou o Auct. Ai, ai... Por muita sorte, ninguém se machucou. Tivemos que fazer algumas mudanças de planejamento.
— Que mudanças?
— Ele destruiu muitas salas de teste... é bem provável que o prédio venha a desabar. Então, mudamos o local de teste de Auct. — Ela deu uma leve pausa, para olhar nos olhos do Leonardo. — Espero que não se incomode, mas todos deverão fazer na quadra esportiva...
— Todos... Você quer dizer que todos verão o Auct um do outro? — falou com certa descrença. Para alguns, o Auct podia ser uma informação confidencial.
— Como falei, espero que não se incomode. Acredito que alguns estudantes preferirão testar em outros lugares. Se for o seu caso, podemos mudar o local e marcar outro dia.
Leonardo pensou um pouco. Ele já odiou o fato de ter que vir pela manhã nesse local e fazer esse teste, então preferiria resolver tudo de uma vez. Assim, apenas respondeu: — Ah, que seja. Vamos então.
Chegando lá, viu por volta de dez jovens, sem contar os agentes.
Charlotte também estava presente, próxima de uma garota e um garoto. Quando os olhos de Leonardo e os dela se encontraram, a menina logo mostrou uma expressão mal-humorada e voltou a conversar com os dois ao seu lado, ignorando-o por completo.
Essa expressividade foi um tanto cômica para Leonardo, mas acabou por não comentar nada e nem a olhou outra vez.
Nesse momento, os agentes de teste se reuniram em fila, um do lado do outro. No meio deles havia um homem mais velho, que se preparava para discursar.
— Muito prazer, jovens, me chamo Rafael Tavares...
Os jovens começaram a cochichar, afinal, Rafael Tavares era um famoso Venante de Grau A na Associação das Américas.
— Peço humildemente desculpas por tê-los decepcionado em questão de precaução de situações, como foi esta que nos forçou a essa medida quase pública. Contudo, como imagino, todos que restam aqui estão dispostos a fazer o teste. E sou muito grato pela compreensão de vocês. — Ele juntou as mãos e finalizou dizendo: — Muito obrigado.
Com o discurso terminado, os agentes caminharam até os jovens que estavam designados e distribuíram comprimidos. Era a droga de ativação de Auct.
Era de conhecimento comum que bebês, crianças e adolescentes não seriam capazes de despertar seus Aucts sozinhos, apenas sentir e manipular a Energia que estava contida no ar. Portanto, com testes seguros e lentos, foi desenvolvida uma droga de ativação.
Aos 14 anos, a maioria dos adolescentes já teria a capacidade de ativar seu Auct com esse medicamento, sem quaisquer maiores complicações.
Leonardo tomou o comprimido dado por Isabela e logo sentiu uma ardência em seu corpo... nada muito forte.
Todos os adolescentes sentiram o mesmo; era a reação da Energia contida tomando forma. Havia raros casos de descontrole de Energia, ativando forçadamente o Auct da pessoa de primeira. Porém era para isso que serviam os agentes: contenção e proteção.
Dessa forma, dez minutos passaram, e muitos suavam de leve.
Rafael andou para o meio da quadra, pigarreou e comunicou os jovens: — Bom, agora, peço que vocês se dividam em duplas para testar seus Aucts em um teste amistoso. E não precisam se preocupar, estaremos aqui para cuidar de qualquer problema. — Ele olhou com apreço para as crianças e deu um sorriso. — Decidam suas duplas e dirijam-se para diferentes pontos da quadra. Nossos agentes cuidarão da distância de cada um quando se organizarem.
Visto que era uma quadra de futsal aberta, havia espaço suficiente para este teste.
Normalmente, nenhum jovem se enfrentaria, muito menos veria o Auct de outro antes das aulas começarem, mas Rafael abriu essa exceção por diferenciação — o que não foi notado pelos jovens. Era algo que só os agentes sabiam.
Enquanto Leonardo não sabia o que fazer, alguém o cutucou no braço com força.
Na hora que olhou, encontrou um par de olhos ferozes o encarando.
— Você e eu. — Não havia dúvida de quem era. Charlotte estava forçan... formando uma dupla com Leonardo. E, pelo que parecia, queria devolver o insulto de mais cedo através desse treino “amistoso”.
O jovem olhou para todos os lados, vendo que os outros já haviam formado suas duplas, suspirou e desistiu de negar. — Certo, certo... Você e eu.
Ela sorriu de orelha a orelha. Parecia muito animada para bater nele.
Acompanhados de dois agentes por trás, um sendo Isabela e o outro sendo o que acompanhava Charlotte, a jovem Veneditte puxou assunto: — Então, quanto é o seu Grau?
Leonardo pensou se deveria responder de uma só vez. Então, bolou uma resposta provocativa: — Dois e meio em ambas lentes. — Um sorriso malvado quase apareceu em seu rosto.
Ela parou, notando que a resposta se referia aos óculos dele e gritou: — Não isso! Você sabe do que eu estava falando! Diga o seu Grau de Energia! — Já estava cansada das provocações dele, então, seu grito foi ouvido por todos na quadra.
Ignorando o escândalo dela, Leonardo fingiu não ter entendido e contornou a questão. — Ah, você quis dizer isso... Mas por que não me conta o seu? Parece que está bem confiante por causa disso.
— Heh... Eu deixei parecer assim? Bem... alcancei Grau B+; por poucas centenas não cheguei em A-. — A indignação anterior havia desaparecido imediatamente com apenas uma pergunta, sobrando apenas orgulho e animação em seu rosto e palavras.
Com essa informação, sabia que Charlotte ia acabar dando uma boa surra nele. Por sorte, era só um teste e, assim que ativassem os seus Aucts, poderia pedir desistência, sem mesmo trocar um golpe.
Parecendo que ela só queria exibir o resultado do Grau, acabou que ele não precisava comentar do D− que alcançou, e nem comentaria, afinal a garota só iria debochar da sua cara.
Os dois chegaram na área onde iam testar e se separaram por vinte passos, ficando os dois agentes na metade, para intervir qualquer problema.
— Vou contar até cinco e vocês devem ativar seus Aucts. Preparados?! — Isabela gritou para os dois.
Ambos assentiram e ela começou a contar.
Durante esses segundos, Leonardo focou em sua Energia. Ele queria sentir as mudanças que teve com a droga, mas parecia tudo exatamente o mesmo.
— Cinco!
Nessa hora, os dois, Leonardo e Charlotte, recordaram do que seus pais sempre falavam.
“Quando você ativa seu Auct pela primeira vez, a sua vida muda para sempre.”
Ambos gritaram: — Ativar!
A Energia dentro de seus corpos começou a vibrar.
Charlotte sentiu ela correr direto para os braços, querendo vazar de suas mãos pelos dedos.
Energia vermelho rubro saiu, tomando silhueta no chão. Era como se a névoa vermelha estivesse ficando sólida.
E dessa amorfa névoa, um de cão e um felino, grandes e chamejantes, apareceram.
Essas criaturas quase alcançavam a altura da cintura da jovem, mostrando que mesmo quadrupedes eram enormes e vigorosos. E o que mais atraía neles era o fato de serem completamente vermelho-sangue.
O agente de Charlotte, Felipe, anotou no holograma do Nelink: “Auct de Categoria Invocação... Classe Raro... Classificação encaixável em Invocação Animalesca... Juntamente com Grau de Energia B+. Uma combinação poderosa, mas falta controle e prática.”
A figura dos animais estava trêmula, como se fossem desaparecer do local.
Enquanto isso, do lado do Leonardo, não mostrava mudança, a não ser seus olhos, agora brilhantes, bem abertos, parado no lugar e suando muito.
Isabela perguntou para ele: — Leonardo, está tudo bem?
Ela mostrou muita preocupação, o nível de suor estava aumentando com o passar de segundos, o que mostrava que estava gastando toda a Energia que tinha.
Sem uma resposta, Isabela correu até o lado dele e começou a sentir a circulação sanguínea através do pescoço. Estava muito acelerada, deixando-a ainda mais preocupada.
— Leonardo? Está me ouvindo?
Charlotte estava ainda com os animais ativados e respirava forte para mantê-los ali. Ela ainda os mantinha porque o teste não foi parado.
Depois de 20 segundos, desde o ativar do Auct, Leonardo levantou a mão, para afastar a mão de Isabela do seu pescoço e disse ofegante: — Está... Hah... Tudo bem... Hah... Podemos continuar.
Estava óbvio que não podia continuar. Além de estar mais pálido que um papel, seu suor era tanto que quase encharcou a jaqueta que estava usando.
— Você tem certeza disso? Não se esqueça, você é Grau D−, não tem porque continuar — falou baixinho em seu ouvido.
Ele olhou para Isabela e, ainda respirando com dificuldade, respondeu: — Você... Hah... Não precisa documentar... o meu Auct? Então, preciso mostrá-lo. Hah... Não se preocupe, vai ser rápido...
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