Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


Volume 3

Capítulo 88: O povo das matas.

Depois de um primeiro encontro um tanto quanto turbulento, Tyler seguiu os caçadores até a sua vila.

A vila era cercada por uma grossa parede de troncos. Com certeza aquilo tinha dado muito trabalho para ser feito, depois de passar pelos portões, Tyler ficou desconcertado ao ver as estruturas de habitação, não porque eram diferentes, mas porque eram muito semelhantes as ocas indígenas que ele tinha visto muitas vezes em suas viagens na amazônia.

“Posso falar com o pajé e com o cacique?” Tyler perguntou.

Piatã tremeu por um instante, como aquele homem sabia chamar os seus líderes pela língua antiga? “Você fala a língua antiga?” Ele quis saber.

“Parece que sim, acredite isso está tão estranho para mim quanto para você.” Tyler falou.

Depois de perceber que esse homem não era simples, Piatã o deixou em uma oca no centro da aldeia e foi se encontrar com o cacique.

Por sua vez Tyler ficou a sós com os seus pensamentos, os mais insistentes no momento eram ‘Que merda é essa?’ e ‘Como eu não liguei os pontos antes?’.

Um “pequeno” ponto que ele deixou passar despercebido até agora era o nome desse povo. Timbira era o nome de um povo indígena do Brasil, hoje em dia eles eram muito pequenos e pouco numerosos. Contudo, um dia eles foram um povo grande, Tyler não percebeu antes, pois essa tribo não fazia parte das que ele entrou em contato.

Embora Tyler amasse o Brasil, é quase impossível o conhecer por completo. Os timbiras eram um grupo étnico que abrangia muitos outros, eles habitavam entre o nordeste, centro-oeste e o sudeste, Tyler só teve contato com os povos no norte do país, mas ele uma vez leu um livro de um grande escritor brasileiro chamado Gonçalves Dias e nele os timbiras eram retratados.

(Trecho falado em Timbira.)

“Meu filho disse que você fala a língua antiga?” Um homem de meia idade entrou e perguntou.

“Parece que sim.” Tyler respondeu fluentemente, como era de se esperar Tyler não fazia ideia de como se falar este idioma, antes de ter aquele encontro com o estranho pergaminho, ele poderia falar uma ou duas palavras em tupi ou tupi-guarani. Porém de nada adiantaria, pois essa tribo pertencia a um outro tronco linguístico.

“Quem é você?” O homem espreitou os olhos.

“Meu nome é Tyler Newman, atualmente eu sou o príncipe herdeiro do rei Otaviano I.” Tyler revelou sua identidade.

“Eu sou Ubatã, o chefe desta tribo!” Ele disse orgulhosamente. “É um prazer conhecer Vossa Alteza, mas isso ainda não explica nada. Como alguém de fora sabe nossa língua antiga?”

“Parece que nós dois temos alguns segredos, chame o pajé e nós três podemos conversar abertamente.”

A situação toda era mais complicada do que parecia, pouquíssimas pessoas de fora sabiam como funcionava a estrutura hierárquica da tribo e ninguém de fora sabia os nomes reais como cacique e pajé! Somente os membros da tribo e quando tinham certeza de que não havia nenhum estrangeiro por perto. “Venha comigo.” Ubatã falou por fim.

Tyler seguiu o homem e viu que ao lado da entrada um grande cadejo branco e preto tinha ficado esperando. Como um bom cão de guarda ele seguiu fielmente ao lado do dono, embora o cão não ficasse olhando para Tyler, ele sabia que o cachorro o vigiava constantemente.

Depois de percorrer toda a extensão da aldeia Tyler chegou a uma oca mais afastada. Ela era decorada com crânios e peles de várias feras diferentes.

“Upiara.” Ubatã chamou de fora da oca.

“Entrem.” Uma voz velha soou de dentro.

Seguindo o cacique Tyler entrou. Sua visão demorou um pouco para se acostumar com o ambiente. Havia uma fogueira no centro que estava emitindo uma fumaça, Tyler não sabia se ela estava mais ajudando ou atrapalhando a visibilidade, mas com ajuda dela ele pode ver melhor o entorno.

Várias ervas diferentes estavam penduradas no teto, e como antes do lado de fora, também havia peles e crânios de feras ali.

“Por que vieram aqui?” O velho falou com desdém, ao lado dele um cadejo completamente branco descansava.

“Para conversar.” Tyler tomou a frente e disse.

O velho não conseguiu esconder seu choque. “Ubatã, explique isso!” Upiara exigiu.

“Esse homem é o filho do rei, também não sei os motivos dele saber nossa língua.” Ubatã estava desamparado.

“Meus ancestrais fizeram um acordo com o rei, não nos envolvemos com eles e eles não se envolvem conosco, como você sabe nossa língua sagrada e antiga?”

“Não sou deste mundo.” Tyler foi curto e grosso, o velho não estava lhe dando respeito e ele também não lhe deu algum.

“Explique-se!” O velho exigiu.

“Vim para conversar, não para ser interrogado!” Tyler foi ríspido e para completar ainda juntou saliva e cuspiu de lado.

“Você!” O velho saiu do sério, o cão ao seu lado assumiu uma postura agressiva e começou a rosnar.

“Se me tratar como amigo, serei seu amigo. Se me tratar como inimigo serei seu inimigo. Tente a sorte em me desafiar e verá que eu mato metade dos seus antes mesmo de começar a suar.” Tyler falou com um tom calmo.

“Você é aquele que matou os trolls?” O cacique perguntou.

É claro que as notícias sobre aquele episódio já tinham se espalhado, mas como aqui não existe televisão, elas demoram um pouco e nem sempre chegam de forma verídica.

“Sim.” Tyler respondeu. “Querem começar de novo? Meu nome é Tyler Newman, eu vim para conversar.”

“Certo, eu sou Ubatã. O líder religioso dessa tribo, é meu dever passar aos mais jovens nossas tradições.”

“Entendo, eu conheci muitos como o seu povo.” Tyler falou.

“Não conhecemos nenhum povo como o nosso que habita essa região.” O cacique falou.

“Não falei que era dessa região.” Tyler sorriu.

“Você não estava mentindo quando disse que não era deste mundo, estava?” O pajé perguntou.

“Não.” Ele respondeu.

O velho passou a mão na cabeça do seu cão e ficou pensando. “Existe uma lenda muito antiga, na verdade ela é nossa lenda mais antiga.” Ele começou a falar. “Ela diz que nosso povo era grande e próspero, ele vivia em um paraíso onde as matas eram sempre verdes e os frutos abundantes, sempre havia peixes e caças. Um dia um bravo guerreiro achou uma caverna atrás de uma cachoeira, depois de entrar ele saiu em uma floresta diferente da que vivia. Não havia mais pessoas morando nessas matas, mas havia animais muito mais fortes e poderosos que os da sua terra, ele voltou e contou aos outros. Os timbiras como eram homens corajosos e não temiam a guerra resolveram ver como era essa outra terra, por muitos dias eles iam e viam sem problemas nenhum. A aldeia desse guerreiro resolveu ir para lá por um tempo, mas quando tentaram voltar, a caverna tinha se fechado.”

“Obrigado, isso me ajuda muito.” Tyler falou, ele já tinha levantado uma hipótese sobre isso. Ele já tinha encontrado pessoas de muitas etnias diferentes e não só os seus corpos lembravam os da terra como também os seus nomes eram parecidos. A resposta mais plausível era que em algum momento um portal se abriu em diferentes locais do globo.

“Vai me contar sua história?” O pajé perguntou.

“Minha história é como a sua, eu sou do mundo que vocês vieram, mas muito tempo depois.” Tyler explicou.

“Mais pessoas vieram com você?” Ele quis saber.

“Por enquanto só eu, não sei se vou trazer outras pessoas.”

“Nós acreditamos que foram os deuses quem nos trouxeram pra cá, sendo assim você deve ser alguém escolhido por eles.” Ubatã falou.

“Não sei quanto a isso.” Tyler deu de ombros, nem negando, nem afirmando.

Depois desse primeiro contato, tanto o pajé como o cacique se abriram com Tyler. Eles começaram a falar como a vida dos primeiros guerreiros foi difícil, eles não conheciam bem aquelas terras e frequentemente morriam quando eram atacados.

Com o tempo eles aprenderam sobre as ervas medicinais e então começaram a usar peles de feras como roupas e armaduras.

Na cultura indígena é comum os adultos darem filhotes para as crianças criarem, não como bichinhos de estimação. Quando uma criança cria o animal ela aprende o hábito dele e assim pode caçar essa presa com mais facilidade no futuro.

Parece que em algum momento eles criavam lobos gigantes e outra espécie de cão, acidentalmente eles cruzaram.

O resultado disso foi o cadejo, embora ele fosse menor, era mais esperto e leal que o lobo gigante. Tyler ficou impressionado que essa espécie híbrida gerasse filhos férteis.

A mula, por exemplo, é o resultado do cruzamento de um jumento com uma égua, a mula por sua vez é estéril! Um caso bem incomum é o tigre e o leão, embora ambos sejam felinos as crias, chamadas de ligres, também são estéreis.

“Eu quero um cadejo.” Tyler falou depois de um tempo.

Ambos os índios se olharam por uns instantes. “É impossível, é contra as nossas regras mais sagradas dar um filhote dos nossos a um estranho.” O pajé falou.

“E se eu for um dos seus?” Tyler sugeriu.

“Como assim?” O cacique perguntou.

“Eu conheci alguns povos como os seus, eu sei que há um ritual que todo homem passa para se tornar um guerreiro, e só depois que ele passa por isso é um membro de verdade da tribo, me deixem passar pelo seu teste.” Ele pediu.

O cacique olhou para o pajé em busca de respostas, essa questão era da alçada dele. “Está bem! Durma essa noite conosco e amanhã faremos o ritual.”

“Bom, estarei esperando.” Tyler sorriu sem nem saber qual era o teste.

Os dois homens tinham expressões curiosas sobre Tyler, aquilo era coragem ou burrice?



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