Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


Volume 3

Capítulo 82: Comerciantes de longe.

“Então com isso vai parecer que eu estou viajando normalmente?” Tyler perguntou aos meninos.

“Sim, isso vai fazer falsas trilhas digitais suas.” Night Up falou.

Como Calie não sabia da verdade ainda, ou a falsa verdade que os garotos acreditavam, Tyler tinha que mentir sobre suas viagens ao outro mundo e os rapazes estavam dando uma ajuda com isso. Eles tinham feito um programa simples que enviaria alguns e-mails com o check in do aeroporto e dos hotéis que ele estaria.

“Tyler posso falar com você?” Calie perguntou na porta do escritório.

“Claro, eu só estava terminando umas últimas instruções antes da viagem.”

“Certo, eu entrei em contato com o homem que está vendendo a refinaria de pequeno porte.” Calie falou.

“Oh sim, ele usava ela para o quê?” Tyler perguntou.

“Ele trabalhou um tempo fazendo pesquisa para uma universidade, e depois que a pesquisa acabou, ela foi desativada.” Calie respondeu.

“Qual a capacidade dela?”

“10.000 litros/dia.”

Uma refinaria com a capacidade de produzir apenas 10.000 litros de combustível por dia não serve para quase nada nos dias de hoje, na verdade elas são muito raras de se encontrar. Tyler teve essa sorte apenas por causa do local onde vive, o Texas é um dos maiores pólos petrolíferos do mundo, não só na área de extração como também na de desenvolvimento de equipamentos.

“Pode comprar.” Tyler falou.

“Certo. Ah, eu já ia me esquecendo, chegaram umas caixas bem grandes para você.” Calie anunciou e saiu para terminar a compra, desde que começou a trabalhar a quase um mês atrás ela já tinha se adaptado muito bem ao serviço.

‘Muito bem, vamos ver se está tudo aqui.’ Tyler foi conferir as caixas.

Duas noites atrás ele tinha contado outra vez a Mel sobre as fadas e dessa vez ele disse que tinha feito algumas espadas para os guardas com serras velhas que tinha na sua caixa de ferramentas. Mel lhe perguntou por que as fadas não faziam suas próprias espadas.

Tyler não sabia bem o motivo, mas lembrou que o guarda tinha dito que eles tinham muita dificuldade em encontrar objetos e roupas que fossem dos seus tamanhos, afinal qual era o artesão ou ferreiro que se preocuparia em fazer coisas para fadas?

Pensando nessa necessidade, naquela noite Tyler começou a navegar na internet e pesquisou sobre esse assunto. Primeiro ele procurou produtos para maquetes, mas depois descobriu que existe um hobby e bem caro diga-se de passagem, de pessoas que fazem casas de bonecas totalmente funcionais e em escala reduzida perfeita.

Muitas dessas miniaturas eram usadas na indústria cinematográfica. Um ótimo exemplo é no filme Independence Day, onde a casa branca é destruída pelo raio alienígena, aquilo não foi um prédio de verdade e sim uma maquete feita nos mínimos detalhes.

Tyler se empolgou um pouco e comprou um lindo (e caro) palácio, ele era uma réplica de um palácio na Baviera, na descrição do site dizia que Walt Disney tinha se inspirado nele para fazer o da Cinderela.

Verdade ou não, Tyler o comprou. Ele era completo, tinha instalações elétricas e hidráulicas funcionado perfeitamente e todos os móveis e pratarias eram funcionais, a única coisa que Tyler tinha que mudar era que normalmente ele seria ligado na tomada, então Tyler tinha que fazer um painel solar para alimentar.

***

Tyler se preparou para atravessar o portal, cada dia que passava o volume de mercadoria que ele vendia aumentava, cada vez que ele passava nas ruas já era comum ver pessoas com camisas vendidas por ele ou com isqueiros e pederneiras.

Nesses últimos dias Tyler estava empenhado em fazer com que a grande massa comprasse seus produtos, enquanto ainda dava tempo ele trouxe muito sal, farinha e ferramentas agrícolas.

Tyler os vendia a um custo muito baixo e ganhava no volume.

“Majestade!”

“Majestade!”

“Majestade!”

Tanto os guardas quanto os cidadãos que viam Tyler se curvaram e cumprimentavam Tyler com o máximo respeito. Não era como se antes não tivessem, mas agora o nível tinha sido elevado a outro patamar.

No começo Tyler se sentiu incomodado e até pediria para que não fizessem, mas decidiu fazer qualquer mudança quando fosse definitivamente rei.

“Majestade, o senhor já retornou.” Thoran veio recebê-lo.

“Sim, como estão as coisas.” Tyler quis saber.

“Tudo vai bem, a construção da cidade anda dentro do prazo e o comércio tem aumentado cada dia mais, temos lucrado muito só com os impostos.”

Já era de se esperar, embora Tyler tivesse diminuído muito os custos dos impostos, a receita aumentou exponencialmente. Com um custo menor as transações aumentam e também as taxas eram diferentes para os comerciantes do reino e os estrangeiros, mesmo que fosse um pouco a mais, não afugentou ninguém.

“Quem são aqueles homens de pele escura?” Tyler apontou para um grupo de homens muito bem-vestidos que estavam comprando em uma barraca próxima.

“Eles são comerciantes do reino central, estão comprando tudo que veem pela frente, eles até pediram uma audiência com o senhor, mas como o mestre estava fora, não foi possível.” Thoran explicou.

“Eles provocaram alguém ou fizeram algo de ruim?” Tyler quis saber, pois pelo que ele sabia da geopolítica local, o reino central era de longe o mais rico e poderoso dos reinos humanos, e muitas vezes ele tenta impor suas vontades à força.

O reino leste, que era o que Tyler tinha chegado, era muito ligado com o reino oeste e os dois unidos, mesmo que ainda em desvantagem, faziam frente aos abusos do reino central.

Mesmo assim escaramuças nas fronteiras eram muito comuns e o reino do sul, que estava só nos desertos vivia em uma guerra contra ele já fazia mais de 15 anos.

Tyler sabia disso através dos lordes da casa dos sábios, parece que o povo do sul era conhecido por sua ferocidade em guerra e também eram muito acostumados ao clima do deserto, então mesmo em desvantagem clara eles nunca se renderam.

“Certo, diga a eles que posso recebê-los daqui a pouco, mais alguma notícia?”

“Vossa majestade o rei mandou dizer que encontrou uma fera marinha e que o senhor deve ir vê-lo assim que possível.” Thoran passou o recado.

“Entendo, então como não há grandes coisas para se fazer aqui, eu partirei depois dessa reunião. Como sempre mande os soldados trazerem as mercadorias da montanha.” Tyler falou.

“Escuto e obedeço.” Thoran se curvou e saiu.

Tyler balançou e riu, mesmo Thoran estava lhe tratando diferente agora.

***

“Alteza esses são Amom, Mesek e Tórus. Os comerciantes do reino central.” Thoran anunciou os três homens.

Tyler os olhou e começou a analisar, seu sexto sentido ficou inquieto. Quando se experimenta a morte de perto e sobrevive você ganha esse sentido, depois que aquele pergaminho pegou fogo na frente dele, ele não só tinha a fluência em todos os idiomas, como também um certo “radar” ou uma “facilidade” em ler a personalidade dos outros.

Algo lhe dizia que esses homens não eram simples comerciantes.

Todos os três eram negros, alto e fortes. Fora Amom, que parecia ter cerca de 35 anos os outros dois estavam na casa dos vinte, eles tinham a cabeça raspada e usavam brincos em argola em ambas as orelhas, suas roupas pareciam muito com mantos festivos que Tyler tinha visto em certos países da África.

“É um prazer recebê-los aqui, lamento não tê-los encontrado antes, como sabem eu estive fora cuidando de outros assuntos.”

“Por favor, não se incomode tanto com meros comerciantes como nós. Parabenizo o mestre por se tornar o príncipe herdeiro.” Amom falou.

“Sentem-se e vamos conversar.” Tyler apontou para as cadeiras. “Thoran traga uma bebida gelada para esses homens.”

“Sim, mestre.” Thoran saiu e Tyler começou a investigar.

“Então, qual o motivo de quererem me encontrar pessoalmente?”

“Como disse, somos apenas comerciantes, e bons relacionamentos são um dos pilares dos nossos negócios.” Amom explicou e trouxe uma caixa de madeira à vista. “Por favor, receba este pequeno gesto como prova de nossas intenções.”

Tyler aceitou a caixa e abriu. Era uma linda adaga prateada, ela tinha pequenas joias azuis e verdes no cabo e bainha. Por todo o corpo dela, inclusive na própria lâmina um padrão muito intricado e delicado foi talhado.

Era uma peça que mesmo na Terra valeria alguns milhões.

Tyler pegou no cabo e a retirou da caixa. “Isso...” Ele ficou bobo com o peso.

“Essa peça foi comprada no além-mar quando os elfos ainda vendiam armas para nós, ela é feita de Mithril!” O homem falou orgulhoso.

Mithril? Tyler era um grande fã de Tokien e naturalmente sabia sobre esse material mítico, mas não era só um mito?

“Eu vejo, é sem dúvidas uma bela obra de arte, eu vou agradecer o gesto.” Tyler disse depois que recuperou parte da compostura.

Thoran entrou novamente acompanhado por Nilla, a jovem que agora era serva em sua residência. Ela serviu a todos refrigerantes em taças e uma tigela com doritos.

“Fiquem à vontade, essa é uma especiaria da minha casa, sei que não pode fazer frente com o presente que recebi de vocês, mas peço que apreciem.” dizendo isso Tyler bebeu a coca primeiro.

Seguindo Tyler, os homens beberam, e como de costume eles choveram elogios.

“Quais são os produtos que vocês estão interessados?” Tyler perguntou.

“Queremos um pouco de tudo, bem para falar a verdade queremos muito de tudo, todos os comerciantes têm que reconhecer que os produtos de vossa majestade fazem frente com os dos elfos e anões. Mas se possível queríamos saber se o senhor venderia aquelas outras coisas...” Amom assumiu um tom mais cauteloso.

“Quais...” Tyler soou frio.

“Notamos que os seus guardas têm armas diferentes, gostaríamos de comprar alguns exemplares, se fosse possível é claro.”

“O reino central está com falta de armas?” Tyler jogou verde.

Amom riu e disse. “Recentemente tivemos vários surtos de feras, soubemos que suas armas são imbatíveis e queríamos algumas delas, mesmo que fossem em pequeno número.” Ele explicou.

Amom foi muito bom em esconder suas intenções, mas os dois garotos ficaram com uma cara azeda com a insinuação de Tyler. E não era para outra, ele tinha cutucado o orgulho da maior potência armamentista da região.

“Eu também estou com pouco número delas, elas usam um material muito raro e talvez agora que sou o príncipe herdeiro eu possa fabricar mais delas no futuro.” Tyler nem negou ou cedeu ao pedido, apenas estendeu o prazo de negociação.

“Entendo que seja muito difícil fabricar aquele tipo de arma, espero que possamos comprar algumas quando for possível.”

“Por mim não há problemas, mas eu agora sigo as ordens do meu pai real. Se for vontade dele...” Tyler tirou o seu da reta.

Amom ficou quieto por alguns instantes e olhou para os jovens. Foi muito sutil, mas Tyler viu quando um deles fez um sinal afirmativo.

“Entendo, se quiser uma prova da nossa boa ação, podemos pagar adiantado por uma.” Amom falou.

“Como eu disse tenho que conversar com o pai real.”

“Podemos dar 3.000 moedas de ouro por uma.” Mesek se precipitou e disse.

“Garoto, estamos falando de valores totalmente diferentes, qualquer uma daquelas para mim custa por volta de 8.000 moedas de ouro só em materiais, ela é feita juntando partes das mais raras e perigosas feras, eu não venderia por no mínimo o triplo do valor que me custou.” Tyler mentiu sem pestanejar.

O choque pegou todos inclusive Thoran de surpresa.

“Eu não sabia que era tão difícil assim.” Amom falou.

“Aquelas são as únicas em todo o reino, com sorte poderei fazer no futuro, mas agora é só um sonho distante.” Tyler falou. “Querem mais alguma coisa?”

“Não, era só isso mesmo, conversar com vossa majestade foi um prazer enorme, vamos terminar de fazer o nosso comércio e partiremos ainda hoje.” Amom disse.

“Tenham uma boa viagem, aqui, tomem esse presente de despedida.” Tyler abriu a gaveta e puxou três isqueiros tipo zippo, os que ele vendia eram aqueles de plástico que vinham em cartelas, mas esses não, eram todos em metal e muito resistentes, a qualidade era muito superior aos encontrados nas bancas da cidade.

“Muito obrigado.” Os três agradeceram.

“Só um conselho, vão conhecer um pouco  cidade, não se preocupem, se algum problema acontecer com vocês podem ficar tranquilos que os culpados serão encontrados mesmo que se escondam no buraco mais sujo e imundo que existe e receberão em dobro o dano que cometeu.” Tyler deu o seu recado.

Quem fosse esperto saberia que as palavras de Tyler queria dizer outra coisa bem diferente. Elas diziam: “Não fodam comigo!”

“Obrigado, apreciamos a hospitalidade.” Amom agradeceu e saiu com os dois rapazes.

Depois de estar a sós com Thoran, Tyler disse. “Mande Noeru redobrar a guarda na cidade, e todos os guardas armados devem andar em grupos de pelo menos cinco, nunca desacompanhados!”

“Certo, acha que eles vão nos roubar, mestre?” Thoran perguntou.

“Não sei, só sei que essa história toda não é tão simples como parece!” Tyler falou.

“Entendo, vamos redobrar os nossos cuidados.”

“Viu como os mais jovens olharam para a empregada?” Tyler perguntou.

“Não senhor, não reparei.”

“Foi muito disfarçado, mas aqueles garotos tinham o mesmo olhar de um predador! Não confio nem um pouco neles, fiquem de olho nas mulheres da cidade também.” Tyler ordenou e ficou pensando. Mal sabia ele do impacto que isso teria no futuro.



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