Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli e Delongas


Volume 3

Capítulo 77: Histórias de ninar.

Atualmente, Tyler estava a frente da porta da casa de Calie, mas não sabia ao certo o que fazer. De certa forma ele meio que agiu por impulso ao contratar Calie e não sabia como dar uma desculpa plausível a ela.

Antes dele bater à porta, ela se abriu.

“Olá...” Tyler falou sem muita emoção.

“Oi, você voltou.” Calie parecia nervosa também.

“Sim, como sabia que eu vinha?” Tyler perguntou curioso.

“Não sabia.” Ela respondeu.

“Então como?” Tyler franziu o cenho.

“A porta... Ouvi sua camionete quando você estacionou.” Calie foi franca.

“Faz sentido.”

“Por favor entre.” Ela ofereceu.

“Obrigado e me desculpe por vir sem avisar.”

“Que nada, eu agradeço sua preocupação, afinal você veio bem antes do que tinha prometido.”

Só agora Tyler se lembrou que tinha dito que o tempo de sua viagem seria em torno de 10 ou 15 dias, mas nem mesmo os 10 dias tinham se passado. Será que ele tinha encurtado sua viagem inconscientemente? “Não foi nada.” Tyler soou inseguro.

“Quer beber alguma coisa?” Ela falou trazendo ele para a cozinha.

Tyler já tinha estado nessa casa em mais duas outras ocasiões antes dessa. Mas em todas elas ele tinha sido breve e como tudo na época estava girando sobre o funeral de Clare, ele não teve tempo de prestar muita atenção.

Ela era simples e humilde, era certo que elas tinham problemas com aquecimento no inverno e as manutenções simples estavam sendo deixadas de lado. Contudo parecia que Calie aos poucos estava cuidando disso.

“Então, quer beber alguma coisa?” Calie perguntou novamente.

“Não, obrigado.” Tyler respondeu, mas depois cheirou o ar e sentiu o cheiro de comida sendo feita. “Ainda não jantaram?”

“Não, na verdade é a primeira vez que eu cozinho desde… bem; desde que ficamos só.” Tyler pôde sentir a dor em sua voz.

“Eu sei como é ruim, tente focar sua mente em outras coisas, isso ajuda.”

“Estou tentando, por falar nisso quando começo a trabalhar?” Calie quis saber.

“Quando pode começar?”

“Agora!” Ela disse firme.

“Acho melhor esperar até amanhã.” Tyler brincou. “Quer ajuda com a comida?”

Calie sorriu. “Não precisa, está quase pronta.”

Tyler foi olhar o que estava na panela. Pelo que pôde concluir, as intenções dela era fazer uma macarronada, porém ela se esqueceu de tirar o macarrão da água fervente e agora tudo o que ela tinha era uma pasta de aparência esquisita.

“Não conheço essa receita." Tyler brincou, mas depois se arrependeu quando viu seus olhos encherem d’água. “Essa comida te lembra dela?”

*funga* “Eu pensei que poderia fazer igual a dela, mas parece que eu sou uma inútil mesmo!”

“Não fique assim, eu vou te ajudar. Quer que eu faça qual prato? Pode pedir, vou avisando que meu cardápio é bem variado.”

Calie recuperou um pouco a compostura e ficou pensando, não no prato que ela escolheria, mas como a situação chegou a esse ponto. “Pode fazer o que eu estava tentando preparar?”

“Claro, qual era a receita?” Tyler quis saber.

“Quatro queijos.” Ela respondeu.

“Essa eu sei.” Tyler sorriu. “Onde está a pequena Mel?”

“Está deitada, vou chamá-la e já volto.”

“Não se preocupe, leve o tempo que precisar.”

Quando Calie saiu, Tyler foi tentar cuidar desse jantar arruinado e como era de se esperar não havia nada que pudesse aproveitar, então ele decidiu fazer tudo do zero.

Começou com o molho e depois pôs o macarrão na água fervente, é claro que ele colocou algumas coisas como ervas e outras especiarias.

“Está pronto!” Tyler avisou assim que ouviu passos atrás dele. “Ah, oi!” Tyler cumprimentou quando viu que era Mel.

“Boa noite senhor Newman.” A menina falou.

Tyler se abaixou e a cumprimentou. “Boa noite, não precisa ser tão formal, me chame apenas de tio Ty, onde está sua mãe?”

“Ela está no banho e me disse que vem já.”

“Ok, está tudo pronto, quer fazer alguma coisa?” Tyler quis saber.

“Quero ver desenho.” A menina respondeu prontamente.

“Eu também gosto muito de desenhos, posso assistir com você?”

A menina apenas concordou com a cabeça e guiou Tyler. Ela ligou o televisor e ficou vendo um desenho de fadas, Tyler notou que ela segurava uma boneca com asas nas costas, a boneca era igual ao desenho. “É uma fada?” Ele falou alto.

“Sim, essa é a Trix, ela é minha preferida!” Melanie respondeu.

“Sabia que eu já vi fadas de verdade!” Tyler disse sem pensar.

“Sério???” Ela perguntou com os olhos brilhando.

“Sim...” Tyler se sentiu acuado, mas não teve como fugir. “Elas se parecem um pouco com a sua boneca, mas elas não têm asas como as de uma borboleta, se parece mais como as de uma abelha ou as de uma mosca, elas são transparentes!” Ele falou, afinal ela era só uma criança, que mal havia em lhe contar?

“Sério?” A menina estava em êxtase.

“Sim, quer saber mais o quê?”

“Como o senhor as viu?”

“Certa vez eu estava viajando para outro lugar, lá era um reino, esse reino estava tendo problemas com pessoas desaparecendo perto de uma floresta, essa floresta se chamava floresta da perdição, apesar do nome assustador nada de mal acontecia, as pessoas simplesmente entravam e saiam sem perceber, elas sempre se perdiam e saiam sem poder entrar fundo na mata. Porém, depois de um tempo as pessoas começaram a sumir de verdade e às vezes algumas até eram encontradas mortas!” Tyler contou.

“Quem fazia isso?” Ela perguntou assustada.

“Ninguém sabia, mas como tinha uma grande recompensa para quem descobrisse eu fui investigar.” Tyler começou a narrar toda a sua aventura, é claro que ele omitiu um ou outro detalhe e retirou as partes mais sangrentas, contudo ele contou toda a sua saga do começo ao fim.

Melanie estava com os olhos cheios de emoção, ela escutava tudo o que Tyler dizia com a maior atenção possível. “Qual é nome desse reino, tio?” A menina perguntou de repente.

“É o reino do Leste, seu rei é Otaviano I.”

“Onde fica esse reino?” Ela quis saber.

“Bem, na verdade ele não é aqui na terra, eu entrei nesse mundo através de um portal que fica nas montanhas!”

Melanie pareceu triste por um momento. “O tio está mentindo.”

“Claro que não, eu ganharia o que com isso?” Tyler se defendeu.

“Adultos sempre mentem, isso não é verdade.” Ela falou.

“Claro que é!”

“Como é o nome desse mundo que o senhor foi?” Melanie perguntou.

Como é o nome?

O nome… De repente Tyler percebeu que nunca tinha perguntado a ninguém de lá como eles chamavam aquele mundo!

Tyler mesmo sempre se referia como outro lado eu coisa do gênero, mas nunca tinha se questionado como aquelas pessoas chamavam seu próprio mundo. Vendo agora parecia uma coisa muito boba, e teoricamente deveria ser uma das primeiras coisas que ele deveria ter perguntado.

Talvez um dos fatores que contribuiu para ele deixar passar essa questão em branco foi o fato dele dizer que vinha de outro país, sendo assim seria absurdo ele perguntar a alguém como era o nome do seu planeta!

“Não sei.” Tyler respondeu.

“Como assim o senhor não sabe?” A menina estava realmente confusa.

“Oras, você já perguntou a alguém qual é o nome desse planeta?” Tyler retrucou.

“É Terra, todo mundo sabe!”

“E por que é Terra, se ele é maior parte de água? Você chama de Terra porque todo mundo chama.”

A mente da menina entrou em curto por alguns instantes, ela abriu e fechou a boca umas duas vezes, mas não pôde formular nenhuma resposta.

“Estão fazendo o quê?” Calie perguntou quando chegava.

“O tio Ty estava me contando sobre a vez em que encontrou fadas em uma floresta!” Mel contou a novidade para a mãe.

“Sério? Isso é tão legal, eu queria ouvir isso também, ele já me contou algumas histórias antes, mas nada desse tipo.” Calie respondeu.

“Ele me disse que fez o pedido de um rei e matou um ogro que estava pegando criancinhas, o tio falou que ele se parecia com o Shrek, é uma pena porque eu gosto do Shrek.”

“Shrek?” Calie ficou confusa.

“Sim, ele era verde e tinha aquelas orelhas com forma de corneta.” Tyler respondeu.

“Ahhh bom… eu não sabia que eles eram verdes.” Calie entrou na brincadeira, ela, como qualquer outra pessoa, estava pensando que Tyler estava brincando com sua filha e contando uma história qualquer para entretê-la.

“Não são verdes como uma folha, tá mais para verde de uma pessoa enjoada, agora ele tinha dentes grandes e um hálito horrível!” Tyler exagerou quando falou essa parte e a menina riu.

“O jantar está pronto?” Calie perguntou.

“Sim, acho melhor comermos logo, pois molho quatro queijos frio é horrível.”

“Hahaha, também acho, vou pôr a mesa, venham.” Calie convidou.

Tyler a ajudou com os talheres e depois ficou conversando com Mel enquanto Calie trazia o resto.

“Cheira tão bem!” Mel disse.

“É verdade, vamos ver se é tão gostoso quanto parece?” Calie brincou.

Para a surpresa de ambas estava bem melhor que o esperado, mesmo que suas expectativas já fossem altas. Mesmo Calie não conseguia entender como Tyler tinha feito algo tão gostoso, era até melhor do que o da sua mãe.

Como ele tinha feito uma coisa assim? Não parecia que ele tinha usado nenhum ingrediente de fora, mas ela sabia que nem em 1 milhão de anos poderia fazer algo assim.

A janta correu em silêncio quase absoluto, exceto por alguns sons de talheres batendo nos pratos. Todos estavam concentrados demais em saciar suas próprias fomes em vez de conversar.

Quando todos terminaram, Tyler se levantou e começou a retirar a louça para lavar.

“Tyler, não precisa!” Calie tentou impedir.

“Vocês estão cansadas, vão fazer outra coisa, isso é rápido.” Tyler respondeu.

“Mamãe posso ver mais desenho?” Mel perguntou.

“Não, você tem aula amanhã cedo, e tem que ir dormir cedo.”

“Mas mãe...” Ela protestou.

“Nada de mãe, vá logo.”

“Então o tio Tyler pode me contar alguma história antes de eu dormir?” Ela quis saber.

Calie não sabia o que dizer e Tyler apenas riu. “Não sei, peça a ele.” Calie deu de ombros.

“Tio...” Mel se aproximou envergonhada.

Tyler se abaixou e falou. “Que foi pequena, quer alguma coisa?”

“O senhor pode me contar mais sobre as fadinhas?”

“É claro, mas você tem que fazer tudo que sua mãe mandou antes.”

“Sim, claro, claro!” Ela abraçou Tyler com alegria e correu para o banho.

Tyler riu da menina, porém quando viu Calie, ela tinha uma expressão estranha no rosto.

“Tyler, posso perguntar alguma coisa?”

“Sim, claro.”

“Por que você se abaixa quando fala com a Mel, já tinha visto antes na sala, mas você fez de novo.”

“Eu faço isso para ficar na mesma linha de visão que ela, as crianças gostam porque se sentem respeitadas, é como se você fosse igual a elas.” Tyler explicou.

Os olhos de Calie quiseram lacrimejar, mas ela resistiu e perguntou. “Vai mesmo contar uma história para ela antes dela dormir?”

“É claro!” Tyler falou como se fosse o óbvio. “Eu não disse que faria?”

“Sim, você disse...” Calie abaixou a cabeça, ela não estava muito acostumada com esse tipo de atitude, principalmente vindo de homens. “Quando vamos conversar sobre o trabalho?” Calie quis mudar de assunto.

“Acho que ficou um pouco tarde, vá amanhã cedo para a empresa e nós conversamos lá. Sabe onde fica, não é?”

“Sim, sei, está bem então.”

Depois de um tempo, Mel desceu as escadas e praticamente rebocou Tyler, ele sentiu um cheiro forte de sabonete e pasta de dente, parece que a menina exagerou um pouco na dose com medo da mãe impedir Tyler de contar as histórias.

É claro que Tyler não se importava, ele contou muitas histórias até que ela finalmente dormiu, quase uma hora depois. Felizmente a vida de Tyler foi interessante ao ponto dele não acabar com todas elas em uma única noite.



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