Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli


Volume 3

Capítulo 64: Quarto de hospital.

Mesmo agora enquanto voava para encontrar Roger, Tyler não podia se esquecer de Calie e sua mãe.

Ele tinha acompanhado de perto cada novo relatório sobre ela, embora ela tenha se estabilizado um pouco, nada mudava o fato de que era um quadro irreversível.

***

“Parece que o Papai Noel está de volta!” Roger gritou quando viu Tyler se aproximando.

“Quem me deu o natal mais cedo foi você.” Tyler respondeu.

“Mas quem está pagando é você.”

“Eu não, a empresa.” Tyler mentiu.

Os dois homens se cumprimentaram.

“Então, qual o motivo da sua nobre visita?” Roger perguntou com deboche.

“Você não faz nada certo e ainda tem coragem de perguntar o motivo de eu estar aqui?”

“Velho falador, eu sou o melhor em fazer adaptações de carros, você que não faz nada de certo. Aquele seu pedido comunista me deu um trabalho dos infernos!”

“O quê?” Tyler não entendeu.

“Deixar o carro flex, foi um inferno!” Roger bufou.

“Achei que minha equipe tinha te passado o programa correto?”

“Sim, passaram, mas não é só isso, é?”

“Então, o que deu problema?” Tyler quis saber.

“Tive que mudar a injeção, os bicos e uma série de outras besteiras!”

“Só isso, está reclamando de quê?” Tyler provocou.

Na verdade ele não tinha pensado em todos os detalhes quando fez o pedido, transformar um carro movido a gasolina para que aceite gás natural é relativamente fácil, mas torná-lo flex é uma verdadeira dor de cabeça, felizmente ele tinha pedido à pessoa certa.

“Vá pro inferno, eu devia cobrar bem mais!”

“Deixe de ser um velho rabugento, e me mostre logo uma delas.”

“Me siga.”

Tyler tinha feito um pedido de 200 unidades, e pelo visto a primeira carga já estava pronta para ir. Um caminhão cegonha pode levar 10 ou 11 carros, e um deles já estava pronto para ser entregue.

A F-22 estava exatamente como Tyler tinha pedido, ela era cor coyote, essa cor é um tipo de marrom terra, muito usado em camuflagens no deserto, no primeiro momento ele queria todas dessa cor, mas olhando bem decidiu pedir metade cor verde oliva.

As grades e os refletores davam uma aparência selvagem e bruta, Tyler adorou, na carroceria tinha duas coisas muito importantes, a primeira era uma grande caixa de alumínio que protege o cilindro de armazenamento do gás e a segunda era o conjunto de estribos.

Esses estribos formavam os suportes para bancos e bagageiro, com essa modificação ele poderia levar mais oito pessoas tranquilamente em cima.

Por dentro, os bancos de couro foram revestidos de neoprene, esse material era o mesmo tecido usado para fazer as roupas de mergulho, então para limpar sujeiras seria muito mais simples, inclusive sangue.

“Vamos dar uma volta?” Tyler perguntou.

“Sim, tem uma pista aqui perto onde testamos os carros prontos.” Roger falou.

Quando Tyler deu a partida parecia um monstro ganhando vida, ele teve que admitir o engenheiro que pensou no sistema de escape dessa criança estava de parabéns, ela parecia um avião prestes a decolar.

Tyler saiu da loja e foi até o local onde Roger indicou.

Era uma pista de uns 3 quilômetros, havia todos os obstáculos básicos, valas, areia, lama, um trecho inundado, subida íngreme, cascalho e descidas acidentadas.

Contrariando a expectativa de Roger, Tyler entrou com tudo, ele testou o limite da máquina em cada obstáculo... O carro tinha uma excelente altura do solo e um espaço entre eixos perfeito. Ele testou ela sem tração, com tração, reduzida, bloqueada e tudo mais que ela tinha à disposição.

“É razoável.” Tyler falou.

“Razoável??? Ficou louco, poucos carros fazem melhor que isso, se quer algo mais bruto vai ter que comprar um Hummer H1 ou então faça uma gaiola do zero!” Roger cuspiu.”Você sabe que a F-22 é o único carro vendido e m série que se pode sair da concessionária e correr o Paris Dakar sem fazer nenhuma modificação?

“Tá, ela é boa, agora vamos voltar porque eu quero te pedir outros brinquedos.”

Depois de voltar, Roger pediu para que eles fossem ao escritório deles.

“Então quer o quê?” Roger perguntou.

“Um trailer off-road.”

“Tipo reboque ou com motor próprio?” Ele quis saber.

“Isso não é fácil Tyler, eles são caros, e depois eu vou ter que mudar os eixos, a transmissão, motor e tudo mais.” Roger suspirou só em pensar na trabalheira.

“Pegue um ônibus velho e adapte, eu não ligo para a aparência, só quero que funcione.”

“Quais serão os usos deles?” Roger perguntou.

“Eu quero 5 no total, 3 médicos e 2 como centro de comando móvel!”

“Centro de comando móvel? Não era para uma ONG?” Roger franziu o cenho.

“É para organizar melhor as excursões com os médicos nas regiões mais afastadas, sabe às vezes eles vão fazer grandes mutirões.” Tyler mentiu na maior cara de pau que conseguiu.

“...” Roger virou a cabeça para um lado e para o outro pensando. “Sabe que eu não dou a mínima para o que está fazendo, desde que me pague.” Roger falou sério, esse pedido ficava cada vez mais estranho.

Tyler sorriu para aquela cobra astuta. “Para todos os efeitos eu não vou mudar a minha versão.”

“Que seja. Me diga o que vai querer nesses centros de comando.”

“Uma sala de reuniões, algumas bancadas para computadores e uma fonte de energia considerável bem como um banheiro e cozinha decentes.”

“E quanto aos centros médicos?”

“Ahh, o básico de um ambulatório.”

“Ok, já entendi o básico, vou mandar alguns dos funcionários pensarem em algo e depois eu mando as especificações, concorda?”

“Sim, de acordo, Sabe quando vai ter algum leilão do exército?” Tyler perguntou.

“Vai ter um em 20 dias, por quê?”

“Ora, todos os equipamentos são para uso no campo, são as melhores opções.”

“Sabe que a maioria deles vai precisar de uma revisão, no leilão eles apenas dizem se o item tem ou não algum defeito, eles não consertam.”

Tyler sabia disso, mas era o melhor lugar para ele adquirir certos equipamentos, ele já tinha as caminhonetes que seriam seus veículos ligeiros, contudo ele precisava de caminhões de carga, caminhões-tanque, guinchos e o resto do básico. Não era fácil achar uma cozinha de campanha, ou uma barraca para caber 30 soldados.

Se ele pudesse ir a um desses leilões, muitas das suas necessidades seriam supridas a um custo muito barato.

“Eu posso comprar as coisas e mandar para cá e você revisar tudo?” Tyler perguntou.

“Não, já estou mais que atolado com seus pedidos, contudo posso indicar algumas pessoas de confiança.”

“Obrigado.” Tyler agradeceu de coração, e pensando bem era uma trabalho difícil para Roger, quem quer que fosse fazer a revisão tinha que ter eletricistas, mecânicos e todo o tipo de pessoas especializadas em fazer coisas velhas funcionarem.

Depois de pegar o número do contato, Tyler se despediu, embora ele quisesse passar um tempo com seu velho amigo, o estado de saúde de Clare não lhe saía da mente.

***

Voltando o mais rápido possível para Houston, Calie e a mãe estavam no hospital Batista Central.

Tyler chegou e foi para a recepção.

“Eu sou o Dr Newman, gostaria de ver a senhora Clarice Smith do quarto 1003.”

“O senhor é o médico dela?” A moça perguntou.

“Sim, médico e amigo da família.”

A moça pegou os documentos de Tyler e lhe deu o cartão de visitantes.

Tyler se dirigiu ao décimo andar, ele tinha que agradecer aos rapazes, quando ele pediu para pagarem as despesas e transferi-la para um quarto melhor, eles realmente fizeram.

Clare estava no melhor quarto do hospital, no décimo andar só fica quem é realmente importante, tendo uma enfermeira particular 24 horas por dia e também uma área reservada para os visitantes.

Quando Tyler abriu a porta do quarto, ele viu Clare deitada na cama enquanto Calie dormia encolhida numa poltrona ao lado.

Ela apresentava a típica aparência de quem lutava contra o câncer, baixo peso, pele pálida e ressecada, perda de cabelo e lábios rachados. Ele se aproximou da cama e pegou a ficha médica na cabeceira.

Clare abriu os olhos e perguntou com a voz fraca. “O senhor é médico?”

“Sou, mas não desse hospital.” Tyler respondeu.

“É de outro hospital?” Ela perguntou confusa.

“Não, eu só sou médico mesmo, eu vim aqui só para ver como você está.”

“Por que o senhor está aqui?”

“Eu conheci a Calie em um voo e depois soube que a senhora estava doente, eu estava por perto e resolvi te visitar.”

“O senhor é o Tyler?” Ela perguntou.

“Sim, como sabe meu nome?” Agora era Tyler quem estava confuso.

“Calie me falou muito sobre essa última viagem, obrigada.”

“Por que está me agradecendo?” Ele quis saber.

“Minha filha nunca teve boas oportunidades de aproveitar a vida.”

“Eu só achei que ela merecia.” Tyler deu de os ombros.

“Calie lhe ligou?” Ela perguntou.

“Não.” Ele respondeu.

“E como soube que eu estava internada?” Clare quis saber.

“Eu aluguei o avião de novo e ela não estava trabalhando, depois fiz uma ligação ou outra até descobrir onde você estava.”

“Foi você quem pagou o hospital?” Ela perguntou de novo.

Tyler apenas assentiu.

“Obrigada, você não sabe o peso que tirou dos meus ombros.” Clare falou com uma lágrima escorrendo dos olhos.

“Um peso?”

“Sim, você não sabe como isso estava me corroendo, Calie e eu somos muito mais próximas do que mãe e filha geralmente são. Eu sabia que ela não desistiria de mim, meu plano de saúde não cobria nada disso…” Clare tinha lágrimas nos olhos enquanto falava. “Ela não me disse, mas sei que deve estar atolada em dívidas.”

“Não se preocupe mais com isso.” Tyler falou.

“É muito ruim?” Ela perguntou.

Embora Tyler nunca tenha passado muito tempo clinicando, ele já havia passado por essa mesma situação mais vezes do que gostaria. O olhar de quem sabe que sua vida está perto do fim é diferente.

Cada pessoa tem uma emoção diferente, Tyler já tinha visto de tudo, medo, raiva, dor, solidão, paz, felicidade e etc., enfim todos os sentimentos que existem são passados nos olhos de quem sabe que sua morte é inevitável.

Os olhos de Clare, mostravam paz.

“Sim...” Tyler respondeu.

“Quanto tempo?” Ela perguntou sem emoção.

“Dias.”

Clare olhava para sua filha dormindo. “Vai doer?”

“Vou garantir que não.” Tyler falou firme.

“Obrigada, muito obrigada.” Clare disse chorando.

“Mãe...” Calie falou enquanto tentava acordar.

“Estou aqui.” Ela respondeu com a voz fraca.

“Tyler?!” Calie só agora tinha percebido Tyler, e exclamou em surpresa.

“Espero que não se importe, eu aluguei o avião de novo esses dias, mas você não estava, então resolvi vir visitar.”

“Ahh… entendo, eu não me importo, vejo que já conheceu minha mãe.”

“Sim, acabei de conhecê-la, porém já descobri que beleza é hereditária.” Tyler brincou.

Calie já estava acostumada com esses elogios bobos de Tyler e nem ligou muito, ela já tinha entendido que isso era uma característica da personalidade dele e não havia nenhum duplo sentido por trás, além de elogiar uma pessoa.

Pensando como Tyler era um homem que no mínimo poderia ser considerado como “diferente” ela apenas riu do elogio. “Tyler, você pode fazer companhia para minha mãe só um pouco, eu quero levar a Mel para tomar café.”

“Ela está aqui?” Tyler perguntou, ele já tinha visto uma foto da filha de Calie.

“Sim, ela está dormindo ali.” Ela apontou para o sofá na sala de recepção.

Como o sofá estava de costas Tyler não podia ver se alguém estava deitado nele, muito menos uma criança pequena.

“Se for somente tomar café, ligue para a recepção que eles mandam.”

“Eles fazem isso em um hospital?” Calie perguntou surpresa.

“Normalmente não, porém esse é um quarto na ala vip, eles têm quase os mesmos serviços de hotéis.”

“Eu gostaria de falar com você em particular…” Calie falou logo após se lembrar das súbitas mudanças nas acomodações de sua mãe.



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