Velho Mestre Brasileira

Autor(a): Lion

Revisão: Bczeulli


Volume 3

Capítulo 45: Imigração.

Havia uma grande fila que se estendia por quilômetros desde o portão da cidade. Tyler pode notar que alguns eram comerciantes, outros aventureiros e até famílias inteiras.

Ele levou seu carro rapidamente a entrada quando viu Thoran e Noeru trabalhando juntos em uma bancada nos portões

— Qual o motivo da sua entrada? — Thoran perguntava.

— Comércio. — Um senhor de roupas caras falou.

— Qual o seu ramo de comércio?

— De tudo um pouco, mas principalmente peles e outros artigos de bestas.

— Tome, esse papel vai te dar a permissão para ficar por uma semana, ele custa dois ouros e a renovação também. — Thoran entregou uma pequena folha.

— E você? — Ele perguntou a um jovem forte e bem construído.

— Vim me juntar a guilda de aventureiros daqui.

— A taxa de entrada são 50 pratas, a guilda fica na praça, quaisquer outras cobranças são feitas lá. — Thoran escreveu outra nota e entregou. — Próximo!

Uma mulher loura se aproximou, ela mal devia ter entrado na casa dos trinta, contudo era evidente que a vida tinha sido dura com ela, suas roupas estavam velhas e puídas devido ao uso constante. Ela não tinha nenhuma bagagem e ainda tinha uma criança grudada na barra de sua saia.

— Qual o motivo da entrada?

— Eu morava nos territórios do Lorde Hélio, meus pais se foram a um ano e como eu não tinha força para trabalhar no campo, não pude pagar o imposto e fui expulsa de casa. —  A mulher tinha um olhar de raiva no rosto enquanto tentava resistir às lágrimas que desciam forçosamente pela sua face. — Vim aqui para ter uma nova chance, quero trabalhar.

Thoran tinha uma expressão complicada no rosto. — É aventureira?

— Não, meu senhor.

— É comerciante?

— Não, meu senhor.

— Sabe fazer algo em especial?

— N… não… — Ela gaguejou derrotada.

— A taxa de entrada para pessoas que querem se mudar é 1 ouro e todos os anos deve se dar 1 ouro.

— Não… não tenho nada. —  Agora as lágrimas corriam soltas.

— Desculpe-me, eu também sou só um funcionário, não posso fazer exceções.

— Ele não pode, mas eu posso. — Tyler falou.

Devido ao grande número de pessoas tanto Noeru como Thoran não tinham visto Tyler ainda.

— Mestre! — Os dois homens e os guardas presentes se ajoelharam.

— Jovem, qual é o seu nome? — Tyler perguntou.

— Nilla, meu senhor.

— Nilla, eu acho que você deve saber fazer alguma coisa, me diga, você sabe cozinhar?

— Sim, eu sei! — Ela disse com alegria.

— Pronto, é isso. Thoran eu acho que precisamos de uma cozinheira nova para a mansão.

— Sim, mestre. — O homem acatou as ordens e escreveu uma autorização.

— É seu filho? — Tyler apontou para a criança.

— É minha sobrinha, ela é filha da minha falecida irmã, nós duas somos a única família uma da outra 

Tyler se abaixou e ficou na mesma altura da criança, olhando de perto ela realmente era uma menina, a pobre criança tinha o cabelo curto na altura dos ombros todo sujo e bagunçado, por trás de muita sujeira ele pode ver uma face delicada e fina, a única coisa que chamava a atenção nela eram os olhos. Eles eram incrivelmente verdes, na verdade Tyler nunca tinha visto um olho tão lindo como esse, era um verde escuro e imponente! Eram como duas esmeraldas brilhantes. — Você tem olhos lindos, qual é o seu nome?

— Narja. — Ela respondeu.

— Pode me dar a sua mão?

A menina olhou para a tia esperando uma resposta, a tia assentiu e ela estendeu a mão.

Tyler pegou aquela pequena e delicada mão e deu um leve beliscão. Ele não fez isso por maldade ou para vê-la sofrer, ele queria ver se ela estava desidratada. Quando se puxa a pele esticando-a você pode medir a desidratação apenas vendo o tempo em que ela demora para voltar ao normal, a pele humana é altamente elástica e volta ao local rapidamente, mas quando sofre por falta de água ela demora muito para voltar ao lugar e tem um aspecto borrachudo.

Olhando os olhos dela e fazendo um rápido diagnósticos ele podia ver que além de uma desnutrição que caminhava para algo sério ela não tinha nada demais.

— Senhorita Nilla, tome essas moedas e vá para a mansão da cidade, chegando lá você e a menina tem que comer até não aguentarem e depois descansem bem, amanhã vou colocá-la no seu trabalho.

— Mestre, eu sei que o senhor tem um bom coração, mas se não impormos algumas restrições a cidade ficará lotada, muitas dessas pessoas não têm onde cair mortas. O senhor deve saber que quando muita gente desse feitio se junta só haverá roubos, prostitutas e baderna. — Thoran disse.

Tyler realmente ponderou as palavras de seu gerente, e ele estava certo. Contudo sua visão estava presa ao que ele conhecia, se você juntar muita gente e não dar qualquer condição a elas, elas vão se virar como podem, e naturalmente muitas delas tendem a fazer coisas ilícitas. Por experiência própria ele sabia disso, a América sempre foi conhecida como uma nação acolhedora, milhões de pessoa largaram suas vidas em seus países para viver o tão sonhado “sonho americano”, tecnicamente tirando os índios, não há nenhum americano que não seja descendente de imigrantes, os EUA é uma nação de imigrantes.

O segredo para fazer a roda girar no caminho correto é oportunidade.

— Thoran e Noeru, eu quero que a partir de agora separe aquelas pessoas que não tem nenhuma condição e os classifique como imigrantes, diga a elas que podem entrar e procurar algum abrigo ou emprego. Todos os dias haverá ao menos três refeições, porém eles têm que arranjar um emprego rapidamente e vão dormir fora das muralhas.

— Eu entendo, farei como o senhor ordena. — Noeru prontamente respondeu.

— O mestre vai mesmo alimentá-los? — Thoran estava incrédulo, ele nunca ouviu falar sobre um nobre que tinha feito uma coisa no mínimo parecida.

— Sim, eu quero que você reúna todos os comerciantes o mais rápido possível, eu quero falar com eles.

Os dois homens começaram a dar ordens aos guardas, uns iam procurar comida, outros avisar os comerciantes e alguns corriam pela fila avisando-os sobre as novas ordens.

Uma hora depois todos os comerciantes da cidade estavam no salão de festas da mansão do senhor da cidade.

O gerente Shu estava lá bem como os demais empregadores mais influentes, Tyler notou que mais de um terço deles eram mulheres.

Tyler olhou para a multidão e falou. — Senhores e senhoras. — Ele acenou para elas. — Nossa cidade está passando por um rápido processo de crescimento, eu quero garantir a todos que manterei a lei e a ordem, minhas ordens são tolerância zero contra crimes. Nesse momento milhares de pessoas estão abarrotando os portões atrás de comida, abrigo e emprego. Em resumo elas só querem uma oportunidade! Não pensem que isso vai passar, essas pessoas são apenas as primeiras de uma infinidade.

Todos tinham expressões complicadas.

— Eu sei que parece ruim, porém é uma grande oportunidade disfarçada, mais pessoas significa mais comércio. E eu tenho certeza de que todos aqui sabem que comércio é dinheiro.

Claramente ninguém havia entendido a ideia por trás das palavras de Tyler. — Você. — Ele apontou para uma senhora de vestes vermelhas.

— Eu? — Ela perguntou assustada.

— Sim, você mesma, qual é o seu negócio? — Tyler perguntou.

— Eu faço botas, principalmente usando peles de feras. —  A mulher disse com orgulho.

— Você vende mais nas grandes cidades ou nas pequenas?

— Nas grandes, é claro. — Ela respondeu como se fosse óbvio.

— E seu preço é maior nas grandes cidades ou nas pequenas?

— Nas grandes. — Ela afirmou.

— Por quê?

— Por que as pessoas nas cidades grandes têm mais dinheiro.

— Isso mesmo, eu vou lhes dizer uma coisa, o dinheiro gira! Se você pedir a guilda uma missão para alguém trazer uma pele de besta para você fabricar novas botas, o dinheiro vai rodar, alguém talvez vai comprar uma faca de um ferreiro, ou uma roupa de um alfaiate, ou o remédio de um curandeiro, ou vender o núcleo que conseguiu, e muitas outras coisas.

Todos agora assentiam entendendo os ensinamentos.

— Eu fui bom para todos vocês quando diminui os impostos e lhes dei oportunidade? — Tyler perguntou firme.

— Sim. — Eles responderam em unisom.

— É a hora de darem o que receberam, a cidade não vai deixar vocês na mão. Contratem novos empregados, fabriquem mais produtos e vendam mais. Não explorem os oprimidos só porque podem tirar de quem não tem nada, é cruel e eu não quero esse tipo de gente na minha cidade.

— Mestre, eu vendo produtos de luxo, só a nobreza compra de mim, como eu devo fazer? — Um senhor levantou a mão e perguntou.

— Eu vou agendar escoltas para a capital, ela vai sair duas vezes por semana, quem faz coisas que não podem ser vendidas aqui, terão uma viagem tranquila para a capital. Desse jeito o preço que pagariam com a escolta será menor e também poderão contratar até os novos moradores que não tem força para se defender, mas tem força para trabalhar.

— Obrigado, isso ajudará muito. — O homem falou com uma alegria evidente em seu rosto.

— Como sabem os guardas da cidade agora são muito mais poderosos, essas muralhas não são mais tão necessárias, quem quiser construir novas lojas ou oficinas pode escolher qualquer local, amanhã falem com meu encarregado, ele irá delimitar as ruas e dirá os preços de cada lote.

— Mestre, eu queria muito, mas sou novo nesse ramo e não tenho capital para montar uma oficina. — Disse outro homem.

— Haverá um empréstimo para quem está começando, não se preocupem ele terá juros suaves e um bom tempo para pagar.

Os olhos de muitos ali brilharam! Era tudo o que queriam ouvir.

— Por hoje é só, amanhã é um novo dia e espero que comecem a pôr em prática tudo o que eu disse.

Um a um ele agradeceram e saíram, uma mulher ficou para trás, ela obviamente queria conversar com Tyler.

— Algo de errado? — Ele perguntou.

— Esses empréstimos são para as mulheres também? — Ela perguntou.

— Claro, por que não seria?

— Mesmo eu que sou solteira e não tenho nome? — Ela perguntou esperançosa.

— Quem trabalha firme e paga seus impostos tem todo o direito, quero que aprenda uma coisa,, eu sempre dou chance para quem faz por merecer. — Tyler disse resoluto.

— Obrigada, nenhum outro nobre faz isso. — Ela disse quando finalmente as lágrimas corriam soltas pela sua face.

— Eu não sou como nenhum deles, e meus cidadãos não são como os outros, passe para frente as oportunidades que eu estou lhe dando.

— Sim, eu irei. — Ela disse feliz, se curvou com a maior reverência que pôde e saiu.

— É fantástico ver o que fez por eles. — Thoran disse.

— Se eu fosse você não ficaria tão feliz, seu trabalho vai triplicar. — Tyler teve um sorriso nos lábios.

— É sempre uma honra servi-lo. — Ele respondeu feliz por estar servindo à um lorde tão sábio e bondoso.



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