Volume 3
Capítulo 43: Introdução a economia.
O caminho de Tyler de volta a capital transcorreu sem nenhum problema. Rafir estava calado e quieto.
— Há alguma coisa lhe perturbando? — Tyler perguntou.
— É só o jeito como você fez tudo, no começo eu pensava que estava lhe manipulando, mas eu nunca estive no controle, seus movimentos são muito poderosos e precisos, desde o começo você brincou comigo, você podia acabar quando quisesse. Por que não o fez?
— Eu queria te testar e também achei que seria muito vergonhoso para você se eu o derrotasse na primeira troca.
— Então é do tipo que tem piedade de seus inimigos? — O rapaz perguntou com um sorriso.
— Eu nunca te vi como meu inimigo.
— Não somos concorrentes? — Rafir perguntou sem entender.
— Nós éramos, quando se chega na minha idade você começa a perceber pequenas sutilezas presentes no ar. Seria muita maldade minha acabar com sua reputação sem razão e outra, agora você vai ser de muita ajuda para mim.
— Obrigado… — O jovem disse sem emoção, ele estava perdido em seus pensamentos.
Depois de muito tempo calado ele perguntou novamente. — Como sabe se eu não vou te trair?
— Instinto. — Tyler afirmou.
— Pode basear algo tão importante puramente em instinto?
— Desde o momento em que eu lhe vi tive a certeza que era uma boa pessoa, e depois quando disse que era filho do general, soube que era um militar de verdade.
— Um militar de verdade? — O rapaz não entendeu nada.
— A quem um soldado deve obediência? — Tyler perguntou.
— Aos seus superiores! — Rafir respondeu prontamente.
— E a quem os generais prestam obediência?
Ao rei! — Rafir não hesitou o mínimo.
— Sim, em primeira análise você está certo, mas se olhar bem para as todas as linhas, os generais devem sua obediência ao povo, pois é seu dever protegê-los.
— Os generais devem desobedecer às ordens do rei? — Rafir estava confuso.
— Não, o que eu quero dizer é que deve-se pôr em primeiro lugar o bem estar dos cidadãos e depois os desejos do rei.
— Ainda não entendo.
— Se todo o reino passasse fome e o rei tivesse fartura de alimento, mas mesmo assim, queira explorar o povo e lhe mandasse ir nas aldeias recolhendo toda a comida que encontrasse e se eles resistirem, ou mesmo não entregassem sua comida de bom grado, você tem ordens para matar todos, você tem coragem para obedecer?
— Não… — Ele suspirou.
— Viu, é o que eu disse.
— Mas… Não tem como um rei ordenar uma coisa tão terrível. — Rafir falou rapidamente tentando consertar sua afirmação anterior, um filho de um general dizer que seria capaz de desobedecer uma ordem direta de um rei, era algo gravíssimo.
— Acredite, tem. — Tyler lembrou-se dos “Gulags” soviéticos.
— … —
— Não fique nervoso. Você é altruísta, vou falar os meus pensamentos e depois disso eu o libero do nosso acordo, e finjo que ele nunca aconteceu.
Hã?!
— É assim, se eu for rei eu não penso só em parar por aqui, eu vou unificar todos os reinos sobre uma só bandeira. Depois vou gastar todos os meus esforços e conhecimentos para garantir uma melhor condição de vida para todos! Vou garantir boas colheitas para que não haja fome, vou dar um bom ensino para todos, não somente para os filhos dos nobres ou para aqueles que são ricos, mas até os mais pobres serão capazes de dar um bom ensino para seus filhos.
— Isso é impossível. — Rafir disse balançando a cabeça.
— Sim, é. Não estou dizendo que será fácil ou muito menos rápido, mas se houverem pessoas dedicadas isso vai acontecer. Lembra quando eu disse que essa carruagem é feita por um ferreiro muito mais capaz que um elfo ou um anão?
— Lembro.
— Pois é, para mim esse conhecimento não é difícil, eu posso passar para muitos e quando as pessoas souberem elas terão trabalhos dignos que pagam bem. Se todos tiverem bons conhecimentos haverá mais empregos, pessoas assim não viraram prostitutas ou ladrões.
— Eu entendo, mas só porque uma pessoa tem educação ela vai viver melhor?
— Não, mas ajuda muito. Um ferreiro decente pode se mudar para uma aldeia sem nada, se ele trabalhar duro vai sobreviver?
— Sim, os ferreiros são muito necessários.
— E um pedreiro que faz pontes e casas com excelência?
— Sim.
— E um padeiro?
— Sim.
— E um carpinteiro que faz carroças, móveis, casas e etc.
— Sim… — O rapaz estava pegando a ideia.
— Não estou dizendo que apenas saber fazer essas coisas vai garantir uma boa vida para eles, mas se ajudarmos todos e gerar uma riqueza abundante eles nunca vão ficar sem trabalho.
— Gerar riqueza? — Agora Rafir ficou realmente confuso.
— Qual a cidade mais rica que você já ouviu falar? — Tyler perguntou.
— A cidade de Tarol no reino central.
— E por que ela é tão rica?
— Ela fica na entrada do grande rio, seus portos movimentam não só o comércio entre os reinos dos homens, mas também compram coisas dos elfos e anões.
— É difícil para um aldeão comum achar emprego lá?
“Não.”
— É isso que eu quero dizer, vamos gerar riqueza. Não estou dizendo que todas as cidades serão como Tarol, mas se tivermos um fluxo constante de mercadorias indo e vindo vai gerar mais oportunidades.
— Gerar oportunidade?
— Mesmo que Tarol seja voltada para o comércio, lá deve ter muitos carpinteiros, não?
— Sim.
— Por quê?
— Porque os mercadores precisam deles para consertar as carruagens que se quebram e coisas do tipo.
— É isso que eu quero dizer, as pessoas sempre precisam umas das outras. É como uma pedra que rola montanha abaixo, no final muitas outras caem.
— Agora eu entendo.
— Que bom.
— Assim que virar rei você vai entrar em guerra com os outros reinos? Se tivermos um exército com armas iguais às suas seremos invencíveis. — O jovem estava com os olhos brilhando em expectativa.
— Guerra nem sempre é a melhor saída. — Tyler respondeu.
— E então?
— Podemos fazer acordos e tratados, e depois podemos sugerir propostas para uniões entre as nações.
— Pode usar o casamento também, ouvi dizer que a filha mais velha do rei do Oeste é incrivelmente bela.
— Quem sabe… — Tyler respondeu, ele mesmo não tinha pensado em casamento. Em uma era como essa os casamentos entre monarcas era uma boa saída para evitar guerras e formar alianças.
Rafir ficou pensativo, todos esses conceitos eram novos para ele. Ele tinha que admitir que se fosse coroado rei, mesmo se trabalhasse duro não conseguiria chegar aos pés do rei, então com ele faria qualquer coisa como essa que Tyler tinha dito. Se Tyler fosse realmente capaz de cumprir todas essas promessas feitas. Isso seria maravilhoso.
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Toda vez que eles chegavam perto da capital os guardas vinham recebê-los, nas primeiras vezes Tyler era tratado como um estranho. Mas agora tudo era diferente, imediatamente eles reconheceram aquela carruagem tão diferente.
— Mestre Tyler é um prazer recebê-lo de volta. — Disse o soldado que chefiava o esquadrão de cavaleiros nos portões.
— É sempre um prazer retornar. — Tyler respondeu.
— Por quanto tempo vai ficar? — O rapaz sondou.
— Acho que vou ficar até amanhã, por quê?
— Nada, não... — O soldado falou desapontado.
Tyler sabia exatamente o motivo de toda essa enrolação. Em todas as outras vezes que veio, ele tinha dado muitos “presentes valiosos”, então era de se esperar que estivessem querendo mais alguns desses.
Mesmo eu indo amanhã, ainda posso passar um tempinho com vocês. — Tyler falou rindo.
— Lorde Newman eu posso ir sozinho daqui, nos veremos em breve. — Rafir disse se despedindo.
— Tem certeza de que quer ir só, eu posso te levar aonde deseja.
— Sim, eu tenho que pensar em muitas coisas.
— Se é o que deseja, nos veremos em breve.
— Até mais… — O jovem se virou e partiu.
Tyler estacionou no portão e ficou conversando com os guardas. Os pequenos kits de pesca eram o novo sucesso.
Ninguém jamais vira uma linha tão fina e forte. O engraçado era que como a linha de nylon era transparente os guardas começaram a fazer suposições sobre o que ela era feita.
— Deve ser um cristal celestial!
— Não, deve ser seda de aranha negra.
— Acho que deve ser um tendão de dragão.
E assim ele ouviu muitas outras tentativas de explicação, cada uma mais mirabolante que a outra. Tyler nem tentou explicar, de que adiantaria dizer, “É um polímero de cadeia longa de alta densidade.”, não ia servir de nada.
Mas ele não podia julgar aquelas pessoas, ele mesmo sempre foi um admirador da química. E a história do descobrimento do nylon é bem interessante. O polímero foi descoberto por um grupo de cientistas Ingleses e Americanos. O nome nylon vem de ny de New York e lon de London.
Os anzóis de metal eram outro fenômeno a parte. Tem que se entender que em um mundo dessa era, os artefatos de metal são muito difíceis de se confeccionar. Espadas, martelos e escudos. São itens grandes e não requerem uma sutileza em sua feitoria, não estou dizendo que era impossível ou mesmo que não existissem anzóis de metal, mas que ferreiro perderia seu tempo construindo uma coisa tão delicada que não poderia vender? Os nobres não pescam, e os pescadores são pobres.
Exceto os anzóis grandes para se pescar no mar todo, o resto deles eram feitos de madeira ou mesmo de ossos.
Agora imaginem a alegria deles ao receberem um pequeno kit com dezenas dele e uma linha tão resistente que poderia ser tida como mágica?
O próprio ministro Morimoto tinha ficado muito alegre em revender esses produtos e pediu uma quantidade bem maior.
Tyler se despediu e foi para o palácio, se apresentar ao rei e contar sobre sua missão.
Novamente ninguém se pôs em seu caminho, eles apenas assentiram com a cabeça cumprimentando.
— Vejo que já retornaste. —.O rei disse assim que Tyler cruzou as portas do salão.
— Sim, meu rei. — Tyler fez uma reverência. — Como terminei a missão dada resolvi voltar o mais rápido possível.
— Já, tão cedo? Nem em minhas expectativas mais ambiciosas eu tinha previsto que você acabasse com o mistério que pairava na floresta da perdição em apenas uma semana.
— Eu tive sorte e também fiz boas alianças.
— Alianças? — O rei estava surpreso.
— Com outro nobre?
— Também, mas o principal é que a floresta é o lar de fadas e ninfas, devido a sua grande ajuda eles estão sob minha proteção agora.
— Fadas e ninfas? Eles realmente existem nessas terras??? — O rei perguntou muito surpreso.
— Sim, nós temos inimigos em comum, se os ajudarmos será muito mais fácil acabar com as criaturas malignas nas terras do reino.
— Oh, se é assim eu deixarei esses assuntos sob sua responsabilidade no futuro. Qual era o monstro que atormentava aquele local?
— Era um ogro que conseguiu corromper um grupo de goblins e lobos gigantes, o ogro e os goblins foram mortos por mim, e os lobos gigantes foi um trabalho meu e do lorde Rafir.
— Se foi um trabalho feito pelos dois eu irei dividir os pontos. — O rei disse.
— Não me importo. — Tyler deu de ombros.
— Quando os meus soldados retornarem com um relatório completo eu irei dar as recompensas devidas a cada homem.
— Se essa for sua vontade. — Tyler curvou-se em resposta.
— Está dispensado por hora, a próxima prova será em 30 dias até lá cuide de seus deveres, sei que o tempo é precioso para você agora.
— Obrigado. — Tyler disse se despedindo.