Volume 3
Capítulo 36: Entendendo a situação.
Tyler estava totalmente renovado, não apenas isso. Nem em seu tempo de exército quando estava em seu ápice físico ele se sentiu tão disposto.
—Estou pronto para ir caçar agora mesmo! —Tyler disse.
—Falta pouco para o anoitecer, penso que seria melhor que fosse amanhã! —Titânia falou.
—Eu perdi meio dia aqui? —Tyler perguntou confuso.
—Não, hoje será o segundo dia! —Ela falou suavemente.
Segundo dia??? Tyler estava assustado. Como ele tinha passado tanto tempo aqui sem se dar conta? Se lhe perguntassem ele diria que no pior dos casos teria passado uma ou duas horas.
—Como eu passei tampo aqui? —Tyler queria respostas.
—Quando alguém consome um zenys seu corpo passa por uma transformação completa, ao todo o tempo que você passou em transe foi mais de um dia! —Um ancião falou.
“Meu corpo foi transformado?” Quando uma pessoa normal se depara com uma situação que não está preparado ela tende a negar ou procurar uma resposta dentro dos seus conhecimentos, contudo a única explicação que Tyler podia se dar era pura e simplesmente magia!
—Quer dizer que eu sou imune a venenos? —Tyler perguntou.
—Acreditamos que sim! —Outro ancião falou.
—Acreditamos? —Tyler franziu as sobrancelhas.
—Cada ramo de Yggdrasil só dá fruto uma vez a cada mil anos, nenhum de nós estava vivo quando o último fruto dessa árvore foi consumido.
—Entendo... por que permitiram que eu a comesse?
—Foi um pequeno preço pela nossa aliança, embora nós fadas sejamos os guardiões de Yggdrasil, nós não somos seus donos. Cabe a ela e somente ela decidir a quem dar seus frutos! —A rainha disse.
—Vamos para fora, lá poderemos acertar todos os detalhes de que precisar. —O rei disse e conduziu a saída.
—Certo, eu só irei pegar minhas coisas, podem ir na frente.
Antes de sair Tyler pegou um cantil nos seus equipamentos que estavam jogados em um canto, ele o encheu e aproveitou para tirar algumas fotos com o celular.
Ele não sabia se o que estava fazendo seria tido como uma ofensa ou era punível com a morte. Mas é como dizem a sorte favorece os destemidos, é claro que Tyler não seria tolo de contar.
Quando ele saiu todas a fadas estavam reunidos lá fora aguardando por ele. Havia uma grande mesa repleta de frutas e uma pequena cabana perto.
—Achamos que estaria com fome. —O rei falou enquanto apontava para mesa.
—Como? —Foi só isso que Tyler pôde articular.
—Nós temos domínio sobre as plantas. —Oberon respondeu.
Tyler agora deu um olhar mais atento a mesa e as cadeiras, elas eram feitas de um tipo de hera, os ramos estavam trançados de forma complexa e bela, examinando calmamente ele notou que era feito de um único cipó!
—É feito de uma única planta! —Tyler exclamou.
—Sim isso mesmo, todos os móveis foram feitos a partir de uma única semente, conforme ela crescia nós a moldamos como queríamos.
—Isso é realmente fantástico.
—Fico feliz que tenha gostado. —Titânia disse com alegria.
—Sim, eu fico muito feliz em ver a atenção de todos.
—Você irá nos livrar da opressão daqueles seres malignos, isso não é nada. —O rei falou com alegria.
Enquanto o rei ia explicando sobre a situação atual Tyler ia degustando as diferentes frutas a sua frente. Como botânico ele conhecia um número de frutas diferentes muito maior do que uma pessoa comum. Porém, muitas que estavam na mesa eram completamente estranhas.
A que lhe chamou mais atenção tinha o formato de um mamão pequeno, extremamente tinha um vermelho profundo e uma polpa branca e carnuda, não possuía sementes era doce e depois de algumas mordidas ele sentiu uma sensação de refrescância muito parecida com a da menta.
Da conversa com o rei a rainha e seus anciões Tyler soube que a situação era grave. À mais ou menos um ano um ogro se instalou no extremo norte da floresta, depois de algum tempo ele conseguiu juntar sob seu comando um ninho de goblins e uma matilha de lobos gigantes.
Diferente da floresta que estava ao redor da cidade de Nil, essa aqui tinha a proteção mágica das fadas e das dríades, então não existia quase nenhuma fera selvagem. Contudo desde o aparecimento do ogro e dos goblins a taxa de seres malignos subiu assustadoramente.
Mesmo que as fadas estejam protegidas pela barreira mágica, ela só cobre o entorno de Yggdrasil, para conseguir comida e água suficientes para manter a todos era preciso se arriscar fora da proteção.
Se fossem feras selvagens comuns o risco podia ser tolerado, mas as feras que tinha entrado eram de natureza extremamente maligna e adoravam comer a carne das pequenas fadas.
Não era preciso dizer que as fadas não são especialistas em combates, mesmo que elas possam ficar invisíveis por alguns instantes ou se disfarçar muito bem na mata, seus caçadores também são seres mágicos e podem caça-las pelo olfato!
—Quantos lobos gigantes o ogro tem sob seu comando? —Tyler perguntou.
—Acredito que a matilha tenha uns 40 indivíduos. —Ortis falou.
—Eles são realmente gigantes? —Tyler perguntou, pois ele não se lembrava desse animal no livro dos aventureiros.
—Eles são do tamanho de cavalos, tem sido um pesadelo para as ninfas das florestas! —Ortis suspirou.
—Por quê? —Tyler perguntou curioso.
—Elas são as protetoras dos animais silvestres, cervos e veados são os animais mais próximos delas e também são os mais caçados por todos esses seres.
—Entendo...
—Antes os animais eram abundantes, agora é muito raro se ver um.
—Não há problema, eu prometo resolver isso o mais rápido possível! —Tyler disse com firmeza, ele queria passar uma mensagem de segurança.
Tyler passou o resto da noite conversando, ele estava fascinado, cada vez mais ele sentia que aqui era o seu lugar.
Quando já estava bem tarde o rei conduziu Tyler até a cabana feita especialmente para ele. Assim como a mesa e as cadeiras eram feitas de ramos, toda a cabana também era. Era apenas um único cômodo, uma grande cama no centro e uma pequena pia com água.
Tyler caminho até a cama, ela tinha um design elaborado e muito bonito, não havia cobertas ou colchão. Grandes folhas cobriam o “colchão”, e ele não pode acreditar no que estava vendo, era uma grossa camada de pétalas de rosas!
Pelo que Tyler pode sentir havia uns 15 centímetros, mesmo não acreditando a princípio o perfume exalado pelas milhares e milhares delas não podia mentir.
Só agora Tyler começou a sentir um pouco de cansaço, junto com a sua curiosidade ele decidiu se deitar logo.
Era uma sensação maravilhosa, ele pensou que a princípio o perfume seria forte demais para ele e atrapalharia, mas diferente disso era muito gostoso.
A cama era fria e aquele cheiro gostoso logo trouxe um sono difícil de combater.
Tyler acordou totalmente revigorado, mas para a sua surpresa quando ele olhou para o seu relógio eram mais de 9 horas da manhã. Para alguém que só tinha o costume de acordar junto com o sol, isso era um absurdo de tarde.
Quando ele saiu viu Ortis perto de um lindo canteiro de flores. Sem dúvidas esse jardim entraria no top 10 de jardins mais bonitos que ele já vira.
Não havia uma flor igual a outra, elas eram de todas as cores formas e tamanhos. Contudo elas tinham uma coisa em comum, todas elas estavam fechadas.
Tyler se aproximou admirado, instintivamente ele esticou a mão para tocá-la.
—Não!!! —Ortis gritou tentando pará-lo, mas já era tarde demais.
Contrariando mais uma vez seu conhecimento terreno sobre plantas a pequena flor que se parecia muito com um botão de tulipa o atacou!
Rápido como um piscar de olhos um ramo cheio de espinhos surgiu do solo e perfurou a palma de sua mão.
—Ai!!! —Tyler gritou e recuou rapidamente.
—O que é isso? —Ele perguntou enquanto tentava fazer pressão no ferimento.
—Isso é um berçário, somente os pais e as fadas que cuidam das nossas crianças podem tocá-las. —Ortis respondeu.
—As fadas nascem de plantas??? —Tyler perguntou tolamente.
—É claro que não! nós temos filhos igual aos elfos e os humanos, mas nossas crianças nascem muito pequenas, depois que nascem elas são colocadas nessas flores para que sejam nutridas com energia da floresta até que sejam fortes o suficiente.
—Entendo, quanto tempo elas passam aí?
—5 anos em média.
—Obrigado por me responder.
—Não há de que, quer que eu chame um curandeiro? —Ortis perguntou.
—Não é necessário, eu posso dar um jeito nisso só.
Tyler se despediu e voltou a cabana para onde estava seu kit de primeiros socorros.
Ele limpou a ferida e a examinou bem, com certeza iria precisar de pontos, já que tinha sido totalmente transpassado.
Quando ele começou a pegar a agulha para sutura ele viu a caixa de anaboar com os comprimidos de yang sangrento.
Tyler pegou um e o abriu, espalhou o pó vermelho cintilante no ferimento. Com apenas um a dor diminuiu drasticamente, até o ponto de ser apenas um leve incomodo. Ele passou um comprimido de cada lado, tapou com gaze e enfaixou.
O engraçado era que ele sentia os músculos se repuxando e até mesmo coçando! Tyler achou que era imaginação sua, pois, esses sintomas eram de cicatrização.
—Está tudo bem, Ortis me informou que teve um ferimento. —O rei tinha acabado de entrar.
—Sim, estou, eu tenho um presente para você.
Tyler deu uns 20 comprimidos para o rei.
—Isso é muito bom, é yang sangrento. Temos muitas ervas medicinais aqui, entretanto devido ao nosso tamanho é muito difícil manipulá-las e fazer remédios realmente bons.
—Não se preocupe, no futuro podemos fazer boas trocas, se vocês nos derem as ervas nós podemos dar parte do remédio como pagamento.
—Eu agradeceria muito! —O rei falou alegre.
—Vocês estão abertos ao comércio com os humanos? —Tyler perguntou.
—Sim, pelo que sabemos, nossos irmãos que moram no além-mar com os elfos sempre fazem trocas, o problema é que quase nunca os homens têm algo que seja bom aos nossos olhos.
O que o rei falou tinha todo o sentido, qual comerciante se daria o trabalho de fazer coisas pequenas para as fadas? Sem contar que comidas ou bebidas não chamava atenção delas.
—Podemos seguir com nossa caçada? —Tyler perguntou.
—Sim, vou providenciar tudo o que estiver ao meu alcance! —O rei disse.
—Eu quero um bom guia para me ajudar a andar na mata e alguém para carregar o restante das minhas armas que estão guardadas.
—Que tamanho elas são? —Ele perguntou.
—Do tamanho dessa. —Tyler ergueu o fuzil. —Mas a maioria será apenas pequenas bolsas de tecido.
—Posso pedir ajuda das dríades, um cervo será capaz de carregá-lo?
—Sim, com certeza!
—Certo então, venha comigo para que eu lhe apresente a ela.