Volume 1
Capítulo 12: Fazendo o que nunca fez…
O grupo ia muito devagar, as mulheres mal se recuperam dos efeitos das drogas e juntando o fato de muitas delas estarem grávidas não ajudava em nada.
Tyler já tinha perguntado a Noeru quanto era a distância até a cidade. Pelo que entendeu era algo em torno de 15km, no mundo moderno isso pode ser percorrido por um carro em dez minutos sem nenhum problema. Todavia andar essa mesma distância em uma floresta podia ser mais de um dia e o estado das moças só atrasava.
Felizmente parecia que os goblins mantinham as feras longe então eles não toparam com nenhuma.
Após umas duas horas, o caçador correu até mim. — Senhor, ouço sons de cavalos, muitos deles!
— Estão vindo para nós?
— Sim — Ele assentiu.
— Quanto tempo? — Tyler perguntou.
O homem pensou um pouco. — Mais rápido do que fazer uma xícara de chá. — Noeru respondeu.
“Xícara de chá??? Que diabos é essa medida de tempo? Quanto tempo dura para se fazer um chá? Cinco ou dez minutos? Eu realmente tenho que dar um relógio a ele.”
Tyler não precisou pensar muito sobre isso, em dois minutos ele podia ouvir o trote dos cavalos e os cavaleiros gritando.
Um grupo de cinquenta homens cercou a comitiva de Tyler.
— Alto!!! De onde vocês vêm?? — Um cavaleiro mais à frente gritou de forma arrogante.
— Essas moças foram salvas do ninho de goblins, vou levá-las até a cidade, elas precisam de atendimento! — Tyler ergueu a voz também.
— Então foram vocês que puseram fogo naquele ninho, vimos a fumaça lá da cidade, onde está o resto.
Tyler realmente lamentou pelo cavaleiro, em um dia normal ele era muito paciente, contudo hoje ele tinha atingido um limite de stress nunca sentido antes. Qualquer pessoa que visse esse grupo teria suposto o correto, mas o babaca estava se fazendo de mais babaca ainda e dificultando as coisas. Tyler era um homem bem simples, conversava se precisasse conversar, agia se precisasse agir e lutava se precisasse lutar.
Um idiota só conhece uma lei, a da força.
Tyler ergueu a voz. — Somos só nós, foi só eu e apenas eu quem exterminou aquele ninho, mais alguma coisa?
— Besteira! Como um velho esquisito pode ter matado todos os goblins, onde estão seus homens? — O homem bufou…
— Posso ser velho, mas não sou mentiroso! Se quer ver como eu os matei tente sua sorte e venha, idiota! — Tyler cuspiu.
— Ora seu!!!
Aquele homem era o chefe dos portões da cidade, em toda a sua vida ele nunca tinha sido humilhado e confrontado daquela forma, ainda mais na frente de seus homens. Ele atiçou o cavalo e correu para Tyler.
— Seu é o cacete! — Tyler sacou a pistola e atirou no cavalo, a bala entrou bem no meio da testa do animal matando-o na hora.
Pego de surpresa o cavaleiro foi levado ao chão comendo terra.
Tyler guardou a pistola e andou na direção do homem.
— Seu velho maldito! — O guarda ergueu a espada e avançou.
Tyler tinha uma boa noção de kendo e era mestre em krav-maga, kendo quer dizer “caminho da espada” era a antiga arte das espadas samurais, embora Tyler não fosse um grande mestre, ele tinha um bom jogo de pés… Agora em krav-maga ele era um mestre Faixa vermelha com mais de 20 anos de experiência. Um homem correndo com uma espada era perigo para ele?
Tyler nem se importou muito, o krav-maga era uma arte que herdava vários golpes de outras artes marciais, do judô ele herdou um golpe chamado “morote seoi nage”. Com uma mão ele pegou no pulso que segurava a espada do guerreiro, e com a outra puxou a camisa dele, virou-se de costas e lançou o oponente por cima da cabeça. Geralmente ele finalizaria com outro golpe em seguida, mas hoje não.
Bahhh… — Um baque surdo do corpo do comandante foi ouvido.
Tyler apenas tomou sua espada e jogou longe. — Aprenda seu lugar, comunista!
O comandante já tinha perdido a cabeça, essa humilhação era demais. Se ele não matasse esse velho, nunca mais ia poder erguer a cabeça na vida. Ele sacou uma faca da cintura e avançou novamente…
Dessa vez Tyler foi mais vicioso ainda. Com um movimento ágil ele tomou a faca e imobilizou o inimigo, ele colocou a lâmina no pescoço do homem e fez pressão.
O guerreiro estava atordoado, ele nunca tinha visto alguém tão rápido e mortal como aquele velho, ele nem mesmo pode entender aquele movimento feito anteriormente. Tudo o que ele sabia era que não era páreo para esse velho. Sua própria arma estava em seu pescoço, o velho fazia tanta força que um fio de sangue escorria.
— Vou ser bem claro agora. — Tyler sussurrou no ouvido do guarda. — Todos os seus soldados vão descer dos cavalos e colocar as mulheres em cima, quem me desobedecer morre. Se eu não chegar na cidade antes de escurecer você morre. — Tyler falou com uma voz fria e rígida, quem não prestasse atenção poderia perder algumas palavras, contudo essa voz mais baixa fez com que todos sentissem um frio na coluna.
Sem nem mesmo esperar pela confirmação do chefe, os soldados obedeceram ao ultimato de Tyler…
Com todos montados em cavalos eles chegaram perto do final do dia. Não havia mais do que quinze minutos até o entardecer.
A cidade de Atazar embora fosse pequena, era muito bem protegida, tinham muralhas de pedra bem altas. E ao redor do lado de fora era apenas um campo sem nada, apenas gramas. Isso era uma estratégia que impedia inimigos escondidos chegassem muito perto dos muros.
— Haaa… — Quando entraram pelos portões uma mulher que estava com a barriga bem ampla gritou de dor.
— Mestre rápido ela está dando à luz! — Krinna gritou em desespero.
Tyler tinha quase certeza que isso aconteceria. Com todo esse stress e agitação era inevitável que uma dessas mulheres não entrasse em trabalho de parto. — Tem alguma hospedaria aqui? — Ele perguntou.
— Sim, vamos eu mostro o caminho! — Krinna enérgica levou o grupo.
Todos abriram caminho, em pouco tempo eles chegaram a uma pequena estalagem.
— Você é o dono? — Tyler perguntou a um senhor parado na frente.
— S… sim, sou eu. — Ele respondeu gaguejando.
— Feche toda sua estalagem para mim, quero que acomode todas essas mulheres e também separe um quarto, ferva muita água, separe lençóis brancos e limpos e se puder chame uma parteira. — Tyler ordenou.
— Eu quero para ontem! — Tyler rugiu quando o homem se demorou para atendê-lo.
Em pouco tempo tudo havia sido preparado, Tyler ficou com raiva pois ele não tinha quase nenhum material médico que ajudasse em um trabalho de parto.
Tyler pediu ajuda do caçador e desceu vários equipamentos. Os refletores que ele tinha trazido para caçar foram postos no quarto. Tyler prometeu a si mesmo que nunca mais seria pego desprevenido como hoje, no futuro ele poderia pecar no excesso, não por menos.
Enquanto terminava seus preparativos, uma senhora chegou trazendo consigo um pequeno pacote de ervas. — Sou Sirilía, sou a parteira da cidade, me avisaram que essas moças foram abusadas pelos goblins então eu trouxe folhas de ruda selvagem.
— Deixe-me ver isso! — Tyler pegou uma daquelas folhas, quando ele ouviu o nome ruda ele já teve uma ideia do que era esta planta. Na terra, diversas culturas usam essa planta como um abortivo poderoso. No instante em que ele ouviu o mesmo nome desta planta ele não pensou que poderia ser outra.
Ele estava certo! As folhas eram quase iguais às que ele conhecia, mas seu cheiro era muitas vezes mais forte.
— Como se usa isso?
A parteira ficou em choque, ela tinha ouvido que esse homem era um médico, como ele não sabia como usar isso.
Krinna que estava ao lado viu a cara de espanto na mulher e interveio. — O mestre vem de muito longe, ele não conhece as plantas daqui. Entretanto eu garanto que suas técnicas são muito boas.
Aliviada com essas palavras a mulher explicou. — As folhas de ruda selvagem são usadas por nós mulheres a muitos anos, se uma mulher põe uma folha em um jarro e faz um chá. Ela não engravida, mas se uma mulher grávida colocar dez folhas em um jarro e tomar ela perde o bebê.
Era como Tyler supôs, só não esperava um efeito tão forte. Isso evitaria muitos problemas.
— Tirem isso de mim… rápido tirem esse demônio!!!! — A mulher em trabalho de parto gritava desesperadamente.
No tempo em que Tyler se formou havia um trecho no juramento de Hipócrates que dizia o seguinte, “Mesmo instado, não darei droga mortífera nem a aconselharei; também não darei pessário abortivo às mulheres”, após 1983 o juramento foi ratificado e essa parte foi retirada.
Mas Tyler nunca tinha se esquecido, ele também era contra o aborto… Contudo hoje ele estava decidido a ajudar estas moças.
Tyler pegou uma bata descartável e colocou nele e na parteira, mandou que fizessem um chá de ruta e também da erva que trouxe da caverna. Em poucas quantidades ela era muito boa como analgésico.
A moça na cama estava assustada com as luzes e as roupas dele, Tyler vendo a situação tentou acalmá-la. — Vai dar tudo certo, eu estou aqui para ajudá-la!
Tyler mandou Krinna ajudar bombeando um respirador manual, após ter tomado os chás, a dilatação da moça ficou maior, o “feto” estava coroando. Mesmo assim a mulher gritou de dor.
Seus gemidos eram ouvidos por toda estalagem, quando a coisa finalmente saiu, Tyler tremeu-se todo. Era realmente um demônio!
O pequeno goblin era a coisa mais horrenda que ele já vira. Os últimos sentimentos de indecisão se foram completamente.
A pequena criatura tinha os olhos abertos e se movimentava muito, não chorou ou fez qualquer barulho, possuía dentes já bem formados e pequenas garrinhas. Aquela criatura não era humana ou meia-humana, Tyler podia sentir o quanto esse serzinho era maligno. Geralmente um bebê tem uma aura de pureza e nobreza, olhar nos olhos de um recém-nascido é como contemplar um pequeno milagre… Porém Tyler apenas sentiu nojo e um arrepio na coluna.
Enquanto Tyler estava em estupor contemplativo, a criatura se mexeu na mão de Tyler e o mordeu, os dentinhos afiados furaram a luva. Essa foi a gota d’água… Tyler fez pressão com a outra mão e quebrou o pescoço dele.
A jovem moça parecia bem melhor, Tyler mandou Noeru e o dono da hospedagem
levá-la para outro quarto para descansar.
Tyler fez os partos um após o outro, as moças que tinham uma gestação de menor período eram muito mais fáceis de expulsar aquelas criaturas.
O tudo corria relativamente bem até que uma jovem entrou, Tyler suou frio… pela sua aparência ela não devia ter mais do que 14 anos. Aquela barriga grande não combinava com seu corpo pequeno.
Ela chorava muito… — Senhor, por favor tire isso de mim!
— Não se preocupe, eu vou cuidar de você. — Tyler tentou acalmá-la.
Com ajuda do chá a dilatação estava boa, mas quando aquele ser saiu… A pobre menina desfaleceu.
Tyler checou o pulso… nada.
— Krinna continue a bombear, faça quando eu disser! — Tyler ordenou, Krinna que tinha feito esse movimento toda noite estava cansada, entretanto com essa ordem ela despertou-se.
Tyler começou um RCP (Ressuscitação Cárdio Pulmonar). — 1… 2… 3… 4… 5… agora Krinna, 1… 2… 3… 4… 5… de novo! 1… 2… 3… 4… 5… mais uma vez!
O pequeno peito da moça subia e descia em cada movimento preciso de Tyler. Após cinco minutos extenuantes ela finalmente voltou a ter pulsação.
Tyler sentou-se em uma cadeira exausto, ele então lembrou de seus morangos. Ainda havia três deles. Ele deu uma metade para a moça e mandou dividir o resto entre as mulheres mais fracas.
Quando pensou em descansar, Noeru abriu a porta. — Mestre temos um problema!