Um Tiro de Amor Brasileira

Autor(a): Inokori


Volume 1 – Arco 3

Capítulo 45: Eu Estava Errado


【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】

Kaori avança contra Aoi, batendo com o ombro no peito dele para o empurrar para trás, mas sem sucesso, quase como estivesse tentando bater em uma parede maciça.

 — Droga! — Como uma alternativa, ele encolhe seu ombro, girando sua arma em sua mão tentando acertar uma coronhada.

Aoi ergue seu braço em contrapartida segurando a arma e a mão dele contra seu torso, erguendo o punho esquerdo preparado para acertá-lo um soco.

Porém Kaori rapidamente ergue seu cotovelo bloqueando o soco com uma base alta, para em seguida flexionar seus joelhos e chutar o abdômen de Aoi o fazendo recuar um pouco.

Com sua arma livre, ele mira contra seu adversário apertando sem hesitar o gatilho, que diferente da última vez o tiro passa ao vazio destruindo parte da escadaria com tremendo impacto da bala.

Não esperando que bem em suas costas Aoi sorri com os braços cruzados, — Ainda consigo lembrar do brilho em seu olhar quando pequeno, por mais que o rosto seja o mesmo, onde que será foi parar aquele garoto?

Recolhendo sua arma para o coldre, ele olha de canto de olhos para Aoi.

【キ】【ス】【シ】【ョ】【ッ】【ト】

A verdade é que Kaori sabe exatamente onde aquele pobre órfão morreu, sendo no exato dia em que sua única família partiu.

Conforme os anos passaram, número Sete e Oito se demonstraram serem grandes promessas para a agência, não seria para menos já que Aoi sempre os ensinou todos os segredos dos Numens aos pequenos garotos.

Não somente isso, mas também contava sobre suas histórias mundo a fora, ambos não lembravam do mundo além do Distrito Zero e por mais que todas as conversas no fim se resumissem com Aoi querendo apostar algo, eles amavam tudo o que ele dizia.

Assim na beliche do quarto pessoal do orfanato, Oito pergunta a seu irmão, — Ei, será que realmente os Numens são tão ruins assim?

— Nossos superiores não criariam tudo isso se ao menos não sentissem medo, não sei ao certo irmão — responde Sete, na cama de baixo, deitado em seu braço — mas deve haver algum motivo.

— O Aoi é tão legal... eu não me importaria em conviver com os Numens se todos fossem como ele.

— Eu também não! — exclama Sete, gargalhando.

— Logo iremos nos formar e subir para a segurança publica, finalmente podemos pensar em um nome para nosso ID — diz Oito, colocando sua cabeça para o lado de fora da cama pra ver seu irmão — nós fizéssemos uma surpresa para o Aoi?

— Que tipo de surpresa?

— Foi ele que nos falou a muito para pensarmos em um nome, graças a isso eu pensei em um...

— Sério? Qual?

— Daoki Mutoh! — exclama com uma felicidade estampada em seu rosto.

— Mutoh? Esse não é o sobrenome do Aoi?

Haha! Não somente isso, mas Daoki não é nada mais que Aoi soque com duas letras a mais!

— Mas porque esse nome? — questiona Sete, o olhando nos olhos.

— Além de você, ele foi a nossa única família, mesmo preso por trás das grades ele não é muito diferente da gente — Oito sorri ainda mais — presos em um orfanato branco sem saber a emoção das apostas que ele sempre conta!

Sete fica em silencio por alguns instantes, ele realmente concorda com tudo que seu irmão acabará de dizer, assim com determinação diz, — Então meu nome vai ser Kaori Mutoh! Afinal somos irmãos.

Daoki agora recém nomeado gargalha, descendo da cama e abraçando seu irmão com admiração, — Qual será a cara que Aoi vai fazer quando descobrir nossos nomes?

Kaori estava animado para descobrir tanto quanto seu irmão, todavia o destino é imprevisível e dois anos depois de se formarem e assumirem tais nomes.

Daoki ficou responsável por guardar a prisão experimental da segurança publica e naquele mesmo dia, uma fuga em massa ocorreu, resultando na morte de cinco inspetores, sendo um deles Daoki Mutoh.

Não havia muitas respostas de como tudo aconteceu, somente havia um nome do tal responsável pelo início da fuga.

Seu nome é... Aoi Mutoh, um Numen que em vinte anos não deveria existir e sumiu por completo.

De alguma forma a segurança publica apagou todos os dados de tal Numen, procurando não manchar a imagem dos Abutres ou talvez impedir uma investigação mais profunda do caso.

Desde aquele dia, Kaori odeia seu nome, mas não consegue parar de usá-lo, afinal por mais que seu irmão tenha sido declarado morto, seu corpo nunca foi encontrado.

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— O que você fez com o corpo dele... — Kaori cerra os punhos se virando lentamente.

— Não lembro ao certo, talvez eu tenha o devorado?

— Numens malditos... — Kaori cospe no chão, rapidamente sacando novamente sua arma.

Aoi sorri maliciosamente, vendo novamente o pequeno jovem do qual conviveu anos atrás vindo sua direção com intensão de matá-lo.

Porém nem mesmo Aoi conseguiria prever o que fez em seguida, colocando a mão em seu sobretudo, ele retira uma espécie de pequena granada, cobrindo seu próprio rosto com a manga de sua roupa ele retira o pino.

Liberando um gás purpura entre os dois, assim sem entender os olhos de Aoi começam a arder e lacrimejar constantemente, ao ponto de sair sangue ao invés de lagrimas em poucos segundos após receber aquele gás.

— O que?! Merda, não consigo enxergar! — exclama Aoi desnorteado.

— Lembra, você me ensinou por muito tempo a como sua espécie, e os Numens do seu tipo não podem fazer nada, desde que atinja seu ponto fraco... seus olhos.

O som do gatilho da arma de Kaori alerta Aoi que ergue seu queixo dando de cara com o cano do revólver mirado bem frente a um de seus olhos e sem ter tempo para qualquer tipo de reação.

Kaori aperta o gatilho a queima roupa, acertando o olho direito de Aoi em cheio, destruindo a parte de trás de seu crânio vendo o corpo de uma pessoa que tanto gostava no passado cair dura no chão.

Ele lentamente abaixa sua arma vendo o corpo do Numen imóvel no chão, ele buscando durante anos uma vingança, uma reparação contra todos daquela maldita raça, porém mesmo que ele tenha matado seu passado, ainda algo o incomoda.

— Porra... eu esperava de tudo hoje, menos encontrar você seu maldito, eu e meu irmão amávamos e contávamos os dias para poder ouvir suas histórias — Kaori cerra os punhos com força — mas porque eu não estou feliz com isso?! O que eu deveria ter feito irmão?

Memorias percorrem os pensamentos dele, mesmo que não tenha sido uma criança comum, mesmo que não pudesse sair para brincar com seus amigos, mesmo que durante muito tempo de sua vida ele somente viu o branco dos quartos e foi privado das outras cores.

Os momentos mais felizes da vida de Kaori foram com seu irmão e com um Numen que os adotou de certa forma, a sua maior alegria era quando ele não tinha nada de especial.

— Que irônico não? Acho que quero matar todos os Numens não pela sua morte irmão, mas sim porque não consigo os odiar mesmo depois de tudo — Kaori abre sua mão lentamente — eu não consigo odiar ele.

— Vejo que finalmente se acalmou.

Uma voz conhecida faz todo o corpo de Kaori tremer, se virando com urgência para trás vendo o Numen que acabará de disparar a queima roupa na cabeça em pé com a mão direita no olho que foi atingido pela bala.

— C...como? — Ele dá um passa para trás.

— Eu realmente te ensinei tudo, mas Numens são imprevisíveis, você nunca sabe a carta por trás da manga deles, é uma aposta alta tentar matá-los.

— Mesmo depois de anos nessa vida, ainda tem coisas me surpreendem... estou ficando velho eu acho — diz Kaori sorrindo de uma forma conformista.

Aoi lentamente retira a mão do seu rosto, deixando cair nome somente uma, mas sim várias centopeias e lacraias brancas de sua mão que caem no chão junto ao sangue, no buraco que está em seu olho direito vários vermes e insetos saem e entram como se o crânio dele fosse o seu lar.

— Muito bem, está na hora de dizer a verdade — Aoi sorri se aproximando — eu não matei seu irmão porque eu quis, mas sim ele me pediu isso.

Os olhos de Kaori se espantam, confuso com tais palavras, — Ainda mentindo?

— Não estou mentindo pequeno garoto... no dia da fuga, ele entrou na minha cela escondido e se ajoelhou em minha frente com os olhos profundos.

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O que realmente aconteceu foi que uma semana antes da fuga, Daoki foi chamado para uma operação nos subúrbios do Distrito Independente, lá ele e seu parceiro se depararam com uma Numen que se rendeu quando viu eles sem hesitar.

Ela era tão humana que fazia ele questionar se realmente era uma Numen, afinal ela tinha uma casa normal e estava cozinhando como normalmente um humano faz.

Seu parceiro sai para o lado de fora a procura de mais Numens enquanto ele fica encarregado dela, apontando a arma para ela.

— Por favor, eu não fiz nada de errado, eu só quero viver em paz com minha filha — diz a Numen em prantos.

Daoki, no entanto aperta o gatilho sem pudor, assim como lhe foi ensinado das táticas dos Numens para tentar manipular.

Mas seu choque foi tremendo ao ver seu parceiro puxando uma criança do quarto a jogando no chão com força.

Naquele momento ele percebeu que o que a Numen havia dito é verdade, não havia sinais de qualquer crime ou violência contra os humanos vindo daquela mulher.

E bem a sua frente Daoki viu mãe e filha morrerem por suas mãos, depois daquele dia algo nele mudou.

Já fazia dias do quais ele não conseguia dormir, ao ponto que durante as madrugadas chorava sem nem mesmo perceber.

Tomado pela culpa ele pediu transferência para algo além da operações em campo e partiu decido não aguentando mais o peso em seus ombros para conversar com o Numen que estendeu a mão para ele a muitos anos atrás.

Se ajoelhando em minha frente ele diz me entregando a chave da cela.

— Por favor... me mate.

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— A culpa é um verme que se alimenta de dentro para fora, ver o outro lado fez com que ele não aguentasse — Aoi alonga seu pescoço — esse é o destino dos humanos que tentam cortar a linha do divino.

Kaori está tremulo com o que acabará de descobrir, tentando negar tal informação, — Se isso é verdade porque não contou antes?!

— Você realmente iria me ouvir com aqueles olhos cheios de ódio? — Aoi passa por ele, caminhando até a saída — se realmente não acredita, me siga, eu o enterrei em uma das colinas no Distrito Montanhoso, me siga.

Kaori não consegue controlar seu corpo que segue Aoi quase que inconscientemente.

— Inspetor Mutoh, não vá, me perdoa! — exclama o agente ainda em pânico abraçando os próprios ombros.

— Você está dispensado, ignore tudo que ouviu por favor — diz Kaori, sem olhar para o homem.

Rumo a saída, Kaori vê tudo a sua volta em câmera lenta, vendo todo o estrago da batalha a sua volta, até ver a silhueta de alguém que o chama a atenção.

Daidairo está em pé sangrando um líquido viscoso e negro como um monstro com olhos sem vida enquanto Nohi abraça seu peito sem saber o que fazer.

Naquele momento ele lembra da primeira operação oficial dos dois junto a ele, Daidairo estava de frente para uma Numen que implorava para ver seu filho, igual Daoki ele está afundando em desgraçada por um motivo semelhante.

— Será que teria sido diferente? — sussurra para si mesmo, abaixando a cabeça vendo tal cena.

Horas depois em silencio depois de uma longa caminhada em linha reta, atravessando o distrito zero a pé, Aoi o leva até uma colina com grama clara e viva.

Mesmo estando de noite tudo a volta é colorido, os vagalumes brilham e as flores se chocam com a luz do luar criando um efeito de cor única.

Assim no pico da colina tomado pela grama está um conjunto pequeno de pedras sinalizando que alguém está enterrado.

— Como ainda consegue se lembrar desse lugar? — questiona Kaori com uma expressão amena.

— Numens nunca esquecem de algo, pelo menos não de verdade.

Kaori se aproxima do conjunto de pedras se ajoelhando frente a ela se afundando em pensamentos e lembranças de uma época que já passou.

— Acho que ele teria gostado de ver esse lugar a luz do dia...

— Tenho certeza disso também.

O céu antes escuro começa a lentamente se iluminar com o laranja do amanhecer, se passaram horas desde o ataque, mas para Kaori se passaram anos infinitos de espera para esse momento.

— Sabe... acho que deixei o Daoki esperando demais... — diz Kaori, com a voz levemente profunda e confusa.

Ele se levanta olhando para Aoi, com um breve sorriso em seu rosto, algo semelhante à de uma criança em corpo de adulto.

Estava claro para Aoi que Kaori já havia perdido a razão nessa altura, ou talvez pela primeira vez ele se sente como a criança do qual nunca foi.

Lentamente ele retira a sua arma do coldre novamente, erguendo ela até a sua cabeça, assim com o brilho da manhã, Kaori dispara contra si mesmo.

O sangue está quente e seu corpo frio enquanto ele cai em cima do tumulo de seu irmão, sua visão se embranquece mais e mais a cada segundo.

Até enfim ver o seu irmão ainda criança bem a sua frente estendendo a mão para ele, afinal agora as duas pequenas crianças podem enfim ser livres.

E com o segurar das mãos ambos correm sem rumo com sorriso em seus rostos.

Juu no Hone — Aoi diz tais palavras, suspirando profundamente — adeus garoto, diga que mandei um abraço para seu irmão.

Aoi se vira voltando seu rumo descendo a colina com satisfação em seu olhar enquanto o corpo de Kaori agora é abraçado por centopeias e outros incestos brancos junto ao tumulo de seu irmão.

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