Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Volume 1

Capítulo 19: Muitos Fardos...

 

O céu tingido pelo dourado do entardecer, os arranha-céus banhados pelo reflexo do sol, veículos viajando entre as ruas.

Uma mulher observava essa imensa paisagem urbana por trás de uma fina camada de vidro translúcido, ela estava imersa em pensamentos, pensamentos esses que nem mesmo o diabo estava ciente.

Hoooh... que linda paisagem. — suspirou ela em satisfação.

Um leve sorriso era formado pelos seus lábios selados e seus olhos carmesins transmitiam confiança do que ela pensava.

Passos. Passos.

Nos aposentos espaçosos com paredes negras e um chão prateado, um leve som ressoou.

— Capitão da terceira divisão, Storlix Vyze, pedindo permissão para relatório vossa majestade. — disse o dono dos passos ao parar atrás da figura observando o crepúsculo.

Ela nem fez questão de virar seu olhar para o homem loiro, com seu olhar fixado nos veículos lá embaixo ela respondeu: — Diga.

Seu tom de voz efêmero poderia ser estranhado por qualquer um, porém o homem diante dela não era nada mais nada menos que um de seus mais fiéis lacaios.

— Parece que Lize já tomou total controle da situação, todos confiam nela com uma pequena exceção do novo membro. — relatou o soldado loiro de olhos azuis ao endireitar sua postura prestando continência.

O silêncio pairou sobre o quarto luxuoso, mas mesmo assim Storlix Vyze não deu nem um único suspiro.

Sua própria humanidade passou a pertenc a mulher de costas para ele que até agora estava calada.

— Entendo. — Ela quebrou o silencio friamente e nesse mesmo momento virou-se para o lacaio.

O vislumbre do seu rosto pálido e seus olhos carmesins eram uma mistura entre selvageria e confiança, paz e violência.

As pupilas azuladas do homem trajando uma ombreira branca sobre um uniforme militar tremeram com a feição da sua imponente mestra, Storlyx estava acuado.

— Algum problema Storlyx Vyze?

A pergunta dela soou como um deboche, mas isso não foi por causa de seu tom, na verdade foi o que Storlix sentiu e viu.

Uma aura permeava pela silhueta de sua mestra, e o cabelo curto balançava levemente em sincronia com suas roupas negras e formais.

“Parece que ninguém aqui realmente entende os reais motivos das minhas ações, isso é triste... bem triste, mas ao mesmo tempo me sinto eufórica. Apesar de ser um dos assassinos mais fortes do mundo a mente de Storlyx parece como a de uma criança.”, pensou ela.

Uma descarga de dopamina subiu pelo corpo da mulher misteriosa e logo ela começou a demonstrar sua real natureza, que não tinha nem um pingo de nobreza.

— Me responda mero peão, algum problema? — perguntou ela com um olhar voraz ao homem loiro que deu um passo para trás tremendo um pouco.

— É-é que... eu me pergunto por que... v-vossa majestade está tão sorridente assim?

Storlix via um sorriso na face de sua rainha.

 

 

Um sorriso provido da maldade, não era fruto de nenhuma ação ou pensamento positivo, era a face de prazer, o prazer em cometer pecados, em enganar mentes e manipular seres tolos.

— Hora, hora, você percebeu? — disse ela com seus olhos exalando uma aura assassina, — Kuhuhu! Como esperado do meu capitão da terceira divisão~

O cavaleiro de cabelos dourados congelou diante dos suspiros de euforia e a risadinha de malicia contida por sua mestra.

Ela se recostou sobre o vidro segurando seus próprios braços e começou a escorregar, desmoronando-se em alegria.

— V-vossa majestade isso é perigoso!

Antes que ele pudesse se aproximar uma pressão caiu sobre seu corpo, sua alma parecia estar acorrentada pelo medo.

— Perigo... sim, perigo, isso é o que eu busco! Quero dominar todos por meio do perigo, os civis, os lacaios, o exército, todos! Todos são minhas marionetes, posso usá-los como eu quiser da forma que quiser. — gritou ela com a euforia tomando conta de seu corpo que passou a se tornar mais e mais quente.

“O que diabos ela pretende?!”, Storlix se perguntou internamente.

“Não tem graça conseguir algo por meio do bem, não há graça em objetivos limpos e puros... o pecado sempre irá beneficiar muito mais do que qualquer coisa. Esse é o meu verdadeiro objetivo, eu quero destruir, mal tratar, usar e depois... depois de tudo... quero conquistar. Vou me tornar um ser imortal e sagrado da melhor forma.”

Pensamentos hediondos tomavam a mente da imagem perfeita e da pura justiça para essa nação, para esse povoado onde Storlix se encontrou.

O soldado percebeu que não servia o reino, mas sim... um ser nojento que ocultava sua real natureza por trás de uma máscara de pureza e santidade.

 

[Jack Hartseer]

 

— É um prazer estar em vossa presença, Jack Hartseer, o novo hospede.

Nidrik Blazeworth, esse era o nome do homem alto e de boa postura que se apresentou logo ao tirarmos os sapatos dos degraus, chegando no primeiro andar da mansão.

Mordomos e empregadas, todos bem vestidos perambulando de um lado pro outro.

O exorbitante lustre no teto já estava aceso e iluminava o grande salão com uma cor dourada e agradável aos olhos.

Pelas janelas da porta principal o sol já morria deixando um carmesim pelas nuvens enquanto a noite começava a cair.

— Como lhe foi prometido senhor Nidrik, ele está aqui. — Misa Hordrik deu dois passos a frente e se curvou como uma saudação.

— Sim, você fez um ótimo trabalho pelo que vejo. — respondeu ele com seus olhos me serpenteando da cabeça aos pés.

Seu cabelo dourado tinha uma franja pontuda na frente e seus fios era prendidos por um longo rabo de cavalo atrás da cabeça, como algum tipo de samurai.

A característica mais peculiar dele na verdade não era essa e sim suas pupilas, eram ambas de cores diferentes, uma vermelha como sangue e outra esverdeada como uma esmeralda.

— O-olá. — Levantei minha mão timidamente.

— Seja bem-vindo senhor Hartseer, espero que meus aposentos tenham agradado vossa estadia. — Sorriu Nidrik ao apertar minha mão.

Um aperto firme típico de alguém confiante e bem humorado, confesso que sentia inveja toda vez que dava de cara com alguém assim.

“Ele é muito diferente de mim sem sombra de dúvidas.”, pensei olhando para a face do nobre loiro de terno.

— Enfim, — ele deu um suspiro cansado ao soltar minha mão, — a senhorita Katulis está a sua espera, ela chegou a alguns minutos atrás. Com certeza deve estar bem feliz por você estar bem, senhor Jack.

— F-Feliz?

— Sim. Senhorita Hordrik, faça o favor de dirigi-lo para a sala de jantar, se puder deixe-os conversarem a sós.

A senhorita Hordrik acenou com a cabeça e começou a andar reto em direção a uma grande porta de mármore.

“Feliz... eu não imagino que ela se sinta assim.”, foi o que eu disse em minha mente observando a feição pacífica de Nidrik.

“No dia em que eles me encontraram... eu ainda me lembro, gritos de desespero, o sangue e cadáveres pelas calçadas.”, torci meus lábios com um leve enjoo subindo pela minha garganta.

Lembranças daquele fatídico dia piscaram em minha mente.

Quando Incis estava com seu corpo ensanguentado, enterrada naquele veículo com sua face solitária e melancólica, eu lembrava bem disso, me recordava da culpa que senti quando ouvi suas palavras.

“E-Eu fui... tola, eu salvei você e por isso pensei que poderia fazer algo melhor que isso, apenas deixe a situação se resolver, eu já deixei pessoas demais morrerem por causa da minha tolice.”

Eu era quem nunca deveria ter sido salvo pra início de conversa porra... — murmurei apertando os punhos.

— Algum problema senhor Hartseer? A senhorita Hordrik está lhe esperando. — indagou Nidrik com uma face curiosa.

— N-Não. Está tudo bem. — ergui meu rosto para ele acenando com a cabeça e me retirei.

Passos. Passos.

De qualquer modo eu teria que arcar com as consequências no fim.

Minha mente estava de fato bagunçada, eu nem sabia se senhor o Kaylleon estava bem, se eu havia conseguido... ajuda-lo. Sem contar que ainda me deparei com aquela tal corrupção mental.

À medida que meus sapatos tocavam sobre o chão liso uma tenção foi aflorando dentro de mim.

Passos.

“Não foi minha culpa certo? Eu até tentei ajudar, eu tentei.”, meus pensamentos eram incertos.

A tolice de Incis era fruto da minha existência. Foi essa minha conclusão.

Enquanto eu continuasse nesse mundo maluco, estaria sempre atrapalhando, sempre tendo que ser protegido. Assim como Abyssus havia me dito, eu era fraco e sabia bem disso.

Era preciso considerar os sentimentos de Incis perante toda a situação também, muita culpa, muitos fardos.

— Vamos. — Misa Hordrik abriu a porta quando finalmente a alcancei.



Comentários