Ultima Iter Brasileira

Autor(a): Boomer BR


Alma Imaculada

Capítulo 72: Ainda Precisa Se Erguer!

 

Minha camisa branca e minha capa rasgada começaram a ficar cada vez mais húmidas com a saliva de Akira.

Ela provavelmente não iria mais me soltar até o fim dessa luta, mas dar ordens?! Isso era fora dos meus parâmetros.

Ventania!

Os ventos se agitaram quando a cópia de Akira se lançou em nossa direção, seus passos rápidos e ágeis jogaram farfalhos pelo ar.

— Droga, esquerda! — Gritei em desespero no que Akira deu meio passo para a esquerda em uma esquiva precisa.

Um rastro negro cortando as partículas de ar ao nosso lado.

O cabelo curto da espadachim me segurando em seus braços balançou levemente enquanto todo o seu corpo se deslocou derrapando para a esquerda.

Apesar da sombra ter copiado a aparência e até um pouco do estilo de luta de Akira, nunca poderia copiar sua espada perfeitamente já que ela sempre esteve embainhada desde o início da luta.

Os dedos de Akira se afundaram na minha pele, segurando-me firmemente.

“Outro ataque!”, meus olhos se arregalaram quando vi os ombros da silhueta negra tensionando.

— Vai vir direto pra nós! Não dá pra esquivar!

A sombra de Akira puxou a espada nebulosa como se estivesse enterrada no chão, assim um arco negro se destorceu pelo.

Impossível, seriamos ambos acertados pela lâmina sombria e esse seria o fim definitivo.

Por um segundo vi veias saltando do pescoço de Akira, mas ela jogou sua cabeça pro lado fazendo a espada em sua boca curvar.

Faíscas eclodiram, o som agudo do metal rebatendo o metal.

Rebatendo o ataque com a bainha presa entre seus dentes um pouco da saliva de Akira pingou no meu rosto.

Ughn! B-Boa, mas não dá pra lutar assim, você tem que me soltar.

Minha voz foi engolida pelo barulho crepitante da lâmina negra soltando seu vapor escuro em meio a mais um movimento brusco.

Os braços do clone envolto em sombras balançaram em conjunto a sua espada negra.

Não havia tempo algum.

Meus olhos se deslocaram na direção dos escombros da casa de madeira atrás dos ombros de Akira.

— Pra trás, rápido!

Zuuush!

A ponta escura da lâmina nebulosa rasgou o vazio de baixo para cima.

Akira me segurou firmemente ao flexionar seus joelhos antes de puxar todo o seu peso para trás com um pulo poderoso.

O chão estremeceu com o movimento dela no que rachaduras se formaram quando a espada de sombras se enterrou no solo.

Cinzas e poeira adentrando minhas narinas.

— Merda, uhgn! — Tossi algumas vezes no que entramos dentro da cabana de madeira em cinzas.

O que nhós vhamosh fasher aqui, Jhack? — Indagou ela ainda com a saliva escorrendo entre os dentes.

Revirei os olhos pelos destroços de madeira queimada na esperança de localizar um simples item.

“Droga, não tem uma única poção de cura dentro dessa cabana?!”, rangi os dentes.

Pela janela destroçada ao nosso lado a sombra mascarada pulou, se tornando apenas um grande borrão negro passando pelas tábuas de madeira caídas.

As cinzas subiram, a luz carmesim no céu da Dungeon era oculta pelo teto de madeira quase caindo aos pedaços.

— Preciso de mais tempo!

Quase vomitei sangue assim como antes, porém Akira apenas fez um único movimento.

Thudo hem enthão!

Numa fração de segundos Akira levantou sua perna direita e então desceu ela no chão com todas as suas forças.

Chute eshpechial dha Akiha!

Bam! Quebra!

Com uma pisada firme como essas as tábuas de madeira mais frágeis do que nunca estouraram para cima levantando não só o pó delas como alguns pregos e farpas.

A sombra foi acertada por uma tábua pontuda que perfurou seu queixo como uma lança.

Sem perder tempo a espadachim arrancou na direção da sombra antes de dar um pequeno pulo.

A perna longa de Akira girou junto de seu corpo quase como uma hélice pelo ar antes de colidir contra a máscara que ocultava os olhos da sombra.

A cabeça do Doppelganger estremeceu, porém sua máscara não demonstrou nenhum sinal de danos.

“Será mesmo que precisamos destruir a máscara pra matar essa sombra de verdade?”, passei a duvidar de mim mesmo por um mero instante.

Foi então que com sua mão livre a sombra agarrou o calcanhar de Akira.

Ughn! — Ela rangeu os dentes em choque.

Num piscar de olhos todo o corpo de Akira voou pelos ares, fomos ambos jogados para cima pela agarrada firme da sombra.

— A-Akira! — Ergui minhas mãos na direção da garota que girou pelo ar como um trapo velho.

Ughk! — De repente todos os meus órgãos estremeceram.

Meu estômago foi bruscamente golpeado por um chute que tirando-me dos ares, me afundou de volta pra dentro da cabana.

Talvez a real ameaça aqui era Akira, por causa disso a sombra apenas quis se livrar de mim o mais rápido possível.

Cada osso da minha espinha vibrou com o impacto de colidir contra as tábuas velhas da cabana.

Afundado entre os escombros carbonizados me vi mais uma vez incapaz... incapaz de sequer continuar.

“Merda, por que? Por que?”, comecei a suar com o corpo dolorido.

Mesmo depois de tudo, ela se esforçou ao máximo pra tentar me deixar vivo, por que eu sempre estragava tudo?!

Minha visão foi escurecendo, algo a corroer minha alma, não era culpa, medo da morte ou coisas assim... era... loucura.

“Por que? Por que? Por que? Por que? POR QUE?!”

A cada vez que essa mesma pergunta se repetiu dentro de mim o cenário ao meu redor foi se tornando cinzento, pareciam gotas de tinta caindo sob cada canto da minha visão.

Minha mente se perdendo em um vão de pura confusão.

Até agora eu só havia feito isso e nada mais.

Ser um infortúnio para os outros, trazendo problemas e me livrando deles como se não fossem trazer nenhuma consequência depois.

Uma luz se ascendeu iluminando minha face sombria coberta por sangue e suor.

[A Sindrome De Tenebris subiu de nível!]

[Sua sanidade alcançou os 20% de corrupção completa!]

Minhas pupilas perderam seu brilho diante dos textos reluzentes.

— Então... é assim que as coisas são.

Cada fibra do meu ser a sendo consumida segundo por segundo, uma dor ardente equivalente a ter toda a sua pele arrancada.

Ughn! Ghhhh! — Meus dentes rangendo, o suor escorrendo.

Como eu havia dito, você é como um grão de areia, Jack, sempre será levado aonde os ventos o quiserem levar, é apenas o seu destino. — Uma voz destorcida saiu de dentro de mim.

De uma hora pra outra eu não estava mais onde deveria estar, na verdade havia uma banheira, é, uma banheira, dentro dela eu estava afundado, afundado em angústia, tristeza, medo e principalmente insanidade.

Um líquido carmesim quente era o que preenchia ela e logo ao lado da banheira com as mãos relaxadas em seus bolsos, estava um ser... ser esse que continha tanto a minha face quanto meu físico.

Minha sombra, Abyssus.

Os arredores opacos, brancos como um caderno de desenhos, sem cor, sem forma, nada.

O brilho dourado nos olhos maliciosos de Abyssus, seu sorriso perturbador e o líquido vermelho escorrendo pelas beiradas da banheira.

No fim esse é você, Jack Hartseer. Se ainda pretende se lamentar por tudo o que suas ações trazem então é melhor morrer de uma vez. Que coisa, tu é um merdinha mesmo.

Passos. Passos. Passos.

Ele caminhou para longe de mim calmamente.

Todo meu corpo parecia estar afundando lentamente na banheira de sangue e meus olhos só podiam acompanhar o garoto de cabelos negros caminhando com as mãos nos bolsos, seu destino era algo incerto, mas ele parecia muito solitário.

A cada passo que ele deu sombras pintaram o piso branco abaixo de seus sapatos.

Somos só você e eu nesse mundo Jack, não importa onde esteja, quem te proteja, eu sempre vou estar aqui no fundo da sua alma, vou te lembrar do seu passado obscuro e todos os seus pecados, você é um ser podre que nunca mereceu ter ninguém ao seu lado.

Meus olhos lacrimejando, a visão borrando e o corpo dormente.

No fim eu fui engolido pela banheira de sangue caindo em um mar escarlate de puro vazio.

“Eu... sou podre por dentro.”, foi o que eu disse no fundo do meu coração enquanto todo o meu ser se desintegrava dentro do oceano de sangue.

A voz destorcida de Abyssus ressoou pelas profundezas.

Sim, mas existem coisas que até mesmo você deve fazer, tu tá me devendo coisas demais, moleque, erga-se de uma vez... — A voz dele pausou antes de se tornar mais retorcida e crepitante, ecoando pelos meus tímpanos como um rugido monstruoso. — E faz o que você sabe fazer de melhor, afinal você é uma lâmina solitária, Jack.

Tum!

O coração palpitou de forma brusca.

Os arredores desmancharam moldando-se todos de volta ao cenário em que eu me encontrava.

Lâmina solitária, isso me fez lembrar do meu objetivo original... sair daqui vivo pra encontrar a mulher responsável por tudo.

Melize Hozarik... eu vou te encontrar nem que seja a última coisa que eu faça. — Tentei me erguer dolorosamente, porém era inútil.

Minha mente perdida em uma estranha descarga de violência.

Revirando meus olhos arregalados pela cabana eu vi uma prateleira com alguns itens sujos e lá estava...

“Cura.... poção de cura, cura!”, erguendo uma das mãos sob o chão, comecei a me arrastar pelo na direção da prateleira.

O plano ainda estava de pé, se eu curasse pelo menos um pouco do meu HP poderia usar mais algumas Skills pra destruir a máscara da sombra.

Não se tratava mais da Incis, não se tratava de Akira também.

Eu era uma lâmina solitária, estaria sempre sozinho então... qualquer um que se opusesse a isso, deveria morrer!

— Não vou morrer aqui, não ainda!

Rangi os dentes com as unhas arranhando a madeira pra me arrastar, me senti como um demônio fugindo da boca do abismo.

 

[Akira]

 

O corpo cansado, feridas ardendo e o sangue escorrendo.

Meus sapatos derraparam sob a grama seca enquanto senti uma descarga de dor descomunal partir meu braço esquerdo por completo.

AAAAAAAAGH!

O grito de agonia que saiu de dentro, minha mandíbula fraquejou assim soltando a espada da minha boca.

A lâmina de sombras passou pelo meu ombro como uma navalha e o sangue voou pra cima, meu braço esquerdo caindo sob a grama suja de sangue.

“Essa coisa... é forte demais!”

No fim eu não era igual a capitã Incis, nunca seria, sem minha Magatama era inútil!

— Maldição. — Bufei levando a mão aonde deveria estar o meu braço, o sangue escorrendo entre meus dedos.

Precisava continuar, precisava vencer, porque senão eu nunca poderia vê-la de novo, nunca poderia continuar me inspirando nela, nunca poderia ser como ela!

A sombra mascarada ergueu sua espada com ambas as mãos.

Uma perna atrás, outra na frente, uma postura de... ataque? Eu não sei, não fazia a mínima ideia desses papos sobre combate.

“É assim que... eu vou terminar Heim?”, meus pensamentos se tornaram melancólicos.



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