Tsunagari Brasileira

Autor(a): Lich


Volume 2

Capítulo 2: Subordinado

BOKUTSUNAGARI 

Subordinado

O sorriso dela era doce e convincente. Seus olhos avermelhados brilhavam sob a fraca luz do beco e o pálido reflexo da lua. O garoto mal conseguia distinguir sua figura, vendo apenas uma silhueta. Tudo que escutava era um zumbido forte e constante.

Com esforço, ele estendeu o que restava de seus dedos, mutilados e ensanguentados. A garota sorriu ainda mais. Em um piscar de olhos, avançou sobre ele, cravando as presas em seu pescoço.

Akihiro sentiu apenas uma leve pontada — antes de uma ardência intensa invadir seu corpo. Aos poucos, sua visão e audição retornaram, mas acompanhadas de uma náusea avassaladora. O mundo ao seu redor girava, e sua consciência se esvaía.

— Você é meu...

Quando despertou, Akihiro estava em um lugar familiar — um refeitório escolar. Sentado num dos bancos, à sua frente, estava a mesma garota. Ela o observava, serena.

— Finalmente acordou. Achei que fosse dormir para sempre.

— Onde estou...? Quem é você? — perguntou, levantando-se com dificuldade. Suas roupas estavam completamente rasgadas, mas as feridas... haviam desaparecido.

— Eu sou sua mestra. E você está na sua própria escola.

— "Mestra"? Isso é uma piada?

— Você ainda está confuso — disse ela, se sentando com tranquilidade. — Você foi atacado por um grupo de vampiros. Não só você, mas seus amigos também. A maioria morreu... com exceção daquele de olhos esverdeados. Consegui salvá-lo a tempo.

Ela fez uma breve pausa antes de continuar.

— Para salvá-lo, eu o tratei. Mas com você... a única forma era transformá-lo em meio-vampiro. E, com isso, você se tornou meu subordinado.

Akihiro ficou em silêncio, tentando processar tudo. Respirou fundo e assentiu.

— Tudo bem. Eu aceito ser seu subordinado. Qual o seu nome?

— Kimiko — respondeu ela com um largo sorriso.

— Kimiko... Meu nome é Akihiro Nishida.

— Eu sei.

A resposta rápida o fez hesitar, mas antes que pudesse perguntar algo, Kimiko prosseguiu.

— Você parece não se importar com o fato de que seus amigos morreram. E agora... você pode ser como nós.

— Nenhuma daquelas pessoas eram realmente meus amigos... — murmurou. Então algo na fala dela o intrigou. — Espera... eu posso ser como os vampiros?

— Tecnicamente, sim. Você possui força e agilidade sobre-humanas, além de um fator de regeneração. — Akihiro abriu um sorriso involuntário, revelando discretamente suas presas. — Mas não se engane: você ainda sente dor como um humano. E talvez... sinta o desejo de consumir carne humana.

Ele apenas assentiu, absorvendo tudo aquilo. Kimiko, ainda sorrindo, perguntou de forma mais direta:

— Você é uma pessoa quebrada, não é?

Akihiro a fitou com intensidade.

— Esse olhar... essa calma. Parece que já passou por algo tão doloroso, que nada mais consegue te abalar. Acertei?

— Talvez... Minha mãe matou meu pai na minha frente. Foi a pior coisa que já vi. Depois disso, ela pegou toda a herança e se mudou para outro país, deixando só eu e meu irmão para trás.

Kimiko arqueou as sobrancelhas.

— Isso é sério... Por que você não a denunciou?

— Ela nos envia dinheiro suficiente pra sobrevivermos. Se denunciarmos, pode até dar certo... mas eu e meu irmão não queremos cair nas mãos de algum sistema estranho de adoção. Preferimos ficar sozinhos.

— Entendo... — O silêncio tomou conta do refeitório.

— Por que está me contando tudo isso? Vai me dizer seu maior trauma assim, de graça?

— Eu precisava tirar isso do peito. Nada mais importa pra mim.

— Isso foi... fofo. Talvez você até mereça um beijo...

Akihiro arregalou os olhos. Quando notou, os lábios dela já estavam nos seus. O beijo foi calmo, doce. Um alívio inesperado em meio ao caos. Após alguns segundos, Kimiko se afastou.

— Por que você fez isso?

— Talvez eu tenha começado a gostar de você... como meu subordinado. Espero que não tenha namorada, seria uma tragédia ter beijado alguém comprometido.

— Eu... não tenho. — desviou o olhar, constrangido. — E o garoto de olhos esverdeados? Você disse que ele sobreviveu.

— Ele está descansando em casa. Não se tornou um vampiro, os ferimentos não foram tão graves. E você também deveria descansar.

— É... acho que tem razão.

– Até mais tarde meu subordinado.

Akihiro se levantou, fez um gesto de despedida e saiu da escola. Seus passos eram lentos e pesados. O céu começava a clarear, entre as estrelas que ainda resistiam. Caminhando pelas ruas, imerso em pensamentos, ele chegou em casa. Foi direto para o quarto e caiu na cama, ainda com as roupas rasgadas.

— Eu sou um vampiro... — sussurrou para si mesmo.

Essa ideia o assombrava até que o sono finalmente o alcançou.

Na manhã seguinte, Rem chegou no horário exato combinado. Estranhou não ver Akihiro acordado, já que o irmão era sempre pontual.

Subiu até o quarto e abriu a porta.

— Ei, Akihiro! Acorda. Por que suas roupas estão assim?

Akihiro despertou assustado e se sentou na cama, esfregando os olhos.

— Rem? Já chegou? Que horas são?

— Dez da manhã.

— Uau... você chegou na hora. E aí, como foi?

— Foi divertido. Jogamos, vimos filme... essas coisas.

Rem o olhou com um sorriso, mas notando o olhar curioso do irmão, acrescentou:

— Ok, ok... a gente se beijou também.

O sorriso de Akihiro se abriu ainda mais. Ele deu um leve soco no ombro do irmão.

— Você disse que não ia fazer safadeza!

— Foram só uns beijos! Nada além disso.

— Tá, tá... mas agora tô curioso. Ela tem seios grandes?

Rem ficou vermelho e hesitou. Depois, sorriu com timidez e assentiu. Akihiro, rindo, provocou:

— E você tocou?

O mais novo ficou indignado, deu um soco mais forte no irmão.

— Que pergunta é essa, idiota!? Não seja tão direto!

— Então é um sim... Que orgulho! Meu irmãozinho está virando um homem — disse, gargalhando.

— Eu vou te matar, Akihiro! — E continuou batendo nele, enquanto Akihiro ria alto.

A brincadeira foi interrompida pelo som da campainha.

— Vai atender, Akihiro. E troca de roupa, por favor.

Rem saiu do quarto. Akihiro trocou as roupas rasgadas por um pijama branco simples. Desceu até a porta e se deparou com Hikaru. Seus olhos estavam arregalados, a expressão assustada.

— Hikaru? O que você...?

— Akihiro, preciso falar com você. É sobre a madrugada passada.

O olhar de Akihiro mudou instantaneamente. Ele olhou para dentro da casa, certificando-se de que Rem não estava ouvindo. Então fechou a porta e puxou Hikaru para mais longe.

— O que aconteceu?

— Eu sei de tudo. Sei que você virou um subordinado de uma vampira. Sei que você é um meio-vampiro. E agora... eu sei que os vampiros existem. Kimiko me mandou buscá-lo. Ela quer conversar conosco.

Akihiro suspirou e encarou a própria casa, pensativo.

— Ok. Onde ela está?

— Lá em casa. Mas relaxa, meus pais não estão.

Os dois caminharam juntos pelas ruas vazias. Era sábado, e a cidade estava mais tranquila. Silenciosos, seguiram até a casa de Hikaru. Subiram até o quarto dele — onde Kimiko os esperava, sentada sobre a cama com as pernas cruzadas.

A luz da manhã entrava pela janela, fazendo seus olhos vermelhos brilharem intensamente.

— Olá novamente... meu subordinado.

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