Trovão Infinito Brasileira

Autor(a): Halk


Volume 1

Capítulo 45: De Onde Nada Se Espera É De Onde Surgem As Melhores Surpresas

Acordo pela manhã exausto. Todos os dias sinto que cada vez mais tenho de drenar mais energia para poder me sentir plenamente disposto. 

Ficar acordado a noite inteira está me desgastando. Por mais que consiga recuperar meu vigor com a eletricidade drenada, uma boa noite de sono verdadeiro é essencial.

Levanto da cama igual a um zumbi, depois procuro a tomada mais próxima e enfio o dedo. As luzes não se apagam dessa vez, provavelmente aumentaram a voltagem de todo esse dormitório. Isso é bom, não terá mais ninguém se assusta pensando que estamos sendo atacados.

Nos dirigimos até o refeitório dessa vez. Tomo meu café da manhã, que ainda é aquela papa estranha e bizarra com aparência acinzentada. Ainda não sei se isso tem substância C-1 ou T-1, mas toda vez que tomo parece que qualquer fadiga vai embora e estou pronto para qualquer parada.

Converso com Amor e com os outros membros. Todos estão bem animados com os seus resultados.

Desde que venho implementado o novo treinamento, que consiste em grupos de três tentando imobilizar, atacar ou se defender de outro grupo de três, os recrutas têm se demonstrado bem mais despertos.

Alguns estão se afobando para cima de umas garotas, outros estão simplesmente felizes. Adoro ouvir seus sorrisos enquanto tomo meu café da manhã, mas nada é mais satisfatório do que comer uma refeição ao lado de pessoas queridas.

Por um segundo gostaria que isso aqui durasse para sempre. Porém não vai rolar assim. Um dia eles vão se tornar soldados de verdade. Vão ter missões de verdade. E um dia eu vou ficar preso aqui para o resto da vida, obrigado a ser um bichinho de estudos.

Sim, era isso que Vega queria naquele momento. Queria me usar para estudo. Eu sei disso, consegui sentir essa intenção vinda dele. 

Minha sensibilidade elétrica vem se tornando cada vez mais poderosa. Consigo sentir quando alguém está bem e quando alguém está mal. E isso envolve tanto a saúde da pessoa quanto os seus sentimentos.

Aos poucos consigo decifrar se a pessoa está mentindo para mim ou não. Essa não é uma habilidade que possa ser treinada no ambiente virtual e sim no mundo real. Vou ver o que posso fazer depois.

Após a refeição vamos todos para a sala de treinamento, para mais um dia.

Assim que chegamos sou o primeiro a notar uma coisa que me deixa bem irritado: Vida está cabisbaixa, desanimada com algo.

Para ter certeza peço que todos comecem a se aquecer e chamo Vida para o canto. Nós conversamos a respeito do que ela está sentindo. Toco em seu ombro algumas vezes para poder identificar as suas emoções por meio da energia.

— A fase dois vai ser daqui a pouco tempo, Kaike — diz. — E… E eu não sei se eu quero lutar…

Ela está frustrada consigo mesmo. Isso é ruim, sinto um fluxo de energia muito ruim agora. Pode acabar prejudicando sua saúde e pensar dessa maneira. 

Tento confortá-la:

— Você é uma ótima lutadora, Bia. Não tem porque ter medo.

— Mas eu não quero machucar os outros… — choraminga. — Só de pensar em bater em alguém eu… eu…

Dou um abraço nela e não deixo que complete a frase. Ela me abraça de volta e sinto a energia negativa se esvaindo levemente e dando lugar a uma energia confortável.

Sinceramente não sei como descrever essas energias. Porém, as energias negativas geralmente são mais caóticas, perigosas e instáveis, enquanto as positivas são mais ordenadas e formosas. Bom, ao menos é assim que consigo imaginá-las, afinal de contas eu não as vejo, mas sim as sinto.

— Vamos dar um jeito nisso, Vida. Pode ficar tranquila.

E depois voltamos ao treinamento. 

Os treinos começam a ser um pouco mais repetitivos do que o de costume e já não vejo tanta empolgação assim conforme os dias vão passando.

Infelizmente não posso pegar leve com eles e tão pouco deixar que comecem a praticar outra coisa, principalmente tão perto da fase dois. Eles têm de se aperfeiçoar nas coisas que já sabem.

Enquanto ajudo todos da melhor maneira que posso, observo a movimentação da Solares e de seus auxiliares. Eles estão com pouquíssimos recrutas ao seu lado. 

Obviamente, Ermo e sua turma está com eles. Antes nem estavam treinando, agora estão mostrando serviço. Sei que ele só está ali para se aparecer para os outros. Aquele garoto não é boa gente, com certeza não é.

Mas ao menos algo de bom sai enquanto encaro aquele bostão. Penso nas pessoas que ele detesta e uma dessas pessoas é Clio. Por algum motivo Ermo não vai com a cara do ex-auxiliar.

Talvez isso seja por ele ser um ex-auxiliar ou simplesmente por ser o jeito de Clio mesmo. Vai saber. De qualquer forma, eu acabo de lembrar do Clio, que é um cara super inteligente. Logo, já sei como melhorar o treinamento.

Converso com ele para que encontremos uma nova forma de treinamento, uma que possa ajudar as pessoas e que também combine com o treinamento.

Ele demora um tempo pensando em alguma coisa. Olha para o quadro onde estão os pontos e as regras de combate e começa a fazer desenhos no ar com a mão.

Amor chega perto de mim e começa a observar Clio.

— O que é que ele tá fazendo, Trovão? — pergunta.

— Tá planejando alguma coisa, com certeza. 

— É uma ideia das boas? — Ela dá uma leve cotovelada em meu braço.

— Ah! Eu espero que sim, Amor.

Depois de um tempo observando sua peculiar maneira de pensar, um pequeno aglomerado de pessoas se forma. Isso é mal, mais alguns minutos e todo mundo vai querer saber o que ele está fazendo.

Me viro para a ruiva de cabelos escarlates ao meu lado e digo:

— Essa gente toda olhando pode desconcentrar.

— É verdade. — Ela se vira e começa a balançar os braços para cima, como se estivesse espantando gado. — Vamos, vamos. Saiam daqui! Vamos, vamos! Vão treinar, parem de ficar curiando.

Dou uma risada e volto a olhar para frente. Assim que me viro me encontro com dois olhos de peixe morto me encarando por de trás de um óculos redondo. Dou um passo para trás no susto.

— A-alguma novidade? — pergunto.

— Sim. Tive uma ideia — diz e depois aponta para o quadro. — Abusaremos de uma regra.

Após entender o plano de Clio, me reúno com todos para explicar uma nova estratégia que vamos utilizar e que será de grande ajuda para a Vida, especificamente.

Por sorte, a oponente de Vida não está em nosso grupo, então não vai ter como ela se informar sobre isso. 

— Seguinte — digo. — Há alguns de vocês que não gostam de machucar os outros e eu super entendo isso. Por conta disso, eu e o Clio bolamos uma estratégia para que vocês vençam as lutas, ganhando muitos pontos e sem precisar ferir ninguém. Quem está interessado em aprender.

Para a minha surpresa, todos levantam a mão. Isso é ótimo.

— Perfeito. Vou primeiro apresentar a teoria. Clio, por favor.

Ele está do meu lado. Dá um passo para frente e então começa:

— Sim. Como todos devem saber, existem alguns critérios de avaliação. Cada critério segue a sua própria regra. Porém existe um desses que não há critério algum, o da Criatividade. Basicamente a pessoa ganha mais pontos quanto mais criativa ela é durante o torneio.

— Ou seja, vale tudo — complemento.

— Sim — concorda ele. — Então a nova estratégia consiste em, primeiro, fazer o oponente cansar. Segundo, fazer ele ir para a margem da arena e, terceiro, fazer ele cair da arena, assim sendo desclassificado.

— Mas todo mundo vai saber que o outro está usando essa estratégia — diz um dos recrutas. — Como vamos surpreender o inimigo se nós estamos sendo treinados do mesmo jeito.

— Aí, meu querido amigo — digo — você usa a sua Criatividade. Não acha?

Todos dão algumas risadas. O recruta dá de ombros e volta para a multidão. 

— Certo, agora tentem fazer essa estratégia dessa forma. — Aponto para o chão. — Estão vendo esses riscos nos chão branco? Peguem alguns blocos desse e tentem não serem jogados para fora do limite. Vocês mesmos estabelecem o limite, quanto menor, melhor.

Eles usam as linhas brancas do piso branco para delimitar uma arena. Dali não podem ser jogadas para fora, isso seria uma derrota na hora. 

Alguns usam poucos quadrados, outros usam mais espaço do que deveriam. Os gêmeos Precioso e Maravilhoso demarcam uma área tão grande que vai ser impossível deles derrubarem um ao outro. 

— Preparem-se… E… Comecem!

No mesmo segundo eu ouço um baque vindo da direita. Quando olho, vejo que Vida conseguiu empurrar em pouco tempo um garoto para longe, para fora da demarcação.

Ela pede desculpas para o rapaz, que se encontra impressionado. Depois tenta ajudar ele a levantar.

— Aí, desculpa, não quis te machucar, é que ele falou em empurrar e eu… É… — Ela olha em volta e percebe que todos estão olhando para ela, boquiabertos. — O que foi, genti~?

Pelo visto, Vida estava escondendo o ouro. Mas agora eu vou me aproveitar e muito desse achado.



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