Volume 2
Capítulo 128: A Peça; A Prisão de Zhao Piao. #2
Qin Xa franziu as sobrancelhas com a crueldade que era essa decisão, mesmo para um doente como o General Vermelho.
Escolher entre si e seu próprio filho. Era uma escolha medonha para qualquer um.
E ela ficou abismada quando o General Vermelho levantou sua mão, tão alto que parecia querer agarrar os céus e puxá-los para baixo! Aquele ato de levantar a mão, pareceu conter toda a determinação e vida dele!
Sua mão foi de baixo para cima lentamente, mas antes que percebesse, ela já estava no alto… buscando alcançar algo. E assim…
— EU NÃO TENHO UM FILHO NESSE CAMPO DE BATALHA! — berrou o homem. — SOLDADOS! FAÇAM O EXÉRCITO REAL CONHECER O PODER DA QUEDA DO CÉU! DISPAAAAAREM!
Qin Xa ficou boquiaberta, porém, todos os seus pelos se arrepiaram de uma vez quando o teto do teatro de repente desapareceu completamente, revelando o céu azul em toda a sua glória e resplendor infinito! A luz preencheu o lugar junto com todo o horror que ela poderia trazer!
Antes que pudesse se questionar o que era aquilo, todas as formas ao seu redor ficaram borradas, e suas pernas ficaram mais moles do que água. Ela estava imobilizada!
E do céu, uma... 2... 3... 10... 500... 10.000... 300.000! O céu azul se tornou negro. O zumbido do ar sendo rasgado era apavorante, como se aquilo fosse um abominação se aproximando da terra e querendo engoli-la!
Mais de 500 mil flechas irromperam do firmamento, e antes mesmo que elas pudessem tocar seu corpo, Qin Xa se viu cheia de buracos, estirada no chão e completamente despedaçada! Sangue cobria sua pele… em questão de segundos ela estava quase morrendo!
Na sua frente, ela viu Gu Lei assistir as flechas caindo sobre si... e ele estava incrédulo... Por quê? Ele realmente esperava que o General Vermelho levaria em conta a vida do próprio filho? Como ele pôde ser tão ingênuo?
Seu corpo se moveu de forma lenta, gritando para seus soldados erguerem seus escudos, e vendo cada um deles ser empalado por flechas grossas. Muitos tiveram suas colunas quebradas, ficando cravados no chão, jorrando sangue por seus ferimentos abertos!
Outros explodiram em carne vermelha e tripas. Penas e tufos de pelo cobriam o lugar, atrapalhando qualquer um de ver o que era importante. O cheiro de sangue deixou o ar insuportável de respirar… e junto dele, também veio o cheiro de fezes e urina…
Qin Xa deu um pulo em seu assento, completamente encharcada de suor, pálida, enquanto olhava para o palco e via flechas atravessarem corpos.
Ela olhou para o teto... e ele estava completamente intacto. Fechado. Escuro. Ela mesma estava inteira. Sem dor. Intacta.
Uma ilusão... foi uma ilusão...
Tudo foi uma ilusão? Será mesmo...
Tremendo, olhou para seu corpo, passou a mão em sua pele... sentiu que as flechas que destruíram seu corpo ainda estavam ali, rasgando seus músculos, carne e destruindo seus ossos. Os buracos feitos pelos objetos, e a dor que ela mal teve tempo de compreender ainda pulsavam em sua carne…
A realidade e a ilusão se misturaram, e novamente ela se viu coberta de vermelho brilhante e fedorento… dolorida… olhou para o lado… e viu…
Com passos lentos e estrondosos que faziam o mundo tremer, um ser gigante caminhava em sua direção. Seus olhos azuis brilhantes rasgaram o véu de poeira que cercava os dois, e pareciam conter as profundezas mais medonhas do submundo.
Qin Xa agonizou de dor, tremendo de pavor quando a face profana daquela coisa estava prestes a ser revelada. Mal conseguindo respirar, ela focou sua visão lá, naqueles olhos...
E tudo desapareceu. O teatro voltou a cercar sua pessoa, que estava com calafrios.
Mordendo os lábios, viu que seu Qi estava selado. Sem nem um vazamento.
Isso foi uma ilusão causada pelo Dao esquisito… não foi? Tinha que ser, até porque esses atores eram incríveis.
...
Olhou mais uma vez para o palco, que estava repleto de flechas e corpos mutilados. O sangue espalhado pelo chão fez os soldados que ainda estavam de pé cambalearem.
E para seu desespero, o General Vermelho liderou uma unidade, que veio para cima deles como se fosse uma besta das profundezas, daquelas que ficam tão profundamente escondidas que apenas ver elas causava paralisia...
E foi isso que muitos soldados sentiram, a vontade de lutar se acendeu em alguns, mas eles ficaram parados como estátuas! Sem nenhuma força para se moverem! Vermelho passou por eles como um ceifador, tirando vidas uma após a outra. O sangue voou e os corpos caíram.
Aquela mancha vermelha cruzou todo o campo de batalha até chegar à Gu Lei, que estava coberto de flechas... já morto há muito tempo.
Vermelho encarou o general caído por alguns segundos... quase como se estivesse decepcionado...
Branco havia batalhado contra ele uma vez após a outra por meses e meses seguidos, com nenhum dos dois encontrando uma vantagem ou desvantagem... mas ali estava alguém que aos olhos do rei possuía o mesmo valor que Branco…
E ele morreu com o movimento de guerra mais simples que existia. Em questão de minutos. Era patético.
— O rei realmente é um homem cego... — nesse momento, para atrapalhar suas palavras, a montaria coberta de flechas se mexeu, e de debaixo dela, alguém parecia ter dificuldade para sair. Aos poucos ele se arrastou de lá, gemendo e grunhindo, quase parecia que a fera estava morrendo mais uma vez de tão bestiais que eram aqueles grunhidos.
— Parece que você sobreviveu... homens, capturem e o levem para a fortaleza. Não deem tratamento para esse traidor! Mas certifiquem-se de mantê-lo vivo.
Sem ao menos olhar para o filho que lutava pela vida embaixo do animal, Vermelho estalou seu chicote e fez sua montaria mais uma vez cruzar o campo de batalha.
E Zhao Piao... esse estava com as pernas quebradas, flechas perfurando seu corpo e com um sangramento grave... mal conseguindo manter a consciência, sem forças para mexer a cabeça, ele foi arrastado para a fortaleza que ele deveria destruir. Mas que fracassou miseravelmente nesse objetivo, que agora parecia tão irreal.
Tão ridículo.
Poderia ele, um jovem que nem sequer havia pisado em um campo de batalha, conseguir se igualar a um general que via isso como sua rotina? Que perambulava sobre cadáveres com mais facilidade do que andava em sua própria casa? Como ele sonhou em se comparar contra o homem que estava tão determinado a tomar o reino, a ponto de sacrificar o próprio filho?
O que ele mesmo havia sacrificado para estar naquele lugar?
Lançou um olhar para as costas de seu pai, que agora estava longe... e perdeu a consciência. Sua cabeça pendeu para baixo, os soldados se entreolharam, e jogaram o rapaz nas costas.
Mais tarde, Zhao Piao, com o abrir das cortinas, também abriu os olhos. Deitado sobre um amontoado de trapos, ele puxou um bocado de ar frio para dentro e gritou, se curvando sobre si mesmo para tentar aplacar a dor que devastava seu corpo!
Mordeu os dentes! Fez careta!
— MERDA! MERDA! MERDA! MERDA! POR QUÊ?! POR QUE EU FRACASSEI DE NOVO?!
Seus olhos vagaram até focarem na pessoa que estava sentada em uma cadeira, enquanto assistia ele se espernear e gritar... Seu pai.
Curvado para frente, apoiando os braços sobre os joelhos, ele olhou para a risível decadência do filho. Seu colar estava pendurado, brilhando de forma fraca por conta da luz que entrava da janela alta. E a janela, pendurada na parede de pedra talhada, cheia de musgo, parecia observar a cena.
Zhao Piao mordeu os dentes, olhando nos olhos daquele homem com ódio!
— MALDITO! VOCÊ NÃO SE CANSA DE ME VER SOFRER?! POR QUE NÃO ME MATA DE UMA VEZ?! É DIVERTIDO ASSISTIR SEU FILHO CAINDO NAS SUAS GARRAS UMA VEZ DEPOIS DA OUTRA, SEU IMUN- AAAAAAAA! AAA! AAAAA!
Um soco na sua boca fez Zhao Piao se contorcer todo, enquanto suas feridas se abriam uma após a outra. Seus gritos ecoaram, como se tentassem ser um mais alto que o outro, mesmo com sua boca sendo tampada por suas mãos cobertas de sangue.
Vermelho deu mais um soco, esse caindo por cima daquelas mãos defensoras, e os gritos de Zhao Piao aumentaram. Seus beiços rasgaram do golpe e ficaram pendurados. Desesperado, ele tentou se afastar. Tentou com todas as forças! Porém, ele foi segurado pelos cabelos e viu o chão se aproximando da sua cara.
PRA!
O sangue cobriu seu rosto, enquanto sua pele se rasgava e revelava metade da sua face completamente desfigurada. Engasgando com o próprio sangue, Zhao Piao ofegou... chiou.. tentou segurar as mãos de seu pai, vendo apenas um borrão vermelho... mas foi jogado para o canto.
– Agora sim... muito mais silêncio. — Vermelho se pôs de pé. — Zhao Piao, eu te dei realmente muitas chances e você desperdiçou todas elas. — disse com uma calma mórbida que fez Zhao Piao se arrastar para longe mais rápido, como se estivesse sendo perseguido por um demônio... mas com suas pernas aleijadas e seus braços feridos, ele somente se debateu no chão.
Só que ele pouco se importava se estava se movendo ou não. Ele só queria correr dali, e estava realmente dando tudo de si na sua maior velocidade!
— Não... — gemeu. — Não... socorro... alguém! Socorro!
Não houve grito. Como se gritar fizesse o demônio atrás de si se enfezar... ele precisava sussurrar por ajuda... isso! Sussurrar por uma salvação!
— Você tinha tudo. EU te dei tudo o que você precisava... e mesmo assim você me abandonou uma vez depois da outra, e foi atrás da sua tão importante noiva!
Pisando na perna esquerda, que já estava quebrada, Vermelho assistiu o garoto gritar... sangrar e se recusar a olhar ele nos olhos. Ele rastejou, se afastando.
— Perdão... perdão... me desculpa... eu errei...
— Eu sei que você errou. Eu estou vendo você errado bem na minha frente... apenas me responda... por quê? — de cócoras, Vermelho pegou os cabelos de Zhao Piao e o forçou a olhar bem no fundo dos seus olhos escuros.
Enquanto um chorava, no outro havia apenas uma calma doente... sinistra. Zhao Piao engoliu mais uma vez seu sangue... quantas vezes ele não fez isso depois de apanhar para seu pai?
— Por que você abandonou seu pai apenas por uma noiva?! Eu disse que aquela não era uma mulher para você, não disse?! Por que você não me obedeceu e mesmo assim foi atrás dela na primeira oportunidade que teve, como se ela fosse a solução para os seus problemas?! Me responda! A sua noiva é mais importante do que tudo o que eu te dei?!
Aquela calma estava desaparecendo aos poucos, enquanto uma fúria sem limites fazia as mãos de Vermelho tremerem, apertarem os cabelos que estavam entre seus dedos como se quisesse arrancá-los!
E ele realmente queria arrancar!
— Lin Xi... não é minha noiva... — Zhao Piao lacrimejou, soluçando, e a fúria borbulhante de Vermelho só aumentou. Ele não queria de jeito nenhum ver esse garoto se acovardando tanto!
Era deplorável! Abominável ser tão fraco e covarde! Ele estava prestes a quebrar todos os dentes de Zhao Piao nas pedras da parede, quando a frase que fez seu corpo paralisar completamente foi dita.
— Lin Xi é minha mulher... ela é minha...
Vermelho largou o garoto, ou deixou ele escapar de suas mãos, pelo choque em sua expressão. Paralisado, olhou para os lamentos e agonias do filhos.
Depois pegou ele pelos ombros e o sacudiu.
— Como assim ela é sua mulher?! O que foi que você fez com a Fada Rosa?! — uma fúria crescente e alarmante surgiu em seu tom conforme o mesmo subia. Zhao Piao nesse momento encarou seu pai, como se finalmente houvesse reunido alguma coragem... mesmo tremendo, mesmo com a cara rasgada e mesmo sem muitos dentes...
— Eu fiz de Lin Xi minha mulher! E você nunca vai tirar isso de mim! — ele gritou, baixo, havendo finalmente encontrado algo no qual superou seu pai. Queria ele acreditar nisso... — NUNCA VAI ME TIRAR LIN XI!
Porém, tudo o que Zhao Piao recebeu foi um chute na cara que mandou seu corpo moribundo contra a parede de pedra. Ele engasgou, e tentou gritar, mas sua mandíbula só caiu de maneira frouxa. Os ligamentos e nervos foram quebrados com o chute, sem dúvidas. Ele urrou. Gemeu.
Vermelho completamente irado deu mais um chute na sua cara e berrou, enlouquecido!
— POR QUE VOCÊ FEZ ISSO!? COMO VOCÊ TEVE CORAGEM DE PROFANAR A FADA ROSA, SEU VERME IMUNDO! ELA ERA MINHA! A FADA ROSA ERA MINHA! APENAS MINHA!
Berros, gritos e gemidos encheram o lugar, e a bota do Vermelho ficou coberta com sangue. Um chute após o outro, com sua voz estrondosa já não mais entrando nos ouvidos de Zhao Piao.
— POR QUE BRANCO PEGOU ELA ANTES DE MIM?! — Vermelho esmagou seu punho no rosto deformado do filho imóvel. — EU DEVERIA TER MATADO ELE MUITOS ANOS ATRÁS! EU DEVERIA! E POR QUE VOCÊ TAMBÉM TOCOU NO QUE É MEU! A FADA ROSA ERA MINHA! SÓ MINHA! MINHA! MINHA! MINHA! MINHA! MINHA! ELA DEVERIA SER MIIIIIINHA!!!!!
Zhao Piao estava quase sem respiração quando Vermelho o encarou, seu rosto vermelho e seus olhos quase esbugalhando para fora. Uma visão monstruosa. — VOCÊ VAI PAGAR POR ISSO! EU IRIA APENAS MATAR VOCÊ! MAS VOCÊ NÃO DEVERIA TER COLOCADO SUAS PATAS NA MINHA MULHER!
Tirando seu colar do pescoço, Vermelho mordeu a mão e arrancou um pedaço da pele, e sujou o colar com seu sangue. Uma névoa negra se libertou de dentro do colar, e se espalhou.
Vermelho jogou o colar sobre o corpo, fazendo a névoa negra cobrir ele inteiro por alguns segundos, que foram preenchidos pela respiração pesada do monstro. A névoa negra se retraiu para dentro do colar, e o corpo de Zhao Piao… sumiu. Desapareceu sem deixar vestígios.
Com uma careta, Vermelho pegou o colar. O encarou. Ódio indisfarçável cobriu seu semblante.
— O meu maior erro foi ter poupado você e matado apenas a puta da sua mãe! Essa gente imunda não merece nenhuma piedade. Agora veja daí de dentro tudo o que eu vou fazer com a Fada Rosa! Eu disse que ela não era mulher para você!
Vermelho colocou o colar de volta no pescoço, com tanta força que o cordão raspou sua pele, e saiu com passos pesados de dentro daquele lugar silencioso e com cheiro de sangue.
E com isso, as cortinas se fecharam, e demoraram a se abrir.
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