Volume 1

Capítulo 55: O Lixo do Clã Ranyu

 

Em um lugar extremamente distante de onde Qin Xa e Lou Bin Luo estavam, tão distante que era impossível para qualquer uma das duas chegar lá andando, algo que mudaria os eventos decretados do mundo estava prestes a acontecer. 

O sol, em seu eterno resplendor nascia mais uma vez por trás das 17 Montanhas dos Demônios Roxos. Os raios dourados sinalizam o início de uma nova manhã, um novo começo para muitos e o final perpétuo para alguns. 

Mas para os membros do Clã Ranyu, esse nascer do sol significa nada mais que pelas próximas horas do dia, o clã seria banhado pela luz. Era um nascer do sol completamente irrelevante.

No momento em que os raios do sol iluminaram o grande sino da torre localizada no centro do clã, o sino começou a bater.

Dong! Dong! Dong! Dong! Dong!

O sino tocou 10 vezes, fazendo todos aqueles de baixo cultivo, que estavam dormindo ou cultivando, acordarem para cumprir suas obrigações. 

O som do sino soou por mais de 3.000 quilômetros, cobrindo todo o Clã dos Demônios Vermelhos Celestiais. 

...

Em uma casa no limite de onde o sino tocou, no pátio mais afastado da casa principal do Clã Ranyu, uma criança de 10 anos pulou da cama, se vestiu e correu para seu quintal. 

Essa criança tinha cabelos em um profundo tom de azul, quase preto, cada mecha do seu cabelo ondulado era distinta e rebelde, lhe dando uma aparência selvagem. 

Sua estatura era bem grande para uma criança de 10 anos, tendo seus 1 metro e 60 centímetros, mas isso era por conta de sua raça. Queria essa criança poder ser ainda maior.

Na cabeça da criança era visível um par de chifres vermelhos como uma brasa no escuro.

— Vamos mais uma vez. Haa! Haa!

A criança jogou seus punhos no ar e se concentrou em sentir o Qi dos arredores mais uma vez, como dizia a tecnica de cultivo que seu pai lhe passou.

Mas ela não conseguia sentir nada. Conforme seus músculos iam se cansando, um mal pressentimento sinistro de causar calafrios e revirar o estômago foi tomando de conta da criança. 

3 horas depois ela ainda estava jogando seus punhos ao vento. Suor escorria por todo o seu corpo, suas roupas estavam grudadas contra sua pele clara. 

Seus braços já estavam trêmulos pela fadiga de forçar seus músculos, sua cabeça latejava em agonia por se forçar a sentir a energia do céu e da terra e ele pressionou os labios com força, sentindo um nó indescritível na garganta.

Mas seu olhar era de pura determinação. Assim como foi ontem. E no dia anterior. E no dia anterior ao anterior...

...

— Olha só, é o neto lixo do ancião do clã Ranyu! Ele ainda continua tentando sentir o Qi? Até quando esse idiota vai ficar sonhando em ser alguém? — de repente uma voz infantil, repleta de zombaria soou nos ouvidos da criança. 

Um outro jovem de chifres vermelhos estava sentado em cima do muro da sua casa. Ele tinha uma expressão arrogante no rosto, misturada com um muita zombaria e desdém. 

Outros jovens pularam no muro e começaram a encarar a criança com o mesmo olhar.

— Ele é realmente um lixo como a mamãe disse. Como que o Ancião Sen ainda deixa ele morar em sua casa? — falou uma jovem de cabelos loiros e com muitas jóias presas as suas vestes. Seus olhos vermelhos estavam totalmente preenchidos com repugnância ao encarar a criança, que serrou os punhos.

— Realmente. Se fosse eu já teria expulsado esse lixo do Clã Ranyu, o clã não precisa de um lixo que nem pode sentir o Qi, mesmo já tendo dez anos. — o outro jovem era magro e alto, mas suas palavras eram igualmente venenosas.

Todos os jovens tinham chifres vermelhos em suas cabeças, e olhos profundamente vermelhos. Esse era o símbolo do Clã dos Demônios Vermelhos Celestiais, chifres e olhos vermelhos.

A criança olhou para os três com uma expressão de medo e ódio em seu rosto. Isso já vinha acontecendo a quase um ano. Quando eles iriam parar de zombar?

— Vão embora daqui! Essa não é a casa de vocês! — Ranyu Sheng sacudiu o braço e falou com uma voz firme e cheia de determinação, mesmo que ele estivesse com medo do poder desses três.

— Hunf! Quem você acha que é para me expulsar daqui, seu merdinha? Vejo que você ainda não aprendeu a lição da última vez Ranyu Sheng. Pessoal, vamos ajudá-lo a sentir Qi de novo! — Ranyu Hao, o primeiro a subir no muro, bufou com raiva ao ser repreendido.

— Sim, irmão Hao! — o gordo fez uma careta feia e pulou de cima do muro.

— Eu estava esperando por isso! — a garota loira mostrou um sorriso perolado, mas seus olhos continham uma ilimitada maldade que Ranyu Sheng sentiu cobrir seu corpo inteiro.

Os três jovens desceram do muro e foram até Ranyu Sheng. Ele quando viu isso empalideceu e tentou correr de volta para sua casa, mas quando ele deu três passos, a garota segurou ele pelo braço e o derrubou de cara no chão. 

— Por que está correndo? Nós só queremos ajudar você a sentir o Qi, não tem porque correr da gente. Seu pai nunca te disse que ajudar a familia é o mais importante? — a garota falou com uma expressão de zombaria e desprezo.

Um ódio sem limites surgiu no fundo da alma de Ranyu Sheng ao ouvir isso. 

Ranyu Xiao levantou Ranyu Sheng, segurando firmente seus braços por trás com sua mão e o ergueu pelo pescoço com a outra, e os dois garotos, Ranyu Hao e Ranyu Ning, sorriram com crueldade.

— Ranyu Sheng, aproveite e tente sentir o Qi com atenção hoje novamente! — Ranyu Ning disse com escárnio. 

Pu! Pu! Pu!

E então, os dois garotos começaram a bater em Ranyu Sheng, que encarou-os com profundo ódio. Ondas sem fim de dor percorriam seu corpo e ele tossiu bocados de sangue.

Pu! Pu! Pu! Pu!

Ele não tinha Qi em seu corpo para se proteger, mas os dois estavam socando ele com seus punhos fortalecidos com Qi, então cada soco distribuía uma força horrível pelos seus ossos e músculos.

A cada soco Ranyu Sheng sentia uma agonia extrema pelo corpo e sua consciência balançava. Na sua visão um pouco de dourado surgiu, como manchas, mas logo desapareceu.

— E então, já consegue sentir o Qi, Ranyu Sheng? Pisque duas vezes para dizer sim. — Ranyu Hao zombou dele, que estava cuspindo sangue a cada soco seu e de Ranyu Ning.

O ódio no olhar de Ranyu Sheng era tamanho que os dois garotos a sua frente deram um soco na sua cara juntos. Os dentes de Ranyu Sheng se desprenderam da gengiva e ele os cuspiu, junto com um bocado de sangue vermelho.

— Eu, Ranyu Sheng, prometo que vocês irão se arrepender disso! Nenhum Deus ou Demônio que caminha sobre essa terra terá poder para impedir o tormento que eu trarei para as suas almas imundas! 

Ele falou com dentes serrados, sua voz rouca, parecendo os grunhido de uma besta miserável. Mas os três que ouviram isso começaram a rir da cara dele e continuaram batendo em seu corpo!

Ranyu Sheng se debateu nos braços de Ranyu Xiao, mas ela apenas segurou ele mais forte um pouco, quase quebrando seus ossos. Ela não podia quebrar os ossos dele porque ele ainda era o neto de um ancião do clã.

— Cuidado, pirralho! — Ranyu Xiao disse em um sussuro demoníaco no ouvido de Ranyu Sheng. — Assim você pode quebrar um osso...

Se ela ou os outros fizessem isso, eles corriam os risco de serem punidos, então ela tinha que tomar cuidado.

Um guarda que estava passando por ali de patrulha viu a ação dos quatro. Ranyu Sheng olhou para ele em súplica, as dores o fizeram chorar e suas roubas estavam pingando sangue.

— O que vocês estão fazendo? — ele perguntou, mas em sua voz era evidente que ele não ligava para o que o garoto estava sofrendo. 

Um desconforto cresceu dentro de Ranyu Sheng quando ele gemeu, clamando por ajuda, apenas para ser ignorando pelo guarda que deveria protegê-lo. 

Ranyu Hao ficou tenso com o guarda, mas ele pôs um sorriso no rosto e falou: — Nós estamos apenas tentando ensinar a Ranyu Sheng a sentir o Qi.

O guarda ouviu isso e sorriu também. Ranyu Sheng queria protestar, mas a garota apertou seu pescoço de uma forma que sua voz simplesmente não saía, era por isso que ele não gritava quando estava sendo espancado.

— Tudo bem então se é isso, por favor ajudem o jovem mestre do nosso clã como ele precisar. Eu vou continuar com meu serviço. — o guarda saiu do local e sorriu para a desgraça de Ranyu Sheng. 

Ranyu Sheng tossiu sangue quando Ranyu Ning socou suas costelas. Ele gravou o rosto daquele guarda profundamente na sua mente. 

Já o guarda, dobrou a esquina e desapareceu, enquanto ouvia a bela melodia dos socos sem fim que choviam sobre a pele do garoto.

Ele não se importava nem um pouco com esse lixo sem talento que diziam ser seu jovem mestre. Talento era tudo nesse mundo, e Ranyu Sheng não tinha nada.

Nesse lugar as crianças começavam a cultivar com dez anos de idade, normalmente. Mas alguns gênios já despertavam a capacidade de sentir o Qi e absorvê-lo com menos que isso.

O maior gênio dessa geração do clã despertou com 7 anos. Aquele sim era alguém digno de ser chamado de jovem mestre. Ranyu Yao tinha talento, uma força incrível, um temperamento admirável e prezava pelo Clã dos Demônios Vermelhos. 

Enquanto Ranyu Sheng... O guarda só pôde zombar mentalmente desse retardado. Quem dera ele pelo menos tivesse 10% do talento de Ranyu Yao.

...

Depois dos dois garotos se sentirem satisfeitos de baterem em Ranyu Sheng, eles disseram para Ranyu Xiao o soltar, e foi a vez dela de espancá-lo por alguns minutos.

Eles pisaram na cara de Ranyu Sheng quando acabaram de o "ajudar". Ranyu Sheng gemeu fracamente, enquanto o sangue era espirrado da sua boca a cada respiração. 

Ranyu Xiao, pegou um elixir e despejou na boca dele.

Imediatamente os hematomas, inchaços e cortes que haviam no corpo dele começaram a sumir. Seus dentes quebrados e arrancados nasceram novamente e se consertaram.

— Nós fomos boas pessoas e tentamos ensinar a você, vê se aprende um pouco com isso, seu lixo inútil. — Ranyu Hao suspirou de satisfação, encarando o olhar sem forças de Ranyu Sheng. 

— Ranyu Sheng, se não conseguir sentir o Qi depois disso pode chamar a gente. Nós podemos ajudá-lo a qualquer hora. — Ranyu Xiao completou, com um sorriso demoníaco nos lábios. 

Depois disso eles foram embora e deixaram Ranyu Sheng no chão, coberto de sujeira, lágrimas e sangue.

"Por quê!? Por que eu tenho que passar por algo assim? Eu juro! Eu juro que vou fazer aqueles que me desprezam se ajoelhar e implorar para que eu poupe a vida deles!"

O ódio ardia nos olhos pretos do garoto, um frio brilho assassino cobriu sua pupila. Mas nos olhos dele, turvos para as paisagens do mundo, um brilho cor dourada inundou tudo.

Foi como se tudo no mundo houvesse se tornado um mar infinito de cor dourada. Até que aquilo desapareceu quase completamente. 

Na visão dele, ele estava vendo algumas linhas douradas, mas ele pensou que fosse apenas por estar alucinando de muita dor. Não era a primeira vez mesmo.

Ele se levantou com dificuldade e foi em direção a sua casa. A dor de ter seus músculos espancados fez ele continuar chorando e gemendo, acima de tudo ele tinha apenas 10 anos. 

Os manuais familiares diziam que um Demônio Vermelho Celestial deveria guardar sua dor para si, mas Ranyu Sheng mesmo tentando não conseguiu abafar seus gemidos de agonia. 

Mas ele se recusou a se encostar em algo para se sustentar. Mesmo fracos, seus passos eram resolutos.

Chegando dentro de casa, pela porta dos fundos, sob o olhar repleto de zombaria dos criados, ele foi em direção do seu quarto.

Cada passo era uma batalha sem fim. A dor latejante cobria seu corpo inteiro, seus músculos estavam sendo rasgados pela agonia e até mesmo respirar era uma luta.

De repente, uma mulher alta, de longos cabelos azuis escuros e olhos vermelhos, vestida num vestido azul claro, que revelava suas coxas grossas e pálidas, assim como seus seios grandes que saltavam a cada passo dela, entrou no corredor.

Mesmo a dezenas de passos e distância, ela olhou para ele como se estivesse vendo um aborrecimento.

Essa era Ranyu Lan, a mãe de Ranyu Sheng. Ele quando a viu tentou sair para o lado, abrindo caminho para ela. 

Só que isso foi muito lento para ela que era um artista marcial. 

Ela o chutou para o canto do corredor, com força o suficiente para tirar todo o ar dos seus pulmões, e fazê-lo bater a cabeça e ficar tonto. Quase afundando na escuridão, ele viu mais uma vez linhas douradas preencherem sua visão. 

Ranyu Lan não olhou mais para ele.

— Não fique na minha frente seu pedaço de merda. — um suspiro cheio de decepção e aborrecimento entrou nos ouvidos do garoto. — Por que seu pai ainda te mantém nessa casa? Nem o mais baixo do criados é tão baixo. O que se passa na cabeça oca dele? Pena que eu mesma não possa arrancar sua pele para fazer um Pergaminho de Sangue...

A serviçal que acompanhava Ranyu Lan olhou para a criança encostada na parede e sentiu pena, mas não disse nada nem mudou sua expressão. 

O quanto a sua senhora não deveria estar decepcionada, por perder sua energia vital e ter que colocar uma coisa tão imunda no mundo? Ela não conseguia imaginar a dor que sentiria se seu filho fosse assim.

As duas continuaram para onde estavam indo e Ranyu Sheng chegou ao seu quarto com dificuldade. 

Não tinha nada além de uma cama velha e uma jarra de água alí. Ele se deitou na cama e suportou a dor de seu corpo e do seu coração, enquanto se afogava em choro.

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