Torneio da Corte Brasileira

Autor(a): K. Luz


Volume 1

Capítulo 13: O Derrubado e o Desconhecido

O punho afunda num rosto, entortando-o com a distribuição do impacto pela pele. 

— Eu disse para você — fala um dos competidores no andar de observação. — Holpos ficou bem forte.

O citado avança sobre o adversário, agarrando o soco direto lançado; sua postura abre com a proximidade, ele gira o braço pego, abrindo uma brecha para atacá-lo com uma cotovelada no centro da face. A careca do Holpos brilha por refletir a luz dos holofotes; ambos os participantes possuem marcas vermelhas pelos golpes que trocaram.

— E pensar que logo ele se tornou forte assim... — diz o outro no andar de observação. — Unsai, a academia de vocês é alguma provedora de milagres?!

— Claro que não! Ha ha! Não diga bobagens.

Unsai tem 1,81 m de altura, sua constituição é notável dentro dessa proporção. Seu cabelo curto está penteado para trás.

Holpos vocifera ao investir, conseguindo agarrar a cintura do Kobele e então o empurrar contra o muro, espalhando um baque alto.

O apito soa, seu adversário cai nocauteado; resta a glória da vitória para Holpos, que comemora com os dois braços levantados enquanto se retira da arena.

— Acabou. — diz Unsai, se retirando daquela parte do andar de observação. — Bem, tenho que ir me preparar. A gente se esbarra por aí, Humine. 

— Sim, até mais. — Esse rapaz tem 1,76 m de altura. Seu cabelo é laranja, curto e espetado para todas as direções.

Mais duas peças para o tabuleiro?

[5° Luta (1°F) - Kobele vs Holpos

Duração - 5 m 40 s

Vencedor - Holpos

“Após trocar vários socos, Kobele começou a fraquejar no equilíbrio, o que definiu o restante da luta. Foi um combate sem muita técnica, focado em poder bruto, isso resume…”, comentário do Humine.]

 

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Batidas na porta soam pelo quarto, superando os cochichos da TV sobre aquele silêncio.

— Pode entrar — fala Omnislai.

Lorde é quem adentra no lugar, uma visão que surpreende o rapaz de imediato. Omnislai está deitado na cama, soro está sendo transferido para o braço dele; sua nuca e partes do tronco estão enfaixados.

— O-o quê?! O que o senhor está fazendo aqui?!

— Não se exalte. — Seu terno é posto sobre braço esquerdo, ele se senta em uma cadeira próxima do rapaz. — Desculpe por incomodá-lo em seu descanso. Sendo sincero, não pensei que fosse encontrá-lo consciente.

— Não se desculpe de forma alguma, é uma honra poder falar com o senhor. Sobre estar acordado… Eu também fiquei surpreso, quando acordei achei que já tinha se passado ao menos um dia. Os médicos que Holliver contratou devem ser muito bons, prevejo me recuperar por completo em pouco tempo.

— Isso é ótimo. Para alguém tão energético, ficar parado muito tempo deve equivaler ao inferno, hahaha… 

— Haha… Então, senhor… Por que veio me visitar? O pessoal da minha academia ligou para ver como eu estava, disseram que não foram permitidos de entrar aqui.

— VIPs têm alguns acessos especiais. — Lorde sorri de leve, mostrando um broche de ouro no bolso de sua camisa. — Eu não vim aqui por nenhum motivo complexo, só quero conversar sobre a luta que teve contra meu filho, caso não lhe seja incomodo.

— Tudo bem. Só que, senhor Lorde… não tem como não ser um assunto inconveniente, afinal… eu queria ter ganhado. — Omnislai expõe um sorriso brando, mantendo um olhar quase fechado pela tristeza que lhe pesa.

— Entendo. Vendo de perto tenho certeza, você possui muito talento e a consciência certa para ser um lutador. Não se preocupe, ainda vai ganhar muitos torneios.

— Haha! Espero que esteja certo. — Ele se vira para frente, deixando de olhar para o homem para levar a vista a sua mão direita, que está toda enfaixada. — Senhor, não se preocupe. Seu filho é forte. Me pergunto quanto tempo levaria para eu chegar naquele nível se não fosse por ele, conheci um poder que nem sabia que tinha: foi tipo a abertura de um caminho completamente diferente do que eu trilhava, um mais largo e clareado naquele mundo de escuridão à volta.

— A sensação é divertida?

— Muito!

— Não se preocupe, você ainda vai “clarear” esse mundo todo se continuar treinando duro. Seu mestre é alguém com uma experiência impressionante, fique atento aos conselhos dele.

— Sim!

— Certo. — Lorde ajusta a posição dos óculos. — Agora vamos revisar a luta, passo a passo. Vai valer a pena para você essa “dissecação”.

— Eeeh?! É o quê?! Vai mesmo fazer isso?! Parece algo que meu professor do ensino médio faria! Isso me traz más lembranças!

— Hahaha! Força garoto, não é porque você é do tipo instintivo que tem que ignorar a parte teórica.

“Isso não cheira bem…”, pensa Omnislai, formando uma careta tão tensa quanto a de alguém que sofre de dor de barriga. “Que noite… Perdi na primeira fase do torneio, e quando acordo da surra, tenho que estudar. Pelo jeito… nunca vou esquecer de hoje.”

A lâmpada acima está radiante como o sol, ofuscando-os, e, destacando suas cores igual pinturas aquarelas.

 

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Vários minutos se passam… o tempo do próximo confronto chega. 

Unsai arrasta o pé direito mais à frente, ficando com as mãos abertas no mesmo sentido; ele se prepara para correr e agarrar. O seu adversário  usa um short preto com traços vermelhos, mantendo uma postura com a mão esquerda aberta na dianteira do corpo, restando, para a outra, ficar cerrada ao lado da cintura.

O apito soa, dando liberdade de movimento para os lutadores. Unsai vai devagar para o lado, sendo seguido pelos olhos castanhos do adversário. O cabelo do Kaon é curto e escuro, só não mais que a faixa enrolada no seu braço direito.

Unsai avança, soltando socos com a esquerda e direita, sem muita força, focando na velocidade das projeções. O adversário é forçado a recuar desviando das trajetórias.

O atacante franze a testa ao sentir uma oportunidade, lançando a mão direita contra o nariz e boca do Kaon, amassando-os. Com o adversário abalado pela palmada, Unsai diminui a distância até colidir o seu ombro no peitoral do mesmo, encaixando uma rasteira para derrubá-lo, pegando-o neste tempo por baixo dos braços; ele se abaixa, jogando o rival para cima com o giro do seu tronco até o largar de costas contra o chão, causando um estouro de terra.

— Que ótimo arremesso! — Gaojung bate sobre a mesa. — Unsai está ditando o ritmo!

Kaon levanta, seu nariz está sangrando. O oponente arranca na direção dele, sendo recepcionado com um chute na coxa que afunda na carne, fazendo-o esboçar uma careta de dor, mas seu avanço prossegue, conseguindo conectar o punho na face do adversário.

Unsai tira o melhor da situação, pressionando a guarda dele com uma enxurrada de socos, tingindo a pele do oponente de vermelho.

Ao estar prestes a dar um chute, é impedido por um punho que bate em cima do joelho, travando-o nessa posição; Kaon pisa à frente, recuando o braço esquerdo ao disparar o demais, acertando o rosto do adversário.

 “Que sensação estranha”, considera Unsai. A batalha continua com relativa vantagem para ele, havendo a troca constante do turno de quem domina a ofensiva. Os impactos espalham estouros acompanhados de gotas de sangue. “Isso definitivamente é uma luta normal. Estou dando golpes e também estou levando. Meu estilo está sendo efetivo, apesar de não ser absoluto. Consigo ver que meu treino não foi em vão.”

Ele rotaciona o tronco, jogando uma palmada sobre o rosto do Kaon, que é repelida pela batida da mão dele próprio sobre seu pulso. Unsai dá um passo para trás para esquivar de um soco que vem atrás do seu queixo, aproveitando para agarrar esse braço; com isso, um conflito de força entre os dois se inicia.

Unsai ganha ao se deixar cair para trás, forçando o oponente a ir junto. Seu sorriso se molda no semblante ao soltar o braço pego, recuperando o equilíbrio ao arrastar uma perna para trás; ele investe contra o rival que está preso na queda com a postura quebrada.

Uma circunferência de vento se espalha no ombro do Unsai, que é surpreendido ao ver a imagem do Kaon ser jogada para trás como um borrão por tamanha velocidade.

“Hã!? Como ele conseguiu recuar naquela pose?!” Unsai salta para ganhar mais velocidade na perseguição. “Não vai escapar!”

Os dois colidem como no início da luta, caminhando para um destino em que o agarramento se repete. Kaon é carregado pelo giro do oponente, as cores que formam o mundo são torcidas rapidamente numa espiral, subitamente mudando para tons negativos; Unsai é quem roda pelo ar até bater as costas no chão.

“O quê?!” Ele está pasmo, levantando-se rápido para ver a posição do oponente, que está à frente, em pé. “O que aconteceu?! Por que eu que fui arremessado?!”

Kaon investe, machucando a guarda do adversário com seus socos, conseguindo alguns acertos nas laterais do torço. Unsai fecha o semblante em dor, esboçando um leve sorriso; seu oponente está na distância ideal. Ao projetar um soco contra a barriga do Kaon, se depara com a forma borrada dele indo para trás, de onde é lançado um chute que estoura sobre sua coxa, fazendo-o estremecer com a dor. O plano falha, o sorriso é destruído.

Unsai leva um soco acima dos lábios, tendo o nariz quebrado. Ele reage abraçando o oponente para impedir que seja golpeado mais uma vez; sua respiração está pesada assim como seu corpo.

“Certo, só preciso de alguns segun-” A frente do seu pé esquerdo é pisoteada, sentindo os ossos partirem desde o primeiro choque, que o faz gritar de dor. “Como ele o quebrou tão facilmente?!” Sua orelha direita é mordida, em sequência, arrancada com um puxão para o lado, misturando o rastro de sangue num fundo de total vermelho; a forma do Unsai fica obscurecida nesse meio, olhando estático para o nada como se não acreditasse na dor e nem no panorama criado pela confusão dos seus sentidos.

Kaon cospe a orelha para a terra, em seguida rotaciona o corpo, batendo contra o fígado do adversário, que reage pisando à com o pé quebrado e, apesar da dor, revida com um soco na face do rival. Os dois trocam pancadas, espalhando gotas de sangue pelo solo. Os narradores e a plateia ficam horrorizados, assistindo à batalha de boca aberta.

Unsai cospe sangue para o alto ao levar mais um golpe, não possuindo mais nenhum brilho nos olhos que encaram o alto, vendo-o se tornar uma imagem desfocada. Seus joelhos e mão esquerda caem no solo, o apito do juiz soa.

O rapaz está com a mão direita levantada, anunciando a rendição.

— APENAS O QUE ACONTECEU?!! — grita Gaojung. — Por que quem tinha a vantagem…ESTÁ NO CHÃO?!!

Kaon se vira, deixando o lugar com uma expressão séria, sem comemorar uma única vez mesmo sendo ovacionado pela plateia.

— Talvez o punho dele seja muito pesado?... — comenta Malena. — Lembro que a medida de ini do Unsai é por volta de 210, não é pouca coisa se focado na defesa, mas… 

— Ainda sim, ele cedeu. Kaon também sofreu bastante, ficou bem difícil escolher alguém para torcer até o final.

— Você não deveria ser sempre impassível, meu caro narrador?

— Hahaha! Se ficar só no coração não tem problema!

[6° Luta (1°F) - Unsai vs Kaon

Duração - 7 m 59 s

Vencedor - Kaon

“Aquela reversão de arremesso me deixou fascinado! Apesar de não se comparar com os que eu faço! Hahaha!”, palavras do Holpos, que entrou no caminho do entrevistador que ia na direção do Traçal.]



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