Tokyo Ravens Japonesa

Tradução: Nie

Revisão: Math


Volume 1

Capítulo 2.2: Adoração Iniciada

PARTE 2

O dia seguinte estava ensolarado, um tempo adequado para a realização do Hanabi no Saiten.

O local do festival era um dos santuários da cidade, e contava com a margem do rio por trás do santuário. Talvez por causa dos inúmeros stands ou o entusiasmo desprendido dos presentes, o calor do dia parecia completamente inabalável. Os sons da vida soavam, e o sol do verão se misturava ao ar, como se apenas por inalar um pouco, poderia se sentir o sabor do verão.

“...Não tinha visto a menina prodígio da família principal há mais de meio ano, e assim que a viu, vocês brigaram.”

Touji encostou-se a grande parede de pedra que rodeava o santuário, enquanto falava com incredulidade, assim como provocativamente.

Harutora e Touji tinham terminado suas aulas de verão, e eles estavam esperando no local marcado. Hokuto ainda não havia aparecido, estava atrasada.

Enquanto esperavam Hokuto chegar, Harutora havia revelado o que acontecera na noite anterior para Touji. Ele não tinha planejado falar sobre isso, mas os olhos de Touji eram afiados e tinham percebido que o comportamento de Harutora estava diferente do habitual, e de forma inesperada, Touji era um mestre da persuasão. De alguma forma, Harutora tinha não só falado sobre a conversa na ponte, mas também falou, deliberadamente, sobre sua relação com Natsume.

“Honestamente, o que você acha?”

“Que você não presta.”

“... Você é muito honesto...”

“Você não pode falar nada. Da próxima vez que eu for pegar algumas garotas, é melhor nem vir comigo.”

Touji sorriu friamente por baixo de sua bandana. Harutora agachou no chão, olhando de canto do olho para ele.

Harutora sempre expressou a mais agradável atitude possível, mas no final não havia números de muitas garotas em seu telefone ~ o número era pequeno o suficiente para se contar em uma mão ~ e seria uma grande dificuldade para ele tomar uma abordagem mais complexa.

“Eu admito que eu fui um pouco infantil no final... Mas ela me provocou primeiro.”

“Não importa o que ela fez, você nunca poderia falar daquele jeito com garotas.”

Touji estava completamente despreocupado enquanto falava sem piedade, mas Harutora não podia sequer reunir forças para refutar.

“Mas, como seria de esperar de uma grande família, até mesmo a família secundária tem de cumprir a tradição e se tornar Shikigami da família principal...”

Touji não mentia na frente de um Harutora abatido, e murmurava sarcasticamente.

“Shikigami, referido aos servos manipulados pelos Onmyouji. ‘Shiki’ significa ‘servidão’. Então Shikigamis são espíritos que servem seus mestres.”

 

 

Por exemplo, a “Onmyodo Geral” que a Agência Onmyo formalmente aprovava usava principalmente Shikigamis artificiais, que foram criados, colocando energia mágica em um “núcleo” que era o receptáculo. Havia Shikigamis simples que o praticante poderia invocar no local, bem como todos os tipos de Shikigamis próprios.

A “tradição” da família Tsuchimikado era que a família secundária tinha de servir a família principal como seus Shikigamis.

“Ei, mais devagar, neste caso, Yakou também teve shikigamis assim?”

“Eu não sei. Ele deveria ter, mas eu não tenho certeza.”

“Então os Shikigamis de Yakou, Hishamaru e Kakugyouki... Eles poderiam ter sido humanos?”

“Eu já disse que não sei.”

Touji mostrou uma forte curiosidade, mas Harutora apenas a rejeitou casualmente.

“Parando para pensar sobre isso, não importa a época de Yakou, você não acha que é muito rigoroso ter que cumprir estas ‘tradições’ agora? Isso é muito ‘pentântico’.”

“...Você quer dizer 'pendântico', certo?”

O olhar de Touji tornou-se mais frio. O rosto de Harutora avermelhou, e ele argumentou. “Significam a mesma coisa.”

“Em todo caso, é inadequado para todos os tempos! Não admira que o meu pai me disse para não me preocupar com isso.”

“Foi mesmo?”

“Sim. Pense nisso, forçando as pessoas a tornarem-se Shikigamis, isso é apenas ignorar os direitos humanos! Esse tipo de tradição não vê em nenhum momento as pessoas como humanos!”

A maioria das penosas iria pensar na manipulação de Shikigamis por uso de encantos, quando questionados sobre técnicas mais representativas nas magias Onmyouji.

No entanto, Shikigamis foram criados para serem os parceiros e guardas do praticante, e de certa forma, eles eram servos ou escravos, e até mesmo “ferramentas”.

No entanto...

“Houve várias situações onde as pessoas se tornaram Shikigamis.”

“Não fale bobagens, Shikigamis podem desaparecer em qualquer lugar e momento.”

“Isso é uma metáfora. Simplificando, Shikigamis são realmente subordinados para agir de acordo com as ordens de seu mestre. Por exemplo, os ninjas que serviam durante o período dos Estados Guerreiros foram um amplo tipo de Shikigami.”

“...Em todo o caso, isso ficou no passado.”

“De um ponto de vista moderno, a relação entre o praticante e o Shikigami é aproximadamente o mesmo que um treinador e um atleta... Uh, é um pouco diferente no que diz respeito à obediência absoluta.”

“O que quer dizer com ‘um pouco diferente’! Essa é a parte mais importante!”

Harutora pensou na conversa da noite anterior, na ponte. Obediência absoluta às ordens de Natsume? Impossível. Ele não poderia fazer isso. Não era mais uma questão de saber se ele tinha ou não poder Onmyo.

“...Por outro lado, se eu fosse um espírito vidente, haveria uma grande chance de eu ter acabado assim...”

Pela conversa com Natsume, ele poderia ser inesperadamente envolvido com a revitalização da família Tsuchimikado. Mas, como resultado de sua posição ou personalidade, seja qual fosse o motivo, Harutora era completamente desinteressado em acompanhar sua amiga de infância nesta sublime ambição.

“‘Amigos inúteis’, ‘meu dever como herdeira da família’... Será que ela não se cansa de dramatizar assim?”

“Ela é bastante simples.”

“Haam! Simples como?”

“‘Estou solitária’... Não foi isso que a herdeira da família principal quis dizer?”

Touji olhou para Harutora, e seu olhar momentaneamente brilhou com uma luz afiada. Aquelas palavras foram extremamente inesperadas por Harutora, que passou um tempo se falar.

Isso... Natsume, mostrando sua fraqueza para mim? Mas... como isso poderia...

Mas não era impossível. As pessoas que queriam se tornar Onmyouji especializados e consagrados na Academia Onmyo onde Natsume estudava, certamente conheciam a relação da família Tsuchimikado e Tsuchimikado Yakou. Natsume estava, sozinha, associada com estas pessoas, estudando Onmyoudo.

Além disso, Natsume era dotada, o que possivelmente poderia provocar inveja ou ressentimento. Considerando sua personalidade, seria muito difícil de imaginá-la sendo capaz de encontrar um grupo de amigos ou de desabafar suas emoções negativas. Neste caso, poderia ser que ela tivesse passado todos os seus dias em Tokyo... infeliz?

“...”

Harutora franziu a testa, parecendo deprimido e ficando em silêncio. Touji abaixou a cabeça para olhar com interesse para Harutora, enquanto falava, encolhendo os ombros.

Harutora parou seus pensamentos profundos, olhando para cima com uma expressão irritada.

“Quem você disse que foi rejeitado?”

“...Quem foi rejeitado!?”

Uma voz aterrorizante que soou como um vulcão prestes a entrar em erupção foi ouvida.

Era Hokuto.

Touji sorriu, e Harutora que estava de cócoras no chão, levantou- se rapidamente. Harutora se virou como se para resolver um mal-entendido, mas engasgou assim que as palavras estavam para sair de sua boca.

Ele arregalou os olhos sem expressão.

Vendo a reação de Harutora, Hokuto disse. “...O que...” E virou a cabeça, olhando para Harutora com o canto do olho. Ela fingia estar calma, mas seu rosto estava corado de expectativa e tensão, e os dedos dos pés ansiosamente traçavam círculos no chão.

Touji tossiu levemente. Harutora apressadamente falou.

“V-Você está atrasada, Hokuto.”

“...Sinto muito.”

Touji tossiu novamente.

“Hum, não, está tudo bem... Bem... O que aconteceu, para que você viesse vestida assim?”

Desta vez, Touji não tossiu novamente, mas suspirou. Hokuto, tensa, inchou lentamente suas bochechas.

“Nada! Como é um festival, eu pensei em vir de yukata, algum problema!?”

Hokuto estava vestindo um yukata.

Era um yukata de cor preta, decorada com peônias brancas e borboletas próximas aos ombros, com um cinto rosa muito elegante. Seu corpo inteiro exalava um ar tradicional e maduro, como se fosse uma pessoa completamente diferente da Hokuto habitual.

“Não, não, desculpe! Isso... Te ver vestida assim, eu sinto como se não fosse você... Eu, eu fiquei surpreso pois não esperava te ver com essa aparência, então eu duvidei dos meus próprios olhos...”

A atividade vulcânica no coração de Hokuto se tornou mais e mais ativa a casa vez que Harutora abria a boca, parecendo que iria entrar em erupção a qualquer momento. Os olhos cheios de emoção que olhavam para Harutora foram gradualmente se enchendo de lágrimas. Touji, de pé atrás de Harutora, cobriu o rosto pois não podia suportar.

Mas...

“Mas... ele ficou muito bem em você. Isso realmente me surpreendeu.”

No momento anterior ao vulcão entrar em erupção, a ira de Hokuto desaparecera.

“...Ve-verdade!?”

“Sim. Como devo dizer... Ele te deu um ar mais maduro que o habitual.”

Harutora também não foi muito claro sobre o que disse, e falou hesitante, honestamente expondo seus mais sinceros pensamentos.

Hokuto mudou o seu olhar, como se espiando a expressão de Harutora. Ele não tinha feito nada demais, mas seu coração havia acelerado.

Não muito tempo depois, Hokuto expressou sua satisfação, relaxando e compondo-se.

“...Obrigada.”

Ela fingiu calma, segurando os cantos da boca em um sorriso, e agradeceu em voz baixa.

Os dois se afundaram em silêncio.

O olhar de Hokuto observava o arredor, parecendo tímido. Harutora estava parado, mostrando também uma inquietação ansiosa. Os dois pareciam que queriam muito falar, mas não conseguiam aproveitar a oportunidade.

O silêncio continuava.

Touji silenciosamente contou até cem.

Depois disso, ele decidiu não continuar esperando.

“Tudo bem, já que a Hokuto já está aqui, estamos prontos para dar uma olhada, certo?”

Harutora e Hokuto assentiram ligeiramente com a cabeça, como se estivessem aliviados.

 

...

 

Infelizmente, o ar maduro de Hokuto não durou muito tempo. “Em seguida, algodão doce! Quero comer algodão doce!”

“...Por que você não come a maçã cristalizada em sua mão direita e a banana com chocolate na sua mão esquerda primeiro?”

“Harutora, ali tem máscaras! Ei, qual é a melhor? Qual delas você acha que é a melhor?”

“O palhaço... Não, estou brincando! Certo que eu estava brincando, mas não me chute com as sandálias!”

“Estou vendo peixinhos! Yeah!”

“Espere! Não corra vestindo um yukata! Que tipo de pessoa pode correr tão rápido em um yukata?”

Ela estava excessivamente feliz, tão animada que até assustou um grupo de alunos do fundamental que passaram por ela, tendo voltado ao seu comportamento infantil de sempre.

Touji estava atordoado.

“...Ela era assim no ano passado também?”

“Ela era ainda pior no ano passado.”

Harutora respondeu com um sorriso seco, enquanto iam atrás de Hokuto.

Hokuto normalmente e ocasionalmente era infantil, mas uma vez que ela entrava em um festejo, ela parecia que realmente tinha se tornado uma criança. “Harutora, olha isso!”, “Harutora, venha aqui!” ~ Seus olhos brilhavam com a luz enquanto puxava o braço de Harutora, apontando para as tendas, uma após a outra.

Na verdade, às vezes Harutora sentia que ele não podia se colocar naquilo, mas quando ele viu o sorriso despreocupado de Hokuto, ele engoliu completamente toda e qualquer raiva. Era uma coisa feliz ver o rosto sinceramente alegre de alguém.

Além disso, quando ele estava com a ingênua Hokuto, ele não tinha que se lembrar do passado.

Há muito tempo, quando ele ainda era uma criança pequena. Toda vez que ele ia até a mansão da família principal, sua amiga de infância ficava muito feliz, com o rosto corado de felicidade.

Ela iria ouvir o que quer que Harutora dissesse, e o seguiria onde quer que ele fosse...

Harutora inadvertidamente pensou em algo.

... Será que ela já participou de algum festival?

Ele não podia imaginar. Natsume podia até não saber o que era divertido, em primeiro lugar, tendo sida algemada ao nome Tsuchimikado, e vivendo sua vida apenas estudando e treinando todos os dias.

Enquanto ele estava se divertindo naquele momento, o que ela estaria fazendo...?

Então...

“...Harutora?”

Touji chamou com sua baixa voz, e Harutora apressadamente recompôs-se em surpresa.

“O que foi?”

“Uh... Nada, não importa.”

Harutora sorriu, parou de pensar nestas coisas e voltou sua concentração para o festival diante dele.

O sol estava se pondo no Oeste, e as luzes penduradas nas barracas junto com as linhas de lanternas iluminavam os arredores. O show dos fogos começaria em breve.

Só então, Hokuto, que originalmente havia estado de cócoras no chão olhando com os olhos arregalados para os pequenos peixes, se levantou.

“Ah! O que é isso!? Eu nunca vi isso antes!”

“Ah, é um tiro-ao-alvo. Que nostálgico.”

Assim que Harutora falou, Hokuto começara a correr para a cabine do jogo de tiro.

Harutora apressadamente correu atrás dela, e Touji os seguiu de trás. Havia um par de o que pareciam ser amantes universitários, participando do jogo, e Hokuto andou por perto, cuidadosamente observando-os.

“...Então, ele é jogado assim, você usa essas armas de brinquedo para derrubar os prêmios lá, certo? E então você fica com o que derrubou...”

“Você nunca jogou isso?”

“Eu não acabei de dizer que nunca tinha visto isso antes!?” Dizendo isso, Hokuto pagou 200 ienes ao gerente da tenda. O gerente deu-lhe uma arma de brinquedo.

“...Como que eu uso isso?”

Ela olhou para Harutora e Harutora tomou a arma de brinquedo de suas mãos, puxou o cano, e colocou a bala dentro.

“Agora você só precisa puxar o gatilho.”

“Obrigada! Então, vamos ver, por qual prêmio devemos começar?”

“Ouça, Hokuto, você não pode obter o grande prêmio neste tipo de jogo, mesmo que você o acerte, se ele for pesado, não irá cair. Na teoria, você deve definir o seu alvo na linha colocada à sua frente, com os prêmios mais leves ~”

“Ah, eu perdi.”

“Escute o que eu disse!”

Hokuto começou a atirar em seu próprio ritmo, e não acertou o prêmio uma única vez. Ela corajosamente apontou a arma para a linha mais alta, tendo uma caixa embrulhada com uma fita como seu alvo, completamente desatenta da dica de Harutora.

Touji mastigava lulas grelhadas que tinha comprado em algum lugar do festival, juntando-se a diversão. O cheiro do molho de soja frito era de dar água na boca.

“Uu, realmente, todos eles erraram!”

“A culpa por isso é sua.”

“Harutora, eu quero aquele prêmio.”

“Não seja problemática.”

“E quanto ao Touji? Você parece ser bom nesse tipo de jogo.”

“Não estou interessado.”

Ouvindo suas respostas frias, Hokuto mostrou um olhar de reprovação, dizendo “tão inúteis”. Em seguida, pagou mais 200 ienes, para jogar novamente.

É claro que seu alvo era a caixa embrulhada na fita na parte mais alta. Ela se inclinou para frente, tanto quanto possível, estendendo o cano da arma, e arrebitando o fundo do seu yukata, fazendo Harutora corar.

Mas, o resultado foi o mesmo, nada de acertar. Hokuto estava louca o suficiente para bater no chão.

“Que chato!! Nem sequer o tocou!”

“Eu disse que não adianta visar os grandes prêmios.”

“Mais uma vez!”

“Desista.”

“Não, eu quero isso!”

Ela era realmente uma criança. “Harutora”. Touji estava atrás dele, dizendo uma palavra preguiçosamente, como se querendo que ele pensasse em algo. Murmurando “o que isso tem a ver comigo” em seu coração, Harutora pegou a arma de brinquedo de Hokuto, e pagou 200 ienes.

“Mas vou logo avisando que sou muito ruim neste jogo...”

Assim que ele confessou, começou a atirar tortamente, tiro atrás de tiro.

A sorte de Harutora era simplesmente a pior possível, e, independentemente de onde ele apontasse, as balas voavam em direções impossíveis. A mudança em sua posição foi constante, e mesmo assim, Hokuto ainda não o deixava ir, e o que ele gatou rapidamente chegou a mil ienes.

“Se eu não conseguir desta vez, desista.”

Depois de dizer isso, ele colocou a última bala, inclinando-se para a frente.

O coração de Hokuto saltou ansiosamente enquanto ela olhava para Harutora.

Em seguida, ela corou como se pensasse em alguma coisa.

Harutora estava agora mirando. Hokuto parecia um pouco hesitante, mas ela ainda se abaixou, colocando seu rosto próximo do ouvido de Harutora.

“Ei, Harutora.”

“...Não fale comigo agora.”

“Se você conseguir este prêmio...”

“Não fale comigo.”

“Eu te darei... um... beijo.”

Sua mão perdeu o controle por um momento.

A bala claramente não seguiu o mesmo percurso do cano da arma, e fez um belo arco, batendo na quina da caixa. A caixa soltou um som oco e, inesperadamente, caiu da prateleira.

Hokuto saltou de cima para baixo, aplaudindo ruidosamente. Touji prendeu a lula grelhada na boca, batendo preguiçosamente as mãos. Mas, Harutora não estava tão imperturbável.

“Ho... Hokuto, você...!”

“Huh? Eu o quê?”

“Uh, o... o que você disse... Se eu conseguisse o prêmio...”

“O quê? Do que está falando, Harutora?”

Hokuto falsificou uma aparência casual, sorrindo docemente e ligeiramente inclinando a cabeça. Era claramente um sorriso criminoso.

“Tch!” Harutora se arrependera, mas a atmosfera não era adequada para revirar o que acabara de acontecer ou continuar na questão. Na verdade, se fosse revirada, só traria problemas para Harutora.

“...Quando você aprendeu esse movimento...?”

“Hmmm? Eu não sei sobre o que você está falando.”

Hokuto riu e se virou, e após uma inspeção mais próxima, se poderia notar que era em parte para esconder a sua timidez. Parecia que Harutora não era o único que temia os riscos desconhecidos.

O que foi surpreendente foi o prêmio que Hokuto tinha insistido em conseguir, que era um conjunto de fazer bolhas.

Um conjunto para crianças brincarem era o que tinha dentro da caixa do prêmio, e colocá-lo na parte mais alta da prateleira era um método de atrair as pessoas.

“Não é à toa que caiu com um golpe.”

Touji riu. O rosto de Harutora avermelhou quando ele olhou para o resultado do seu esforço infrutífero.

Mas Hokuto apertou algo contra seu coração. “Tudo bem, era isso que eu queria.”

Ela desatou a fita ao redor da caixa, amarrando-a com destreza em seu cabelo.

A fita era de um belo rosa, a mesma cor que o cinto do yukata de Hokuto. Com a fita amarrada em seu cabelo, parecia como se isso tivesse sido combinado desde o princípio.

“Ah.” Harutora fez um som de louvor. “Como ficou?”

“Me parece que isso está na moda.”

Harutora falou sarcasticamente, aproveitando a oportunidade para retaliar a provocação de mais cedo.

Mas Hokuto não se moveu. Ela olhou nos olhos de Harutora com uma cara séria.

“Estou bonita?”

“...”

“Estou bonita, não é?”

 

 

“...”

“Diga que estou bonita!”

“...Ok, entendi. Bonita, você está bonita.”

“Sério?”

“Eu disse isso, porque você me obrigou a dizer...”

“...”

“Linda! Você está muito linda!”

Harutora só poderia elogiá-la várias vezes ao ver um olhar que indicava que ela iria bater nele a qualquer momento. Hokuto sorriu levemente depois de ouvi-lo, relaxando seu corpo.

“Eu ganhei.”

“Ok, ok...”

“Realmente, Harutora é um Bakatora que não entende o coração das garotas. Se você tivesse dito que eu estava bonita quando me viu, não teria passado por todo este esforço.”

“Ei, espere um pouco. Apenas para eu dizer que você é bonita, você usou este yukata e me fez gastar 1000 ienes em um jogo de tiro para conseguir uma fita?”

“Eu ganhei.”

“...Eu perdi...”

Harutora sentiu-se exausto, relaxando os ombros. Hokuto abriu um grande sorriso, alegremente rodopiando com a fita.

“Este será o meu tesouro.”

“Faça como quiser, mas é superbarata.”

“Está tudo bem, porque...”

“O quê?”

“Não... não é nada.”

Hokuto sorriu timidamente, pegando o conjunto faz-bolhas.

Ela mergulhou a frente do canudo na água com sabão e, em seguida, apertou os lábios, soprando o canudo.

Bolhas piscantes nas cores do arco-íris voaram pelo céu noturno.

Várias crianças que tinham vindo com seus pais comemoravam um após o outro, ao ver as bolhas. Os aplausos eram vindos de um menino e uma menina ainda mais jovem que puxava a mão do menino, parecendo ser um par de irmãos. Talvez a reação deles tenha agradado Hokuto, pois ela soprou mais bolhas para os dois. O aglomerado de bolhas vagava sonhadoramente, explodindo e desaparecendo sem nenhum som.

Que pessoa... infantil...

Hokuto não passava de um tipo de irmã mais velha brincando com as crianças, sem sequer um traço do seu ar “menino” habitual. Harutora estava primeiramente atordoado, e depois sentiu-se humorado, incapaz de não sorrir.

Hokuto, ao notar Harutora sorrindo para ela, soprou bolhas em seu rosto. “Ei, não seja chata!” Harutora apressadamente se esquivou ~ Hokuto o perseguiu, e os irmãos riram ainda mais felizes.

Em algum momento, os sorrisos surgiram em todos os rostos.

Talvez esta cena discreta fosse uma memória de um verão que seria lembrado no futuro.

“Tudo bem... O que devemos fazer agora, Harutora? Devemos ir logo, certo?”

Touji terminou de comer as lulas grelhadas, e depois de verificar a hora, sussurrou as palavras no ouvido de Harutora.

Estava quase na hora da queima dos fogos, e embora eles pudessem ver os fogos de artifício de onde estavam, eles seriam disparados da margem do rio, então teriam uma melhor visão de lá.

Só então Hokuto, que estava com os irmãos, exclamou. “Ah, esperem por mim um pouco. Só um pouco, eu volto logo!” E começou a correr. Harutora e Youji entreolharam-se com surpresa.

“O que ela está fazendo?”

“Quem sabe.”

Embora eles não entendessem, eles não achavam que seria bom esperar onde estavam, então começaram a seguir Hokuto.

Hokuto tinha corrido para o interior do templo.

Eles caminharam até um pequeno lance de escadas, passando sob o torii. Não haviam lanternas decorativas ao redor do templo, mas havia lâmpadas de pedra que iluminavam o ambiente.

Quanto mais eles caminhavam para dentro, mais se afastavam da movimentação. Os sons de insetos entravam em seus ouvidos, e a sensação de uma noite de verão flutuou através do local escuro onde o santuário ficava.

Eles acharam Hokuto imediatamente. Ela estava focada em uma oração em frente ao muro do templo onde eram colocados os ema.

“O que está fazendo?”

“Ah... E-Eu não disse para vocês esperarem!?”

Hokuto apressadamente cobriu o ema quando fora repentinamente chamada. Infelizmente, embora a luminescência das lâmpadas de pedra fosse tênue, as palavras no ema ainda eram claramente visíveis.

“ESPERO QUE HARUTORA TORNE-SE UM ONMYOUJI.”

“...Você...”

A atmosfera originalmente alegre congelou em um instante, e a ação furtiva de Hokuto combinado ao tema que ela não queria mostrar a ninguém lhe provocaram raiva.

“...Hokuto, não já basta? Achei que você não faria nada desse tipo ao menos neste momento.”

“Mas...”

“Não tem ‘mas’! Por que você vive fazendo tudo o possível para me fazer tornar um Onmyouji? Você odeia esse meu estilo de vida tanto assim?”

“Eu... Eu não disse isso, eu só queria ajudar o Harutora.”

Hokuto desesperadamente negou. Mas desta vez, o tema que normalmente o deixava cansado e perplexo inexplicavelmente evocou sua ira, e ele mesmo se sentiu chocado.

Ele entendeu o motivo.

“...Eu não tenho tempo para passar dias preguiçosos, nem tenho tempo para perder com amigos inúteis.”

As palavras de Hokuto soavam em seus ouvidos como as palavras cheias de críticas de sua amiga de infância.

Mas, ele estava errado. Não era isso.

Ele queria que Hokuto pelo menos entendesse que este não era o caso.

“...Hey, Hokuto.”

Ele suprimiu suas emoções agitadas, falando palavra por palavra. “Talvez eu esteja realmente vivendo agora uma vida chata, insignificante e negligente, mas eu gosto deste tipo de vida. Adoro estes dias calmos que eu posso sair com você e com o Touji e fazer coisas estúpidas."

“Mentiroso” Natsume o havia repreendido uma vez.

Natsume estava certa. Ele havia quebrado o acordo, e não tinha cumprido a sua promessa de protegê-la ficando ao seu lado, e tinha corrido voluntariamente para viver uma vida normal, com pessoas normais. Ele não podia fazer nada quanto a Natsume condená-lo por isso.

Mas, agora era Hokuto ~ Ele não queria ouvir Hokuto, que assim como ele, vivia uma vida normal, abrir a boca para negar de sua vida normal.

“Hokuto...”

Harutora honestamente confessou seus pensamentos mais íntimos, dando um passo em direção a Hokuto. Touji gritou “Harutora!” como se para detê-lo, mas foi deliberadamente ignorado.

Hokuto mostrou um olhar como se estivesse encurralada, prendendo a respiração.

Harutora não deixara Hokuto ir, olhando fixamente para seus olhos.

“Neste momento, eu não quero me tornar nenhum Onmyouji ou fazer com que meu nome Tsuchimikado destrua meus relacionamentos e minha vida atual. Será que você não se importa com isso? Huh, Hokuto?”

Hokuto mordeu os lábios.

Depois de um longo e atormentado silêncio...

Ela baixou os olhos, sem dizer uma palavra.

A resposta de Hokuto trouxe um choque inesperado para Harutora, e ele ainda se sentia como se tivesse sido traído.

“...Ah, então é assim que é.”

Sentiu a raiva ferver dentro dele, mas ele não tinha nenhum plano para a conter. Ele estendeu a mão para trás das costas de Hokuto, ignorando o grito e afastando o braço que tentou desesperadamente impedi-lo, e agarrou o ema.

Ele então jogou o ema ao chão. Hokuto fez um gemido fraco. “O que você está fazendo!?”

Ela correu para pegar o ema caído no chão, limpou a sujeira dele, e segurou-o com força contra o peito. Era como se ela estivesse protegendo algo valioso, e era simplesmente intolerável aos olhos de Harutora. Ele virou-se com altivez, e não se deixou olhar para as lágrimas de Hokuto.

“...Harutora... BAKA!!”

Hokuto gritou, correndo. Suas costas desapareceram em um flash do outro lado do torii. Harutora não se virou. O som ruidoso das sandálias gradualmente se afastou, mas ele ainda olhava teimosamente para frente.

Depois de um longo tempo. “...Ela se foi.”

Touji silenciosamente observara a situação se desdobrar, calmamente abrindo a boca. Harutora não pôde reprimir sua raiva, e amargamente murmurou. “...Merda!”

“Ora, quanta juventude, nada mal.”

Touji falou casualmente, como sempre. Mas Harutora já não tinha energias para responder.

“...Você acha que também foi minha culpa desta vez?” “Honestamente, não, mas a Hokuto que estava errada.”

Touji deu uma resposta inesperada. Harutora olhou para Youji, surpreso com sua resposta, mas só o viu continuar a falar com sua calma habitual.

“Você é um inútil.”

As palavras de Touji acentuadamente picaram os ouvidos de Harutora, que sentiu uma sensação particularmente profunda quando as ouviu. Sua energia originalmente excedente desapareceu, e ele caiu como uma bola murcha.

“Parabéns, você foi rejeitado duas vezes seguidas. Olhando por este lado, você realmente é um flertador, Harutora.”

“Cale a boca. Honestamente, eu estou incrivelmente deprimido agora.”

“Não é apenas a magia que poder morder.”

“...O que significa isso?”

“O que eu acho é que, Hokuto, que se machucou mais, deve estar se sentindo ainda pior agora.”

Harutora não podia deixar de se sentir sombrio quando ouviu isso.

Naquele momento, as lágrimas brilharam nos olhos de Hokuto.

Harutora tinha ficado furioso, e ferido Hokuto, e também ~ ele tinha feito isso deliberadamente.

“O que você vai fazer? Você quer ir atrás dela? Se você não se decidir, eu vou te socar algumas vezes.”

“Por que você me socaria?”

“Para incentivá-lo. É meu dever fazer isso quando coisas assim acontecem.”

Touji sorriu.

Touji poderia ter dito que Hokuto que estava errada, por que era a decisão de seu amigo. Comparado com Harutora que era seu melhor amigo, Hokuto não era tão próxima, para que ele realmente pudesse afirmar que ela estava errada.

A amizade não fora forçada. Levando as coisas mais ao extremo, Hokuto podia acreditar que Harutora não era um “amigo”, e ela sentia-se livre a fazê-lo.

Claro, Harutora não achava que Hokuto tivesse olhos para ele, e os dois se conheciam há muito tempo. Mas, mesmo se Harutora pensasse em Hokuto apenas como uma amiga importante, Hokuto não tinha que responder suas opiniões com pensamentos ou atitudes similares. No entanto, diferentemente a isso, os dois viram um ao outro, que não era uma razão para criticar ou ser criticado.

“...Eu vou atrás dela.”

Harutora comtemplou a vida diante dele. Touji e Hokuto eram ambos partes indispensáveis da sua vida.

Mas então...

“...Espere um pouco.”

De repente, alguém falou.

A pessoa que tinha falado com eles era uma pessoa que parecia ter saído da escuridão do templo, um homem vestindo um terno preto e óculos de sol. Harutora e Touji acharam que aquelas roupas eram completamente impróprias para um festival, e inconscientemente recuaram meio passo.

“Desculpe incomodá-los, mas eu ouvi a conversa de agora, e eu escutei que tem alguém da família Tsuchimikado aqui.”

O homem inclinou a cabeça respeitosamente, como se não tivesse notado a reação dos dois.

Ele se expressou para o confuso Harutora.

“Na verdade, eu estou procurando uma pessoa da família Tsuchimikado sob ordens do meu senhor. Você poderia me emprestar um pouco do seu tempo e encontrar-se com meu senhor?”



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