Volume 4
Capítulo 259: Perguntas
O processo se manteve consistente. Sempre que o menino apontava pra alguém, esse alguém se sentava na cadeira e sua vida seria completamente desnudada por aqueles olhos que viam tudo.
No começo, as pessoas se mantinham pensando que era uma peça pra enganar o resto a ingressar na Blank, mas depois de acontecer com mais de vinte pessoas, só havia uma pergunta na mente de todas as pessoas presentes: ‘Como?’
Com o passar do tempo, eles só podiam aceitar a situação. Todos chegaram à conclusão que o menino tinha poderes divinos de observação, a capacidade de enxergar o presente e o passado das pessoas, e dar a elas o futuro que queriam.
Embora o menino dissesse que estava avaliando as pessoas, nem uma única pessoa falhou em sua avaliação, o menino parecia estar disposto a aceitar todos, até mesmo os mais psicopatas entre eles.
O mais estranho de tudo não era nem a capacidade divina do menino de ver o passado e o presente das pessoas, e sim a capacidade dele de fazer com que todas elas parecessem dispostas a aderir a sua causa.
Não importa que tipo de pessoas, todas elas aceitariam ingressar na Blank com prazer. Todos de repente pareciam ganhar algum tipo de respeito ou adoração em direção ao menino, alguns pareciam até fanáticos.
As pessoas que ainda não tinham sido avaliadas simplesmente não conseguiam entender. Só quando se passava pelo processo se conseguia entender o que aconteceu.
Algumas pessoas até mesmo tentaram convencer as que tinham aderido de que o menino poderia ter feito lavagem cerebral neles, já que tudo era conveniente demais, mas nenhum deles acreditava nisso.
Eles instintivamente entenderam o que aconteceu. Alguns conseguiam até mesmo explicar, enquanto outros instintivamente negavam essa hipótese sem nem saber o porquê.
Eles sabiam que não era lavagem cerebral nem nada do tipo, era algo bem mais natural e simples.
E, é verdade, Baijian não usou lavagem cerebral pra convencer essas pessoas. Pra que ele faria isso, se existem jeitos de fazê-los segui-lo por livre e espontânea vontade?
E esse é um dos jeitos que ele pensou: intimidade excessiva.
Embora as pessoas sempre estejam em guarda contra intimidade excessiva, como é bem difícil de isso acontecer na realidade, é desconhecido os efeitos que isso traz nas pessoas.
Mas Baijian tinha um cultivo mental profundo, ele conseguia entender isso com facilidade. A intimidade excessiva é uma faca de dois gumes. Pode fazer a pessoa te temer tremendamente, ou fazer ela te respeitar e adorar, tudo depende da forma como se faz isso.
Quando Baijian desnuda alguém na sua frente, quebrando todas suas barreiras mentais, a pessoa sente medo instintivamente. Não é algo consciente, controlado por ela, e sim algo que vem dos seus instintos mais primitivos, dos seus genes.
Isso é igual para todos os seres humanos, e talvez até mesmo para seres inteligentes não-humanos.
O problema então é: como eliminar esse medo?
E Baijian sabia como fazer isso. A resposta era:
Não julgar a pessoa.
As pessoas não se respeitam justamente por causa disso. Uma pessoa julga outra, e a segunda acredita que a primeira não tem direito para tal.
Isso porque ela pensa instintivamente: ‘você não sabe nada sobre mim, que direito você tem de me julgar?’
As pessoas usam máscaras o tempo inteiro, você não pode julgar alguém por sua máscara, e sim por quem ela é.
O problema é que as pessoas não sabem ler mentes, nem têm a capacidade de ver a vida e pensamentos de uma pessoa. Por causa disso, é impossível uma pessoa aceitar ser julgada por outra.
A frase: “Só Deus pode me julgar”, diz respeito a isso. A partir do pouco conhecimento humano, quem, em todo o universo, pode ver toda a vida, pensamentos e sentimentos de uma pessoa? Teria que ser um Deus para ter esse tipo de poder.
Por causa disso, as pessoas não aceitam ser julgadas por outras pessoas.
Na maioria das vezes, as ações e palavras proferidas por alguém não estão de acordo com seus pensamentos e sentimentos. Essas máscaras impedem que as pessoas se entendam.
Mas é justamente por terem essas máscaras, que as pessoas podem verdadeiramente confiar uma na outra.
‘Confiar cegamente’, são geralmente palavras usadas por crentes em direção ao seu Deus. Afinal, em quem mais eles poderiam acreditar cegamente?
Se as pessoas não tivessem máscaras, elas confiariam completamente umas nas outras por entenderem a si mesmas por completo. O problema é que isso não é confiança, e sim aceitação dos fatos.
É um fato que eu entendo a outra pessoa por completo, e por isso entendo que ela não me trairia nunca, então eu aceito esse fato.
Confiança é quando você não tem certeza absoluta de que algo vai funcionar como você acredita que vai, mas confia que vai.
Não é muito diferente de acreditar em um Deus. Você não tem absoluta certeza de que ele existe, ou que zela por nós, nem nada nesse sentido, mas confia que é a verdade.
Existe uma palavra mais apropriada pra isso: fé.
Ou seja, sem as máscaras, não haveria fé. Sem as máscaras, não haveria confiança. Sem as máscaras, não haveria nem mesmo esperança.
Por causa disso que as máscaras são importantes. As pessoas instintivamente querem entender umas as outras, mas se isso fosse lhes dado de mão beijada, não haveria qualquer sentimento de realização, ou satisfação.
O que Baijian fez foi quebrar essa máscara à força. No começo, elas se sentiam aterrorizadas, mas quando foram confrontadas com a completa indiferença dele, elas se acalmaram, e perceberam instintivamente que ele tinha o poder de julgá-las, mas não as julgou.
Porque as pessoas se sentem aterrorizadas com tanta intimidade? Isso porque bem no fundo elas sabem que, se tal pessoa existisse, ela teria o poder de julgá-la. Para alguém que interagiu a vida inteira com pessoas que não podiam julgá-la, de repente conhecer alguém que tem esse poder é assustador.
Mas a completa indiferença de Baijian, a sua completa falta de julgamento, fez com que elas se acalmassem. Elas sentiam que alguém que tem esse poder, mas não o exercita, merece seu verdadeiro respeito.
Isso porque o ato de completa indiferença de Baijian mostra uma coisa: ele não aprova, nem desaprova a pessoa. Ele não sente desgosto, nem gosta da pessoa. Ele simplesmente aceita a pessoa como ela é.
Ser aceito é o suficiente, as pessoas querem apenas ser reconhecidas.
Ser reconhecido por alguém tão incrível é mais que o suficiente para a pessoa sentir intenso respeito por ela.
Essa foi a forma que Baijian pensou, a forma mais eficiente de ser respeitado por essas pessoas que antes o viam como inimigo.
***
Enquanto isso, a mais de oito quilômetros de distância, Natasha estava observando o local em silêncio. Ela viu, com seus próprios olhos, o menino aparentemente conseguir a lealdade de cada pessoa.
‘O que ele falou antes... É verdade?’
Mesmo assim, por mais incrível que seja o ato do menino, Natasha estava na verdade preocupada com outra coisa. Mais cedo, o menino disse que as várias organizações em que os cultivadores no local pertenciam estavam sendo atacadas naquele momento.
Natasha era um dos executivos da União, e não sabia desses ataques. O plano de Kartis envolvia trazer todos esses cultivadores, que eram unidades de elite de suas respectivas organizações, e matá-los para enfraquecê-las.
Depois disso, a União iria novamente negociar com essas organizações. As que não cedessem, seriam destruídas, e as que cedessem, seriam absorvidas pela União. Como as primeiras negociações não deram certo, e essa segunda rodada de negociação começará após a morte dessas unidades, as organizações que se unirem após não terão muito poder dentro da União, e serão lentamente absorvidas pelas facções dentro da União, esse era o plano completo.
Depois de lidar com essas muitas organizações, a União se voltaria então para os problemas maiores: Os governos e as doze famílias.
Isso era o que Natasha sabia, que foi discutido na reunião de executivos, e aprovado por Kartis, o Vice-Líder da União, que também é o Comandante Estratégico e Tático da União.
O suposto ataque a essas muitas organizações não estava dentro do plano, e fazia com que muitas perguntas aparecessem em sua cabeça.
‘Isso é verdade?’
‘Se for, por que Kartis não me contou?’
“Sou só eu que não sei? Ou ele escondeu isso dos outros executivos também?’
‘Ou será que ele escondeu isso deliberadamente de um grupo específico de executivos? Como por exemplo, executivos que podem ameaçá-lo, ou que ele não gosta.’
‘Por que Kartis esconderia isso de mim e dos outros executivos?’
E a maior dúvida dela.
‘Aonde ele conseguiu o poder para atacar todas essas poderosas organizações?’
Eram muitas organizações, e todas tinham poder de combate decente. A menos que toda a União se reúna para fazer um ataque total, é praticamente impossível dizimar todas.
O problema é que, seja Kartis, ou o líder desconhecido da União, nenhum deles tem o poder de comandar todo o poder bélico da União.
A União é uma enorme organização formada por várias organizações juntas. Os líderes das antigas organizações que se juntaram ganharam o cargo de Executivo, e só eles podiam controlar suas tropas. Ou seja, o Líder da União, ou o Vice-Líder, eles só têm poder administrativo e estratégico. Eles não têm poder de comandar as tropas dos outros executivos, apenas suas próprias tropas.
Assumindo que seja necessário que toda a União se una para derrubar essas organizações, a grande maioria dos executivos teria que aprovar essa operação e enviar suas tropas.
Pensando nisso tudo, Natasha chegou a algumas hipóteses:
‘O menino mentiu, fez todo esse show para facilitar seu recrutamento...’
‘Ou, eu sou a única que não sei. Se isso for verdade, qual o objetivo de Kartis? Ele planeja eliminar a mim e a meus subordinados? Isso não faz muito sentido, eu não tenho uma briga com ele nem nada, e isso também não lhe beneficiaria. ’
‘Ou... Ele escondeu isso de todos os executivos e deu algum jeito de comandar as tropas... Se isso for verdade, então o objetivo de Kartis é...’
‘Por enquanto, vamos confirmar algumas coisas.’
Natasha pegou de seu bolso um walkie-talkie, e apertando um botão, começou a falar:
“Natasha falando. Kartis, o menino continua fazendo aquelas coisas estranhas. Ele chama um por um até a mesa, conversa, e parece que eles sempre aceitam se tornarem subordinados. O que eu faço? Continuo observando?”
Por dentro, Natasha pensou silenciosamente:
‘Por enquanto, vou esconder a tática do menino, e fazer Kartis acreditar que ele está convencendo cada um deles um por um.’
Alguns segundos depois, uma voz soou do walkie-talkie de Natasha:
“Natasha, você tem certeza que nunca viu esse menino antes? Mesmo antes da União, você lidava com grandes quantidades de informações, você é uma especialista em informação. Tem certeza que nunca viu um menino tão excepcional antes?”
‘Obvio que já o vi antes. O filho de Ye Hong, atual líder da família Ye. O menino que conseguiu reunir na mesma casa cinco das damas mais prestigiadas da China. Mas até eu confirmar algumas coisas, preciso tentar o máximo possível esconder isso.’
“Não, nunca o vi antes.”
“Por enquanto, coordene com Pralina e crie um plano para assassiná-lo. Lembre-se, é assassinato, então ele precisa morrer em um golpe só. Eu vou coordenar depois um cerco em volta, precisamos terminá-los aqui e agora, senão podem se tornar uma ameaça no futuro.”
“Mas Kartis, nós não temos pessoas suficientes aqui. Fora os executivos, e alguns subordinados, não temos força suficiente para matar tantos sem deixar alguns fugirem.”
“Natasha, pare de pensar em coisas inúteis. Siga minhas ordens, e deixe o resto para mim. Suas ordens são para que assassine aquele menino.”
Depois de assentir, Natasha desligou walkie-talkie e pegou o celular. Discando um número, uma voz soou do outro lado:
“O que houve Natasha? Não fiz nada com sua sobrinha... Ainda.”
“E nem nunca fará. Se você tocá-la, eu arranco suas bolas e dou para meus cachorros comerem.”
“Ouvir a palavra bolas de uma dama tão bonita quanto você me deixa excitado. Depois daqui, vamos uma rapidinha?”
“Claro, por que não? Já tem um tempo mesmo que tô a fim de cortar esse troço no meio das suas pernas e esmagar até virar uma pasta.”
“Enfim, o que você quer? Estamos no meio de uma operação.”
“Onde está o Fubuki? Não o vi com você mais cedo.”
“Por que o interesse repentino? Kartis o colocou em outra missão.”
“Que missão?”
“Assassinar o líder de uma gangue de Hemmingen. Parece que ele tem atrapalhado os negócios da União na cidade.”
“Por que ele enviaria alguém como Fubuki?”
“Ele disse que queria um assassinato brutal para servir de exemplo. Você sabe como Fubuki fica durante a batalha, ele provavelmente espera que Fubuki enlouqueça lá.”
“Homem desagradável... Já falei várias vezes para matá-lo.”
“Ele é muito útil, seria um desperdício. Embora fique louco durante um massacre, ele é muito inteligente e perspicaz. Já fui salvo por sua inteligência diversas vezes.”
Depois de terminar de ouvir, Natasha simplesmente desligou antes que Bliss pudesse perguntar o motivo do interesse dela.
‘Pela quantidade de informação, e o som de sua voz, ele não estava mentindo... O que significa que ele não sabe que Fubuki não foi pra Alemanha, e sim pra Luxemburgo. Eu coincidentemente descobri isso antes de vir pra cá, embora não tenha ficado muito curiosa na hora...’
‘Se ele não sabe, então... Estamos ferrados.’