Volume 1
Prólogo
Às margens de um lago transcendental, de beleza digna do paraíso, um homem bonito estava parado observando tranquilamente a paisagem. Vestindo uma túnica branca, ele passava a imagem de alguém puro e digno.
Esse homem era tão belo que meras palavras não podiam ser usadas para descrevê-lo. A sua própria existência era um milagre da natureza já que pássaros cantavam à sua volta como se tentassem impressiona-lo, e peixes pulavam para fora da água como se quisessem chamar sua atenção.
Sua nobreza estava presente em cada fibra do seu ser. A sua presença sozinha fazia com que mundos inteiros louvassem glória à seu nome e boa vontade, e tremam de medo à sua ira implacável.
Ao lado do homem, havia uma bela mulher, serena e suave, que também usava uma túnica completamente branca e complementava perfeitamente o homem, criando um cenário de um casal imortal perfeito e transcendente.
A bela mulher possuía características únicas. Sua beleza era incomparável a qualquer mortal, imortal e até mesmo a quaisquer deusas. A sua elegância, que estava presente até nos seus menores gestos, não poderia ser descrita mesmo pelos mais talentosos poetas.
Nesse momento, essa mulher perfeita e transcendente, estava franzindo suavemente suas belas sobrancelhas, enquanto olhava com preocupação para o belo homem.
O silêncio ensurdecedor incomodava a mulher que não pôde segurar mais e perguntou com uma ligeira preocupação.
“Meu amado, não era o que queríamos? Nós finalmente encontramos um caminho, e agora você quer desistir?”
O homem continuou olhando para o horizonte silenciosamente, seu semblante continuava calmo e imutável. Sua voz, no entanto, carregava um pouco de preocupação.
“Querida, meu desejo não é menor do que o seu. Mas você deve saber que isso ainda não é o que queremos.”
A mulher soltou um pequeno suspiro de decepção, e falou suavemente em direção ao homem.
“Não importa. Quanto tempo levou para descobrirmos esse caminho? Quantos éons nós levamos para chegarmos a essa solução? Embora não seja perfeito, ainda desejo tentar.”
O homem virou calmamente o seu olhar para a mulher e falou com uma voz extremamente suave.
“Você quer fazer isso com nosso filho? Você quer fazer isso conosco? Se formos em frente com isso, só iremos sofrer.”
A mulher permaneceu em silêncio sem saber como responder. Depois de um tempo em silêncio, o homem falou novamente.
“Nós temos tempo. O tempo é a coisa que mais temos. Nosso desejo transcende o tempo. Eu não quero que ninguém sofra, então vamos esperar, nós com certeza descobriremos um caminho melhor.”
O homem então se aproximou e abraçou delicadamente a mulher. Os dois fecharam os olhos, como se estivessem apreciando a presença um do outro. Essa cena de duas pessoas tão perfeitas se abraçando, contentes com a mera existência um do outro, junto com o belo cenário de fundo, pintava uma imagem perfeita e eterna.
Os dois abraçados não pareciam querer se soltar, já que continuaram abraçados por uma enorme, mas desconhecida, quantidade de tempo.
Depois de um longo tempo abraçados, os dois se separaram e uma imagem embaçada apareceu a cerca de duzentos metros do casal.
A imagem mostrava um homem usando uma armadura vermelha impressionante que, em sua superfície, muitos padrões, símbolos e runas piscavam indefinidamente.
O homem se ajoelhou ali mesmo, abaixou a cabeça, demonstrando total submissão ao homem e a mulher, e falou com uma voz solene.
“Senhor, Senhora, por favor, me ajudem. Eu estou sob constante ataque, não vou conseguir aguentar por muito tempo.”
O homem de túnica branca nem sequer se deu ao trabalho de virar seu olhar, enquanto a mulher começou a falar de forma indiferente.
“A sua guerra em nada nos interessa, ela é insignificante.”
O rosto do homem distorceu de dor por um momento, mas ainda continuou falando com a sua voz solene.
“Senhor, Senhora, eu servi aos dois por praticamente toda a minha vida de Imperador.”
A mulher, ainda indiferente, respondeu.
“Não nos importa quem é o Imperador, você sabe disso. Imperadores vêm e vão, mas nós ficamos. O Trono Imperial é insignificante perante a nossa existência.”
O homem ainda continuou tentando argumentar.
“Senhor, Senhora, eu sempre fui leal, porque não podem me ajudar essa única vez?”
A mulher, novamente, respondeu indiferentemente.
“Nós não precisamos que nos sirvam, nunca precisamos. Você que ofereceu sua lealdade, sem pedirmos e sem precisarmos. E mesmo depois de todos esses anos, nunca pedimos, ou exigimos nada de você. Quem você acha que somos? Acha mesmo que precisamos ser servidos?”
“Acha que não conseguimos entender o que se passa na sua cabeça? Essa sua lealdade desnecessária foi tudo para esse momento, quando precisar da nossa força. Quantas vezes acha que passamos por esse mesmo diálogo? Quantos Imperadores fizeram exatamente a mesma coisa que você? Quantos Imperadores você acha que presenciamos a ascensão e a queda?”
“O Trono Imperial foi algo que nós criamos, e se quisermos, podemos tomar a hora que nos convir. Não é algo que nos tem utilidade, nunca teve. Criamos simplesmente por um capricho. Portanto, não faz diferença se o Imperador for você, ou qualquer outra pessoa, não muda nada, contanto que o novo Imperador siga as regras impostas por nós, pode ser qualquer pessoa.”
O rosto do homem nesse momento exibia completo desespero. Ele não tinha mais o que falar, e mesmo que tivesse, não teve a chance, já que a imagem desapareceu assim que a mulher terminou de falar.
Com o desaparecimento da imagem, o homem olhou para a mulher e falou.
“Nós?”
A mulher riu levemente e respondeu.
“Eu que criei; mas fiquei com vergonha de falar isso. Naquela época, eu era muito imatura por criar um jogo tão infantil.”
O homem sorriu suavemente e a abraçou novamente.
Depois de um tempo abraçados, a mulher falou novamente.
“Então precisamos esperar mais?”
O homem, ainda abraçando a mulher, respondeu.
“Sim, vamos esperar. Até lá, vamos continuar assim, Eve.”