Volume 1

Capítulo 9: Plano de Ataque (versão antiga)

 

— Vamos relatar para o Bruno, ele certamente escutou os tiros. – dizia Mike enquanto se dirigia na direção da casa de Bruno.

Mary também se preparava para ir junto dele, porém, ao ver que Ethan estava encarando a direção que os ghouls haviam fugido, parou e perguntou:

— O que foi, Ethan? – questionou enquanto os ventos balançavam seus cabelos. Aquele olhar selvagem de pouco tempo, agora era calmo, e alguns diriam até gentil.

— A voz daquela Ghoul, eu acho que... – Ethan então chacoalhou a cabeça antes de dar meia volta e seguir junto de Mary, que o olhava, confusa. – N—não é nada.

Certamente havia algo, a albina conseguia perceber nas entrelinhas de seu discípulo, até porque ele nunca foi bom em esconder as coisas dela, ainda mais por ser alguém que pensava com as emoções.

Agora, com a reunião na casa de Bruno, o líder começava:

— Então eles realmente invadiram. É isso, vamos ter que bolar um plano de contra—ataque. – Bruno dizia. Sua casa não era tão grande, até bem simples na verdade, como todas na cidade. Eles estavam em volta de uma mesa circular de metal, bem no centro da casa.

— Certo, eu já tenho a localização deles. – Mike dizia enquanto estendia sua mão na direção da mesa. Uma energia azulada começava a sair de sua mão e, ao chegar no centro do objeto, formava uma espécie de mapa holográfico, e nele podia—se ver um ponto mais escuro que o resto da projeção.

— Não estão muito longe, e dá para ver que não estão com poucos ao lado deles. – comentou David.  – Mas e se estiverem espalhados e esse for apenas um dos locais deles?

— Por isso mesmo mandaremos essa equipe pequena, enquanto o restante ficará responsável pela segurança da cidade. – disse Bruno enquanto respirava fundo e olhava para o grupo. – Alex, vamos precisar de você aqui, Mike, prepare os veículos e os armamentos.

— Você também vai ficar e lutar? – questionou Mary enquanto Alex e Mike saiam da casa.

— Sim, essa é minha cidade e meu povo. – respondeu, fazendo com que seus olhos amarelados brilhassem. Em seguida Bruno virou sua atenção para Ethan, que estava assustado ainda, meio encolhido. – Ele vai também?

— Vai, eu sou a responsável por ele. – disse Mary enquanto retirava o capuz de Ethan, para Bruno o ver melhor.

— Hmm... Eu não tenho tanta certeza sobre levar um garotinho, mas também não posso te impedir, Mary, fica à sua escolha. David, Lucy, Mary e Ethan, vocês e mais dois Cicatrizes farão a missão de reconhecimento, se verem que são capazes de impedir que eles se espalhem, ou se encontrarem a origem dos ghouls, estão livres para utilizar força. Essa é uma questão de sobrevivência da nossa vila, então tentar uma abordagem diplomática está fora de cogitação. – comandou Bruno, com uma entonação e determinação dignas de uma líder.

— Entendido. – os três responderam. David ainda olhou meio torto para Mary, porém dessa vez apenas aceitou o fato que ela também vai e que era totalmente capacitada.

Após todos saírem da casa de Bruno, o líder suspirava e refletia consigo mesmo. Ele passava  a mão em seu rosto e tentava arrumar seu cabelo, o estresse estava quase alcançando sua cabeça, então ele precisava se acalmar. Sua atenção foi para um retrato que havia em um pequeno armário ali perto; uma foto de uma mulher morena com cabelos encaracolados e escuros. Ela sorria junto de uma menina bem pequena em seus braços, que parecia uma mistura de Bruno e aquela mulher.

Bruno suspirava novamente, se encostava na mesa e pensava se não havia esquecido nada. Em seguida ele foi surpreendido por alguém pequeno o abraçando nas pernas. Era uma menina usando roupas casuais e uma mochila nas costas, os cabelos escuros e lisos na altura do rosto e um olhar um pouco preocupada. Aquela presença era inconfundível.

— Papai, o que aconteceu? – perguntou a menina, olhando para seu pai, talvez questionando o que houve na cidade para ela sair da escola mais cedo. Bruno se ajoelhou e acariciou os cabelos da filha, sorrindo.

— Não foi nada de mais, Lina, como foi na escola hoje? – respondeu, tentando disfarçar o cansaço em sua expressão.

___________

Lá fora, David questionava junto de Lucy enquanto andavam em direção às suas casas.

— Já não bastava o Heróis tentando nos localizar para dominar a região, agora temos um grupo singular de predadores de olho nos Cicatrizes. – o singular gélido dizia enquanto arrumava o cabelo para desestressar.

— Será que os Ghouls têm alguma relação com os Heróis? – pensou Lucy.

— Ei, Mary, você descobriu algo importante sobre eles? – perguntou David para a albina que estava andando ao lado deles.

— Não – ela nem mudava de expressão ao falar, o que deixava o rapaz indignado.

— Não tem nem vergonha de admitir. O que fez nesses anos procurando por eles afinal?

— Eu encontrei ele. – Mary se referia à Ethan, o que fez David parar de andar e novamente questionar.

— Pode falar a verdade, só está com ele porque o poder do Ethan é útil, né? A assassina de Heróis de repente está cuidando de um garoto, que rapidez para mudar de personalidade, né? – David tentava tirar sarro da situação, enquanto Ethan se escondia atrás de sua mestra.

— Não devo? – Mary parava e enfrentava o rapaz.

— Fala sério. Quem é você, Mary? – David continuava.

— David. – Lucy tentou pará-lo, mas não conseguiu.

— O que você já fez? Qual a razão de usar alguém como refúgio mental dessa forma? – o singular gélido estava indignado nesse ponto.

A albina levou um tempo até responder, pois ela precisou parar, pensar um pouco, suspirar, até que enfim voltou seu olhar para ele enquanto aproveitava os ventos da noite em seus cabelos.

— Conhecem o "Jardim de sangue"? – questionou Mary para os dois.

— Sim, e o que que tem? — respondeu David com uma pergunta. A albina apenas olhava para o rapaz e o silêncio permanecia. Conforme o singular gélido analisava aquele olhar e tentava decifrar o que ele queria dizer, ele ia ficando mais e mais assustado.

— É. – disse Mary e, na hora, o casal ficava extremamente chocado.

— C-como assim? –o singular gélido questionou, gaguejando. – V-você sozinha? 

— Correto. – Mary começava a relembrar novamente do campo florido, uma chuva intensa e corpos ensanguentados pelo local, pintando o campo de vermelho, as expressões nos rostos daquelas pessoas eram de choque e angústia. Corpos perfurados, retalhados, desfigurados, e no meio deles estava a albina, em prantos, misturando suas lágrimas com o sangue. – Se eu continuo a mesma, ou acha que eu mudei só por causa do Ethan, então questione como ele ainda está vivo.

— Você... – David nem sabia como responder.

— Seja eu uma Assassina de Heróis ou não, o que importa é que eu vou derrubar os Heróis, mas não a qualquer custo. – disse com um olhar mais amedrontador enquanto se virava para ir em direção à casa, com a mão no ombro de Ethan.

Lucy e David ficaram ali, parados, sem saber como responder, eles se entreolharam e tentaram formular alguma frase, mas sem sucesso.

— Mary. – Ethan falou baixo.

— Hm?

— O que foi isso? – perguntou meio relutante de levar um sermão.

— Quando for mais velho eu lhe contarei. – ela só continuou levando—o para dentro de casa. Mary não estava brava, parecia mais que queria preservar Ethan.

À noite, enquanto o menino tentava dormir na única cama do local, sua mestra dormia da mesma maneira que antes, encostada ao lado do móvel. Ethan não parecia com muito sono, estava encarando o teto e pensando sobre mais do passado de Mary, que, pelo que ela demonstrou, tinha uma história muito grande antes dela o conhecer. O garoto virava de lado e observava sua mestra, que dormia abraçada à sua katana, como se aquilo fosse algo tão importante quanto a vida dela.

Reparando melhor, ele percebia que o braço que sempre ficava coberto pela ombreira e a braçadeira estava visível agora. Por ter uma luz, o garoto consegue notar que o membro dela era cheio de cicatrizes e parecia um pouco queimado em relação ao outro braço, algo que Mary nunca deu satisfação para Ethan, pois sempre desviava o assunto.

— Quer dizer algo, Ethan? – Mary perguntou, num tom calmo e um pouco assustador.

— N-não, desculpa. – ele se virava no mesmo instante para o outro lado, tentando dormir.

_______________

Na casa de Lucy e David, o rapaz estava sentado na cama, já pronto para dormir, só esperando seu cônjuge. A ruiva aparecia do banheiro de cabelo solto dessa vez, sendo possível ver que chegava até os ombros, com uma roupa mais solta e leve para dormir.

— Lucy, será mesmo que a Mary é outra pessoa há muito tempo? Digo, parece que eu só não queria ver a verdade. – o singular gélido dizia enquanto olhava para suas mãos. A ruiva suspirava e aproximava-se dele, segurando suas mãos após sentar-se ao seu lado, tentando aquecer aquelas mãos e coração gelado.

— Eu gosto de acreditar que as pessoas podem mudar. Quer dizer, se até eu consegui mudar de vida, alguém como a Mary consegue fazer isso sozinha se ela quiser. – a moça ficava um pouco envergonhada ao se relembrar de seu passado e de como conheceu David, que, ao notar isso, também sorria e arrumava o cabelo de sua amada, em seguida colocava gentilmente a mão em seu rosto.

— Não compare ela com você, querida, ela não é tão fofa quanto você. –  disse o rapaz. Lucy tenta esconder o rosto, que ficava mais avermelhado. – Tem como ser mais perfeita do que controlar sangue, mas não conseguir controlar a vergonha?

— Cala boca. – Lucy dizia num tom de risada, colocando a mão agora no rosto do namorado. Os dois riam mais um pouco, até que encostavam as testas um no outro e diziam um após o outro. – Juntos nas missões.

— Juntos na vida. – David completava e os dois sorriam um para o outro antes de dormirem.

___________

Pela manhã, os quatro selecionados para a missão se juntaram na casa de Bruno. David e Lucy ainda estavam um pouco relutantes quanto à Mary, mas era melhor aceitar a ajuda dela. O líder apareceu junto de outro rapaz com roupas e trejeitos que lembravam um engenheiro armeiro, que trazia consigo alguns equipamentos na mesa de centro: cartuchos de pistola para Ethan, uma faca militar nova para Lucy, um conjunto de adagas para uma outra singular que estava ali junto deles e um rifle para o outro rapaz.

Os dois desconhecidos tinham trejeitos mais militares. A moça era morena, de estatura baixa e com um físico atlético, não era possível ver seu cabelo pois estava escondido por um gorro preto, enquanto o rapaz era branco e tinha uma estatura alta, porém era magro, tinha um cabelo escuro e liso com uma franja enorme cobrindo um dos olhos.

— Mary, vai ser um prazer defender a cidade com você. – a moça morena dizia com um sorriso sutil para a albina, que olhava e acenava positivamente, sem responder de volta.

— David, Lucy, Mary, Ethan, Claire, Daniel. – Bruno falava o nome de todos ali. – Deixarei a estratégia com vocês. Se virem que são capazes de enfrentar esta ameaça, estão livres para usar seus poderes. Lembrem-se, é pela segurança do nosso povo, às vezes, para sobreviver, precisamos tomar algumas vidas.

Dito isso, o mecânico colocou na mesa alguns comunicadores para todos colocarem em seus ouvidos.

— Não sei como uma criança vai se sair numa missão que nem sabemos a dimensão do perigo, mas a decisão é de vocês. – dizia o rapaz que proporcionou os armamentos.

— Cuidem uns dos outros. Se virem que não vão dar conta, recuem, não será vergonha fugir. Mas eu não recomendaria. – Bruno terminava a discussão e os seis acenavam positivamente, pegando seus equipamentos, porém, antes de Mary sair, o líder a parou perto da saída, entregando algo para ela. – Mary, você lembra disso?

— Você guardou? Eu não sei se quero usar. – ela pensava bastante se deveria ficar com aquele item. Ethan estava ali perto, olhando confuso para a cena.

— Só uma garantia a mais, não deixe os sentimentos entrarem na frente. Você sabe utilizar, não é? – Bruno entregava na mão de Mary uma pistola Thompson Contender, uma arma de tiro único, mas com uma potência maior em cada tiro. Uma arma que aparentava ter um valor emocional complicado para ela. Por fim, Bruno ofereceu algumas balas para a albina, que, meio relutante, aceitou e a guardou num coldre embaixo da saia e as balas numa bolsinha logo ao lado da arma.

— Agradeço. – disse Mary com um pouco de peso na consciência, mas, enfim, os seis partiam para os veículos já posicionados na frente da casa de Bruno.

David e Lucy subiram numa moto off-road vermelha, enquanto Mary e Ethan em uma preta. Claire e Daniel entravam em uma espécie de jipe esverdeado. O grupo se preparava e então partiam, o veículo de 4 rodas indo à frente, liderando, enquanto as motos iam atrás. Nos automóveis haviam hologramas de um mapa da região, que era nada mais que a ligação espiritual de Mike.

— Fique a postos, Ethan. A partir de agora, só haverá a prática para você entender melhor. – disse Mary.

— Entendido. –  respondeu com um pouco de medo, mas disposto a prosseguir.



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