Volume 1
Prólogo: Um Fim Desastroso
A noite havia descido, envolta em um manto de sombras e murmúrios abafados que serpenteavam por uma rua estreita, conhecida por seu aspecto sinistro e pela tendência das pessoas em evitá-la. O medo se entrelaçava nas conversas sussurradas, criando uma atmosfera pesada e carregada. No meio dessa rua desolada, cinco figuras se destacavam, o chão manchado de vermelho revelava o desespero que havia tomado conta do local.
Gideon, um jovem com cabelos esbranquiçados e olhos carregados de dor, agonizava no solo. Seu corpo estava torcido, e uma queimadura horrenda consumia parte de sua pele, intensificando a sensação de desespero.
— Me deixe aqui e fuja — implorava Gideon, a voz trêmula, quase inaudível. Sua agonia era tangível, e o sofrimento transbordava de cada palavra.
Alaric, seu melhor amigo e, para ele, um irmão, estava ao seu lado. Seus cabelos vermelhos emolduravam um rosto marcado pela luta interna entre desespero e determinação. As palavras de Gideon cortavam seu coração.
— Não irei te deixar aqui, Gideon! Você é meu melhor amigo... meu irmão, e meu salvador, lembra? Não posso simplesmente te abandonar! — A voz de Alaric era um grito angustiado, carregado de uma coragem que tentava, desesperadamente, superar o medo.
O ambiente estava impregnado de tensão. Gideon estava ferido de maneira irreversível, e Astrid, uma jovem ao lado deles, vestida com roupas outrora elegantes agora destruídas, parecia perdida em seus próprios pensamentos confusos. O medo e a desorientação se refletiam em seus olhos, um contraste sombrio com a desolação ao seu redor.
— Eu havia dito a vocês, garotos, não havia? Se tivessem sido obedientes e escutado, não estariam nesta situação — a voz do primeiro homem era cortante, carregada de um deboche cruel que ecoava pelo ambiente.
O segundo homem observava em silêncio, sua expressão carregada de dúvida e perplexidade. O medo e a incerteza estavam gravados em seu rosto, tornando-o quase um espectador impotente do caos ao seu redor.
"Se ao menos eu possuísse mais poder!" refletiu Gideon, a amargura evidente em cada sílaba. Seu olhar perdido fixava-se em um ponto distante, onde a luz da lua mal conseguia penetrar.
"Nasci destinado a ser o escolhido, um fardo que me foi imposto desde cedo e que aceitei sem questionar. Embora nunca tenha sido realmente valorizado por esse título, e ser o escolhido tenha revelado-se mais uma maldição do que uma glória, foi assim que eu passei a vida. As pessoas jamais compreenderam a profundidade desse papel; era uma insignificância que poucos conheceram. Mesmo assim, algo de bom veio disso: encontrei meu grande amigo e irmão, e ao lado deles, a garota que considero minha família. Mas, mesmo assim, ser o escolhido não me concede a capacidade de me salvar ou de salvar aqueles que amo." Seus pensamentos, em meio a uma mente já fragmentada, eram uma tormenta sem fim, que parecia apenas aprofundar a sua sensação de impotência.
Enquanto isso, o segundo jovem, Alaric, encontrava-se preso em um momento que se estendia como uma eternidade dilatada. O desespero era palpável, um sentimento que envolvia cada fibra de seu ser e o arrastava para uma espiral de angústia. Sua mente, presa em um frenético ciclo de urgência, martelava incessantemente: "Salvar Gideon e Astrid." Cada pensamento era uma chama ardente, uma necessidade esmagadora de agir, de encontrar uma solução para o caos que ameaçava consumir tudo ao seu redor.
Alaric ouviu um sussurro, uma voz etérea que parecia vibrar diretamente em seu ouvido, ditando palavras que ele deveria recitar. Com um sentimento de reverência, ele se preparou para o ritual.
— Pela lua que ilumina o céu, pelo vento que sopra ao norte, me dê poder, ó deusa da noite, Luna...! — Suas palavras eram lançadas ao vento, e imediatamente o céu, antes iluminado pela lua cheia, começou a se obscurecer. O vento aumentou sua força, soprando com uma intensidade avassaladora na direção de Alaric. Algo extraordinário estava se desenrolando.
O primeiro homem, de olhos arregalados, mal conseguia manter-se em pé diante da força descomunal que parecia querer derrubá-lo.
— O que é isso!? — exclamou, sua voz misturada ao rugido do vento. A atmosfera ao redor estava tão carregada que parecia ter uma textura tátil.
O segundo homem, com a expressão incrédula e a mão levantada para proteger o rosto das rajadas implacáveis, lutava para focar sua visão no jovem que estava no centro daquela tempestade sobrenatural.
Uma luz intensa começou a emanar de Alaric, um brilho que parecia se originar da própria lua no céu noturno. Os ventos poderosos o erguiam, criando um espetáculo visual quase celestial. Então, a voz da deusa Luna se fez ouvir, ressoando como um sussurro etéreo que envolvia a todos:
— Ó pequeno garoto, eu ouvi teu lamento e tuas preces. Por terem sido verdadeiras e do fundo de tua alma, atenderei a ti mais uma vez.
Neste momento, Alaric passou por uma transformação surpreendente. Seus cabelos vermelhos se tornaram adornados com uma coroa de formas lunares, que brilhavam com uma luz prateada. Em uma mão, ele empunhava uma espada de lâmina reluzente, nas costas pendia um arco esculpido com detalhes celestiais, e em sua mente... O ódio.