Sinfonias Galáticas Brasileira

Autor(a): Yago.H.P


Volume 1

Capítulo 8: Inferno Crescente

O tempo arrastava-se em minha percepção; os passos das pessoas eram lentos, seus pés subiam e tocavam o solo vagarosamente. Não uma pessoa, nem algumas, mas milhares. Era uma festa monumental, mal planejada, que culminou nesta tragédia. O tic-tac do timer da bomba ainda ecoava; já era tarde demais. As expressões de pavor e os berros de misericórdia eram tentativas falhas de invocar intervenção divina.

Contudo, duvidava da existência de Deus; se existisse, havia nos abandonado. Abandonou os que jaziam ao solo, vítimas do caos e empurrões. Antes da bomba explodir, provavelmente já havia dezenas de mortos por pisoteamento. Até aqueles junto às portas, inexplicavelmente incapazes de escapar, foram abandonados por Deus. Ele me deixou neste inferno, incumbindo-me de lidar com isso.

— Se protejam!! — Meu grito ecoou, mas foi em vão; já era tarde demais. Uma força extraordinária chocou-se com meu corpo, lançando-me para frente, arrastando todos ao solo, seguida por um estrondo ensurdecedor. — Argh…

Cada músculo, cada junta latejava em uma dor descomunal, agravada pela lesão na minha lombar. Apesar da dor insuportável, ergui-me devagar, explorando cada parte do meu corpo. Surpreendentemente, apesar da sujeira, meu corpo permanecia estranhamente íntegro após uma explosão tão devastadora. Não podia reclamar. Pressionei meu lóbulo na esperança de estabelecer contato com meus oficiais.

— Poul! — Ele tinha que estar bem. — Me responda Poul, tudo bem!?

— Senhor! Sim, estou. — Ele permaneceu na passarela, observando a situação abaixo.. — A situação me parece desesperadora…. — Dirigiu seu olhar para o teto de vidro, onde ainda persistiam todos aqueles olhos observadores. — E tende a piorar.

— Eu sei, comunique-se com os outros oficiais e evite agir sem pensar, certo? — Considerando que todos estavam bem, comecei a percorrer os escombros.

— Mesmo que eu estivesse com vontade de confrontá-los, não seria uma opção viável, estaria colocando a vida de inocentes em riscos. Vou manter a calma por hoje, relaxa, comandante.

Era difícil acreditar nessas palavras, pois ele sempre foi um louco por lutas e, de certa forma, pavio curto ou esquentadinho, embora fosse descontraído na maior parte do tempo. No entanto, havia uma pequena esperança de que fosse verdade, pois Poul nunca agiria sem pensar, se a vida de outras pessoas estivesse em jogo. 

Restavam apenas destroços próximo ao palco, onde provavelmente a bomba estava plantada. Entre escombros sobre escombros, avistei uma mulher caída e me aproximei. Peguei seu pulso e pressionei com o dedão, nada, nenhuma pulsação. Rapidamente, aproximei meu ouvido de seu peito, na esperança de detectar, mesmo que tenuemente, um batimento… 

— Droga! — Soquei o solo com frustração; aquela mulher já não tinha batimentos. Ao observar ao redor, deparei-me com corpos e mais corpos, todos provavelmente já mortos. — Cof!…Cof! — A poeira ainda está alta, invadindo minhas narinas e causando tosses. Usei a manga do terno para tampar meu nariz. 

“Porque estão só observando?” Aqueles acima do teto permaneciam em silêncio, apenas observando todo o caos abaixo. Estranho, eu não entendia a razão por trás de sua impassibilidade.

— Vincent! — Tentei contatar o Vincent na nave, afinal, nosso mechas também estavam ali no teto, mas nada, nenhum retorno. — Merda!

— Sofia! — Rapidamente tentei contatar ela, provavelmente ainda estava na nave levando a prisioneira, mas também nada. 

“Porque as portas não abriram?”

— Poul, o que está acontecendo lá na entrada? — perguntei, observando os cadeveres a minha volta.

— Parecem estar! — Poul arregalou os olhos. — Tem alguém entrando pela porta da frente.

Rapidamente joguei meu olhar para porta frontal, um ranger vagaroso soava a medida que a porta abria em uma lentidão notável, a noite já havia caído e a imponente lua de prometeus irradiava uma luz forte capaz de iluminar o céu daquele planeta com toda plenitude, o brilho forte adentrava lentamente conforme a brecha da passagem ia ficando maior. Junto à invasão dos raios lunares uma brisa leve mas gelada acompanhava. Uma figura misteriosa ainda pouco visível, seguia a luz adentrando o ambiente. À medida que a porta abria, as pessoas acuadas desde que o homem misterioso começou a invadir o local, começavam a ficar agitadas. Até que, a presença daquele homem estivesse totalmente dentro do salão.

Seu esguio corpo, banhado pela luminosidade lunar, revelava um rosto pouco envelhecido adornado por um grande bigode. Um monóculo dourado ornamentava seu olhar esquerdo, enquanto um chapéu preto coroava sua cabeça e, sua visão era pintada de vermelho.

— Boa noite, ladies and gentlemen — cumprimentando a todos, ele tirou o chapéu da cabeça, colocou uma mão sobre o peito e curvou as costas levemente. 

— Sai da minha frente! — um homem gritou; o breve momento de receio havia passado, e as pessoas começavam a ficar realmente agitadas.

— Lamento, meu senhor. — Sua cabeça estava levemente curvada, e num instante, ele virou o rosto, exibindo um sorriso sarcástico.

As pessoas estavam exaustas, ansiando por voltar para casa e escapar desse inferno incessante. Contudo, como mencionei antes, neste dia, parecia que Deus tinha abandonado a todos.

Percebi uma movimentação estranha atrás daquele indivíduo, mas já era tarde demais para compreender o que realmente estava acontecendo.

— Pro chão!! — alertei enquanto corria, buscando abrigo atrás de uma pilastra.

As pessoas ficaram confusas, mas em instantes compreenderam a situação. Três rapazes, armados com Thompsons, invadiram pela porta atrás do homem. Sem hesitação, abriram fogo, as balas cortavam o ar e ceifavam vidas indiscriminadamente. O zunido das munições perdidas ecoava ao meu lado, enquanto à minha frente, os menos afortunados recebiam os disparos, tombando com violência ao solo. Era uma cena de pura covardia.

— Poul! — contatei ele, já estressado. — Cadê a merda de nossos homens!? 

O caos ocorria, a porcaria do inferno havia descido até aquela inauguração, e nossos homens não estavam fazendo nada? 

— Eles estão mortos… Todos mortos… Merda! 

Ao escutar, meu olhar, antes luminoso, tornou-se opaco; o vazio obscureceu minha visão e enfraqueceu meus braços. Arrisquei colocar parte do meu rosto para fora da pilastra para verificar a veracidade da informação. Na minha visão, três homens disparavam impiedosamente. Aquele bigodudo estava parado, fumando um cigarro encostado na parede, e aos seus pés, todos em quem confiava. Não tive tempo para lamentações, apenas ouvi um zunido e vi o pó branco da pilastra se espalhar, quase perdendo minha cabeça.

— Aqui é o comandante Ezekiel. — Eu precisava agir; a cada segundo parado, uma vida era ceifada, e não podia permitir aquilo. — Alerta vermelho! Todos que podem lutar, sigam as instruções do oficial tático Poul. — Sabia que talvez estivesse enviando pessoas para a morte. — Foi uma honra comandar vocês.

Todos captaram minha tonalidade naquele dia; estava me despedindo daqueles que morreriam na luta. Era inevitável, havia centenas de inimigos no teto, aqueles quatro à frente e dois mechas acompanhando.

Rapidamente, o espetáculo começou; os canais de comunicação estavam abertos, e eu ouvia Poul transmitindo as ordens.

— Esquadrão águia! Permissão para disparar concedida! Trucidem esses desgraçados.

O esquadrão organizado por Poul, portando rifles de precisão, estava estrategicamente posicionado acima dos enormes lustres. Novamente, arrisquei colocar meu rosto para fora da pilastra e comecei a observar. Um zunido abafado ecoou e o primeiro homem caiu, seu sangue vermelho manchou o chão quadriculado. 

Mesmo com os gritos incessantes das pessoas apavoradas, pude ouvir o som do impacto quando seu corpo chocou-se com o solo. O homem de bigode rapidamente ficou em alerta e se escondeu; os outros dois começaram a atirar aleatoriamente. Afinal, não sabiam a origem dos tiros, até porque, os lustres proporcionavam uma boa cobertura, tornando impossível identificar a fonte tanto de baixo quanto de cima.

Apesar disso, os tiros vez ou outra encontravam-se com os cristais transparentes dos lustres, causando um barulho irritante de taças estilhaçando, seguido por uma chuva de cristal que machucava quem atingisse. Em meio à chuva de cristal e risos dos homens atirando descontroladamente, outro zunido abafado ecoou, e o segundo foi ao solo. O sangue dos caídos se encontrou. 

O terceiro perdeu aquele sorriso maléfico e vestiu uma expressão temerosa, começando a correr para fora na esperança de escapar de seu algoz, mas já era tarde. O último zunido abafado ecoou e, assim que aquele indivíduo encostou na porta, a bala atingiu sua nuca, saindo por sua testa e varando a porta. Seu sangue manchou a porta marrom, e seus miolos enfeitaram, de forma, grotesca a vista. 

“Poul, conseguiu… Ufa… Apesar dele já estar perdendo sua calma…” Fiquei aliviado cedo demais, havia me esquecido daqueles no teto, e escutei apenas o som estridente de vidros quebrando uma chuva pontuda teve início, e atrás dela o inimigos desciam a rapel. 

Ah, mais não vão mesmo. — Como não havia mais ninguém no solo, decidi agir. Puxei minha semiautomática e mirei naqueles descendo de rapel. — Todos que portam armas, atirem!!

Preparamo-nos para atingir aqueles tolos, e assim fizemos. Engatilhei, mirei, e meu dedo pressionou o gatilho. Senti uma resistência tentando puxar meu braço para trás, mas o mantive firme. Ao soar do tiro, observei minha bala percorrer toda a distância até atingir um pobre coitado descendo. O disparo atravessou seu peito, ele soltou a corda desesperadamente, e seu corpo caiu de maneira desajeitada, chocando-se seco com o solo. Provavelmente, todos os seus ossos quebraram. Testemunhei seus últimos momentos, as lágrimas em seus olhos e o último suspiro de resistência.

— Teve o que mereceu. — Podia parecer cruel, mas no final era uma questão deles ou eu. Eles não tinham piedade ao ceifar vidas indiscriminadamente e, eu não teria de ceifar as deles. — Matem esses desgraçados.

Proporcionamos uma chuva de balas, matando muitos. Estava estranhando essa facilidade, algo parecia fora do comum. Então, escutei palmas ao meu lado.

— Parabéns, meu caro. — O homem bigodudo batia palmas enquanto caminhava lentamente. — Adoro ver… Humanos, matando humanos… É esplêndido. — Ele abaixou-se próximo a um corpo morto, passando a mão em seu sangue e levando o dedo ensanguentado à boca. — Hmmmm…. O gosto humano.

— Não sei quem é você — falei enquanto apontava minha arma para ele.. — Mas é bizarro.

Haha! Bizarro…. — Ele riu, e levantou-se. — Tá aí algo que não me chamam todo dia. 

Aquele cara era muito estranho, não pela aparência, mas sim pela aura que ele emitia. Algo misterioso e ao mesmo tempo assustador. Seu olhar vermelho era intenso, parecia assassino. Senti um leve tremor em minhas mãos, algo que nunca imaginei que aconteceria.

— Ora, vejo que seu corpo está agindo sozinho. — Ele provavelmente notou meu tremor.

Firmei as duas mãos na arma, cessando o tremor. Meu olhar encheu-se de orgulho e um sorriso de canto tomou minha boca.

— Às vezes, ele age sozinho, talvez até puxe o gatilho por conta própria. — Meu olhar estava fixo nele; qualquer movimento estranho e minha arma ceifaria aquela vida. Ao nosso redor, corpos caíam aos montes, enquanto meus homens continuavam a eliminar os dele. — Seus homens estão morrendo aos montes… Vamos fazer assim: você vai embora com eles, e resolvemos isso outro dia.

Podia parecer covarde, mas não havia muito o que fazer. Os civis ainda estavam no local, a evacuação era impossível no momento. Além disso, ao matar os soldados dele, percebi que seus números não pareciam diminuir, mas nossas munições sim. E, ainda, não sabia do que ele era capaz.

— Recuso.

Não havia muito o que fazer. Ao ouvir seu "não", meu dedo pressionou o gatilho, e o tempo desacelerou. A bala vagarosamente deixava o cano, seguindo em linha reta na direção do homem. Passou pelas pessoas que ainda corriam desesperadas, e em milésimos de segundos, já estava próximo ao peito do indivíduo. Mas então…

— Sua velocidade para atirar após um “não” é impressionante. — Atrás dos dois enormes mechas, ele estava caçoando. Infelizmente, a bala acertou as placas do mecha, ricocheteando. 

— Sabe como é né, levar um não é horrível. — Atirei mais três vezes seguidas; contudo, todos os tiros ricochetearam. — Realmente são robôs gigantes poderosos.

— São mesmo. Obrigado por trazer eles até mim. — Ele abriu os braços, olhou para o céu e gritou: — Eu! Jack o estripador!

Jack, o Estripador? Que nome horrível. Na época, nem sonhava em conhecer quem era essa pessoa. "Os J era de Jack?" Então ele que havia marcado a festa inteira. Uma descoberta e tanto, mas no momento, essa informação era inútil.

— Que nome horrível o “estripador” é de mal gosto mesmo.

Ele, que ainda olhava para o céu, ao escutar minha zombaria, fechou a cara, ficando sério. Seus punhos cerraram, e lentamente seu rosto foi descendo até ficar paralelo ao meu.

— Matem-no! — ordenou aos mechas.

Os gigantes de aço avançaram velozmente em minha direção, cruzando o curto espaço físico entre nós em questão de segundos. Sem perceber, já tinha um deles à minha frente, desferindo um soco. Um golpe daquele podia ser comparado a receber um soco do Victor vinte vezes mais forte; algo que eu definitivamente não desejava. 

O punho viajou a uma velocidade incrível, mirando minha cabeça. No entanto, decidi correr na direção do punho, surpreendendo até mesmo Jack, que sorriu sadicamente. O punho aproximou-se rapidamente, podia sentir o ar quebrando em meu nariz, mas, num instante, me abaixei velozmente, deslizando por baixo do punho. 

Com a arma em mãos, atirei enquanto deslizava; todos os tiros acertaram por baixo do antebraço de metal e ricochetaram.

“Sem pontos fracos aqui”. Atirei, esperando encontrar uma fraqueza estrutural, mas nada. Habilmente, o antebraço baixou, tentando me esmagar. O piloto parecia ser bom. As linhas luminescentes das minhas pernas implantadas brilharam intensamente, e, veloz, escapei de baixo do colosso. 

Mas não tive tempo de comemorar, pois na direção que avançava, o outro apareceu. "Droga!" Seu punho viajou em minha direção, lançando meu pé esquerdo ao solo. A perna brilhou com intensidade, gerando um impulso que alterou meu curso bruscamente. No entanto, na direção que segui, De novo, o outro mecha já estava me esperando. Refiz o mesmo movimento, e na terceira vez parecia ser tarde demais. Mas então…

— Senhor! — Suzuhara surgia, já criando uma holograma de um gorila gigante, que segurou os braços de metais que estavam prestes a me transformar em patê. — Venha!

— Suzuhara! — gritei em tom aliviado. Uma luta contra essas duas máquinas me colocava em desvantagem enorme. — Tudo bem? — Assim que me aproximei dela, notei seu olhar cerrado e sua expressão sofrida. — São seus nanobots, né?

— Sim… Usar tanto… Aí! — Ela colocou a mão na testa. — Usar tantos, causa dor de cabeça…

Suzuhara podia usar seus hologramas, mas o custo por usá-los demais era alto. E, agora, ela foi obrigada a invocar um gorila gigante por incompetência de seu comandante. "Eu sou um lixo", pensei.

No final, só podia me depreciar em minha mente, pois precisava manter a confiança diante dos meus subordinados, aqueles que contavam comigo. Aproximei-me dela e segurei seu corpo, envolvendo seu braço ao redor do meu pescoço.

— Serei teu apoio. — Meu olhar se focava nos inimigos, atentos, e um sorriso leve tomava minha face. Tentava transmitir confiança para ela.. — Você consegue?

Sabia que estava pedindo demais para ela, e compreenderia se recusasse ou, dissesse que não conseguiria. Um ser humano tem limites, mesmo aqueles modificados. Contudo, era da minha equipe que estava falando, homens e mulheres determinados, que já enfrentaram muitos desafios nesta vida.

— Você sabe o que fazia para sobreviver, Zeke-san. — Um sorriso largo e confiante tomou sua face, acompanhado por um leve cerrar de olhos. — Isso não é nada.

— É tão maravilhoso, essa relação humana. — falava Jack, enquanto batia palmas. — Tenho saudades de ter relações assim. 

Olhei para ele, com o sorriso leve ainda iluminando meu rosto, enquanto meu olhar se estreitava. Com um tom sarcástico, proferi:

— E quem teria uma relação contigo? Outro maluco?

— Suas tentativas de me ferir... São... — Bateu a última palma, mantendo as mãos juntas. Em um instante, soltou as mãos bruscamente, jogando-as para os lados. — Esplêndidas! — Começou a rodar com os braços abertos, um sorriso medonho tomava sua expressão. — Humanos e sua capacidade de machucar os outros. — Deu um giro e saltou, parecendo estar dançando balé. — London Bridge is falling down…

Aleatoriamente, ele começou a cantar, era uma melodia bizarra, algo como "A ponte de Londres está caindo"; era medonho, estranho. No final, Jack revelava-se como uma figura provavelmente psicopata. 

— Maluco, o que você quer no final!? — questionei, até o momento não sabia qual era o desejo deles, o motivo por trás dessa chacina.

— Eu pessoalmente nada. — Seus rodopios cessaram, e seu olhar fixou-se em mim. — Já os outros, querem algo.

“Outros…. Sabia que não estava sozinho” Era improvável que ele estivesse conduzindo isso sozinho; havia alguém nos bastidores, possivelmente a mesma pessoa que ordenou o ataque à nossa nave na jornada até aqui. Mas quem? Quem teria interesse em uma chacina de tal magnitude? Foi que me liguei de uma coisa “Eu pessoalmente nada…”

 — Já sei que não irá compartilhar quem são esses “outros” — Olhei ao redor, o caos ainda persistia; os homens que desciam por rapel pararam, Poul incinerava alguns indivíduos, parecia que tudo estava indo bem. — Mas e você? O que quer?

— Ora, é um cavalheiro compreensivo... — Aproximou-se do mecha parado no impasse com o gorila de holograma e começou a acariciá-lo. — E... meu único desejo. — Os olhos carmesins focalizaram em mim. — É testemunhar todo ato humano. — Na mão que alisava a lataria do mecha, havia um anel, que ele notou enquanto falava, levando-o a retirar a mão e fixar o olhar no anel, girando-o no dedo. — Ódio, amor, amizade, dor, medo, desespero, sangue, entranhas e miolos. — Esticou a mão com o anel em minha direção, eu fiquei entre seus dedos; ao focar em mim, sorriu, fechando a mão e a guardando no bolso. — Tudo que caracteriza um humano; meu desejo é único e exclusivamente testemunhar…. Provar, sentir. 

Ele era um ser humano no ápice da insanidade; Jack parecia ser alguém sem qualquer chance de retornar à normalidade. Seus desejos e vontades eram de alguém que havia perdido sua humanidade há muito tempo.

— Você já não tem salvação, Jack… — Afirmei com pesar e um abaixar de olhar; ver um ser humano chegar a um estado tão deplorável era verdadeiramente triste.

— Não sinta pena de mim… Ezekiel, eu sou como eu sempre sonhei em ser.

“Ele sabe meu nome.” Talvez ele tivesse escutado, ou talvez a organização à qual ele pertencia já tivesse conhecimento prévio de mim. No final, pouco importava; no momento, precisava focar em realizar a missão. "Vou te livrar do fardo de ser assim, Jack". E o único caminho era eliminando-o.

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