Volume 1

Capítulo 6

Os Cosmos, que durante todo esse tempo tinham sido uma fonte de conforto para Alyssa, se foram há muito tempo. Tudo o que restou a ela foram Sasha e a solidão toda manhã, almoço e jantar.

Os jantares com Ophelia e Juliana eram sufocantes.

Quando a senhora da casa a viu apenas mexer na comida, falou: — Parece que isso não é do gosto de Alyssa , Leons.

— Ah, não. Mãe, isso está muito bom. — A garota deu um sorriso brilhante e colocou uma colher cheia na boca. Era quase uma tortura, fingir estar feliz e comer.

Na verdade, era o mesmo com Juliana e Ophelia. As refeições eram sempre quietas e ninguém ficava na sala de jantar por muito tempo.

Esse era o pecado original da princesa. Um pecado injusto. Um pecado indefinível que consideravam dela e que ela devia implorar perdão por ele.

As letras escarlates em Alyssa estavam aumentando em volume e a pressionando como nunca.

Logo fariam quatro meses desde que Cambridge mudou, e elas não poderiam viver em silêncio para sempre. Era a hora de Ophelia, Juliana e Alyssa voltarem para a sociedade.

Pensando em quantas pessoas falariam, Alyssa suspirou e engoliu a comida.

 

***

 

Cof, cof!

Oh, isso acontece porque você se força a comer! Eu não gosto disso. — falou Sasha, acariciando as costas de Alyssa enquanto essa vomitava e soltava um longo suspiro.

Ela se sentia mal todos os dias, então tornou-se uma rotina chegar no quarto e devolver tudo o que tinha comido. Ao mesmo tempo, quando ficou seriamente doente, Alyssa impediu a criada de chamar um médico, preocupada em incomodar os membros da mansão Cambridge ainda mais.

"Por quanto tempo eu…" Alyssa mordeu os lábios forte o suficiente para o sangue começar a brotar.

Ela não sabia porque o destino de uma filha real ser tão ruim. Na verdade, depois de vomitar tudo, Alyssa se sentiu confortável por dentro; se lavou em água morna e colocou um vestido agradável. Em seguida, vestiu um grosso xale feito de pele e um casaco.

Não importava o quão ruim estivesse o tempo, Alyssa nunca deixou de caminhar. Quando ia ao jardim, Sasha conseguia ver a sua respiração com clareza, então não tentava impedi-la.

A criada e amiga disse, colocando as luvas nas mãos da princesa: — Volte mais cedo hoje. Parece que vai nevar bastante.

— Ok, vou voltar logo.

Sasha relaxou os braços depois de ver Alyssa assentir com olhos brilhantes. Como tinha afastado as outras servas designadas para a sua senhora, era a única responsável por ela. Então, tinha que limpar o quarto, organizar os livros e papéis que Alyssa estava lendo e, por fim, conferir o closet.

O dia de Sasha estava apenas começando.

 

***

 

Quanto tempo fazia?

Eric, que olhava para o campo pela janela, estava impressionado. Devia fazer cerca de três meses desde a última vez que esteve na mansão Cambridge.

Quando foi para o sul, conheceu os cigarros baratos dos trabalhadores, e agora os segurava nos dedos, balançando-o com a maestria de alguém que fumava há anos.

— Você não tem modos na carruagem. — murmurou Pauline enquanto abria a janela, chamando a brisa fria de fora.

Logo eles chegaram ao destino.

Hahaha, desculpa aí. — riu Eric, que tinha voltado ao seu normal. Em seguida, jogou a bituca no chão, pisou nela e a lançou em uma pequena lata de lixo.

Ele parecia mais adulto agora. Não criticando o homem de 24 anos de idade. Mas, se antes era como um garoto, agora passava a sensação de um adulto verdadeiramente responsável pela família.

A morte repentina de Henry pareceu ter feito Eric crescer.

No sul, o rapaz encorajou os trabalhadores e se misturou com eles sem hesitar. Fez questão de inspecionar a mina pessoalmente, e trabalhou dia e noite.

Com isso, a busca por minério de ferro se estabilizou sem grandes dificuldades. Então, a tarefa da vez era buscar uma empresa na capital que fornecesse ferro refinado. Talvez pelo melhor desenvolvimento do distrito comercial da cidade, havia muitas companhias por lá.

Graças a isso, Eric voltou para a capital depois de muito tempo.

Mas não era como se ele pudesse ficar muito. Em uma semana ele teria que voltar para o sul para encontrar uma siderúrgica que pudesse fundir minério de ferro de boa qualidade. Tinha tanto trabalho a fazer que não fazia ideia de quando poderia descansar de verdade.

Pauline suspirou e entregou os arquivos organizados para Eric.

— Esses são os documentos que você precisa conferir. Esses aqui são a compensação da família real pela morte de Henry.

— Compensação? — Eric respirou fundo e aceitou os papéis. Eram pesados.

— A maior parte dos problemas são relacionados à princesa Alyssa. — A expressão de Pauline estava sombria.

Quando a família real enviou os documentos como aviso da compensação, ela não pôde deixar de rir. À primeira vista, eles diziam querer consolar a alma de Henry, mas o uso astuto da posição de Alyssa impediu Cambridge de receber uma retribuição decente. Se o novo casal se divorciasse, a mulher poderia facilmente devolver as propriedades para a família real.

Eric olhou para os documentos com desinteresse.

Fazia um tempo desde que ouvira o nome "Alyssa" da última vez. No sul, ele deu um jeito de evitar pensar nela, mas olhar para esse documento fez a sua cabeça doer ainda mais. Não conseguia entender o que Cambridge fez de tão ruim para a família real Avery.

Transtornado, jogou os papéis na cadeira.

A diligência tinha acabado de passar pelos portões de ferro de Cambridge e estava atravessando uma avenida quando Eric piscou e disse: — Pare a carruagem.

— O quê?

— Vou andar. Não aguento mais isso.

Pauline abriu a janelinha que dava para o cocheiro e a carruagem parou sem mais outra palavra.

Eric tirou o chapéu e o deixou no assento. Em seguida, acenou a mão levemente, como se a deixasse ir na frente.

— Venha o mais rápido possível. A senhorita estará à sua espera.

— Tá bom, tá bom.

Pauline suspirou enquanto via com tristeza o chefe sumir pelo jardim. Para se distrair, pegou o documento que ele estava olhando antes de deixar o veículo e os escritos da última linha chamaram a sua atenção.

Dessa vez, todas as compensações serão entregues sob o nome da Princesa Alyssa, que deve ser quem mais sofreu por ter se enviuvado antes mesmo de se casar. Se sua alteza deixar Cambridge, todas as propriedades de alto-nível devem ser devolvidas, e o proprietário não pode ser alterado.

"Ah… Eles não têm consciência. Como a princesa Alyssa está sofrendo mais que os Cambridge? Ela sabe mesmo sobre a morte injusta de Henry? Eles nunca se viram antes…!"

O pior nem era isso. A lista de recompensas incluía as propriedades que Henry recebeu como recompensa pela vitória na guerra. Recompensas que deviam ser dele desde o começo.

A família real estava fazendo de tudo para tornar a morte do herdeiro dos Cambridge sem sentido. Foi incrível que Eric não se jogou da carruagem depois de ler tanta bobagem.

Ugh… — Pauline cobriu a pasta com a mão áspera.

 

***

 

Eric deu uma parada na cabana do jardineiro, colocou roupas confortáveis e pegou o equipamento necessário para pesca no gelo. O jardineiro tentou segui-lo, colocando roupas adequadas para fazer companhia depois do tempo sem vê-lo, mas Eric o convenceu a mudar de ideia.

O duque seguiu para o lago com passos leves.

A pesca no gelo era bem interessante. Quebrar o gelo, pegar os peixes que nadavam por ali e os grelhar em uma fogueira. Era algo que o seu pai fez quando ele era bem novo e Eric não conseguia esquecer a alegria daquele dia.

No entanto, parecia que havia visitas no lago.

A princesa Alyssa, que estava olhando para o local, ergueu a cabeça.

Ah…! Já faz um tempo… — Ela se levantou e disse para o jardineiro loiro de olhos azuis que ela não tinha visto se aproximar.

— Sim… Eu estive fora por um tempo. — Eric respondeu obedientemente.

Na verdade, ainda era desconfortável ver a princesa. Porém, ele não queria incomodá-la, já que devia estar solitária demais em Cambridge. Por mais que odiasse a família real, Alyssa estava desconfortável, e isso o fez se sentir em dívida com ela, afinal, a garota estava sendo punida em nome da família real.

Em sua cabeça, ele sabia que não era culpa dela, mas não tinha intenção de tratá-la mais amigavelmente.

Eric continuou a trabalhar em silêncio. Encontrou um bom lugar, quebrou o gelo e soltou o anzol. Enquanto fazia isso, Alyssa o rodeava como se tivesse algo a dizer.



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