Volume 8
Capítulo 121
— Fooffofofofo!
O homem em frente a mim soltou uma risada muito peculiar e, enquanto ria, espetou um pedaço de carne com o garfo, levou-o até a boca e deu outra gargalhada em seguida.
Sendo bem honesto isto era totalmente nojento. Ele não dava a mínima quando a gordura caia de sua boca, escorrendo pelo queixo até o babador em seu pescoço, que já estava completamente imundo. Algo extremamente desagradável para dizer no mínimo.
Além disso esse cara era tão gordo, mas tão gordo que faria você pensar “Com todo esse tamanho ainda tem alguma necessidade de comer?”, mas isso seria rude da minha parte.
Não, talvez quem saiba ele coma ainda mais justamente porque é gordo.
— Mas que delícia~♪
Sim, que delícia, né?
Eu estava um pouco perplexo com a cena, mas tudo bem. Estes eram pratos que Eli e um grupo de chefes de cozinha que contratamos temporariamente fizeram com muito trabalho. Fiquei contente que o homem estivesse gostando… Mas agora que olhava melhor para o prato dele, percebi que não tinha tocado em nada exceto a carne.
Vegetais, ou sopa, ou cereais. Mesmo as batatas que Eli cultivou com carinho e cozinhou com tanto amor foram deixados de lado. Que ingenuidade a dele.
— Bem, por que Alegraden-dono da família Fonteyne teve todo o trabalho de vir até aqui no território Helan?
— Foffofofo, já que a carne estava maravilhosa, acho que, em agradecimento, devo ir ao ponto.
Alegraden pegou seu babador imundo e começou a esfregá-lo no queixo. “E dá para limpar alguma coisa com aquilo?”, foi o que pensei, então pedi para que alguém trouxesse um limpo, mas mesmo esse novo ficou imundo logo na primeira limpada.
Ei, não devolva esse negócio para o criado. Pode ficar com ele. Eu não quero mais! Sério!
Foi nesta manhã que um mensageiro veio às pressas informar que um nobre chamado Alegraden Fonteyne estava vindo nos visitar. Eles foram até arrogantes o suficiente para exigirem uma recepção extravagante e comida luxuosa em homenagem a ele.
Só depois fiquei sabendo pelo Lotson-san que se tratava de um influente nobre da capital que atuava em diferentes áreas do comércio, portanto sua visita traria um assunto importante para discutir.
Para falar a verdade, eu ainda estava com sono e irritado com aquela atitude.
“Tá querendo morrer, ô desgraçado!?”, foi o que respondi, ou ao menos pensei em responder para aquele mensageiro arrogante, mas me contive.
“Estávamos à sua espera~♪” — Queria que alguém me elogiasse por ser capaz de dizer uma coisa dessas com um sorriso.
E assim, por volta da tarde, nosso visitante chegou em uma carruagem extravagante, precisando da ajuda de duas ou três pessoas para descer. Ele era um homem com três vezes as dimensões de uma pessoa normal, tendo um monte de carne extra no queixo, barriga e quadris. Em seus braços e dedos usava acessórios e gemas, mas por causa da condição exagerada, todos encravavam na pele, dando a impressão de que iriam estourar a qualquer momento.
Cara, isso meio que assusta.
— Idiota, estou com fome. — Foi a primeira coisa que disse quando desceu.
Nem uma única palavra de agradecimento mesmo quando nós ficamos esperando por ele do lado de fora todo aquele tempo. Em resumo, a primeira impressão que ele me deixou foi a de um merda.
No instante em que entrou em nossa casa, senti que a temperatura subiu às alturas! Não, provavelmente foi a minha que subiu.
Eu não o trouxe para a sala de estar que normalmente usamos por que a passagem era muito estreita para ele, mas mais importante do que isso, não queria qualquer estranho chafurdando por lá. A mansão tinha um salão com mesas e cadeiras luxuosas, por isso a comida foi deixada nele, e foi lá onde o recebi.
Alegraden Fonteyne e seu grupo começaram a devastar a comida no instante em que se sentaram. Carne, carne e mais carne! E também foi aí que ele começou com aquela risada asquerosa.
— Kururi Helan-dono, tenho uma proposta excelente para você também, foo.
Tendo finalmente limpado o rosto, ele se virou para falar comigo. Não, espere, ainda tem sujeira na sua cara! Limpa logo essa imundice, seu idiota!
— E o que poderia ser esta excelente proposta?
Aquela coisa na bochecha dele ainda me incomodava, mas não posso ser rude também. Pelo que pude dizer, ele estava querendo fazer negócios com o nosso território e não seria bom ignorar alguém que poderia trazer benefícios para Helan. Um senhor feudal deve priorizar a prosperidade de suas terras mais do que qualquer coisa e por isso, eu deveria tratar esse cara com cortesia apesar da minha repulsa.
— Ouvi falar sobre suas antigas façanhas. Como você desenvolveu drasticamente o território Helan, que fica num fim de mundo desses. Algumas coisas misteriosas aconteceram e este lugar acabou virando uma pilha de areia por um certo período e, embora não faço ideia de como, este lugar conseguiu retornar ao seu estado natural e, logo em seguida, você apareceu novamente, Kururi Helan-dono, foo.
O homem parou de falar para tomar o chá que foi servido após a refeição. Descendo tudo goela abaixo num único gole, ele prosseguiu.
— As notícias de sua volta se tornaram um tópico popular na capital. Todos esperam que o território Helan retorne ao seu estado próspero novamente e acredito que muitos nobres virão para investir aqui também.
Investir aqui? Hmm, hmm? A primeira impressão que me deu foi bem ruim, mas, quem sabe, ele se torne um ótimo cliente?
— Hoho? Isso é bastante interessante de se ouvir.
— Não é? Os outros nobres querem ver o que acontece primeiro, mas essa não é uma boa estratégia. Isso faz com que se perca a iniciativa e por isso, embora seja aborrecedor, vim todo o caminho até aqui para Helan, foo.
— Sim, compreendo, compreendo. Fico feliz que tenha depositado sua fé em nossa terra, foo- ah! Não, quero dizer, fico feliz em ter sua confiança, sim!
Aproveitei para pegar um pouco de chá.
Tinha um monte de coisas que eu queria fazer pelo território, mas a maior parte do nosso capital tinha sido usado no projeto “Cidade dos Artesãos” por isso ter alguns nobres investindo na gente seria muito bem-vindo no futuro.
Sinto até vontade de rir também, mas acho que vou deixar isso para mim mesmo. Fooffofofofo!
— Ouça, recentemente os pirralhos da Companhia Gap me irritaram muito. Eu poderia ter levado a nossa disputa a um outro nível, mas achei que não seria vantajoso continuar. Afinal, descobri um novo lugar com excelente prospectivas, por tanto, resolvi apenas mudar os meus negócios para lá, foo.
Companhia Gap, hein?
Me lembrei do cara encapuzado que conheci na capital. Aparentemente nós éramos amigos muito próximos antes que as minhas memórias fossem perdidas e era verdade que ele não parecia um estranho para mim. Então, esses dois tiveram uma disputa na capital?
— E este seria o território Helan? Claro, estamos de braços abertos, contanto que seja uma proposta de negócios vantajosa…
Tenho planos de ser amigável com a Companhia Gap também e se ele estava vindo depois de perder a disputa na capital, esta poderia ser uma conversa difícil, então decidi colocar essa questão de lado por enquanto.
— Uma proposta vantajosa, foo. Nós lidamos com medicina, foo. E nosso nome tem sido famoso na capital, atravessando de geração em geração. Quando as pessoas ouvem falar da família Fonteyne, eles pensam em medicina e quando ouvem falar em medicina, eles pensam na família Fonteyne. Poderíamos continuar fazendo negócios na capital por toda a eternidade se não fosse pela Companhia Gap e seus medicamentos falsificados, foo.
Falsificados, é? Cara, inveja é algo tão feio de se olhar.
— Então você quer vender medicamentos aqui?
—Exatamente, foo.
Dizendo isso, ele assentiu para mim, o que era bastante difícil para alguém com um queixo gordo daqueles.
— Claro, nós lhe damos as boas-vindas. Entretanto, sobre a Companhia Gap que você odeia tanto… nós também planejamos em receber bens deles em larga escala. Se pedirem para abrir uma filial aqui, nossa resposta será um sim também e dessa forma, tanto os produtos da família Fonteney como os da Companhia Gap ficarão disponíveis no mercado. Ficará a cargo das pessoas decidir quais produtos irão comprar.
A livre concorrência seria a nossa política econômica. Quem quer que vencesse, nós sairíamos ganhando e isso era tudo o que importava. No final das contas, o melhor medicamento venceria, embora eu poderia dizer que a Companhia Gap sairia na frente já que tinha ganhado na capital.
— Era exatamente sobre isso que eu queria falar, foo. Nós não iremos competir, foo. Quero que você faça com que apenas os remédios fornecidos pela família Fonteyne sejam vendidos em Helan.
Então é isso, hein?
— E por que disso?
Ao menos iria escutar o que o homem tinha a dizer, embora tinha certeza de que não sairia nada de bom vindo da boca dele.
— Obviamente porque será mais lucrativo para nós se tivermos o monopólio, foo! Medicina é algo indispensável e se as pessoas não poderem comprar as falsificações da Companhia Gap, os produtos verdadeiros da família Fonteyne irão vender mais e ainda podemos aumentar o preço o quanto quisermos, foo. Afinal, todos precisam de remédios, foo. Definitivamente irá vender, foo.
— Haa…
No final, acabei deixando um suspiro escapar e levantei do meu assento.
Caminhando até a janela, pude ver a carruagem que Alegraden usou para chegar aqui. Quanto exatamente ele tinha gasto naquela coisa luxuosa? Contanto com as jóias encravadas no corpo dele, esse dinheiro todo vinha de esquemas como esse? Muito provável que sim.
— Alegraden-dono, se eu fizer como você diz, com toda certeza vou atrair um monte de problemas para mim.
— Do que está falando, foo? Nós vamos conseguir lucrar muito, sem sombra de dúvidas, foo. Ouça, te ofereço 30% dos lucros. Não, se me permitir monopolizar outros setores também, posso aumentar esse valor para 40%, foo.
— Já é o bastante, vamos acabar com essa discussão aqui.
Eu declarei sem nem ao menos me virar. Já estava na hora de acabar com isso e mandar ele embora.
— Por acaso você é burro, foo? Não consegue entender o tamanho dos ganhos com isso, foo?
— Você é o único burro aqui. Por causa disso que a Companhia Gap levou a melhor na capital.
Ah, merda, ferrei com tudo agora, foo!
Por que um cara asqueroso como aquele estava me chamando de burro, não consegui segurar a minha boca. Eu não queria olhar para ele agora, mas com toda certeza a sua cara devia estar cheia de ódio. Já que era assim, o melhor era continuar sem me virar. O cenário lá fora era 100x melhor de qualquer jeito.
— Fofofo! Estou furioso agora, foo. Me disseram que o senhor de Helan era um homem esperto, mas parece que não passava de um falso rumor! Vou te ensinar uma liçãozinha, foo!
— Uma liçãozinha? De que tipo?
— Meu exército pessoal estava preparado para sair em guerra contra a Companhia Gap, foo. Mas agora irei direcioná-los para cá, foo. Você vai ver o que acontece com quem me irrita, foo.
— Oho? Isso foi uma ameaça?
— Exatamente, foo! Se você tirar sua recusa agora, pode ser que eu ainda lhe perdoe.
É, isso acaba mesmo com a discussão.
Virando de volta para a sala, troquei olhares com Lotson-san, que estava do lado da porta. Aparentemente ele entendeu o que eu queria, abrindo passagem para que os servos saíssem.
A atmosfera na sala ficou pesada, permanecendo apenas eu, Lotson-san, Alegraden e seus três subordinados.
— Então você se atreve a me ameaçar…
Eu disse em voz baixa enquanto caminhava um pouco. Fui até os subordinados e pus a minha mão no ombro de um deles.
— Você tem o mesmo ponto de vista que ele?
— É-é claro! Jurei completa lealdade a Alegraden-sama!
Continuei andando e fiz o mesmo com o segundo subordinado.
— E você?
— Sem sombra de dúvidas!
Como era uma perda de tempo, desisti de perguntar ao outro. Voltei a andar devagar, deixando os meus passos reverberarem pelo salão. Algraden e seus subordinados estavam com os rostos cheios de tensão, enquanto Lotson-san permanecia completamente calmo.
Caminhei até o homem gordo no outro lado da mesa e declarei bem devagarzinho para ele.
— Ter um exército apontado para mim seria um grande problema.
— Hm? Certo! Sim, está completamente certo!
— Por isso, vamos deixar a parte chata de lado e ter vocês quatro assassinados aqui e agora.
— FOO!?
Fico contente que você tenha ficado assustado, afinal essa atuação toda é exatamente para isso.
— Eu não gosto de ser ameaçado e o que mais me irrita é gente que pensa ser o lado mais forte.
— PA-PARE JÁ COM ISSO, FOO! APENAS OUSE BOTAR UMA MÃO EM MIM E TENHA CERTEZA DE QUE NÃO ESCAPARÁ ILESO, FOO!
Alegraden deu um grito e seus subordinados se colocaram em prontidão. O espírito de lealdade com seu mestre era admirável.
Me virei para o outro lado da sala.
O que posso usar para lidar com esses caras? As cadeiras? Hmm, não parece certo. A toalha de mesa? Muito cruel. Que tal a faca? Seria um desperdício.
Foi então que percebi quatro jarros na sala.
Certo, estes eram jarros que foram entregues pelo mestre artesão que estava cuidando do projeto “Cidade dos Artesãos”. Pelo que ouvi, foram criações que os novatos fizeram, por isso não eram tão bem feitos, mas depois de lembrar que Eli queria alguma coisa para colocar flores, falei que gostaria de ter eles como lembrança comemorativa. Embora me doa ter que usá-los para algo assim, os jarros tinham o tamanho exato para o que estava passando pela minha cabeça.
Sim, a abertura dos vasos era perfeita para colocar na cabeça de quatro idiotas.
Acho que vou ter mesmo de usá-los.
Lentamente caminhei até o primeiro vaso e o levantei.
— Vou começar pelos seus subordinados.
Com o jarro em mãos, corri até o primeiro deles.
— N-NÃO CHEGUE PERTO DE MIM! SOU UM RENOMADO ARTISTA MARCIAL E VOU TE—-AAAAAAAAARRRRRRRRRRRGGGGGHHHH!!!
O primeiro idiota com um vaso na cabeça estava se debatendo no chão para tentar tirá-lo.
— Próximo.
Me virei para trás e peguei o segundo vaso. Com ele em mãos, um sorriso diabólico surgiu em meu rosto quando olhei para o segundo subordinado de Alegraden.
— HAAAAAAAAAA!!!
— NÃAAAAAOOOO!!!
Agora todos eles estava rolando no chão em agonia com um vaso na cabeça.
— E-esse tipo de conduta não será perdoada, foo! Eu tenho minhas conexões na capital, foo! Inclusive com a família Dartanel, foo! Não ouse colocar uma mão em ou então fooooooooooooooooooo!!!
A última cabeçona obesa desapareceu dentro de um jarro.
— O que faremos agora, senhor? Eli-sama ficará brava se sujarmos o carpete dela com o sangue.
Lotson-san disse com extrema naturalidade uma coisa assustadora.
— Não, sem problema. Vou deixar eles saírem hoje apenas com esse aviso. Isso provavelmente vai servir de alerta para qualquer outro idiota que vier pensando a mesma coisa.
— Então, vamos apenas colocá-los na carruagem e mandá-los de volta imediatamente. A baba deles está começando a sair pelo vaso, então é melhor nos apressarmos. Afinal, Eli-sama ficará brava se o lugar for sujo.
— Claro. Embora eu poderia ter lidado com isso de maneira mais pacífica se eles tivessem comido as batatas que a Eli fez.
Eu sai deixando o resto com Lotson-san. Ele não era só um homem esperto, como forte também, então não demorou muito até que os quatro fossem jogados na carruagem. Dando uma forte chicotada nos cavalos, a carruagem luxuosa partiu da mansão de uma vez por todas.
Lotson-san e eu assistimos enquanto eles partiam.
— Acha que eu exagerei?
Apenas por garantia, perguntei a opinião do meu conselheiro mais próximo.
— Não, o senhor nunca está errado, Kururi-sama.
— Mesmo? Achei que você diria que eu estava errado.
— Com esta medida, qualquer mosca irritante vai evitar de vir. Pode ser que tenhamos mais inimigos agora, mas todos eles não são nada diante do senhor. Mais importante, deixe estas matérias sem importância de lado e se concentre apenas no que a população quer.
— No que a população quer? Se está falando das demandas, eu já cuidei de todas elas.
— Falo de algo que não se é preciso nem mesmo requerer. Todos em Helan desejam que o senhor reviva as fontes termais outra vez. O que eles querem é o “Jovem Mestre das Fontes Termais”de volta.
— Oi?
Enquanto eu ainda estava confuso, Lotson-san trouxe uma pá de não sei aonde e a me entregou não sei porque.
— Muito bem senhor, vamos começar.
— OI???
Nota do Autor:
No próximo capítulo, o retorno da lenda!
Vamos fazer fortuna numa única tacada! O episódio de escavação das fontes termais!