Se der Ruim, Viro Ferreiro Japonesa

Tradução: Rudeus Greyrat


Volume 7

Capítulo 111

A frequência com que Barol-san e Riot visitam a loja tem aumentado dia após dia. Isso em si não é um problema, mas tenho a impressão de que estão ficando um pouco acomodados demais. Outro dia mesmo fiquei bastante confuso quando o velho Barol veio fazer uma reunião de negócios com os seus clientes, ou quando Riot deu o nosso endereço para receber uma encomenda.

Para piorar, hoje, quando Eli apareceu com algumas camas novas para que os dois pudessem passar a noite aqui sempre que sentirem vontade, não consegui esconder o meu espanto.

Parece que uma família está sendo construída aqui. Uma família um pouquinho estranha…

— De qualquer forma, esse país tá ficando bem agitado ultimamente.

O velho Barol estava conversando com Eli durante o tempo livre deles. Decidi então tomar uma pausa enquanto os ouvia.

— Aconteceu alguma coisa recentemente?

— Hmm, como estou com um tempo livre, conversei com um amigo meu que é mercador ontem. Eu num prestei muita atenção, mas parece que o Território Helan, que fica lá pras bandas do leste, tá passando por problemas políticos.

Eli normalmente aprecia essas fofocas corriqueiras com o velho Barol, mas hoje ouvindo um nome familiar, ela fez uma expressão severa. Eu mesmo não pude deixar de ter a mesma reação, considerando o tópico da conversa. Em todo caso, Barol-san esse tempo livre todo que você está tendo não é por vir todos os dias à nossa loja, não é? Espero que não esteja negligenciando seu próprio trabalho.

Kururi Helan…

Esse parece ser meu verdadeiro nome. Isso se assumirmos que a história daquele tal de Rail seja verdade, mas tenho a impressão de que tudo se encaixa perfeitamente.

Levando em conta as minhas habilidades de ferreiro ou a forma como todo mundo acha que Eli e eu sejamos nobres, mas, mais do que isso, meu corpo também parece estar acostumado com esgrima e magia, coisas que nobres normalmente estudam. Se juntarmos todos esses fatos, o mínimo que podemos dizer é que a história de Rail é bem plausível.

Agora, tendo o sobrenome de Helan significa… Território Helan e Kururi Helan…

Embora eu não tenha dito nada a ela, Eli parecia ter tido os mesmos pensamentos. Barol-san provavelmente não estava ciente de que essa pequena fofoca teria chamado a nossa atenção.

— Ouvi falar que teve uma enorme calamidade uns três anos atrás, sabe? A história começa daí e vai até os dias de hoje.

Três anos atrás, hein…

Com tudo isso, as similaridades entre mim e esse Kururi Helan eram tantas que tive vontade de cobrir as orelhas para não ouvir nada. De acordo com Poly-san, Eli e eu tínhamos sido trazidos para cá por volta de três anos atrás também.

— Naquele tempo, esse incidente causou uma bagunça enorme e um monte de rumores chegaram aqui. Embora nada que fosse provado pelo que ouvi.

— Que tipo de rumores vieram?

— Num lembro bem, foi mal por isso. Eu só ouvi assim de relance, sem ligar muito.

Então nada sobre os rumores, hein? Bem, não estou com vontade de sair por aí investigando, apesar de que estou meio curioso.

— Ah, ouvi sobre isso também! — Riot, que estava fazendo a sua prática de esgrima, entrou na conversa.

Aqui está ele, o nosso garoto bem informado!

— Se me lembro bem, o filho do senhor daquela terra usou um feitiço perigoso que causou uma confusão ou coisa assim. Se bem que isso é só uma fofoca que tem circulado e minha mãe não acredita nisso. Ela diz que o que as pessoas de Helan falam faz mais sentido.

— E o que as pessoas de Helan falam? É diferente dos rumores? — Eli decidiu perguntar.

— Sim, pelo que me lembro era algo mais ou menos assim: O filho do senhor, aquele que disseram ter causado uma confusão, na verdade era um excelente governante. Parece que era ele quem mandava em tudo e, antes da tragédia, Helan tinha prosperado como nunca antes! Hã? O que foi? Vocês dois parecem estar ouvindo muito a sério, não?

Ugh, nada bom, nada bom. Vamos perguntar mais com uma atitude relaxada. Isso, sorria, sorria!

Aparentemente, Eli teve a mesma ideia e começou a sorrir de maneira totalmente bagunçada. Seria bom manter em mente daqui para frente que ela era péssima nesse tipo de coisa. Embora eu provavelmente fosse à última pessoa a poder criticá-la.

— Ah, é mesmo. Acho que muita gente comprava espadas de lá na época. Eles estavam com a economia bem próspera.

— Isso! Minha mãe falava bastante sobre Helan. Ela me dizia para aprender com ele caso acabasse herdando o território Noris no futuro e por causa disso não acreditava nos rumores daqui, só dando ouvidos ao que vinha da própria população de lá. Foi assim que acabou ouvindo que o responsável por dispersar o feitiço que arruinou o território foi o próprio filho do senhor feudal. Todo mundo em Helan acredita que esse filho sacrificou a própria vida para salvar aquela terra.

Qual das duas será a real? Kururi Helan foi um herói ou um imbecil? Se eu realmente sou esse Kururi, sinceramente prefiro acreditar no que a população diz!

— Os dois rumores são bem extremos um do outro. Queria saber qual dos dois é verdade.

E naturalmente, Eli também estava relutante.

— A gente realmente fica em dúvida, não é? Na verdade, dizem que tinha uma garota junto a ele quando se sacrificou. Isso inclusive se tornou um conto de fadas no território, que acabou até mesmo virando um livro ilustrado. Eu o li um bom tempo atrás quando minha mãe comprou um volume. Era uma história bem comovente e, talvez por causa disso, acabei concordando com a opinião dela sobre a versão do povo de Helan.

Eu também estou de acordo com você, meu pequeno Riot! Então, tinha uma garota me acompanhando naquele tempo hein…? Estou quase tomando essa versão como o fato real.

— Sobre o nome dessa garota, o livro falava alguma coisa?

Eli perguntou ao Riot, tão natural quanto pode com aquele sorriso terrivelmente desengonçado que ela fez.

— Érrr… como era mesmo…? Já faz mais de um ano que li, então, eu… ah, era parecido com o seu Eli-san! Tudo bem se eu trouxer esse livro amanhã?

— Não, está tudo bem.

Ohoho? Se o nome dessa garota for Eliza… será que foi uma má ideia queimar a carta que o Rail deixou para nós? Nah, melhor esquecer daquilo.

— Agora, sobre a situação no território Helan, tudo bem para o senhor continuar a história, velho Barol?

— Por mim tudo bem, mas tu parece estar sabendo até mais do que eu. Se tu continuar contando, pode ser que descubro alguma coisa nova.

— Se o senhor insiste. Nesse caso, vou contar tudo que sei sobre o território Helan!

Como esperado de uma criança nascida na nobreza!

O pequeno Riot decidiu começar falando sobre o atual governante da região.

— Apesar do senhor feudal ainda estar vivo, quem gerencia o território no momento é o primeiro príncipe Arc-sama, já que o senhor de lá tem se recusado em cumprir com seus deveres. O boato de que quem realmente cuidava de tudo era seu filho é bem conhecido, então faz todo sentido que ele não queira assumir as responsabilidades. De qualquer forma, depois que o príncipe se casou com uma plebeia no ano passado, os dois parecem estar se alternando no gerenciamento do território. Embora o príncipe tenha uma reputação excelente, por causa desse casamento, acabou trazendo para si a insatisfação dos nobres, mas isso é assunto para outra hora.

O príncipe se casou com uma plebéia, hein? Deve ter sido uma provação sem tamanho para conseguir isso. Só de pensar em quanto sofrimento ele deve ter passado faz com que meus olhos se encham de lágrimas.

— A cerimônia de casamento foi incrível. O príncipe mandou distribuir bebidas em todo o país para que todos pudessem brindar com ele e isso fez com que a população ficasse do seu lado, fazendo com que os membros da nobreza tivesse que calar a boca. Ohohohoho!

Destruiu bebidas no país inteiro… que cara mais extravagante. Como não tive como aproveitar nada, verei se consigo uma garrafa depois.

— Foi um festival e tanto na época. Além disso, distribuíram doces para nós crianças também. Teve essa companhia recém-fundada que gastou uma fortuna na celebração o casamento. De qualquer jeito, muita coisa aconteceu e esses dois estão dando suporte ao território Helan, mas o príncipe não pode ficar governando lá para sempre. Afinal, ele é o príncipe herdeiro e precisa ficar na capital. Depois de três anos afastado, isso já não pode mais ser prolongado e um novo senhor feudal terá que ser apontado para Helan. Por causa disso, começou uma disputa política na região.

Hoho, é uma fofoca num nível completamente diferente da que ouvimos do velho Barol. Como esperado do meu discípulo! Eu deveria fazer um elogio ao rapaz e, como recompensa, presenteá-lo com um treinamento especial totalmente novo.

— O senhor feudal que se recusa a governar, o príncipe que deve retornar a capital e um novo governante recém-chegado. Nossa, isso cheira a uma bela disputa.

— Minha mãe diz a mesma coisa. E sabe o que mais? A situação é ainda pior.

— Eh, ainda pior!?

— S-sim. Errr, Eli-san, Shishou, vocês estão bem? Já faz um tempo que estão com esse olhar meio para baixo. Não tem com que se preocupar, o território Helan ficam bem longe ao leste. Duvido muito que a influência disso chegue até aqui.

Com toda certeza, definitiva e absolutamente? Valeu por tentar alegrar a gente, mas ainda assim não conseguimos deixar de ficarmos tristes por isso. A sensação já não é mais de que esse seja o problema de algum estranho.

— Já está decidido que o príncipe irá retornar, mas a confusão mesmo é sobre o novo senhor feudal. Depois de calar qualquer opinião contrária, a família Dartanel conseguiu o direito de governar o território, só que de repente a Companhia Gap levantou sua candidatura, colocando uma quantia assombrosa de dinheiro nisso. Pelo que ouvi falar, o chefe dessa companhia é um nobre, fora que com todo esse dinheiro, ele se torna um candidato proeminente também.

— Dinheiro é mesmo uma coisa incrível. De qualquer forma, todo mundo parece estar interessado no território Helan, hein?

— Sim, embora a companhia Gap tenha sido fundada bem recentemente, eles já acumularam um capital considerável. Ah, sim! Sobre o que acabou de dizer, Shishou, minha mãe tem pensado na mesma cosia. Sobre o porquê da Família Dartanel e a companhia Gap estarem tão interessadas em Helan.

— Não seria porque a economia local é boa?

—  Se fosse três anos atrás sim, mas agora definitivamente não.

— Então pode ser que haja algum tesouro escondido ou coisa assim.

— Ah, eu pensei nisso também! Ou melhor, esse é um rumor que tem se espalhado pela capital.

É realmente engraçado quando uma besteira qualquer que se fale acabe acertando em cheio. Hmm, um tesouro escondido em Helan, hein…

— “Que talvez o filho do senhor feudal tenha escondido um tesouro enorme em algum lugar do território”, ou coisa assim tem sido espalhado.

Ei, ei, ei, você não fez uma coisa dessas, não fez, Kururi Helan??? Vamos memória, está na hora de você voltar agora!

— Bem, isso não passa de rumores, mas por que mais iriam querer um lugar desses? De qualquer forma voltando ao tópico, enquanto os candidatas proeminentes iam argumentando, a população do território começou a levantar vozes de protesto. O príncipe governando o lugar temporariamente não era um problema, mas se forem chamar por um novo senhor feudal aí é outra história. Minha mãe disse que não seria estranho que sangue começasse a ser derramado.

— Mesmo que se oponham, quais chances eles têm? Até o príncipe não conseguiu, certo?

— O representante deles escreveu uma petição ao reino dizendo que eles irão esperar até que o filho do senhor feudal retorne. Até lá, eles não receberão um novo governante.

— Que pessoal mais teimoso.

— Verdade, mas isso só mostra como o falecido filho era incrível. No entanto, eles não podem ficar esperando para sempre por alguém que já morreu. Espero que isso não acabe em um conflito militar…

Um conflito militar… Não consigo imaginar qualquer chance de prosperidade se isso acontecer.

— Não há qualquer outra solução?

— Por enquanto, só podemos rezar para que não termine em guerra.

Cara se eu não fosse o tal Kururi Helan em questão, eu poderia apenas dizer “Que situação difícil” e deixar as coisas fluírem… haa… que problemão.

— Digamos que… se, estou falando de algo puramente hipotético, tá?

— Hm? O que foi, Shishou?

— Digamos que e se o tal filho estiver vivo?

— hmm… tudo acabaria bem, eu acho? Hahah, embora o pobre coitado teria um trabalho dos diabos então hahahaha.

— Ahahahah…

Que tipo de cara será que estou fazendo agora? Espero que não esteja evidente que minha alma está escapulindo da minha boca agora.

Terminada a conversa, Riot saiu para treinar novamente, enquanto dizia “Embora seria um milagre que a população furiosa não linchasse gritando ‘onde você esteve durante três anos, seu idiota!’ ahuahauahu”. Ele parecia bem alegre depois de colocar para fora tudo aquilo que queria dizer.

Quanto a Eli e a mim, a conversa colocou as peças do quebra-cabeça no lugar, nos deixando com uma sensação ainda mais sombria. Agora não tenho escolha senão admitir que provavelmente sou o verdadeiro Kururi Helan e Eli é na verdade Eliza Deauville. Ela permaneceu ao meu lado e acabou morrendo comigo três anos atrás. Ou pelo menos é o que o mundo inteiro pensa.

Estariam os rumores da capital corretos… ou seria a população de helan…? SÓ DESSA VEZ! VOU CONFIAR EM VOCÊ, EU DO PASSADO!

E assim, Barol-san e Riot partiram, enquanto Eli e eu permanecemos estranhamente calados. Tentamos fingir um pouco de ânimo, mas infelizmente não nos tinha sobrado qualquer força de vontade para isso, mostrando quão pesado foi para nós a história que Riot contou.

Por causa disso, eu tomei uma decisão, mas irei deixar para falar com Eli sobre isso quando estivermos a sós.

 

◇◇◇

 

Hoje, Eli estava preparando o jantar. Recentemente temos saído muito para comer, mas parecia que ela realmente queria preparar alguma coisa esta noite. Eu encarei a fila de pratos extravagantes que estavam sobre a mesa. Eli era muito boa na cozinha, os seus pratos foram bem elaborados e se podia notar a afeição que tinha colocado quando preparou a comida.

— O seu rosto diz que tem alguma coisa para me falar.

— Hmm…

— Vou te ouvir enquanto comemos. Seria um desperdício deixar esfriar, não acha?

— …Sim.

O ensopado de abóbora que Eli fez estava divino. Ah, nem acredito que vou ter que me despedir desse sabor por um tempo…

— Eli, preciso te contar uma coisa.

— É sobre o que Riot contou, certo?

— …Certo. Talvez eu realmente seja esse Kururi Helan… Não, talvez não, eu sou o Kururi Helan.

— E eu Eliza Deauville.

— Sim. Eu fiquei muito feliz quando você disse que adorava a sua vida aqui e também sou muito feliz em poder trabalhar. Se possível, quero continuar vivendo assim.

— Mas, mesmo assim, você vai partir, não é?

— …Sim, vou partir. Quero confirmar minha verdadeira identidade e acabar tudo aquilo que deixei inacabado.

— Moran-san havia dito que já completamos os nossos deveres e mesmo Rail-san disse que não falaria sobre nós… ainda assim você precisa ir?

— …Sim.

— O que você vai fazer se sua identidade for a do filho idiota que os rumores da capital dizem? Pode ser que acabe se tornando uma pessoa pior.

— …Qual dos dois você acha, Eli? O idiota da capital, ou o herói de Helan?

— Eu não sei. Qualquer um que seja, não me importo, mas, se me permite dizer, penso que ser um ferreiro lhe combina muito bem.

— Hmm, claro.

Eu penso o mesmo. Coisas como ser um nobre ou o filho de um senhor feudal não me parecem coisas reais para mim. Ser apenas o cara que gerencia uma ferraria junto com a Eli me parece muito mais concreto.

— Amanhã cedo irei a capital me encontrar com o Rail, o Príncipe e com o meu passado.

— Entendo, mas, posso confirmar uma cosia?

— Claro, o que é?

— Você… vai voltar, não vai?

— Claro que vou. Acha que esqueci que metade dessa loja faz parte das minhas terras?


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