Volume 6
Capítulo 99
Lutei contra a sensação de ser arrastado para dentro de um buraco negro e usei todas as minhas forças para conseguir me mover. Embora se possa dizer que apenas tive a impressão de que me movi. Quando finalmente consegui mexer uma parte do meu corpo foi que minha consciência despertou. As folhas das árvores flutuavam acima da minha cabeça. Parecia que eu estava em uma densa floresta de natureza exuberante.
“Ah, é verdade… Depois de me encherem de comida, eles me abandonaram nesse círculo mágico, não foi? Pode ter sido para que eu aprendesse a etapa de expulsar a energia mágica, mas aquela dupla de velhos me enganou direitinho.”
Meu corpo estava cansado e eu não tinha qualquer força restando. Pensando bem, o meu estômago estava completamente vazio. Talvez esse cansaço fosse por causa da fome. Enquanto ainda olhava para cima, um som de folhas sendo pisadas veio de trás de mim. Eu estava muito cansado para me levantar, então apenas virei a cabeça para ver o que era.
…Foi Eliza. Ela estava sentada ao meu lado e por algum motivo, segurava um sanduíche nas mãos. Percebendo que eu tinha acordado, seus olhos se arregalaram um pouco, mas ela continuou a comer o sanduíche.
— Eliza… você ficou aqui cuidando de mim todo esse tempo?
— Ah, Não. Você dormiu o tempo todo, então fiquei jogando com os outros. O Moran-ji disse que você deveria acordar em breve e me pediu para lhe trazer um pouco de comida. É por isso que estou aqui.
“Ahh, entendi. Ela estava no jogo de tabuleiro, hein… Ah, tanto faz.”
Tive a sensação de que dormi por um longo tempo, então, na verdade, seria um absurdo ter esperado que ela aguardasse esse tempo todo.
— Certo, então você me trouxe alguma coisa para comer. Obrigado Eliza, você não faz idéia de como estou com fome agora.
— Kururi-sama… Eu… eu sinto muito… Temo que posso ter comido o seu sanduíche.
“POR QUE, ELIIIIIIIIIIIZA???”
— Fiquei esperando aqui por tanto tempo que acabei por impulso… Eu sinto muito. O sanduíche estava tão delicioso que não consegui me controlar. Não tinha nada que pudesse me impedir…
Ela olhou para o chão com uma cara tão triste que me senti muito mal por culpá-la sendo que ela teve todo o trabalho de trazer comida até aqui. Eu nem estava tão bravo assim mesmo.
— Está tudo bem, Eliza. Vou comer alguma coisa quando voltarmos para a casa de Petel. Odeio ter que pedir isso, mas teria como você me dar uma mão? Eu mal posso ficar de pé agora, muito menos conseguir andar sozinho.
— Sim, claro! Terei prazer em ajudá-lo assim que terminar de comer o sanduíche!
“DÁ ISSO PRA MIM, DIABO!”
Se bem que talvez não seja uma experiência tão ruim… A Eliza está fazendo uma cara tão fofa enquanto come. Seu sorriso é tão lindo… Foi até engraçado a reação dela quando o sanduíche entalou na garganta.
— Heeh.
— Hã? O que foi?
— Não, é só que você é tão determinado. É divertido ficar te olhando assim, sabe?
— Mesmo? É tão engraçado assim? Bem… se isso te faz feliz, então pode me olhar o quanto quiser!
Rimos o caminho todo até a casa de Petel. Caminhar colado nela enquanto sentindo o seu cheiro foi muito agradável. Fico impressionado que alguém consiga se manter perfumado mesmo em um lugar tão estéril como esse. Poderia ser algo a ver com seus genes? A nível celular? Sim, definitivamente é algo genético! Não sei porque eu estava me sentindo orgulhoso, mas isso só mostrava como ela cheirava bem.
— A verdade é que… eu falhei na hora fazer o sanduíche de hoje. Tentei prová-lo um pouco e… ah não! Tinha um gosto horrível! Então pensei, “Não posso deixar o Kururi-sama coma isso”…foi assim que decidi comê-lo sozinha.
— Por acaso não sabe da minha capacidade de comer qualquer coisa que você fizer e ainda achar delicioso?
— Fufufu… Vou me lembrar disso da próxima vez.
◇◇◇
Quando chegamos à casa de Petel, pude comer uma sopa caseira que a Eliza preparou para mim. Comer algo quente depois de acordar é ótimo. A comida cai muito bem no estômago. Enquanto eu comia, os velhos Moran e Petel me explicaram o resultado da investigação deles. Parecia que o terceiro passo tinha corrido bem, mas também me falaram um detalhe chocante.
— COMO É QUE É!? EU DORMI MESMO POR UMA SEMANA INTEIRA!? SÉRIO!?
— É isso mesmo, Jovem Mestre. Sendo bem sincero, parecia até que o senhor estava morto.
“Ei, qual é a dessa comparação sinistra!? Bom, pelo menos eu estou bem.”
— Também achei que você tivesse morrido, nari!
“Ele realmente não sabe escolher bem suas palavras…”
— O senhor não deveria fazer gente velha como nós se preocupar tanto, Jovem Mestre.
Eles podiam até dizer isso, mas não era como se eu pudesse fazer alguma coisa. Antes que eu percebesse, fui entupido de comida e depois me colocaram para dormir.
— Ficamos tão preocupados que até pedimos para Eliza-sama tentar lhe despertar com um beijo. Mas depois de pensar logicamente, vimos que não haveria qualquer propósito.
“POR QUE SÓ USAM A CABEÇA QUANDO NÃO É PRECISO, HEIM???”
— De todo modo, fico feliz que tudo deu certo. Tudo está bem quando acaba bem.
“Ah, ele vai lá e termina o assunto como se não fosse nada, mesmo depois de ter feito uma sacanagem monstruosa comigo.”
— Talvez você esteja certo. Já que tudo foi tão bem, deveríamos aproveitar o momento e ir direto para o quarto passo. Moran-ji, podemos fazer isso agora?
— Claro, sei o que estou fazendo. No entanto, seria bom que o senhor descansasse um pouco mais. A última parte será bastante cansativa também.
“Cansativa, hein… essa não é a parte de absorver a energia mágica com a propriedade da morte? Não sei qualquer detalhe, mas será intensa… Vão me mandar tomar veneno?”
Eu me preparei para começar o quarto passo com a mesma mentalidade de um rato de laboratório. Depois disso, nem Petel, nem o Velho Moran disseram mais nada para mim. Tinha mesmo alguma razão para não me dizerem nada específico? Por outro lado, percebi que os dois cochichavam muito com Eliza. Talvez a estivessem dizendo alguma coisa importante. Poderia ser sobre a magia usada para a próxima etapa? Eu entendi que esse era o caso alguns dias depois. Eliza me contou, depois que os dois confirmaram que minha condição de saúde havia voltado ao normal, que seria o papel dela liberar o feitiço com a propriedade da morte.
— Vai ser algo muito perigoso. Enquanto você dormia, eu aprendi sobre todos os perigos que envolvem este feitiço. Na pior das hipóteses, é bem possível que você morra durante esse passo…
Eu já pressentia que seria assim e agora estava confirmado. Minha mente estava preparada para encarar qualquer desafio, não importava o que fosse. No entanto…
— Eu… eu não posso deixar que você assuma um fardo tão pesado assim, Eliza…
— Não Kururi-sama. Se algo der errado, você pode acabar morrendo. Não permitirei que mais ninguém se encarregue de usar esta magia.
Eliza me encarou com olhos inabaláveis. Ela era tão linda que eu me sentia sendo sugado enquanto a olhava de volta, mas agora, a força de sua determinação era ainda mais forte que a sua beleza. Em minha mente, comecei a pensar que talvez fosse melhor deixá-la se encarregar dessa missão. Não, eu queria que ela fizesse isso. Eliza era a única pessoa que eu deixaria cuidar do último passo.
— Se… Se é para o Kururi-sama morrer! Eu mesma irei matá-lo!
…E foi isso o que ela disse. Soava meio que assustador a forma como tinha falado, mas a intenção era boa, portanto o melhor seria não levar tão a sério.
— Isso é algo que ninguém vai me persuadir! Se for preciso, vou espremer até seu último suspiro com minhas próprias mãos!
“Ei, já não estamos passando dos limites aqui??? A intenção é que eu saia vivo disso e não para tentar me matar!!!”
Talvez fosse melhor evitar discutir por besteira. Caso contrário, a resolução de Eliza poderia seguir uma direção ainda pior.
— Hohoho, mas que cena tocante. Houve um tempo em que também tive uma paixão tão ardente.
“Você só pode estar tirando com a minha cara! Eu duvido que a garota que você gostava tenha te declarado sua intenção assassina!”
— É quase ofuscante, nari. Isso me faz relembrar do passado, nari.
“Talvez eu simplesmente não soubesse disso e esses dois tiveram casos de amor tão perigosos quanto o meu… Não, não pode ser! Não tem como isso ser normal!”
— Não é tão difícil usar o feitiço com as propriedades da morte. Eu pude aprender enquanto você dormia.
— Entendo. Acho que vou deixar tudo para você então.
— Sim, mas também há algo que você deve fazer também. As pessoas mantêm seu poder constantemente ativado para resistir a qualquer feitiço, especialmente aqueles com efeitos negativos. Então a magia com as propriedades da morte normalmente teria força zero quando atingisse uma pessoa comum.
— Em outras palavras, preciso me livrar dessa resistência. É isso?
— Exatamente. Você precisa acreditar em mim e aceitar tudo.
Concentrei-me na fina camada de magia que me cercava e a trouxe de volta para dentro do meu corpo. Mesmo em lugares onde eu normalmente não estava consciente, toda a magia foi trazida e contida. Nesse estado, até mesmo o menor dos feitiços com as propriedades da morte desencadeado por uma pessoa mal-intencionada, me mandaria para a vida após a morte. Ou pelo menos era o que eu sentia, mas a outra pessoa era Eliza e sabia que podia confiar nela. Embora tenha sido um pouco tarde, comecei a pensar, e se Eliza fosse à única pessoa no mundo cuja magia com as propriedades da morte eu poderia absorver sem resistência? Se fosse o velho Moran, Petel ou até mesmo outros que não estavam aqui, como Iris e Lahsa, eu provavelmente, mesmo que por um momento, mostraria sinais de resistência quando desencadeassem a magia.
No entanto, eu não faria tal coisa com Eliza. Com ela, eu poderia me entregar por completo, afinal ainda não lhe contei claramente os meus sentimentos. Eu estava apaixonado por ela e adorava sua essência, sua verdadeira essência. Não tinha como meu corpo rejeitá-la. Ela disse que se fosse para eu morrer pelas mãos de alguém, que ao menos fosse pelas mãos dela. Da mesma forma, se eu tivesse que morrer, queria que fosse nos braços de Eliza. E se, e se não fosse uma coincidência que nos encontramos aquele dia na floresta? O nosso encontro aconteceu porque tinha de ser assim. Nesse caso, então tudo acabaria bem…
— Eliza, quando você estiver pronta, pode lançar o feitiço. Eu já estou preparado.
— Sim…!
Eliza começou a recitar o encantamento. A magia que começava a emergir não era muito grande, mas tinha uma aparência sombria como nunca tinha visto antes. Então, essa era a magia com as propriedades da morte… Quando o feitiço ficou completo, uma esfera negra apareceu ao meu alcance. Ela iria lançar isso em mim?
Relaxando os meus músculos, esperei por esse momento. Ao comando de Eliza, a esfera negra disparou em minha direção a grande velocidade e me atingiu no centro do peito. Quando entrou em mim, pude sentir que a tinha sido absorvido em um instante.
Meu corpo estava frio, muito frio, como se estivesse deitado na neve durante o inverno. Não havia sensação na ponta dos meus dedos, mas eu podia pelo menos ficar de pé. Não era uma sensação de completa frieza. No fundo, havia um calor fraco que emana. Lá, eu podia sentir toda a emoção que Eliza havia colocado nesse feitiço.
Uma vez que me acostumei com aquele estado, pouco a pouco fui capaz de absorver o que estava acontecendo ao meu redor. Eliza estava olhando para mim com uma expressão preocupada. O velho Moran e Petel estavam encharcados de suor frio. Foi uma reação muito assustadora.
— E…liza. Está tudo bem. Não vou morrer por causa do seu feitiço… eu prometo. Além disso, não posso partir ainda. Há muitas coisas que preciso fazer!
Depois de colocar essas palavras para fora, perdi toda a habilidade de controlar meu corpo, como se meu sangue tivesse sido drenado. Foi apenas um segundo de tontura, mas me fez cair para trás. No entanto, não houve impacto. Eliza me pegou antes que eu caísse no chão.
— Eu… sinto muito. Como homem… eu que deveria estar te apoiando…
— …Hoje será apenas uma exceção.
— Obrigado…
O Feitiço Supremo de Helan estava completo.
“Agora eu sei. Um redemoinho muito maior do que qualquer coisa que já conheci acabou de despertar em mim.”
Com isso, finalmente concluímos os preparativos necessários para iniciar a batalha contra a maldição.
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