Volume 5
Capítulo 89
Perspectiva do Rail.
— Rail Rain... o que trás alguém tão importante quanto você aqui e, acima de tudo, carregando um passe real consigo? Há alguma questão importante envolvendo a nobreza?
Não pude deixar de sentir um desconforto com a falta de maneiras dos guardas. Estes eram homens que abandonaram o seu dever de monitorar os prisioneiros e agora, se refugiavam na segurança da superfície. Apenas por isso já seria motivo suficiente para desmerecerem o meu respeito…
— Seria melhor ficar fora disso. Tenho certeza de que você odiaria se queimar por algo que não é da sua conta, não é mesmo?
Havia mais um motivo para o meu mal humor. Aparentemente, existem pessoas aqui na Prisão de Kudan envolvidas com a família Dartanel, incluindo guardas e até mesmo alguns detentos. Para ser sincero, nós fomos muito ingênuos. Esse tipo de coisa deveria ser o esperado. O Príncipe Arc me enviou assim que descobriu e o Príncipe Lahsa me implorou com grande pesar para apurar a situação do Kururi-kun.
Agora pode ser muito tarde. Eu irei aceitar qualquer punição sem reclamar, mas se por um milagre ainda houver algo que eu possa fazer... Farei qualquer coisa, independente das consequências.
Lá na superficie, o Príncipe está fazendo tudo ao seu alcance para ajudar o Kururi-kun. Quanto a mim, farei tudo o que for necessário para protegê-lo aqui em baixo.
Pensamentos negros corriam à solta em minha mente à medida em que o elevador ia descendo no abismo da prisão.
— Você vai precisar deixar sua espada aqui… — O guarda devia ter percebido a minha ira já que ele não me amolou mais sobre isso.
Depois que desci, ele falou alguma coisa sobre não querer ficar ali por muito tempo e rapidamente retornou a superfície. Claramente faltava ordem nesse lugar, o que aumentava ainda mais o meu sentimento de desprezo.
◇◇◇
O clima na prisão não era tão árido como eu havia escutado. As pessoas diziam que era uma terra seca e opressora, mas inesperadamente senti uma umidade refrescante. Será que havia chovido na noite passada? Pelo que ouvi, só chovia uma ou duas vezes por ano… Mais importante, pude ouvir vozes animadas vindo de algum lugar. Os rumores diziam que os prisioneiros viviam em amargura ao ponto de apodrecerem ainda vivos... Será que estava acontecendo algum tipo de briga ou discussão?
— Ei, você é novo por aqui? Nunca te vi antes!
Carregando consigo uma picareta e com um rosto de alguém que passou a maior parte da sua vida nessa prisão, um homem veio falar comigo. Sua aparência era sinistra, mas havia um estranho senso de pureza emanando dele. No entanto, não havia engano de que se tratava de um prisioneiro.
Um prisioneiro carregando uma arma... este lugar era mais caótico do que eu imaginava.
— Diga-me, você sabe onde fica a cela número 136?
— Ho? Você é bem corajoso para um novato! Mas seria bom descer do salto enquanto pode.
— Apenas responda o que perguntei.
— Como quiser então. Apenas siga direto por esse caminho, mas eu não vou poder te acompanhar até lá agora porque essa é uma hora especial.
Uma hora especial? Algo nessas palavras me causou um incômodo. O que será que acontece durante essa hora?
Pensamentos sombrios correram a solta em minha mente outra vez, por isso decidi me apressar. Após alcançar a cela de número 100, capturei outro prisioneiro para interrogá-lo.
— Hã!? Você quer chegar à cela 136? Para quê? Somente os maiorais são permitidos irem até lá…
— Apenas responda a pergunta. Minha paciência não é das melhores.
— Eh? Ah... deve ser em algum lugar ali à direita. Mas eu não acho que você deva ir até lá... ao menos não a essa hora.
Será que todo mundo sabe sobre a cela número 136!? Fiquei sabendo que havia pelo menos 300 prisioneiros... poderia ser que todos eles estão cientes do Kururi? Se esse for o caso então é realmente muito tarde…
Eu apertei o meu passo até que suor começou a escorrer em meu rosto e as batidas do meu coração se tornaram audíveis. Minha mão estava coçando para desembainhar a espada em minha cintura. Não importava quem, tudo o que eu queria era cortar o primeiro que viesse a frente. Será que, a menos que o pior dos meus pesadelos se torne realidade, poderei conter a minha ira?
Cela número 136.
Finalmente encontrei a cela que estava procurando. Enquanto todas as demais possuíam apenas barras de ferro, esta era a única com painéis de madeira. Era como se o estivessem prendendo lá... Eu sinceramente espero que isso seja tudo o que fizeram a ele. Do lado de fora da cela, havia cinco brutamontes guardando o lugar. Obviamente eu não esperava que eles me permitissem passar sem uma luta.
— Ei, quem é você? Ninguém pode entrar a essa hora!
— Por quê?
— Porque estamos de guarda, idiota! Agora dê o fora daqui!
Então eles realmente estavam guardando o lugar. Todos começaram a me encarar de maneira ameaçadora, mas eles realmente acham que isso é o suficiente para assustar a mim? Como se esse blefe idiota fosse reprimir a minha ira?
— Saiam do meu caminho! Eu tenho assuntos urgentes a tratar nessa cela.
— HÃ!? NÓS JÁ DISSEMOS QUE ESTAMOS DE GUARDA AQUI!
— Acham mesmo que essas regrinhas idiotas têm algum efeito em mim? Se for preciso, irei com alegria cortar ao menos dois ou três de vocês. Saibam que não estou nem aí se acabarem perdendo suas vidas com isso.
Com minha espada em mãos, não havia qualquer razão para me conter. Eu havia chegado até o meu objetivo, então faria tudo o que fosse necessário.
— Ei, o que está acontecendo? Que barulho todo é esse?
— Chefe, nos perdoe! A culpa é toda desse bastardo aqui…
Chefe? A voz de alguém soou de dentro da cela e pelo pânico dos guardas eu poderia dizer que o patrão deles estava lá dentro. Na mesma cela que o Kururi... então era por isso que ninguém poderia vir a essa hora.
— O Chefe, hein. Bem na hora, revele-se agora, rei deste submundo!
Abrindo a porta da cela, o Chefe revelou-se diante de mim. Cabelo ruivo chamativo. Uma pele de aparência limpa e saudável, algo totalmente diferente dos demais prisioneiros presentes aqui. Um corpo magro com físico bem balanceado e acima de tudo, um olhar gentil... Kururi Helan veio para fora com uma atmosfera calorosa como sempre.
— Eh!? Rail? É você, Rail!? Por que está aqui!? Por acaso eles finalmente te arrastaram por assédio sexual?
— Eh... hã? Onde está o Chefe?
— Aah, eu sou o Chefe. Como derrotei o Chefe anterior, me tornei o atual.
— Como em um bando de macacos!? Essa prisão é este tipo de lugar!?
— Bem, não é muito diferente disso. De toda forma, vamos, entre. Normalmente eu jamais faria isso, mas agora estou realmente feliz em te ver aqui em baixo. Vamos, se apresse!
Desse modo eu finalmente fui permitido entrar na cela 136. Kururi se sentou no sofá e me convidou a fazer o mesmo.
ESPERE, UM SOFÁ? DENTRO DA PRISÃO?
Olhando bem os arredores, havia até mesmo uma cama! O quarto era bem limpo e iluminado, decorado com uma estante cheia de livros e um vaso na janela com uma única flor.
Este lugar era confortável. Estranhamente confortável.
— Não tenho qualquer doce para oferecer, mas você pode pegar alguns lanches se quiser.
— AQUILO É UMA GARRAFA DE VINHO? E VOCÊ TEM ATÉ BISCOITOS!?
— Branco ou tinto? Qual prefere?
— E POSSO ATÉ ESCOLHER! ONDE NÓS ESTAMOS? QUE LUGAR É ESSE?
— Ei, se acalme. Esta é a Prisão de Kudan, não é? Por acaso você acabou aqui por acidente?
— ACIDENTE? VOCÊ É O ACIDENTE!
Ele me olhava como se estivesse envergonhado, mas o que mais eu poderia fazer? Eu estava preparado para derramar um líquido vermelho em minha espada, mas não em meu copo!
◇◇◇
— COMO É QUE É? ERA PARA VOCÊ ESTAR PRESO, MAS A SUA VIDA NÃO ESTÁ ATÉ QUE BOA AQUI!?
— Não fale como se tivesse sido tão fácil. Tem ideia dos problemas que tive para conseguir esse sofá?
— É CLARO QUE FOI DIFÍCIL! VOCÊ ACHA QUE ELES SÃO TÃO COMUNS ASSIM EM PRISÕES!?
— Por que você está tão exaltado? Bebe isso aqui e se controle. Depois que você ficar mais calmo vamos tomar um banho relaxante na fonte térmica e você pode passar uma noite tranquila aqui na minha cela também.
— FONTE TÉRMICA? PASSAR A NOITE AQUI? POR ACASO EU VIM VISITAR A CASA DE UM AMIGO? ESTA AQUI É A SUA CASA?
— Cara, você está muito exaltado. Vamos fazer o seguinte, você dorme na cama para relaxar e eu fico com o sofá, tudo bem?
— ESSE NÃO É O PROBLEMA! O QUE É TUDO ISSO! SÉRIO... o que é tudo isso?
Depois de algum tempo discutindo, eu finalmente fui persuadido pelo Kururi para visitar a fonte termal. O dia ainda estava claro, portanto só havia nós dois no banho a essa hora.
— Nós estamos trabalhando para tornar essa prisão um lugar melhor durante o dia. No meio do processo, acabamos descobrindo essa fonte. Depois que um dos prisioneiros mais antigos faleceu, decidimos construir um cemitério público e, uma vez que a nova área for expandida, teremos um campo de cultivo. No entanto, como eu estava me sentindo culpado por ser o único que não fazia nada, decidi me juntar ao trabalho braçal também.
— ...Eu estou impressionado, Kururi-kun. É como se você fosse o Senhor Feudal e esta a sua terra.
— Você acha? Só achei que precisava fazer o que pudesse antes de sair. Afinal, eu sou o novo Chefe.
— Nós temos trabalhado muito para provar a sua inocência, sabe?
— Ah, sobre isso, o “Zeni Geba”, Saishin Ubstol, disse que ele iria mudar o seu testemunho. Ao que parece, ele está querendo reparar o seu erro.
— VOCÊ ATÉ MESMO PROVOU SUA INOCÊNCIA!? O QUE DIABOS ESTIVEMOS FAZENDO ESSE TEMPO TODO!?
— Bem, apenas me inclua em qualquer parte do plano que vocês fizeram. Eu estarei pronto para lutar a qualquer hora que quiserem.
— Ahh... Eu fiquei tão preocupado por nada... Você tem ideia de como o Príncipe Lahsa estava quando ele veio chorando até a mim para te ajudar?
— ...Eu sinto muito por isso.
— O que diabos eu deveria dizer a ele? Sério.
— ...Que estou me saindo muito bem?
— Claro, vou fazer isso. De qualquer forma, onde foi que você arranjou esse vinho?
— Ah, nós subornamos um dos guardas que trabalha para a família Dartanel. Agora ele traz as coisas que queremos.
— ...Fala sério. Mas vou precisar levar esse guarda comigo quando eu retornar. Pode ser que ele seja de grande ajuda para lidarmos com os Dartanel.
— Mas assim, os nossos suprimentos…
— Vou fazer algo quanto a isso. E você, não pode sair desse lugar ainda?
— Eu me tornei muito ligado aos caras daqui e queria fazer com que eles mantivessem a ordem dentro da prisão mesmo depois que eu me for.
— Faça o que quiser enquanto pode. Mas se apresse, pois nós precisamos de você também.
— ...Eu sei. Não irei demorar muito.
Depois de um bom banho na fonte termal, passei uma noite maravilhosa em uma cama macia.
No meu caminho de volta, Kururi preparou algumas refeições para minha viagem e me entregou o guarda subornado, que havia sido capturado pelos prisioneiros durante a madrugada.
Por alguma razão, minha pele e cabelo estavam incríveis naquela manhã. Talvez seja efeito da água da fonte termal? Hmm... talvez eu devesse vir fazer outra visita depois. Sim, com toda certeza voltarei depois que o Kururi-kun for libertado. Afinal, essa foi uma visita maravilhosa.
◇◇◇
— Nii-san, chegou um pombo correio com uma mensagem do Rail. Aqui está a carta que estava atada a ele.
— Isso foi bem rápido. Iris, talvez seja melhor você não ficar sabendo do conteúdo desta carta.
— Príncipe Arc-sama, eu já estou preparada para o pior. Além do mais, você havia me prometido.
— Eu prometi, mas... não quero vê-la triste.
— Já estou preparada. Eu preciso saber... não, eu quero saber!
— Nii-san, Iris-san e eu estamos preparados para o que vier. Se qualquer coisa tiver acontecido ao Aniki... não sei se irei conseguir me controlar, mas não acho que desviar o olhar seja a melhor coisa a se fazer. Nós sabemos que é uma aposta, mas vamos fazer isso juntos!
— ...Tudo bem, não vou dizer mais nada. Irei começar a ler agora, em seguida eu quero que me ouçam atentamente.
“Rail reportando
O Kururi-kun está bem. Sua pele está em uma condição maravilhosa e ele foi um anfitrião incrível.”
— ...Eh?
— Nii-san, diga logo o que está escrito!
— Príncipe Arc, vamos, por favor!
— Éeee... o Kururi está bem. Sua pele está em uma condição maravilhosa.... e ele foi um anfitrião incrível…
— …?
— ...Que?
— Heim?
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