Volume 4
Capítulo 62
A situação foi resolvida sem que Iris ficasse com raiva. Eu estava calmo porque vi como ela ficou feliz em reencontrar sua família e até mesmo o Príncipe parecia aliviado ao vê-los juntos. Posteriormente, Rail apareceu e levou Arc para algum lugar. Ao que parecia, ele havia abandonado suas obrigações com o Festival Esportivo para vir marcar alguns pontos com a família da Iris. — Boa Rail! Castigue ele! Castigue ele!
Quanto a mim, não tenho qualquer obrigação em particular, então eu estava apenas esperando a minha vez de participar do evento. Por essa razão, fiquei tomando de conta do Mikal, o irmão da Iris. As três mulheres o deixaram para mim e, parecendo muito contentes, foram aproveitar o festival depois de me dizerem “Poderemos relaxar muito mais sabendo que ele estará aos seus cuidados”.
— Incrível, esse campus é imenso, Companheiro Cabeça-de-Fogo.
— Também acho. A propósito Mikal, qual sua comida favorita?
Mikal já era muito velho para andarmos de mãos dadas, então estávamos tranquilamente lado-à-lado indo em direção às barracas de comida. A medida em que caminhávamos, pude notar os olhares de muitas garotas em nossa direção. Provavelmente daqui a alguns anos, ele seria tão popular quanto a sua irmã.
— Eu gosto do mochi[1] que minha irmã faz durante o inverno.
Pena que não estavam sendo vendidos por aqui. Talvez Mikal não tivesse entendido que eu queria comprar alguma coisa para ele nas barracas. Peça o que quiser e seu Oni-chan Cabeça-de-Fogo fará de tudo para trazê-lo!
— E quanto a você, Companheiro Cabeça-de-Fogo?
— Hmm… Carne de ovelha crua.
Mikal olhou para mim com um rosto complicado. Obviamente eu estava brincando, só queria ver como ele reagiria.
— Vamos apenas comer algo devidamente cozinhado. Veja, há tantas barracas que seria uma pena não levar nada!
Nós fomos para uma barraca gerenciada por um grupo de alunos veteranos. Foi divertido ver esses nobres trabalhando em um mercado de pulgas em vez de agirem com o seu comportamento habitual. Apesar disso, eles pareciam estar se divertindo muito, deixando transparecer uma atmosfera alegre.
— Esses doces parecem saborosos! Poderia me vender dois deles, por favor?
— Claro! Leve mais dois como cortesia, já que vocês são muito simpáticos! — Disse uma das estudantes, piscando o olho e nos dando os doces chamados de Poinse.
Quão maravilhoso é ser abençoado com um rosto bonito!
— Você viu? Elas nos deram dois de cortesia, graças a você, Mikal!
— Não, Companheiro Cabeça-de-Fogo! Você é o mais bonito entre todos os caras que já vi até agora!
Depois de tal elogio, eu irei comprar qualquer coisa que você quiser!
Esse Poinse fazia muito sucesso entre as garotas nobres da Capital. Trava-se de um doce refinado e com o tamanho semelhante ao de um biscoito, mas tão pequeno que sentia como se não o tivesse comido.
— Como é? Está gostoso?
— Esses aristocratas comem coisas estranhas. Já acabou, mas eu nem percebi…
Exatamente a impressão que tive. Na minha opinião, mesmo para um aristocrata, seria difícil apreciar tal iguaria.
Como Mikal disse que gostava de mochi, nos dirigimos para uma barraca que os vendia também. Quem sabe, poderíamos ganhar um desconto já que éramos caras bonitos! Depois de por um mochi na boca, achei saboroso, mas senti que estava faltando algo. Quando olhei para o Mikal, sua expressão dava a impressão de que ele também não estava satisfeito.
— Mikal, você não gostou?
— Tem muito creme no recheio, mas a massa do mochi é muito fina… dá uma sensação meio pegajosa!
Claro! Eu entendo muito bem o que quer dizer! Quando você come um mochi você quer comer… um mochi!
Mesmo que todo esse creme fosse muito luxuoso, ele não era capaz de saciar aquilo que se estava buscando. Mas infelizmente não havia barracas vendendo algo que se encaixasse nesse sentido.
Depois que atravessamos as bancas mais “refinadas”, começaram a aparecer as mais modestas. Aqui havia menos nobres e as pessoas vendiam coisas relacionadas aos seus hobbies pessoais. Encontrei um rosto conhecido que estava lidando com produtos de aparência duvidosa.
— Ei, o que está fazendo aqui, Toto?
— Não está claro? Eu estou vendendo minhas obras-primas.
Toto estava em sua aparência obscura, sentado em uma cadeira enquanto observava os seus produtos. Os estudantes geralmente vendiam suas coisas por diversão, mas ele estava levando o trabalho a sério. Por outro lado, seus produtos eram “suplementos energéticos” feitos com ervas secas, algo que, em sua intenção, deveria ter atraído senhores da alta sociedade.
— Desculpe-me, mas, se você não vai comprar nada… poderia não ficar na frente do caminho?
— Oh, desculpe.
Um cliente chegou.
— Quão eficazes elas são?
— Experimente-as e se surpreenda! Eu lhe asseguro!
Um velho rico se aproximou de Toto e saiu com um punhado de ervas enquanto parecia muito satisfeito.
— Essas ervas suspeitas estão vendendo muito bem…
— Elas não são suspeitas, meus clientes as consideram de excelente qualidade. Você também irá entender o seu valor apenas olhando para elas.
É um mundo que eu não conheço e nem quero envolver o pequeno Mikal nisso.
— E quem é ele? — Perguntou Toto, virando-se para o Mikal com um ar ameaçador.
O habitual misantropo de sempre, hein? Ele sequer gosta de cachorros!
— É o irmão mais novo da Iris, Mikal.
— Oh, mesmo? Irmão da Iris é um prazer conhecê-lo.
Para minha grande surpresa, Toto estendeu a mão para o menino e os dois se cumprimentaram.
—Você não tem problema com ele?
— Se é irmão da Iris, com certeza deve ser um bom rapaz.
Foi a primeira vez que o vi sorrindo de tal maneira.
— A propósito, em que competição você vai entrar, Toto?
— Corrida de 200 metros. Como não é uma competição em equipe, posso acabar com isso o mais cedo possível.
— Eu também estarei nessa! Quem ganhar passa para as semifinais e, eventualmente, para a final.
Toto não estava interessado na corrida, o que ele queria mesmo fazer era vender as suas ervas energéticas. Quando nos separamos dele, Mikal sussurrou para mim.
— Eu achei esse cara muito legal.
— É mesmo? Você não o acha um pouco estranho?
— Quem fala bem da minha irmã é definitivamente uma boa pessoa!
Que garoto adorável. — Pensei acariciando sua cabeça.
— Minha irmã também faz isso com frequência, mas eu não sou mais uma criança!
— O que, acariciar sua cabeça? Mesmo que você não seja mais uma criança, não há nada de errado nisso, sabe?
Havia tantas pessoas no mundo que, embora quisessem uma carícia, não conseguiriam. Pessoas que são muito altas, por exemplo!
— Mas me diga, Companheiro Cabeça-de-Fogo, você e minha irmã estão namorando?
— Quê??? — Perguntando algo assim do nada, acabei não conseguindo responder de imediato.
— Isso tem me incomodado faz algum tempo, mas nunca achava um bom momento para perguntar… eu não quero me tornar um impedimento entre vocês dois, mas…
— Não se preocupe com isso, nossa relação não é assim.
Eu fingi não ver que Mikal ficou feliz em saber que ainda não teria que se separar de sua irmã e continuamos andando. Foi então que ele sentiu um cheiro bom e acabamos indo para um lugar pouco movimentado, o qual achei que não haveria qualquer barraquinha. Ainda assim, ele me guiou até aqui, tendo total confiança em seu nariz.
Nós chegamos até uma grande árvore onde havia uma pessoa a sua sombra com uma fogueira acesa. Ela tinha cabelos longos e parecia ser uma mulher, mas o rosto estava coberto com uma máscara e um par de óculos coloridos. No entanto, tive a impressão de que já havíamos nos encontrado antes.
— Companheiro Cabeça-de-Fogo, essa pessoa não parece suspeita?
— Sim, muito suspeita…
— Ei! Não há nada de suspeito! — Ela disse. — Como vocês chegaram aqui? Por acaso, seguiram as pistas que deixei?
— …Seguindo o cheiro. — Oh, então foi isso…
Parecia que a havíamos interrompido. Ainda assim sua voz, embora sendo sufocada pela máscara, parecia familiar para mim. — Quem dentre meus conhecidos poderia acender uma fogueira de forma tão suspeita em um lugar como esse? Nenhum pelo que eu saiba.
— O que você está fazendo aqui? O cheiro é muito bom. — Eu perguntei de forma hesitante, mas ela pareceu ficar muito feliz quando fiz isso e me respondeu francamente.
— Estou assando batatas doces! Elas são muito nutritivas, sabe? Estes em particular são difíceis de cultivar, requerem muita atenção e eu cuidei delas o ano inteiro. Também escondi em todo o campus algumas pistas dirigidas àqueles que, assim como eu, são amantes de batatas. Mas aparentemente ninguém as notou.
É difícil notá-los em uma escola tão imensa. Ela nos disse que tinha somente 10 unidades dessas batatas luxuosas e, como fomos os primeiros a chegar, nos daria um para cada. Então pegou as batatas do fogo e as entregou para Mikal com mãos que me pareciam extremamente familiares. Ele a abriu alegremente e mordeu.
— DELICIOSA! — Ele disse enquanto comia avidamente. De sua boca saía o vapor da batata ainda fervente.
A mulher estava reclamando algo sobre a etiqueta correta para se comer uma batata, mas depois desse elogio, ela voltou a ter uma expressão terna em seu rosto. Eu por outro lado, esperei até que minha batata ficasse um pouco mais fria. Depois de ter removido o papel que a embrulhava, ia começar a remover a casca quando ela agarrou o meu pulso.
— Espere, Kururi-sama! Por favor, coma ela ainda com a casca! Remover a casca de uma batata é uma grave violação de etiqueta!
Bem já que você insiste…Mas o que há com essa história de Etiqueta das Batatas?
Eu a mordi com casca e tudo, e assim como Mikal havia gritado antes, essa batata possuía um sabor rico e profundo. A casca derretia em sua boca, então não havia necessidade em descasca-la.
— Que maravilhoso, nunca comi uma batata doce tão boa na minha vida!
— Fufu, fico feliz em ouvir isso!
Abraçada pela felicidade, a moça nos deu mais algumas, não porque fôssemos caras bonitos, mas porque as batatas dela é que eram. Mikal estava todo feliz, mas eu, no caminho de volta, não conseguia ficar em paz.
— O que há de errado, Companheiro Cabeça-de-Fogo?
— Não, nada mesmo.
Não foi uma resposta sincera, mas achei uma má ideia conversar com ele sobre o que estava me incomodando.
— Eu achei aquela garota muito legal! Mesmo sendo uma aristocrata, ela trata suas batatas com muito amor e respeito. Certamente, será uma boa esposa!
Você é um menino tão inteligente!
Aquela mulher certamente deve ser a Eliza. É claro que ela não estava fazendo nada de errado, mas eu deveria manter segredo, fingindo não saber de nada. Se eu tivesse revelado à alguém, talvez fosse injusto com as batatas dela.
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